quarta-feira, 16 de março de 2016
O tenebroso cenário do mercado literário brasileiro
Emburrecemos. Vendo o mercado literário no Brasil, nos últimos tempos, nota-se que a busca do Conhecimento é sabotada por livros que nada têm de sabedoria nem de informação. A literatura fútil predomina e a ideia é promover não uma leitura esclarecedora, mas anestesiante.
É um quadro tenebroso. 2015 foi o pior ano do mercado literário brasileiro. Até parece que nossos editores querem desviar a atenção das pessoas e impedir que livros que valorizem informações nem sempre respaldadas pela grande mídia façam sucesso ou influenciem mais as pessoas.
Modismos são criados para que, ao menos, afastem o grande público de obras que, entre outros propósitos, desqualificam totens religiosos, desmoralizem ídolos da grande mídia e denunciem a crise na cultura popular no Brasil.
Numa época, são os cachorros com nomes de roqueiros ou coisa parecida. Noutra época, são os livros para colorir, "mundos encantados" que, pasmem, são catalogados como "não-ficção" (?!). Antes haviam os romances de estudantes-vampiros. Agora são as aventuras em jogos de Minecraft.
Junto a isso, há livros de poemas de "mensagens universais", nem muito românticos, nem muito modernistas, nem muito políticos, mas sentimentais, piegas e supostamente confessionais. Algo perdido entre um forçado arremedo de Carlos Drummond de Andrade e ranços místicos tipo auto-ajuda religiosa.
Há também os youtubers, pessoas que têm canal no YouTube e, salvo honrosas exceções - consta-se que Kéfera Buchmann é uma delas - , só se preocupam com besteirol e futilidades juvenis. Há os autores de auto-ajuda de sempre, que só fazem ajudar a se enriquecerem, e volta e meia existem livros de tolices infantis diversas e de "lindas histórias" de amor e fé religiosas.
Parece um esforço de driblar a busca do Conhecimento. Quem já publicou livros esclarecedores se mantém em pé, até para não dar a impressão de censura. Assim, um Umberto Eco, por exemplo, se estiver entre os mais vendidos, não poderá ser derrubado por bonecos de Minecraft e árvores incolores nem vlogueiros "lokos".
Autores emergentes que produzem livros comprometidos com a busca do Conhecimento, com a denúncia da degradação midiática, da crise cultural, do reacionarismo político, das farsas religiosas, não consegue sequer vender livros, tamanha a indiferença e o boicote da "boa sociedade".
Quem procura um lugar ao Sol no meio literário tem que enfrentar "monstros" como os bonecos de Minecraft, as árvores incolores ou então os "monstros de ocasião", como estudantes-vampiros, cachorros com nomes de roqueiros, padres aeróbicos, "médiuns" canastrões, sem falar os pedintes impressos que são os autores de auto-ajuda, porque eles inventam todo aquele papo para enriquecer prometendo mudar a vida das pessoas com ninharias astrais.
EM OUTROS TEMPOS, ERA DIFERENTE
Antigamente, o Brasil tinha um cenário literário riquíssimo. A história da literatura tinha centenas de autores talentosos, com obras de grande valor, movimentos artísticos significativos e uma variedade de estilos cujo ponto em comum era a elevada qualidade dos textos.
Ver que o público médio só se lembra de uma meia-dúzia desses autores - Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Jorge Amado e Machado de Assis - e sua leitura se limita a colher depoimentos curtos na Internet, é de uma imbecilidade assustadora.
As pessoas não leem mais livros ou, se leem, é sempre a medíocre literatura água-com-açúcar, nem sempre de boa qualidade. Aliás, sua qualidade já é, em si, baixa, e ver que as pessoas preferem até ler autores surgidos do nada que escrevam livros religiosos e místicos de valor duvidoso, em detrimento de outros um pouco mais emergentes que escrevem questionando o "estabeledido", é estarrecedor.
Não temos mais um cenário intelectual como na época, e, em vez disso, só temos intelectuais festivos que fazem apologia à imbecilização cultural mais canhestra - como o "funk" - , ou então ao deslumbramento fácil de ídolos religiosos que cometem fraudes "em nome do pão dos pobres".
Não é um cenário propício para livros investigativos. E a urgência de se relançar o livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, de Attila Paes Barreto, importantíssimo documento de jornalismo investigativo sobre Francisco Cândido Xavier, é desprezada e esnobada por muitos e ignorada por um mercado que "não vê necessidade" de lançar um material como este.
Enquanto isso, o livro de asneirol chamado Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Juliano Pozati e Rebeca Casagrante, que daria só cem páginas de texto e imagens mas foi inflado em 350 páginas, é lançado comodamente. Como também livros da série Divaldo Franco Responde, que já é uma grande aberração, em si.
Afinal, esses volumes mostram o quanto Divaldo Franco é um pseudo-sábio, um charlatão da pior espécie, porque o verdadeiro sábio não é aquele que tem respostas prontas para tudo, mas aquele que busca refletir sobre as coisas. O próprio Eric Hobsbawm, por exemplo, sempre afirmava que "procurava expor suas ideias da melhor maneira", sem se arrogar em dizer que tinha respostas prontas para tudo.
Mas a imbecilização cultural que atinge os brasileiros não quer saber. E, o que é pior, uma boa parcela dos brasileiros não admite que há uma grave crise na cultura brasileira. Imprensa ruim, música tenebrosa, teatro medíocre, cinema insosso, literatura emburrecida.
Há quem imagine que estamos vivendo "o melhor momento cultural de todos os tempos". E tudo isso porque todos vão, felizes, correndo para aqueles vídeos "divertidos" do WhatsApp, em que bebês dublam cantores veteranos, animais dão piruetas e pessoas obesas se cescorregam pelo chão. Depois ninguém gosta ao ser informado das críticas de Umberto Eco contra os "imbecis da aldeia global"...
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