segunda-feira, 28 de março de 2016

A segunda deturpação do "espiritismo"


Está à tona a segunda deturpação da Doutrina Espírita, depois de tantas inserções católicas feitas pelo "movimento espírita". Diante da crise vivida atualmente, os "espíritas" agora apelam para o recurso primário e aparentemente convincente e tranquilizador: o "bom-mocismo".

A ideia é dar a impressão de que os "espíritas" admitem terem cometido erros em relação ao pensamento de Allan Kardec, mas utilizam o discurso da fraternidade e a caridade paliativa como desculpas para continuarem prevalecendo.

O "espiritismo" distorceu muitos e muitos conceitos no Brasil. Tornou-se um roustanguismo piorado, porque nem Jean-Baptiste Roustaing conseguiria deturpar a doutrina kardeciana com tamanha habilidade e com tamanha persistência, alcance e êxito.

Diante da mais aguda crise vivida pelo "movimento espírita" - e foram tantas crises, desde os tempos em que Afonso Angeli Torteroli reagiu contra o igrejismo de Adolfo Bezerra de Menezes, até hoje - , seus membros agora usam como artifício as desculpas de "fraternidade", como se ser bonzinho fosse um diferencial para a doutrina brasileira.

O discurso nos traz a ideia de uma "religião da bondade", com textos inócuos pedindo para evitarmos os conflitos, ajudarmos as pessoas, espalharmos o amor, mudarmos nossos pensamentos em prol da fé e da fraternidade, e por aí vai.

Tudo parece atraente, fascinante, tranquilizador, equilibrado. Mas não é. E torna-se pernicioso porque, na vida complexa em que vivemos, é completamente ineficiente promover a caridade dentro dos limites ideológicos de qualquer religião.

Além do mais, a caridade paliativa e a fraternidade aleatória não conseguem resolver os conflitos e dilemas que a sociedade brasileira vive,  da mesma maneira que não conseguiria resolver qualquer outra sociedade em qualquer parte do mundo.

Afinal, essa "bondade" não resolve o sistema de desigualdades e injustiças que a sociedade vive, e não apazigua desavenças, e muitas vezes essa "linda fraternidade" e o "bondoso perdão" acabam consentindo com os abusos dos privilegiados e as desgraças dos sofredores.

ESFORÇO EM VÃO

Esta segunda deturpação do Espiritismo, agora reduzido a uma doutrina do bom-mocismo, embora cause encanto e satisfação até nos questionadores da deturpação espírita, pelo fato de que a ideia de "bondade" ser agradável para todos, torna-se uma postura bastante perigosa e tendenciosa.

Pensando o "espiritismo" como a "religião da bondade", ela simplesmente invalida o esforço de Allan Kardec, porque ele não criou a Doutrina Espírita para ser bonzinho. Por outro lado, será que somente os "espíritas" podem ser considerados "bondosos" ou, ao menos, serem tidos como os "melhores representantes" da ideia de "amor", "bondade" e "dedicação ao próximo"?

A bondade não é diferencial para coisa alguma porque é da natureza da vida humana que todos possamos ser bons. Por isso, ela é uma qualidade geral que, em nenhum momento, pode representar diferencial para qualquer ideologia.

Se uma religião usa a "bondade" como um pretenso diferencial, é bom desconfiar, porque é aí que a religião deixa de cumprir suas finalidades, desviando seu foco doutrinário para dizer que vale porque é "bondosa".

E o Espiritismo, que nem religião deveria ser, torna-se pior ainda, porque o aparato de "bondade" invalida todo o esforço árduo de Kardec e reduz as instituições "espíritas" em pretensas organizações de caridade, um desvio de foco da proposta original.

Por isso, o discurso de "bondade" pode ser encantador e atrair um apoio supostamente unânime. Mas ele desvia o Espiritismo da missão original, descrita sabiamente por Kardec. Porque ser bom não traz diferença alguma, ser bom tem que ser um hábito geral e não uma qualidade que alimenta vaidades pessoais por conta dos aparatos de humildade, misericórdia e filantropia.

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