segunda-feira, 7 de março de 2016

A surpreendente atualidade do livro de Attila Paes Barreto

ATÉ AGORA, NINGUÉM SEPAROU, OFICIALMENTE, O ESCRITOR HUMBERTO DE CAMPOS DE SEU OBSESSOR, CHICO XAVIER.

A contundente atualidade do livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de Attila Paes Barreto, um brilhante trabalho de jornalismo investigativo que mereceria ser lançado hoje nas livrarias, sofre o terrível desprezo num contexto de um Brasil culturalmente imbecilizado.

Em vez desse livro, original de 1944, ser lançado hoje ou, no mínimo, disponibilizado para download em arquivo PDF, uma série de bobagens favoráveis a Francisco Cândido Xavier é despejada em quantidades industriais nas livrarias "espíritas" ou nas seções específicas em livrarias comuns.

O esquecimento quase absoluto, digamos numa porcentagem de 99,99%, do livro de Paes Barreto, é algo bastante surreal, mas compreensível num contexto em que o jornalismo investigativo, no Brasil, é praticamente morto, limitado a pastiches sensacionalistas ou a coberturas caluniosas e fraudulentas feitas apenas para "incriminar" o Partido dos Trabalhadores sem apresentar provas.

A situação do "espiritismo" brasileiro é tão aberrante que adeptos de Chico Xavier, tomados do mais cego e histérico fanatismo, chegam mesmo a dizer "deixa ele mentir" e "deixa ele ser charlatão" - usa-se o termo no presente, porque, mesmo falecido há 14 anos, o "médium" influencia seus seguidores até hoje - sob o pretexto de que ele era "bondoso" e "ajudava muita gente".

Mas, para um "médium" que lançou uma acusação indevida e depreciativa contra as pobres vítimas da tragédia de um circo em Niterói - fato que completará 55 anos em dezembro deste ano - de terem sido "romanos sanguinários", e que defendia a ditadura militar no momento em que ela se revelava bem mais cruel e desumana, não pode ser considerado "o homem mais bondoso do Brasil".

O "médium" que, além de tantas irregularidades, expôs as tragédias familiares de pessoas anônimas, tirando-as de sua privacidade com a fama sensacionalista das supostas cartas de entes queridos mortos - na verdade forjadas pela própria imaginação de Chico Xavier, usando o recurso da "leitura fria", tirado do ilusionismo circense - , também teve suas crueldades.

Uma delas foi praticamente expressar sua obsessão doentia por Humberto de Campos. O autor maranhense, membro da Academia Brasileira de Letras, havia escrito, em 1932, no Diário Carioca dois artigos - na verdade, uma resenha em duas partes, devido a limites de espaço - de Parnaso de Além-Túmulo, no qual faz uma declaração irônica.

Ele aparentemente alegava semelhanças entre os poemas presentes no livro de Chico Xavier, mas deixava subentendido que essa era a "primeira impressão" de quem lê essa obra pela primeira vez. A ideia, no entanto, é usada pelos "espíritas" como suposta legitimação de Humberto da "mediunidade" de Chico Xavier.

Mas o ponto que deve ter desagradado Chico Xavier - então um jovem com intenções arrivistas de ascensão social - foi que Humberto de Campos, com seu habitual senso de humor, havia reprovado a concorrência de "obras de autores mortos" ao trabalho literário dos vivos.

Não se sabe por ironia ou por conta das "elevadas energias" de Chico Xavier, Humberto de Campos faleceu pouco depois, com apenas 48 anos, em 1934. Um ano depois, o "médium" teria inventado um sonho no qual Humberto se destacava de um grupo de pessoas e perguntava a Chico: "Você é o menino do Parnaso?". Era o pretexto para uma suposta parceria.

A "parceria" acabou causando uma revolta (de motivos justos e consistentes) dos meios intelectuais mais sérios. que viram, na obra atribuída ao "espírito Humberto de Campos", irregularidades bastante severas. O "Humberto de Campos" da pretensa psicografia destoava da obra do autor deixada em vida, por vários aspectos.

A escrita, embora pretensamente erudita, não era elegante e era muito rebuscada, diferente dos textos cultos mas acessíveis que Humberto publicou em vida. A temática, que em vida era voltada a temas culturais diversos, na "obra espiritual" se limitava praticamente a temas bíblicos ou lamentos de cunho moralista e igrejista.

Mas o pior são os vícios de linguagem, a narrativa cansativa, os textos maçantes. Nada de Humberto de Campos havia nos livros trazidos por Chico Xavier. Nada. Mas tentou-se um processo judicial que em nada resultou, o mito de Chico Xavier cresceu como um câncer e hoje Humberto de Campos só é lembrado como se tivesse sido um subproduto do "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.

CHICO XAVIER BENEFICIADO PELA IMPUNIDADE

Isso é tenebroso. Chico Xavier é o maior caso de impunidade que se deu a uma pessoa no país. Uma impunidade que foi às últimas consequências. Pior: Chico Xavier praticamente virou o "dono do Brasil", e alvo da mais desesperada obsessão e do mais neurótico apego de seus seguidores fanáticos.

Attila Paes Barreto deu sua contribuição com o livro em que desmascarava Chico Xavier. Um livro de temas interessantes, com revelações contundentes que não podem sucumbir ao esquecimento. Um livro que deveria ser lançado hoje, queiram ou não queiram os chiquistas, porque a verdade vale muito mais do que uma adoração cega a um homem.

Os próprios "espíritas" se esquecem dos alertas de Erasto, que previu o inimigo interno da Doutrina Espírita, ou seja, alguém que destruiria a doutrina de Allan Kardec agindo não de fora, mas dentro de seus círculos. E todas as caraterísticas dos avisos alarmantes de Erasto se encaixam perfeitamente em Chico Xavier, e outras ainda correspondem exatamente a Divaldo Franco.

São caraterísticas de deturpação doutrinária, como ideias mistificadoras que vão contra a coerência científica de Kardec, textos rebuscados e prolixos, concepções levianas e sem nexo com a realidade, suposições de coisas que nem sabemos da existência (como as "cidades espirituais") e até mesmo a presunção de definir "datas fixas" para a transformação da humanidade, a brincadeira predileta de Divaldo Franco.

Em vez das pessoas se prevenirem contra tais embustes, elas glorificam os embusteiros e, o que é pior, criam-se aberrações de posturas que se tornaram intensas diante da hegemonia da postura "dúbia" do "movimento espírita" nos últimos 40 anos: exaltar Allan Kardec na teoria e seguir os deturpadores na prática.

O mais incrível: os "espíritas" dúbios ainda recorrem a Erasto, felizes da vida, como se Erasto estivesse no lado deles. Só que os "espíritas", em vez de preferirem rejeitar dez verdades a aceitar uma única mentira, preferem aceitar a mentira chamada Chico Xavier e recusam mil verdades que estivessem mais de acordo com a lógica e o bom senso.

O mais grave de tudo isso é que juristas, jornalistas, editores, acadêmicos e outras profissões que poderiam agir para desmascarar Chico Xavier, Divaldo Franco e outros deturpadores da Doutrina Espírita, ficam de rabo preso, hipnotizados pelos estereótipos de religiosidade e filantropia associados a esses figurões do "espiritismo" brasileiro.

Isso mostra o quanto o Brasil regrediu. Em 1944, os meios intelectuais poderiam desmascarar Chico Xavier apontando argumentos consistentes que comprovam que as supostas psicografias não eram mais do que fraudes literárias.

"NEOPENTECOSTAIS", POR PIORES QUE SEJAM, SÃO MAIS SINCEROS QUE OS "ESPÍRITAS"

Hoje, infelizmente, se permite que se montem "centros espíritas" usando nomes das "vítimas" de Chico Xavier, como Humberto de Campos e Auta de Souza, ou mesmo de outros nomes associados em suposições derivadas, como o médico Carlos Chagas que, por ter sido atribuído a uma suposta encarnação de André Luiz (na verdade, personagem fictício com o nome do finado irmão de Chico Xavier), também teve o nome usado para um "centro espírita".

Tudo virou bagunça e o "espiritismo" cometeu crimes sérios de falsidade ideológica aqui e ali. Isso é muitíssimo grave e mostra o desrespeito dos mais deploráveis contra os espíritos que passaram por aqui e que nem sempre foram reconhecidos pela sua contribuição artística, intelectual e, simplesmente, humana.

O que o "espiritismo" fez em seus 131 anos, de responsabilidade não só de "centros espíritas" menores mas também de muito "peixe grande" que só recebe adoração e devoção dos mais extremos, o põe para abaixo das piores seitas neopentecostais, que com todos os retrocessos sociais que defendem, pelo menos são muito mais sinceros em suas mistificações e visões surreais do mundo.

Perdidos num sucessivo malabarismo discursivo, em que tentam dizer uma coisa e fazer outra, dizer uma coisa e dizer outra e arrumar desculpas aqui e ali que, separadas, parecem até convencer as pessoas, mas juntas, se chocam em contradições preocupantes, os "espíritas", tão vangloriosos em defender a ética, acabam cometendo desonestidades doutrinárias das mais nocivas.

E é por isso que há a necessidade de lançamento do livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de Attila Paes Barreto. Um livro urgente, cheio de revelações consistentes, e que só incomodam as pessoas que ficam presas na complacência viciada a ídolos religiosos, como os antigos adoradores de totens que até Moisés e Jesus de Nazaré tanto reprovaram.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.