quinta-feira, 31 de março de 2016

Fizeram peça sobre a "polêmica" de Parnaso de Além-Túmulo


Acreditem, a "polêmica" do livro Parnaso de Além-Túmulo, uma coletânea de pastiches literários de Francisco Cândido Xavier, foi tema de peça de teatro "espírita", e, é claro, com uma abordagem que, no fim, é favorável ao anti-médium, por mais que os pastiches sejam de fácil identificação.

A peça foi encenada pelo Grupo de Teatro Leopoldo Machado e se intitulou Chico Xavier, a Mão dos Imortais. Foi, evidentemente, para celebrar os cem anos de nascimento do anti-médium mineiro. A peça constituiu numa comédia dramática em que intelectuais dos anos 1940 debatem, num bar carioca, sobre o caso do Parnaso de Além-Túmulo.

Dirigida por Reginauro Sousa, com texto de Romário Fernandes e pesquisa de Edir Paixão, a peça pretendeu apresentar a polêmica, com momentos cômicos e desentendimentos entre os três personagens, atendidos por um garçom atrapalhado.

Mas, ao longo da trama, fatos "emocionantes" da vida de Chico Xavier chegam à tona no enredo, e o sofrimento interior do "médium" é narrado junto a outros fatos relacionados à sua "sensibilidade" e ao seu "trabalho".

A roupagem de peça "polêmica" serve para dar um verniz "intelectual" e "controverso" ao espetáculo, que, aparentemente, buscou interagir com a plateia, para envolvê-la e promover o coitadismo que serve para dar razão a Chico Xavier, como se ele tivesse sido maltratado pelos intelectuais que o acusaram de pastiche literário.

Sabe-se que o livro Parnaso de Além-Túmulo, lançado em 1932, tem uma trajetória muito estranha para um livro que se afirmava como uma "obra acabada dos benfeitores espirituais". Foi reeditada cinco vezes, com alguns textos eliminados e outros acrescidos, além de outros reparados, e foi divulgada uma carta de Chico Xavier a Antônio Wantuil que deixava claro que o livro era feito por editores da FEB.

Esta informação, apesar de divulgada por uma seguidora de Chico Xavier, Sueli Caldas Schubert, confirma o que o escritor católico Alceu Amoroso Lima (também conhecido pelo codinome Tristão de Ataíde) havia denunciado, que Parnaso de Além-Túmulo era uma obra de editores da FEB.

A observação cautelosa e desprovida de paixões religiosas seguramente leva a uma constatação contrária a dos "espíritas" e, evidentemente, da peça apresentada. Nota-se pastiches grosseiros em que os nomes de autores como Augusto dos Anjos, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac e Auta de Souza nem de longe correspondem aos estilos originais.

O conteúdo do livro é apenas uma série de paródias estilísticas que reflete apenas um único estilo, o estilo correto mas mediano de Chico Xavier como poeta, ao lado também da colaboração dos editores da FEB e de Wantuil, que também escreveram poemas e tiveram a consultoria de especialistas literários para a reprodução, a nível de pastiche, dos estilos dos autores originais.

Daí que a conclusão é que o livro nunca foi uma psicografia de verdade. Os estilos dos poemas publicados em suas seis edições não reflete de forma alguma os estilos originais dos autores alegados. A qualidade também é bastante inferior. É como ironicamente disse o jornalista Léo Gilson Ribeiro, da revista Realidade, a respeito: "O espírito sobe, o talento desce".

quarta-feira, 30 de março de 2016

Respostas do "movimento espírita" às críticas são raras e tímidas


Nota-se que o "movimento espírita", diante das críticas que recebe, encontra cada vez mais dificuldades para responder às críticas que recebe. Em manifestações raras e tímidas, os próprios membros não conseguem mais contra-argumentar pelo simples fato de que é impossível defender suas contradições com algum argumento consistente.

Atualmente, o "movimento espírita" vive uma fase "dúbia". Nela, o nome de Allan Kardec é exaltado no discurso, e Jean-Baptiste Roustaing é jogado ao desprezo e à ignorância. No entanto, as ideias roustanguistas, já adaptadas ao contexto brasileiro por Francisco Cândido Xavier, permanecem sem que o nome do autor de Os Quatro Evangelhos possa ser sequer cogitado.

Essa fase "dúbia" foi uma tentativa do "movimento espírita" conciliar correntes científicas e religiosas, de uma maneira tendenciosa, como se pudessem isolar setores radicais do roustanguismo da Federação "Espírita" Brasileira, já que a crise do roustanguismo explícito se deu com a intransigência da cúpula da FEB com as federações regionais.

Com isso, por uma questão de mero arranjo político, os antigos roustanguistas que não estavam no "alto clero" resolveram bajular Allan Kardec e jurar suposta fidelidade a ele. O discurso passou a ser o de adotar "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" ao pedagogo francês e sua obra.

Mas como falar é fácil, o roustanguismo que virou palavrão para os praticantes da fase "dúbia" do "movimento espírita" torna-se, de uma forma ou de outra, presente, como as alegações moralistas do sofrimento humano, atribuídas a supostas encarnações passadas e voltadas a um princípio de carma que os "espíritas" se dividem, no discurso, entre a defesa e a negação, mas na prática consentem com tais desgraças.

Com a divulgação de muitas irregularidades do "movimento espírita" na Internet, a fase "dúbia" entra em grave crise. E os "espíritas" tentam reagir como podem, mas a produtividade é escassa e tímida. Limitam-se eles a forjar bom-mocismo e falar em "coisas lindas" como "amor e fraternidade".

Uns tentam manter o joio com o trigo, alternando artigos mais agradáveis de Allan Kardec, além do uso leviano dos alertas do espírito Erasto - sim, os inimigos do Espiritismo citam Erasto como se não fosse contra eles que o espírito se dirige - , com outros exaltando Chico Xavier e Divaldo Franco, notórios mistificadores.

As argumentações são sempre as mesmas. "Profunda tristeza com campanhas desagradáveis", "cobranças severas contra quem só serve em prol do próximo" e outras pieguices chorosas mais. Em muitos casos, é o coitadismo de quem deturpou o pensamento de Allan Kardec até dele nada restar que se manifesta quando a sociedade pede aos "espíritas" explicações sobre as irregularidades existentes.

Eles também são tomados pela ilusão de que podem tudo, passarão por cima de tudo, e o coitadismo serve apenas como um verniz suave para a ambição, a arrogância e a intransigência. Como se eles tivessem direito de combater a coerência e o bom senso e achar que o cérebro humano é brinquedo para que qualquer mistificação esteja acima de qualquer processo lógico e realista.

Só que as respostas são raras e tímidas porque os próprios "espíritas" são adeptos do silêncio. Defensores da Teologia do Sofrimento, eles sempre diziam para os desafortunados aguentarem as desgraças em silêncio. Agora, precisam provar do veneno que ofereceram aos outros.

Daí que reagem às críticas em silêncio, achando que podem vencer pela derrota e dar sua palavra final pelo silêncio. Mas a verdade é que o "movimento espírita" não tem argumentos lógicos para explicar por que preferiu manter seu igrejismo extremado.

terça-feira, 29 de março de 2016

É mais fácil um camelo entrar na cabeça da agulha do que um "espírita" no Paraíso Espiritual


Muitas vezes, as piores ilusões não partem daqueles que claramente adotam algum aspecto de futilidade e malícia, já que a complexidade da vida humana mostra armadilhas diversas que desafiam a atenção de muitos.

No "movimento espírita", observa-se, pela sua estrutura e sistema de valores, a repetição dos velhos procedimentos religiosos, a atualização das vaidades de antigos pseudo-sábios e a presunção de muitos ídolos em afirmar que, quando "retornarem à Pátria Espiritual", encerrarão sua missão reencarnatória e estarão no banquete dos Espíritos Puros.

Sim, fala-se de ídolos como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, entre tantos outros que estabeleceram ou compartilharam a deturpação do Espiritismo, inserindo, na doutrina arduamente desenvolvida por Allan Kardec, ideias contrárias à sua natureza lógica, muitas delas do mais rasteiro preconceito religioso medieval.

Diante da crise do "movimento espírita" que mal consegue sustentar sua postura dúbia - bajular Kardec e praticar a deturpação de padrão igrejeiro - , seus membros, desesperados, agora apelam para o bom-mocismo para tentar validar sua doutrina, como se maus espíritas podem prevalecer sob o manto da filantropia e da fraternidade.

Parafraseando Jesus, que disse a frase "É mais fácil um camelo passar pela cabeça de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus", podemos dizer que é mais fácil o camelo fazer tal tarefa impossível do que um "espírita" entrar no Paraíso Espiritual.

Isso é chocante, porque, em tese, o que os "espíritas" brasileiro mais fazem é falar sobre fraternidade e perdão, praticar filantropia, exercer curandeirismo, publicar lindas mensagens, falar sobre coisas edificantes, reivindicar a caridade e a união. Como eles não teriam direito nem estão preparados para o banquete divino ao lado de Deus e das almas mais purificadas?

Simples. Porque tudo isso é um jogo de aparências, um malabarismo discursivo e um ritual de aparatos que escondem processos levianos de mistificação igrejeira, pregações moralistas severas e a reciclagem de velhos dogmas religiosos em narrativas piegas em que a "boa moral" e "outras coisas lindas" são apenas um gancho para impressionar as pessoas.

A figura "frágil" de Chico Xavier, o estereótipo de "professor à moda antiga" de Divaldo Franco, entre tantas coisas, como muitos palestrantes que ilustram seus textos com desenhos de coraçõezinhos e crianças sorridentes, mostram o quanto esse aparato deslumbra as pessoas, mas esconde um processo de vaidades, presunções, pretensões.

Para uma doutrina que consiste na deturpação do pensamento de Allan Kardec através de conceitos e ideias igrejistas, o que lança mão de uma série de mentiras, fraudes e fingimentos, não há como esperar que seus membros, uma vez falecidos, possam estar no banquete dos puros no "outro lado".

Mesmo Chico Xavier e Divaldo Franco escondem pontos muito sombrios, sendo o primeiro um realizador de pastiches literários e o segundo, iniciado sua carreira como um plagiador do primeiro. O primeiro consagrando mentiras igrejistas dentro do Brasil, o segundo espalhando essas mentiras pelo mundo afora.

O aparato de "bondade" e "caridade" é apenas uma tradução atualizada de velhas vaidades pessoais, como as dos fariseus e saduceus, que rezavam orgulhosos nos bancos da frente, nos seus templos, e traziam falsos ensinamentos, algo que era reprovado severamente por Jesus.

Hoje, são os chicos e divaldos os fariseus e saduceus de hoje, trazendo a palavra embelezada, com gosto de mel, para disfarçar o veneno da mistificação e do moralismo. Os falsos sábios a presumir que possuem respostas para tudo, principalmente Divaldo Franco. Os falsos profetas a supor que conhecem o futuro mais remoto. Os falsos cristos que se passam por vítimas de suposta intolerância, quando advertidos de seus erros graves.

É isso que impede eles de serem considerados sequer de elevada evolução. Os mitos de Chico Xavier e Divaldo Franco como "almas puras" foram forjados pela publicidade tendenciosa da Federação "Espírita" Brasileira. Tudo para forçar a venda de livros e os lucros dos dirigentes "espíritas".

Daí que a pieguice com que se expressa esses estereótipos de "amor e bondade", com todos os clichês relacionados, mostra o quanto esse aparato não tem sentido prático nem verdadeiro, e não é difícil entender quando pessoas deslumbradas com esse aparato se irritam facilmente quando contrariadas. É porque a aparência de beleza e superioridade moral não passa de uma grande ilusão.

segunda-feira, 28 de março de 2016

A segunda deturpação do "espiritismo"


Está à tona a segunda deturpação da Doutrina Espírita, depois de tantas inserções católicas feitas pelo "movimento espírita". Diante da crise vivida atualmente, os "espíritas" agora apelam para o recurso primário e aparentemente convincente e tranquilizador: o "bom-mocismo".

A ideia é dar a impressão de que os "espíritas" admitem terem cometido erros em relação ao pensamento de Allan Kardec, mas utilizam o discurso da fraternidade e a caridade paliativa como desculpas para continuarem prevalecendo.

O "espiritismo" distorceu muitos e muitos conceitos no Brasil. Tornou-se um roustanguismo piorado, porque nem Jean-Baptiste Roustaing conseguiria deturpar a doutrina kardeciana com tamanha habilidade e com tamanha persistência, alcance e êxito.

Diante da mais aguda crise vivida pelo "movimento espírita" - e foram tantas crises, desde os tempos em que Afonso Angeli Torteroli reagiu contra o igrejismo de Adolfo Bezerra de Menezes, até hoje - , seus membros agora usam como artifício as desculpas de "fraternidade", como se ser bonzinho fosse um diferencial para a doutrina brasileira.

O discurso nos traz a ideia de uma "religião da bondade", com textos inócuos pedindo para evitarmos os conflitos, ajudarmos as pessoas, espalharmos o amor, mudarmos nossos pensamentos em prol da fé e da fraternidade, e por aí vai.

Tudo parece atraente, fascinante, tranquilizador, equilibrado. Mas não é. E torna-se pernicioso porque, na vida complexa em que vivemos, é completamente ineficiente promover a caridade dentro dos limites ideológicos de qualquer religião.

Além do mais, a caridade paliativa e a fraternidade aleatória não conseguem resolver os conflitos e dilemas que a sociedade brasileira vive,  da mesma maneira que não conseguiria resolver qualquer outra sociedade em qualquer parte do mundo.

Afinal, essa "bondade" não resolve o sistema de desigualdades e injustiças que a sociedade vive, e não apazigua desavenças, e muitas vezes essa "linda fraternidade" e o "bondoso perdão" acabam consentindo com os abusos dos privilegiados e as desgraças dos sofredores.

ESFORÇO EM VÃO

Esta segunda deturpação do Espiritismo, agora reduzido a uma doutrina do bom-mocismo, embora cause encanto e satisfação até nos questionadores da deturpação espírita, pelo fato de que a ideia de "bondade" ser agradável para todos, torna-se uma postura bastante perigosa e tendenciosa.

Pensando o "espiritismo" como a "religião da bondade", ela simplesmente invalida o esforço de Allan Kardec, porque ele não criou a Doutrina Espírita para ser bonzinho. Por outro lado, será que somente os "espíritas" podem ser considerados "bondosos" ou, ao menos, serem tidos como os "melhores representantes" da ideia de "amor", "bondade" e "dedicação ao próximo"?

A bondade não é diferencial para coisa alguma porque é da natureza da vida humana que todos possamos ser bons. Por isso, ela é uma qualidade geral que, em nenhum momento, pode representar diferencial para qualquer ideologia.

Se uma religião usa a "bondade" como um pretenso diferencial, é bom desconfiar, porque é aí que a religião deixa de cumprir suas finalidades, desviando seu foco doutrinário para dizer que vale porque é "bondosa".

E o Espiritismo, que nem religião deveria ser, torna-se pior ainda, porque o aparato de "bondade" invalida todo o esforço árduo de Kardec e reduz as instituições "espíritas" em pretensas organizações de caridade, um desvio de foco da proposta original.

Por isso, o discurso de "bondade" pode ser encantador e atrair um apoio supostamente unânime. Mas ele desvia o Espiritismo da missão original, descrita sabiamente por Kardec. Porque ser bom não traz diferença alguma, ser bom tem que ser um hábito geral e não uma qualidade que alimenta vaidades pessoais por conta dos aparatos de humildade, misericórdia e filantropia.

domingo, 27 de março de 2016

A "bondade" e a incompetência doutrinária do "movimento espírita"

MAIS FÁCIL ENCHER DE CORAÇÕEZINHOS UMA DOUTRINA RELIGIOSA QUE NADA TEM A DIZER DE COERENTE.

Sabemos que a coerência não é uma palavra praticada pelo "movimento espírita". Ter coerência não é aceitar uma série de contradições e equívocos doutrinários em prol de um falso equilíbrio da "bondade" e da "aceitação".

A coerência é mais ferina, e se observarmos bem, o "movimento espírita" traduz todos aqueles perigos alertados no próprio tempo de Allan Kardec, já que os inimigos internos da Doutrina Espírita, os piores deles, floresceram no Brasil e cresceram de maneira descontrolada.

Hoje, num momento considerado tarde demais, se denuncia com larga escala as deturpações doutrinárias, relembrando esforços anteriores e exercendo novos. Porém, é tarde demais porque a doutrina brasileira cresceu demais, criou um lobby fortíssimo e usa de vários artifícios para resistir e estar acima da lógica, do bom senso e de todo tipo de adversidade a esse movimento.

Um dos pretextos usados é a "bondade". Como se maus espíritas podem ser "bons espíritas" por serem "bonzinhos". O bom-mocismo "espírita", ilustrado de imagens de coraçõezinhos, crianças sorridentes, uso abusivo da palavra "amor" e outras manobras, é algo que preocupa, e é mais preocupante porque durante muito tempo essa farsa tranquilizou muita gente.

A "bondade" sempre foi usada pelos "espíritas" como um freio para desarmar seus contestadores. Em um dado momento, os escândalos eram abafados porque o "espiritismo" brasileiro era "bondoso". Francisco Cândido Xavier foi o exemplo mais típico disso, todo esforço de investigação esbarrava no seu sedutor estereótipo de "caipira bonzinho", mais tarde somado pelo de "velhinho frágil".

É ilustrativo que o Brasil se deixe levar pelo jogo das aparências e o estereótipo do "bom velhinho" de Chico Xavier seja aceito pelas mesmas pessoas que se horrorizam pela aparência rústica e robusta do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, um dos bodes expiatórios da temporada.

Lula está associado a escândalos de corrupção que não são devidamente esclarecidos, a acusações confusas que são feitas em tom exageradamente emocional, sem analisar as coisas. Mesmo assim, ele é odiado por uma boa parcela da população como se fosse o "pior bandido do Brasil".

Chico Xavier está associado a fraudes comprovadas e farsas de fácil identificação, como os pastiches literários em que o exemplo dos livros que usam o nome de Humberto de Campos demonstra bem esse embuste. Xavier ainda participou, com muito gosto, da armação de Otília Diogo. No entanto, ele é tratado como se fosse a "perfeição personificada" e adorado com a mais absoluta cegueira.

Não é preciso analisar que muitos dos que veem Chico Xavier como uma "pessoa iluminada" e Lula como um "crápula" são as mesmíssimas pessoas, e isso mostra o quanto o "espiritismo" brasileiro busca promover o jogo das aparências para dissimular as sérias deturpações doutrinárias.

O bom-mocismo "espírita" torna-se então uma armadilha, um processo pernicioso de manipulação ideológica, de sedução da opinião pública, na qual tenta-se neutralizar todos os esforços de desmascarar a deturpação doutrinária e seus responsáveis diretos e indiretos.

Isso cria problemas, porque, enquanto os livros investigativos - como O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, fundamental obra de Attila Paes Barreto de 1944 - , são deixados de lado e condenados ao esquecimento, obras mistificadoras se multiplicam e dominam as seções "espíritas" das livrarias comuns, tirando de escanteio até os livros de Allan Kardec!

Enquanto se espera uma bibliografia imparcial do médico Adolfo Bezerra de Menezes, mostrando também aspectos sombrios e deixando de lado o deslumbramento religioso, lançam-se livros sobre "lindos relatos" sobre ele, vários deles invenções fictícias e fabulosas que, como em contos-de-fadas, narram fantasiosas aventuras do espírito do ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira.

Enquanto se espera reaparecer ou aparecer livros investigativos sobre as fraudes de Chico Xavier, há uma pilha de livros com verdadeiras asneiras que inventam qualidades surreais do anti-médium mineiro, promovido a "filósofo", "cientista", "analista político" e outras invencionices.

Tudo isso é respaldado pelo pretexto da "bondade". Deste modo, a ideia de "bondade" se torna perigosa, porque ela é a desculpa que os "espíritas" usam para que se consinta e se permita todo tipo de deturpação doutrinária, confundindo contradição com equilíbrio, só por causa das "boas palavras" e dos "atos em favor do próximo".

Isto é terrível. Afinal, é essa desculpa da "bondade" que freou todo tipo de esforço em desmascarar a farsa do "movimento espírita", o inimigo interno tão alertado pelo espírito Erasto, em alertas corroborados por Allan Kardec, porque toda discussão "morria" com essa desculpa esfarrapada.

Isso é reflexo do complexo de inferioridade brasileiro, que aceita qualquer coisa que pareça "melhor do que nada" ou que se apoie na desculpa de "ajudar em alguma coisa". Canastrões, canalhas, demagogos se apoiam nisso, e é isso que mentirosos fazem para obter credibilidade.

Daí que o tempo passa e a gente vê uma porção de mentirosos, canalhas e farsantes ocupando os altos postos da sociedade, controlando a mídia, o entretenimento, o Poder Judiciário, o mercado cultural e, é claro, os movimentos espiritualistas, usando o bom-mocismo como meio de disfarçar a incompetência que, no caso dos "espíritas", se reflete no conteúdo de sua doutrina.

sábado, 26 de março de 2016

"Espíritas" e a incompreensão das "forças divinas"


Quanta incompreensão! Os "espíritas" interpretam mal as ideias de Allan Kardec a respeito de Deus e interpretam a ideia desse "ente superior" com os mesmos preconceitos igrejistas de um "velhinho de barba" que trata a Terra, seus seres e coisas como se fosse um brinquedinho.

Esses preconceitos igrejistas são travestidos de "ciência" mas não escondem seus julgamentos moralistas mais retrógrados (e medievais). Até a "profecia" de Francisco Cândido Xavier, sobre a tal "data-limite", envolve essa ideia: a "ira de Deus" que castigaria o Hemisfério Norte se continuassem a haver ataques terroristas e conflitos bélicos.

Há poucos dias, explosões de bombas, num atentado depois assumido pelo Estado Islâmico, num aeroporto de Bruxelas, na Bélgica, matou 31 pessoas, entre elas dois dos três terroristas, atuando como homens-bombas, e o remanescente acabou preso dias depois da tragédia.

Os "espíritas", dotados de um delirante juízo de valor em que todos os sofredores e vítimas de algum infortúnio são vistos como "antigos algozes romanos", imaginam que o progresso social - ou, pelo menos, o que entendem como "progresso social" - será conduzido por Deus, queiram ou não queiram as pessoas, que serão castigadas se não cumprirem o que ordenam as "leis divinas".

Isso é uma interpretação leviana do que Allan Kardec comentou no texto da questão 783, do capítulo Da Lei de Progresso de O Livro dos Espíritos - usamos aqui a tradução de José Herculano Pires - , sobre o aperfeiçoamento da humanidade. Vejamos o texto:

783. O aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta?

- Há o progresso regular e  lento que resulta da força das coisas; mas quando um povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.

Comentário de Kardec: Sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não asfixiar. Quando essas leis se tornam de todo incompatíveis com o progresso, ele as derruba, com todos os que as querem manter, e assim será até que o homem harmonize as suas leis coma  justiça divina , que deseja o bem para todos, e não as leis feitas para o forte em prejuízo do fraco.

O homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram pouco a pouco nas idéias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações.

O homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a confusão momentâneas, que o atingem nos seus interesses materiais, mas aquele que eleva o seu pensamento acima dos interesses pessoais admira os desígnios da Providência que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido.

Segue então a nota do próprio José Herculano Pires:

(1) Como se vê, por este comentário de Kardec e pelas explicações dos Espíritos a que ele se refere, o Espiritismo reconhece a necessidade desses movimentos periódicos da agitação natural, quer dos elementos, quer dos povos, para a realização do progresso. Mas os admite como fatos naturais e não como criações artificiais a que os homens devam dedicar-se, em obediência a doutrinas revolucionárias.  O que ele ensina é que o homem deve colocar-se, nesses momentos, acima de seus mesquinhos interesses pessoais, para ver em sua amplitude a marcha irresistível do progresso, auxiliando-a na medida do possível. (N. do T.)

Vejamos o que disse Kardec sobre a ideia de Deus, no Capítulo I do referido livro, na primeira pergunta feita neste enorme questionário que é o conteúdo do livro:

1. O que é Deus?

- Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.

Com isso, observa-se que Deus não é o "velhinho" católico que os "espíritas" tomaram emprestado e que o "sábio" Divaldo Franco chegou a concordar com a ideia católica de Deus na forma antropomorfizada e machista (um "criador" do sexo masculino).

Deus, para Kardec, é uma espécie de energia, que o próprio pedagogo admite ser dotada de mistério, e que teria sido a origem de todas as coisas e seres. Não é o "vovô imaginário" que muitos supõem e, por isso, não podem atribuir a ele uma figura de um mestre severo nem de um general ou coisa parecida, a castigar os humanos que desobedecerem aos seus desígnios.

Portanto, não se trata de um "homem invisível" que manda na humanidade, mas um princípio de forças científicas que os humanos traduzem em ideias. Portanto, sem chance de haver a ideia de um chefe invisível capaz de bagunçar a Terra para a humanidade ver a necessidade de botar tudo em ordem.

O que acontece é que, nos ambientes de incompreensões e abusos, a crise surge porque os interesses das pessoas entram em choque. As "forças divinas", na verdade, seriam as ideias que se encontram truncadas ou marginalizadas, e os conflitos movidos pelos mal-entendidos e pelas ganâncias fazem com que essas ideias cheguem à tona, não por ordens divinas, mas porque um considerável número de pessoas passou a entender aquilo que não conheceram ou entenderam mal.

CRISE BRASILEIRA

Infelizmente, o "espiritismo" brasileiro interpreta isso com os preconceitos católicos que a doutrina local sempre teve desde que optou pelo igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing, em 1884. E fala da crise que atinge o Brasil como se ela pudesse ser resolvida por fórmulas religiosas pré-estabelecidas.

É muito complicado resolver as coisas apenas "dando as mãos". Pode-se forjar "fraternidade" aceitando os abusos dos algozes e ficando indiferente às desgraças dos sofredores. Argumenta-se, de maneira hipócrita mas supostamente bondosa, que os algozes "terão em breve o que merecem" e os sofredores "conhecerão a salvação um dia", sem que algo definitivo se faça para garantir isso.

A interpretação do texto de Allan Kardec soa risível: "As pessoas deveriam se unir e dar as mãos para resolver o problema, aprimorar a fé religiosa e confiar mais em Jesus, mudar os pensamentos buscando a aceitação e a cooperação e, caso isso não aconteça, Deus punirá com abalos naturais e morais que trarão dor e angústia até que todos se aceitem como irmãos".

Essa interpretação é equivocada, porque o que Allan Kardec disse foi o seguinte: "Diante de situações complexas de acomodação, a rotina irá aborrecer uns e acomodar outros, o que criará situações de incômodo que resultarão em conflitos de interesses, no qual virão à tona ideias antes discriminadas que passam a ter um novo sentido e inspirar novas soluções para a sociedade".

Deus seria a "inteligência suprema", o "mundo das ideias", e as "forças divinas" seriam na verdade as forças do Conhecimento, que diante da acomodação da humanidade, fazem despertar ideias novas que adormeceram na discriminação e que, diante da crise de interesses, surgem com mais força como novas questões ou propostas para o progresso da humanidade.

É através do desenvolvimento destas ideias que a sociedade se transforma, diante da discussão dos problemas, da resolução de injustiças e do abandono de antigos privilégios cujos prejuízos sociais, antes apenas conhecidos, tornam-se comprovados. O progresso social vem através de novas ideias e novos procedimentos, e não apenas na fé inerte e no frio e cego segurar de mãos.

sexta-feira, 25 de março de 2016

Passagem fictícia da vida de Jesus é corroborada por Chico Xavier


Quer conhecer a história do Império Romano, os fatos da Antiguidade ocorridos na Roma Antiga e no seu vasto império que envolveu territórios da Europa e da Ásia? Então, é necessário se afastar do livro Há Dois Mil Anos, de Francisco Cândido Xavier, ditado pelo espírito Emmanuel.

O livro mostra aberrantes erros de informação, a partir do suposto personagem que Emmanuel diz ter sido nos tempos de Jesus: o suposto senador Públio Lentulus, o "senador romano que não entendia de latim", e que teria sido inspirado numa carta apócrifa publicada na Idade Média, mas uma narrativa tão fictícia que nem a própria Igreja Católica medieval aceitava como autêntica.

É claro que houve políticos romanos com este nome, mas as informações correspondentes ao suposto Lentulus de Emmanuel nunca encontraram registros nos vestígios históricos que chegaram até nós. Além do mais, houve até erros de castas religiosas em informações descritas pelo pesquisador José Carlos Ferreira Fernandes, intitulado "Livro Há Dois Mil Anos: Uma Fraude Completa". O historiador Lair Amaro também analisa outros erros históricos do livro e outras obras chiquistas.

O ponto mais trivial dessa obra é que a obra de Chico Xavier e Emmanuel legitima uma abordagem fictícia, que é tida como o ponto máximo das encenações da Paixão de Cristo: o demorado julgamento de Pôncio Pilatos ao condenado Jesus Cristo.

O episódio, de tons bastante dramáticos e que fazem a festa dos atores que querem fazer o papel de Pilatos, que exige atuação cênica mais complexa e até o cantor David Bowie exerceu esse papel no cinema (em A Última Tentação de Cristo, de Martin Scorcese), simplesmente NUNCA EXISTIU.

O suposto julgamento de Pilatos não passou de uma invenção medieval, para tentar inocentar o Império Romano (que introduziu a Igreja Católica) e culpar os judeus. Dessa forma, criou-se um Pilatos "misericordioso", mas que foi pressionado pelos judeus a crucificar Jesus.

Isso nunca existiu porque nenhum registro histórico comprovou nem sequer cogitou tal hipótese. E essa suposta atitude de Pilatos contraria a própria natureza dos poderosos romanos, que eram bastante diretos e cruéis quanto à condenação de criminosos ou outras pessoas consideradas desobedientes a seu poder.

Só para se ter uma ideia, pessoas inadimplentes com os impostos do governo eram crucificadas. E Pilatos, conforme registrou o filósofo judeu Filo de Alexandria, um mês após a deposição do político romano, era descrito como um homem extremamente cruel, que condenava à morte seus prisioneiros, sem fazer julgamento algum e nem cogitar qual sentença aplicar.

Em outras palavras, Pilatos era curto e grosso na hora de condenar seus prisioneiros. Simplesmente os mandava matar, sem pensar duas vezes. Era a lógica dos poderosos romanos da época, imprudentes, impiedosos mas imediatos nas sentenças fatais.

Portanto, Jesus, uma vez detido, foi condenado à morte, de forma rápida e rasteira. Sem julgamento, sem diálogo, sem Pilatos dando pausa aqui e ali para olhar a plateia ou ficar cabisbaixo pensando. Daí que o suposto julgamento nunca passou de uma invenção, literalmente uma obra de ficção.

Para piorar, Chico Xavier é acusado de ter plagiado o livro A Vida de Jesus, de Ernest Renan, um historiador antissemita, o que também faz com que os que duvidam até da psicografia de Emmanuel venham à tona nos questionamentos. E, mais grave ainda, faz com que o "bondoso médium" também seja acusado de antissemitismo. Neste caso, corroborar uma ficção tida como realista causou mais problemas do que se pode imaginar.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Ideias equivocadas de mediunidade


O emburrecimento é uma constante no Brasil. O rol de desinformações que envolve o "espiritismo" feito no Brasil, uma doutrina que, em tese, valoriza a busca pelo conhecimento, é tanto que os "espíritas" são os que menos estão esclarecidos sobre qualquer coisa, deixando que a doutrina originalmente codificada por Allan Kardec vire um engodo na sua "adaptação" brasileira.

A mediunidade é um exemplo de como existem ideias equivocadas e muito mal interpretadas. Essa má interpretação permite que sejam considerados "médiuns" pessoas que deixam de ser intermediárias, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que passam a ser o centro das atenções, traindo o sentido etimológico da palavra "médium".

A palavra "médium" tem origem latina, medium, que quer dizer "canal de intermediação" ou alguma coisa relacionada ao que é intermediário. A partir desta palavra, formou-se a expressão em português "meio". Há também o termo "médio", que obviamente é bem conhecido.

A deturpação do termo "médium" é, portanto, notória, e corrompe até mesmo o processo de contato espiritual de acordo com os conceitos de Comunicação. O processo de transmissão de mensagem pelo emissor (espírito), canal (médium) e receptor (pessoas vivas) é distorcido, praticamente trocando alguns papéis.

Independente de fraude (quando o "médium" inventa uma mensagem da própria mente e diz que foi um morto que transmitiu) ou não, a figura do "médium" deixa de ser intermediária. Ele passa a ser o centro das atenções, a atração principal, o dublê de pensador e de conselheiro moral, deixando de lado a função intermediária, ou seja, de "médium", sendo portanto um anti-médium.

Deste modo, no processo de "mensagens mediúnicas", o espírito falecido deixa de ser o emissor, mas o "canal" que é usado pelo "médium" para emitir sua propaganda religiosa. Ou seja, o "médium" é o emissor de mensagens de apelo religioso e o falecido (independente de fraude ou não) se reduz a um garoto-propaganda dessa propaganda igrejeira, muitas vezes subliminar.

Alguns esclarecimentos devem ser feitos sobre o sentido de "médium", para que assim se desfaçam os diversos equívocos que fazem da mediunidade feita no Brasil uma grande bagunça, se distanciando das recomendações originais de Allan Kardec.

1) MÉDIUM NÃO É AQUELE QUE, POR SI SÓ, FALA COM MORTOS

O médium verdadeiro fala com espíritos, mas o sentido da palavra se refere àquele que se torna um instrumento de contato entre um falecido e as pessoas vivas. O indivíduo que, podendo se comunicar com mortos, não exerce essa intermediação, se limitando apenas a ser um amigo do espírito falecido, não é médium, é paranormal.

2) MÉDIUM NÃO É UM PROPAGANDISTA ESPIRITUALIZADO DE APELOS IGREJISTAS

O deslumbramento religioso faz com que o sentido de "médium" se perca como um cego numa floresta, e há quem pense que "médium" é aquela figura espiritualizada que lança mensagens de apelo igrejista. Lançando mão de um suposto espírito do além, o "médium" então se torna um "publicitário" do igrejismo e o espírito do além, agindo ou não agindo, torna-se seu garoto propaganda. Isso não é mediunidade, é propagandismo religioso.

3) MÉDIUM NÃO É UM FILÓSOFO DA BOA PALAVRA

Num país de pouco hábito de leitura e que, agora, com um hábito estranho de pessoas se limitarem a ler frases de efeito de qualquer famoso ou então ler livros "água com açúcar", que trazem tudo, menos Conhecimento, Chico Xavier e Divaldo Franco são considerados "filósofos" por uma boa parcela de incautos. Se eles não podem ser considerados médiuns no sentido original do termo, também não podem ser vistos como "filósofos da boa palavra".

Afinal, a coisa que eles não fazem é trazer filosofia. Primeiro, porque as obras de Chico e Divaldo contrariam frontalmente muitos dos ensinamentos de Allan Kardec e, com isso, vão contra o tripé Ciência-Filosofia-Moral do pensamento kardeciano original, já que os dois "médiuns", ou melhor, anti-médiuns, investem no mais gosmento igrejismo ideológico.

4) MÉDIUM NÃO É A ESTRELA DO PROCESSO MEDIÚNICO

Na época de Allan Kardec, os médiuns de que o pedagogo se servia para obter mensagens do além eram pessoas tão discretas que nada faziam senão transmitir esses recados, e não faziam muito alarde para isso, nem ousavam bancar os dublês de pensadores e falsos filósofos. Eram pessoas que só faziam a tarefa que lhes cumpria fazer e ficava nisso.

O problema é que, com a ideia de transformar Chico Xavier num astro pop, o sentido de intermediação foi derrubado. "Médium", no Brasil, passou a ser a grife, o centro das atenções, o pretenso pensador, o consultor espiritual, o conselheiro moral etc. Virou estrela, e, com isso, foi para as favas o discreto papel intermediário do verdadeiro médium, que praticamente inexiste no Brasil.

Com isso, a mediunidade é distorcida e corrompida e, portanto, não dá conta do recado. E, como a prática dita "mediúnica" é, em tese, muito comum, a atividade fica desmoralizada, até pela facilidade extrema de surgirem supostos médiuns. E as fraudes são tantas que a propaganda religiosa se torna um artifício para evitar revoltas. Enquanto isso, os mortos quase não se comunicam com o Brasil.

quarta-feira, 23 de março de 2016

O "bom moço" Luciano Huck e seu apreço a Chico Xavier

LUCIANO HUCK E SUA ESPOSA ANGÉLICA EM 02 DE ABRIL DE 2010, NA ESTREIA DE CHICO XAVIER - O FILME.

O que é bom-mocismo? É a mania de bancar o bom-moço. É a mania de parecer bondoso, forjar ações de bondade que, em si, não são más, mas não trazem diferencial algum. É uma maneira de alguém tentar parecer "mais evoluído" e atrair assim um maior apoio da sociedade.

Sabe-se que o "movimento espírita", diante de tantas denúncias de irregularidades, usa como último recurso a retórica da "bondade". É como se maus espíritas pudessem prevalecer pela desculpa da bondade. Tem até uma piada de que o "espiritismo" brasileiro tende a mudar de nome para "bom-mocismo", com tanta desculpa ligada às ideias de "bondade" e "caridade".

A sociedade conservadora vê a ideia de "bondade" de uma maneira estereotipada, exaltando atos e iniciativas que não transformam profundamente a sociedade, apenas criando paliativos que, na propaganda religiosa, parecem mais atraentes do que o verdadeiro ativismo que luta contra desigualdades sociais.

Sabe-se que Francisco Cândido Xavier, em sua entrevista ao programa Pinga-Fogo, da TV Tupi, em 1971, despejou comentários agressivos contra camponeses e operários, que o "bondoso médium" acusava de "promover o caos", daí a defesa entusiasmada do "admirável" Chico Xavier à ditadura militar, numa época em que ela tornou-se mais repressiva.

LUCIANO HUCK, NA EDIÇÃO ESPECIAL DO QUADRO LATA VELHA NA TERRA NATAL DE CHICO XAVIER.

A ideia mais conservadora de "bondade" não é lutar por um pedaço de terra ou mais melhorias de vida. É "ajudar" as pessoas mais pobres sem que se possa mexer nos privilégios dos poderosos e ricos. Estes apenas doam uma pequena parcela do que têm, mas sempre mantém sua situação privilegiada em detrimento da maioria de desafortunados.

Daí que é um infeliz senso comum, num país tomado de onda reacionária que é o Brasil, de que a "verdadeira caridade" é aquela que prefere ajudar poucos do que mexer nas fortunas dos privilegiados. Uma "caridade" mais paliativa que eficiente, que mais fascina as pessoas do que transforma vidas.

Daí que é ilustrativo que, por exemplo, Divaldo Franco seja visto como o "maior filantropo do Brasil" ajudando não mais do que 0,08% da população de Salvador, o que, em dimensões nacionais, é o mesmo que quase nada. Um "maior filantropo do Brasil" que ajuda 0% da população brasileira? Por que essa visão tão absurda, não bastasse o fato de se comemorar muito por quase nada?

Simples. Porque a propaganda religiosa fascina mais do que o ativismo social. O professor Paulo Freire, que criou um projeto de alfabetização de adultos que envolvia interação social, visão crítica do meio em que se vive e mobilização da comunidade, é reprovado pela sociedade, acusado levianamente de "fazer lavagem cerebral" nas pessoas.

E logo ele, Paulo Freire, que em seu programa de ensino, recomendava aos seus professores a conhecer primeiro a comunidade antes de desenvolver um ensino nesse lugar. Uma caridade autêntica, ver o outro, ver suas necessidades e estimular a união de todos em busca de qualidade de vida e independência social.

Já Chico Xavier, com suas esmolas e outros paliativos modestos, virou "ativista", assim como o Divaldo que é o "maior filantropo do país" por praticamente 0% de beneficiados. Eles nunca reivindicaram reforma agrária, redução dos privilégios dos ricos ou coisa parecida. Com seus programas sociais inócuos e pouco eficazes, eles no entanto parecem mais "simpáticos" em suas propostas.

Um divaldista infiltrado numa comunidade virtual de ateus (?!) chegou a dizer que a proposta da Mansão de Caminho, de Divaldo, para apenas ensinar a "escrever, ler e trabalhar" já era "muito", esquecendo ele que isso é apenas o básico e que, no contexto "espírita", esconde a própria lógica moralista e conformista do "espiritismo" brasileiro.

Afinal, em instituições religiosas, a alfabetização sempre ocorre sob o preço caro do proselitismo religioso. Nada se cobra pelo ensino, ele é gratuito, mas em compensação se ensinam visões mistificadoras e igrejistas por trás. Seria ingênuo que esses ensinamentos se limitassem a uma simples "defesa da solidariedade e da fraternidade através das lições cristãs".

ASSISTENCIALISMO

Quer dizer, dois pesos e duas medidas. Ensinar conscientização social, visão crítica do mundo e lutar por melhorias, num projeto educacional laico, é "doutrinação comunista", "agitação social" e "lavagem cerebral". Já criar cidadãos conformados que leem, escrevem, fazem contas e trabalham, mas não veem o mundo de forma crítica e ainda são manipulados por ideias igrejistas, isso é visto pela "boa sociedade" como "ativismo" e "caridade transformadora (sic)".

E aí chegamos ao Luciano Huck, também facilmente promovido a "filantropo" através de quadros "sociais" do programa Caldeirão do Huck. Entusiasta de Chico Xavier, consta-se que ele teria conhecido pessoalmente o "médium", quando não era tão famoso como hoje.

Em 02 de abril de 2010, centenário de nascimento de Chico Xavier, Luciano Huck foi com sua esposa e colega Angélica para ver a estreia do longa-metragem Chico Xavier - O Filme, e, pouco tempo atrás, o apresentador do Caldeirão do Huck (Rede Globo) foi fazer uma edição do quadro "social" Lata-Velha em Pedro Leopoldo, terra natal do anti-médium mineiro.

Esses quadros "sociais" já são cópia da cópia e feitos para mostrar o "assistencialismo", fenômeno de "caridade" tendenciosamente feito para fins publicitários e comerciais, em programas do gênero. Os quadros de Luciano Huck já foram copiados de quadros de Gugu Liberato que, por sua vez, são imitação de programas transmitidos na Flórida, EUA.

E muitos desses resultados são duvidosos. Dizem que, no quadro Lata-Velha, Luciano Huck toma de volta os carros recuperados de seus beneficiados, que recebem uma pequena indenização por isso. Além disso, a "bondade" de Huck, que declarou acreditar em Deus e ser religioso, não é tão autêntica assim.

Ele é também associado a frases socialmente depreciativas estampadas em suas camisetas, como "Vem Ni Mim Que Tô Facim", estampada sob a foto de uma criança, sugerindo pedofilia. Huck também havia abandonado um piloto que salvou ele, Angélica e os filhos de um trágico acidente aéreo, se limitando a dar apenas um panetone no Natal.

Huck nem agradeceu ao piloto pela manobra arriscada que impediu ele e sua família de morrerem. O piloto passa por dificuldades e Huck nem sequer foi assisti-lo. Ele preferiu atribuir a Deus a salvação e deixou o piloto à própria sorte, suspenso do trabalho por causa do acidente e tendo o salário reduzido. E Huck ainda humilhou um cinegrafista, tratando-o como se fosse um cachorro.

Isso nos põe a pensar. Que "bondade" queremos? Aquela que ajuda pouca gente e não mexe nos privilégios dos ricos, mas que é "mais fascinante" porque parte de algum ídolo religioso? Ou aquela "bondade" sincera que parte de quem quer realmente combater injustiças e desigualdades sociais?

E que "bondosos" queremos? Aqueles que parecem sempre "bondosos", mas que cometem humilhações ou descasos aqui e ali? Ou aqueles que, mesmo parecendo "cruéis" ao se voltarem contra privilégios das elites, querem atingir um maior número de beneficiados? Sob a sombra da religião, a "bondade" também mostra seus pontos sombrios.

terça-feira, 22 de março de 2016

Divaldo Franco plagiou Chico Xavier em várias obras


Um grande escândalo envolveu Divaldo Franco e abalou as bases do "movimento espírita". Em abril de 1962, surgiram as denúncias de que o anti-médium baiano teria plagiado obras de Francisco Cândido Xavier, que já são pastiches literários.

A crise causou muita confusão na época e desnorteou até os espíritas autênticos - como Herculano Pires e Deolindo Amorim - e causou um impasse na cúpula da FEB, porque um dos denunciantes era Luciano dos Anjos, membro da cúpula da federação.

Foi divulgada uma carta na qual Chico Xavier reclamava que Divaldo Franco plagiou várias das obras do anti-médium mineiro, a partir da estreia do anti-médium baiano, em 1959, e um trecho no qual o plagiado da ocasião se mostra bastante perplexo é aqui reproduzido:

"Por que razão esse propósito deliberado de arrasar com as mensagens dos nossos Benfeitores Espirituais, recebidas por meu intermédio, desfigurando-as, descaracterizando-as, ferindo-as, transfigurando-as? Não posso inocentá-lo, porque isso acontece há muito tempo e ele possui bastante auto-crítica para reconhecer que as entidades que se valem dele para isso estão entrando numa atitude, francamente abusiva por desrespeitosa ao Espiritismo e à Mediunidade, a ponto de sacerdotes católicos-romanos já estarem se manifestando pela imprensa indagando se sou eu ou ele o mistificador. De mim mesmo nada valho e estou pronto a receber por bençãos quaisquer injúrias que seja assacadas contra a minha pessoa, entretanto, no assunto, é a Doutrina Espírita que está sendo desprestigiada e dilapidada".

Reproduzimos abaixo dois plágios de Divaldo sobre Chico Xavier, que quase comprometeram a amizade dos dois. Consta-se que os dois se mantiveram afastados por um tempo. Além disso, o "movimento espírita" recomendava o "silêncio" como resposta a tais impasses.

Mais tarde, em entrevista ao Fantástico (Rede Globo), Divaldo Franco afirmou que o plágio era "na verdade a manifestação da universalidade do pensamento", dando a crer que as semelhanças eram fruto de uma "coincidência do pensamento", em prol de uma "mesma transmissão da boa mensagem". Vá entender isso...

Curiosamente, é o mesmo Divaldo Franco que passou a corroborar as "profecias" de Chico Xavier no documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier e no correspondente livro homônimo de Juliano Pozati e Rebeca Casagrande.

O que se sabe é que, com as confusões ocorridas no "movimento espírita" nos anos 1960 - a estranha morte, até hoje não devidamente esclarecida, de Amauri Xavier, sobrinho do anti-médium, o plágio de Divaldo Franco das obras de Chico e o caso Otília Diogo que teve a participação do mineiro e causou o rompimento de Waldo Vieira - , a fase abertamente roustanguista deu lugar à atual fase dúbia, que continua praticando a deturpação igrejista, mas se diz "fiel" a Allan Kardec.

A primeira comparação se refere aos textos com o mesmo título, "Um Dia", o de Chico Xavier publicado em 1951 e o de Divaldo Franco publicado em 1962. Outro exemplo, "Trabalha Servindo", de Chico Xavier e Emmanuel, de 1959, e "Ama Ajudando", de Divaldo Franco e Joana de Angelis, de 1960, aparece depois. Vale comparar os textos e ver que é bom demais que grandes semelhanças sejam apenas coincidências da "universalidade do pensamento":

UM DIA 

Francisco Cândido Xavier - Atribuído ao espírito Isabel de Castro. FEB, 1951

Um dia, Sócrates deliberou sair de si mesmo, apresentando alguns aspectos da verdade, e imortalizou-se. 

Um dia, Colombo resolveu empreender a viagem ao Mundo Novo e desvelou o caminho para a América. 

A gloriosa missão de Jesus começou para os homens no dia da Manjedoura. 

O ministério dos Apóstolos foi definitivamente homologado pelos Poderes Divinos no dia de Pentecostes. 

Tudo no Universo começa num dia. 

O bem e o mal, a felicidade e o infortúnio, a alegria e a dor, invocados por nossa alma, guardam o exato momento de início. 

Quando plantamos, sabemos que a produção surgirá certo dia. Se encetamos uma jornada, não ignoramos que, em certo momento, ela terminará. 

Um dia criamos, um dia recolheremos. 

Não olvides, porém, que a semente não germinará sem cuidado, em tua quinta. 

Se deres teu dia à erva ingrata, ela se alastrará, sufocando-te o horto amigo. Se abandonares teus minutos aos vermes daninhos, multiplicar-se-ão eles, indefinidamente, impedindo a colheita. 

Ocupa-te com o dia, de olhos voltados para a eternidade. 

Das resoluções de uma hora podem sobrevir acontecimentos para mil anos. 

Tudo depende de tua atitude na intimidade do tempo. 

Judas era um discípulo fiel a Jesus, mas, um dia, acreditou mais no poder frágil da Terra que na administração do Céu, e traiu a si mesmo. 

Madalena era estranha mulher, possessa de sete demônios; um dia, no entanto, ofereceu-se à virtude e inscreveu seu nome na História, figurando no cânone das almas inesquecíveis. 

O amanhã será o que hoje projetamos. 

Alcançarás o que procuras. 

Serás o que desejas. 

Acorda para a realidade do momento e amontoa bênçãos pelos serviços que prestaste e pelo conhecimento que difundiste em tuas horas. 

O Tempo é o rio da vida cujas águas nos devolvem o que lhe atiramos. 

Enquanto dispões das horas de trabalho, dedica-te às boas obras. 

Se acreditas no bem e a ele atendes, cedo atingirás a messe da felicidade perfeita; mas se agora mofas do dia, entre a indiferença e o sarcasmo, guarda a certeza de que, a seu turno, o dia se rirá de ti. 

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UM DIA

Divaldo Pereira Franco - Atribuído ao espírito Vianna de Carvalho. FEB, 1962.

Um dia em que tomava banho, percebeu Arquimedes que os seus membros, mergulhados na água, perdiam considerável parte do seu peso, descobrindo, então, o princípio que o imortalizou.

Um dia, observando a queda de u’a maçã, Newton abriu as portas do pensamento para as leis da gravitação universal.

Um dia, resolvendo lutar contra o pessimismo das cortes européias e do povo, Colombo descobriu a América.

Um dia, após exaustivas experiências, a Sra. Curie descobriu o rádio.

Um dia, insistindo no ideal de bem servir à Humanidade, Zamenhof favoreceu a comunicação entre os povos com a língua Esperanto.

Um dia, Saulo de Tarso, tomado de radical anseio de fé legítima, transformou a concepção da vida e se fêz a maior carta-viva do Cristo.

Um dia, resolvendo viver para Jesus, Francisco de Assis fomentou o amor na Terra, renovando a conceituação vigente a respeito da Caridade.

Um dia, Gêngis Khan. disputando brutalidade, fez-se comandante de exércitos bárbaros e apavorou o mundo.

Um dia mentiste e todo um programa nefando teve início.

Um dia prometeste, olvidando logo mais a palavra empenhada, e o caráter foi afetado.

Um dia resolveste ajudar e uma vida nova começou.

Em todas as vidas existe sempre um dia, antecedendo a transformação do homem.

Um dia que dá origem a outros dias; um êxito que produz outros êxitos; um dano que assinala outros desvarios.

Examina teus pensamentos e atitudes cada dia. Age, mas pensa com cuidado.

Um dia, que pode ser hoje, dispõe-te à transformação para melhor, e assinalarás uma alegria estranha na tua existência.

Se num dia planejas o mal, logo sintonizas com os Espíritos maléficos que se comprazem com a leviandade e o crime.

Se num dia pensas o bem, cobrarás alento novo para fixar os marcos positivos do trabalho, afinando-te com as Inteligências superiores.

Pensa no dever, um dia, e, logo no dia seguinte, o pensamento nobre voltará ao teu cérebro.

Fixa a ilusão mentirosa e despertarás amanhã na decepção ultrajante.

Um dia, na vida, pode constituir-se início de um milênio diferente para tua alma.

Como a reflexão é a mãe de todas as virtudes, pensa bem e o teu caminho atravessará o portal de luz para a imortalidade. 

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TRABALHA SERVINDO

Emmanuel - Ditado para Francisco Cândido Xavier - Publicado em A Flama Espírita, 18 de julho de 1959. 


A cada momento, o Criador concede a todas as criaturas a benção do trabalho, como serviço edificante, para que aprendam a criar o bem que lhes cria luminoso caminho para a glória na Criação.

Não permitas, portanto, que o repouso excessivo te anule a divina oportunidade. 

Assim como o relaxamento é ferrugem na enxada, a benefício do joio que te prejudica a seara, o tempo vazio é flagelo na alma, em favor das energias perniciosas que devastam a vida. 

Não há corrosivo da ociosidade que possa resistir aos antídotos da ação. 

Não acredites, desse modo, no poder absoluto das circunstâncias adversas, a se mostrarem, constantes, nos eventos da marcha. 

Se a injúria te persegue, trabalha servindo, e o sarcasmo far-se-á reconhecimento. 

Se a calúnia te apedreja, trabalha servindo, e a ofensa converter-se-á em louvor. 

Se a mágoa te alanceia, trabalha servindo, e a dor erguer-se-á por utilidade. 

Se o obstáculo te aborrece, trabalha servindo, e o embaraço surgirá por lição. 

No trabalho em que possas fazer o melhor para os outros, encontrarás a quitação do passado, as realizações do presente e os créditos do futuro.  E é ainda por ele que 

conquistarás o respeito dos que te cercam, a riqueza da experiência, a láurea da cultura, o tesouro da simpatia, a solução para o tédio e o socorro a toda dificuldade. 

Importa anotar, porém, que há trabalho nas faixas superiores e inferiores do mundo. 

Movimento que aprisiona e atividade que liberta, atração para o abismo e impulso para o Céu… 

O egoísmo trabalha para si mesmo. 

A vaidade trabalha para a ilusão. 

A usura trabalha para o azinhavre. 

O vício trabalha para o lodo. 

A indisciplina trabalha para a desordem. 

O pessimismo trabalha para o desânimo. 

A rebeldiatrabalha para a violência. 

A cólera trabalha para a loucura. 

A crueldade trabalha para a queda. 

O crime trabalha para a morte. 

Todas essasmonstruosidades do campo moral representam fruto amargo e venenoso de audiências da alma com a inteligência das trevas, no palácio deserto das horas perdidas. 

Todavia, o trabalho dos que trabalham servindo chama-se humildade e benevolência, esperança e otimismo, perdão e desinteresse, bondade e tolerância, caridade e amor, e, somente através dele, o espírito caminha, na senda de ascensão, em harmonia com as leis de Deus. 

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AMA AJUDANDO

Por Joana de Angelis - Ditado para Divaldo Pereira Franco - publicado em 05 de março de 1960, no Centro Espírita Redenção, em Salvador, Bahia.

A todo instante, o Celeste Pai favorece os homens com as abençoadas dádivas da oportunidade de amar, como o melhor meio de criar o clima de auxilio entre todos, para a glória de fraternidade legitima na terra.

Não deixes, assim, que a indiferença pelos problemas alheios te cerceie a misericordiosa concessão. 

Na mesma razão que a negligência é enfermidade da alma a beneficio da preguiça que aniquila a atividade espiritual, a indiferença é flagelo cruel a favor da inutilidade perniciosa que destrói a vida. 

Não há veneno de ingratidão que resista aos anseios do perdão. 

Desse modo, não acredites nas vozes que se erguem revoltadas, batidas pela tormenta do desespero, preconizando vindítas e ódios. 

Se a má vontade te sitia, ama ajudando e converterás a frieza dos corações em sementeira de esperança. 

Se a ofensa te perturba, ama ajudando e transformarás o caluniador em amigo na retaguarda. 

Se a cólera te segue, ama ajudando e modificarás o clima de ódio em primavera de alegria. 

Se o desejo de posse te atormenta, ama ajudando e retificarás as inclinações inferiores, libertando-te da angustia. 

Se o remorso caminha contigo, ama ajudando e repara o erro cometido, enquanto é tempo, acendendo luz na consciência. 

Se a maldade te injuria, ama ajudando e a suspeita morrerá sem comprovação. 

Se o ultraje te ofende, ama ajudando e a dor se vestirá de luz no teu coração. 

Oferece as tuas horas ao amor infatigável e embora seja necessário rechaçar as víboras da animalidade nos seus redutos, permanece imperturbável sem desfalecimento e prosseguindo sem receio. Pelo amor desculparás a ignorância e pelo auxílio que movimentares em favor de todos, far-te-ás respeitado pelos que te cercam, porquanto, 

através do serviço constante aumentarás o patrimônio do saber e a experiência dilatar-te-á a visão, oferecendo soluções para os problemas que atormentam as almas. 

Convém registrar, porém, que o amor está igualmente nas Esferas Superiores do mundo, organizando a vida. Força dinâmica poderosa é movimento que liberta, atração que felicita e vibração que vitaliza. No entanto, nem todos o recebem na mesma intensidade…

O avaro ama o dinheiro aumentando a própria tortura. 

O ególatra ama a si mesmo caminhando em solidão. 

O vândalo ama a anarquia cavando abismo sob os pés. 

O rebelde ama o crime vitalizando a desdita em volta de si. 

O dissoluto ama os prazeres aumentando o rio da lama no qual se afoga lentamente. 

O colérico ama a desforra que lhe avinagra a existência. 

O viciado ama o gozo desequilibrante bebendo a cicuta que o vitimará. 

O medroso ama a treva onde se esconde aguardando a loucura. 

Todos esses desventurados das aflições da alma refletem a sintonia com as inteligências vingadoras do Além-Túmulo, perdidos na concha sinistra do personalismo destruidor.  

Apesar disso, o amor daqueles que te ajudam amando pode ser denominado de compaixão e misericórdia, esquecimento do mal e perdão, piedade e socorro, fazendo-se senda luminosa de Caridade e caminho do Senhor que venceu o mundo servindo e continua amoroso aguardando por nós. 

segunda-feira, 21 de março de 2016

Explicando dois mal-entendidos de duas ideias lançadas por Allan Kardec


A obra de Allan Kardec deve ser observada com cuidado, observando as traduções mais fiéis e, mesmo assim, usando o bom senso e a atenção apurada, para evitar mal-entendidos. A tentação de ler tudo às pressas e interpretar mal as coisas é que faz com que os atuais deturpadores vistam a capa de "fiéis discípulos de Kardec" e usem as ideias dele para corroborar convicções pessoais, mesmo contrárias ao pensamento kardeciano.

Na obra O Livro dos Médiuns, de 1861, na tradução de José Herculano Pires, Allan Kardec, no Capítulo 24, Identidade dos Espíritos, no item 267, o autor estabelece alguns critérios para observar os bons e os maus espíritos em manifestações tidas como mediúnicas, com recomendações que podem ser também observadas nos aparentes médiuns que alegam recebê-las.

Numa lista de 26 itens, dois itens requerem cautela, quando lidos e apreciados, até porque uma interpretação infundada e precipitada pode simplesmente contradizer o próprio pensamento kardeciano, fazendo a festa dos espíritos levianos criticados no mesmo livro. Vejamos:

16º) Os Espíritos bons são também reconhecíveis pela sua prudente reserva no tocante às coisas que possam comprometer-nos. Repugna-lhes desvendar o mal. Os Espíritos levianos ou malfazejos gostam de expô-lo. Enquanto os bons procuram abrandar os erros e pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a discórdia por meio de pérfidas insinuações.

17º) Os Espíritos bons só ensinam o bem. Toda máxima, todo conselho que não for estritamente conforme a mais pura caridade evangélica não pode provir de Espíritos bons.

No item 16, a ideia de que aos espíritos bons "repugna desvendar o mal" pode ser entendida erroneamente como a reprovação da investigação espírita das irregularidades cometidas pelos deturpadores. A ideia de "abrandar os erros e pregar a indulgência" também pode ser interpretada equivocadamente como uma apologia à complacência.

O que Allan Kardec quis dizer, com isso, é que repugna aos espíritos bons a apologia do mal, seja a mistificação, seja o moralismo retrógrado, seja a prevalência de ideias levianas. O que lhes repugna é expor ideias contrárias à sua natureza, e os bons, se não são perfeitos, tentam abrandar seus defeitos e não ocultando-os sob o verniz da suposta bondade.

Da mesma forma, a indulgência de que Kardec descreve os bons espíritos se refere a uma conduta generosa e não autoritária, desqualificando assim espíritos como Emmanuel e Joana de Angelis, que se manifestaram pela conduta autoritária e, de certa forma, impiedosa, até mesmo para os dois "médiuns" mistificadores, Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco.

São registradas passagens, tanto na vida de Chico Xavier quanto de Divaldo Franco, que eles eram explorados por esses espíritos, mistificadores e traiçoeiros - lembrando que, pelos aspectos pessoais observados, Emmanuel foi o jesuíta Manuel da Nóbrega, mas Joana de Angelis NÃO foi Joana Angélica - , que os obrigavam a trabalhar até quando estavam doentes e cansados.

Os maus lançam mão de pérfidas insinuações, disfarçadas em belas palavras, textos rebuscados e falsas lições de sabedoria, ou mesmo protegidos por aparentes ações de caridade - como as "filantropias" de Chico e Divaldo - , para tentar convencer e enganar as pessoas.

E como se explica a "caridade evangélica" descrita por Allan Kardec? Trata-se de um apelo para o estereótipo religiosista da caridade, das conhecidas ajudas paliativas que apenas amenizam a dor mas não trazem a qualidade de vida necessária para as pessoas e não interferem no sistema, uma forma de ajudar o próximo sem mexer no egoísmo dos privilegiados?

Não. Kardec não apreciava os limites burocratizados da religião e, se cita o termo "evangélica", ele se refere apenas ao sentido etimológico da palavra Evangelho, que significa "boa nova", não se referindo ao sentido estritamente religioso e dogmático que a palavra recebeu, a partir do século XX.

Portanto, são análises que devem ser feitas com a mais cautelosa observação. Kardec sempre recomendou que se investigassem as más práticas sob o rótulo de Espiritismo, e sempre deu recomendações para tomarmos cuidado com espíritos mistificadores, mesmo quando eles tentem caprichar com aparentes "boas palavras". A má interpretação, apressada e superficial, só pode causar problemas.

domingo, 20 de março de 2016

Por que a grande mídia blinda tanto os anti-médiuns "espíritas"?


É para observar, com certa cautela, a blindagem que a grande mídia reacionária, sobretudo a Rede Globo de Televisão, faz com os ídolos do "espiritismo", como os chamados anti-médiuns. O teor de tendenciosismo que está por trás não deve ser visto como mera coincidência.

Observa-se que a Rede Globo de Televisão foi responsável direta pelo relançamento do mito de Francisco Cândido Xavier. Tomando como base um documentário feito pelo jornalista britânico Malcolm Muggeridge sobre Madre Teresa de Calcutá, todos os seus ingredientes foram utilizados para relançar o mito de Chico Xavier, enfatizando o lado "filantrópico".

Todo o roteiro de Muggeridge então foi reproduzido. O "filantropo" chegando a uma casa de caridade e sendo acolhido pela multidão. O "filantropo" cumprimentando velhos doentes. O "filantropo" segurando criança no colo. O "filantropo" acariciando doentes prostrados na cama. O "filantropo" dando depoimentos com frases de efeito, supostamente "sábias".

Todo esse marketing causou deslumbramento no grande público, hipnotizado por toda essa espetacularização da caridade que mais deslumbra do que transforma as pessoas, e traz defensores fanáticos que são tomados pela teimosia e pela cegueira emocional.

A Globo sempre protegeu Chico Xavier e, por conseguinte, Divaldo Franco, por ver que eles, aos olhos dos executivos das Organizações Globo, são "cartas na manga" para concorrer com o religiosismo da Rede Record representado pela Igreja Universal do Reino de Deus.

E por que o "espiritismo" brasileiro é tão cortejado pela Rede Globo? Ela não é uma emissora católica, as Organizações Globo não eram uma empresa assumidamente ligada à Igreja Católica? A resposta está em aspectos bastante sutis.

É claro que a Globo poderia usar ídolos católicos como os padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo. Mas isso seria ser explícito demais. Sendo o "espiritismo" brasileiro uma religião de bases católicas - a doutrina brasileira sempre esteve distante do cientificismo de Allan Kardec - , a Globo entende isso como um "catolicismo à paisana" e, por isso, uma peça mais hábil de manipulação.

"FILANTROPIA" ANESTESIANTE

É ilustrativo que o mito de Chico Xavier tivesse sido retrabalhado numa época de profunda crise social, como foi na época do governo do general Ernesto Geisel (1974-1979). A ideia, um tanto falaciosa, de exaltar a "missão fraterna" do anti-médium mineiro passou a ser uma fórmula eficaz de dominação e manipulação dos corações e mentes.

Através de uma campanha midiática no qual se evoca a pieguice emocional e o deslumbramento religioso, a Globo retrabalhava Chico Xavier como um ídolo que estivesse associado a estereótipos de "amor e bondade" que estabelecem um efeito anestesiante nas mentes das pessoas.

Desse modo, não era preciso fazer ativismo social, porque o "ativismo" defendido por setores conservadores da sociedade já estava sendo feito pela "caridade" religiosa. A "voz do silêncio", a resignação "em paz", o sofrimento "suportado" pela fé, a "ajuda aos necessitados" sem mexer nos privilégios de poder, todas essas "coisas lindas" que fazem muitos incautos dormirem felizes.

Não há o "incômodo" de combater privilégios abusivos. Faz-se a "caridade" sem ferir os egoísmos dos "bem de vida". E é isso que faz com que haja fanáticos deslumbrados com Chico Xavier e Divaldo Franco, com seu "ativismo" feito à maneira que a Rede Globo quer.

É irônico que, naquela época, o mito de Chico Xavier era trabalhado enquanto se ascendia um operário sindicalista, ninguém menos que Luís Inácio Lula da Silva, o "bode expiatório" de toda a crise nacional de hoje, na condição de ex-presidente da República.

Daí, cria-se uma inversão de valores. O Chico Xavier que plagiava livros, fazia grotescos pastiches literários e enganava muita gente dizendo que "recebia mensagens do além", virou o "maior exemplo de caridade e perfeição humana do país". O Lula que tentou melhorar a vida dos cidadãos em seu governo e virou o "maior ladrão da História do Brasil".

E o "espiritismo", que usa uma roupagem "ecumênica" e uma postura supostamente despretensiosa - a doutrina brasileira, em tese, afirma não cobrar dinheiro para ajudar as pessoas nem forçá-las a ter uma religião - , foi propagado pela Rede Globo de maneira "independente" e "laica", o que enganou até quem é anti-Globo, além de esquerdistas e ateus.

A Globo tem essa habilidade. Se gírias como "balada" e "galera" ou o jargão "cliente" (que agora substituiu a palavra "freguês"), expressões do "vocabulário de poder" analisados, no exterior, por intelectuais como o jornalista inglês Robert Fisk (nenhuma relação com uma empresa de curso de inglês existente no Brasil), propagam fora da linha de respaldo "global", ídolos religiosos associados a uma imagem de "bondade" também sofrem o mesmo efeito.

E é isso que os executivos da Globo fazem. Através dela, um Luciano Huck pode introduzir seus valores e abordagens até nas mentes de uma parcela de detratores. Sendo assim, empurrar Chico Xavier e Divaldo Franco para serem adorados até por comunistas e ateus torna-se uma boa manobra de manipulação da Rede Globo, como forma de domesticar os movimentos sociais.

Afinal, há todo um simulacro que disfarça bem o ranço católico dos dois anti-médiuns. Os dois, além de "ecumênicos", passam uma falsa imagem de "filósofos", uma aparência de tolerantes e versáteis, e com isso até setores sociais que poderiam se opor a eles acabam a eles aderindo. Não é porque eles são as perfeições humanas que se alardeia por aí, mas é pela imagem midiática que os torna "mais agradáveis" a diversos setores sociais.

Daí que o "catolicismo à paisana" de Chico Xavier e Divaldo Franco é uma forma do poder midiático - não apenas a Globo, mas principalmente ela - manipular as pessoas com mais eficácia do que os programas e emissoras estritamente religiosos, podendo fazer frente a figuras ideologicamente "fechadas" como Edir Macedo, R. R. Soares e Silas Malafaia.

E essa blindagem reapareceu agora quando se fala que Chico Xavier e Divaldo Franco "promoveram caridade", quando sabemos que isso é mito e o que eles fizeram não foi mais do que ações paliativas e mornas, sem muita transformação social.

Dessa forma, o deslumbramento religioso é uma forma hipnótica de anestesiar as pessoas, diante da crise nacional, para que as pessoas sejam impedidas de lutar contra privilégios abusivos dos detentores do poder econômico, preferindo a caridade que "ajuda" sem mexer no "sistema".

sábado, 19 de março de 2016

Prisão de suspeitos é pioneira na criminalização da trolagem


Nesta semana, ocorreram várias prisões, em Estados diferentes do país, de suspeitos de fazer trolagem, publicando comentários racistas contra celebridades, como as negras Taís Araújo, Cris Vianna e Sheron Menezzes (atrizes) e Maria Júlia Coutinho (jornalista).

Entre eles, está Tiago Zanfolim Santos, que foi preso em Brumado, Bahia, enquanto outros foram presos em operações conjuntas em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Outros suspeitos estão sendo investigados e também começou a ser feita uma operação de busca e apreensão de material.

A iniciativa, comemorada pela atriz Taís Araújo, é um precedente para criminalizar a trolagem, prática reacionária feita na Internet, em que um grupo de internautas combina um ataque conjunto contra uma vítima, seja para defender valores pré-estabelecidos - considerados "novidades" impostas pelo mercado, pela mídia e pelo poder político - ou preconceitos sociais.

De valores machistas ou racistas até fenômenos ou medidas considerados "vigentes" - como a pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, a gíria midiática "balada" (associada a Luciano Huck) e a programação "roqueira" da carioca Rádio Cidade (que não tem vocação para o rock, mas conta com um forte lobby empresarial para tal tarefa), os troleiros ou trolls desmoralizavam os discordantes através do cyberbullying.

A prática é quase sempre a mesma. Seja na página de recados, em um fórum ou mesmo petição - práticas de trolagem foram identificadas até em uma petição contra pintura padronizada nos ônibus do Rio de Janeiro, com ataques liderados por um busólogo da Baixada Fluminense - , são combinados envios de mensagens ofensivas para as vítimas, transmitidas num horário determinado.

São geralmente pessoas dotadas de evidentes preconceitos sociais. Pessoas que parecem "cães de guarda" de valores retrógrados ou pré-estabelecidos, geralmente sob decisão "de cima". Defendem de visões pejorativas para certos grupos sociais - como homossexuais, feministas e negros - a modismos que não são tão vantajosos, como o fato da Rádio Cidade se passar por "rádio rock" no RJ.

Em muitos casos, blogues ofensivos também são criados, em geral parodiando as atividades ou o patrimônio de sua vítima, em que até fotos particulares são reproduzidas indevidamente para fins de calúnia e difamação.

Na busologia, um blogue de "Comentários Críticos" foi criado contra quem discordar dos projetos de Eduardo Paes. O blogueiro "crítico" (o busólogo da Baixada Fluminense, a serviço de uma prefeitura) chegou a fazer "patrulhas" em Niterói, "visitando" a cidade sob o pretexto de fotografar ônibus, mas visando ameaçar busólogos emergentes e barrar a ascensão de um grupo de busólogos de São Gonçalo.

Um outro blogue, "Lola, Escreva, Lola", parodiando o blogue Escreva, Lola, Escreva, da professora de ativista feminista Lola Aronovich, também foi criado no sentido ofensivo. Ambos foram extintos depois que foram denunciados pelo SaferNet, portal especializado em receber denúncias criminais.

Inicialmente, organizações criminosas como os grupos de trolagem - que juridicamente passam a ser acusados, entre outros crimes, de "formação de quadrilha" - agiam contra pessoas anônimas ou semi-anônimas, no sentido de evitar a propagação de ativismo social nas redes sociais da Internet.

Em seguida, as trolagens passaram a atingir pessoas famosas, já que, em princípio, as práticas contra pessoas comuns não parecessem sensibilizar a sociedade, sendo vistas por muitos ingênuos como "simples brincadeiras".

Foi a partir das trolagens que atingiram de Taís Araújo a Lola Aronovich e que expressam o reacionarismo de uma parcela da juventude brasileira, que a opinião pública começou a perceber o grave problema. E isso quando os troleiros passaram a agredir na rua, como no caso de dois jovens ricos e famosos que tentaram xingar o compositor Chico Buarque.

Diante da prisão dos primeiros acusados, cria-se uma nova realidade na qual muitos troleiros terão que perceber, o que mostra que as humilhações digitais começam a ver terminar seu período de impunidade absoluta. E mostram também que, para quem não é necessariamente um troleiro mas pega carona na trolagem de um "cara mais irado", a "brincadeira digital" pode também custar caro para sua vida.

sexta-feira, 18 de março de 2016

O sentido conservador da "bondade"

EDUCAÇÃO NUM "CENTRO ESPÍRITA" - Ajuda, mas não traz transformações profundas na sociedade.

O Brasil é um país com muita coisa mal resolvida. Ideias novas aparecem aqui truncadas e deturpadas, já que o país costuma ficar apegado a ideias e valores obsoletos, mas que são defendidos por diversas desculpas, até de ordem "técnica", devido a interesses estratégicos de grupos sociais privilegiados.

Por isso, pessoas que parecem progressistas acabam tendo algum ponto ideológico mais reacionário ou, quando muito, bastante conservador. É isso que explica, por exemplo, a complacência de uma parcela de ateus brasileiros com os ídolos do "espiritismo", Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, que na verdade sempre foram católicos fervorosos e igrejeiros entusiasmados, portanto, crentes em Deus e a ele submissos.

Historicamente, pessoas que defendiam o Iluminismo e a Declaração dos Direitos Humanos no Brasil, em boa parte, eram pessoas que ainda defenderam radicalmente a escravidão, por razões que variam das "necessidades econômicas" aos preconceitos sociais contra negros e índios. Na cultura brasileira, é recente o fato de intelectuais desejarem a degradação cultural do brega sob uma alegação supostamente progressista.

Até o feminismo brasileiro é filtrado por "tradições" machistas. De um lado, a mulher que segue os estereótipos machistas da "mulher-objeto" é dispensada de viver sob a sombra de um marido ou namorado. De outro, a mulher que busca aprimorar conhecimentos e ideias, tem o que dizer, aprecia bons referenciais culturais e não se subordina a uma imagem sexualizada de si mesma, é "aconselhada" pelo status quo a ter um marido quase sempre dotado de algum status de poder.

O Brasil é considerado um dos países mais conservadores do mundo. E mesmo pessoas que parecem modernas não têm noção do conservadorismo que está dentro delas, do moralismo histérico que aparece até em surtos de pessoas consideradas "alucinadas". Mesmo artistas modernistas mostram surtos de um viés conservador.

Isso influi na ideia de "bondade" que as pessoas têm. As pessoas não têm ideia do que é ativismo social. Dar esmola é ativismo? Dar sopa aos pobres é ativismo? Ensinar a ler, escrever e trabalhar mas, por debaixo dos panos, incutir a fé religiosa, é ativismo? Encarar o sofrimento com resignação e silêncio é ativismo?

Nada disso é ativismo, mas infelizmente há pessoas que insistem em acreditar que tais atitudes assim são. E pessoas que parecem modernas, se acham vanguardistas, e creem que "não há problema" em pensar assim e que "não há conservadorismo" nessas ideias.

Geralmente um repertório de desculpas é apresentado, e pessoas "modernamente" conservadoras tentam ficar com a palavra final. Geralmente com relativismos aqui, relatos de supostas vantagens acolá, e a mesma ladainha do "é melhor que nada" ou "perto de tanta coisa, isso até que é muito", com apelos pretensamente "racionais" e "objetivos".

ABORDAGEM NEOCONSERVADORA

A ideia de "bondade" e "caridade" que prevalece no Brasil havia sido fortalecida tanto pelo ideário católico, reforçada depois por seitas neopentecostais, e consolidada pela propaganda "espírita", durante momentos políticos bastante conservadores, como a ditadura militar.

As pessoas costumam se fascinar com esses conceitos, em que a imagem ideológica mostra o "filantropo" diante de um miserável ou enfermo, numa exploração piegas que, às vezes, é revestida de aparente objetividade.

Toda a propaganda de "caridade" se conhece. Além dos apelos trazidos por Malcolm Muggeridge, o artífice da modernização do ídolo religioso, como organizadamente fez com Madre Teresa de Calcutá, que será canonizada em breve pelo Vaticano, aspectos mais "objetivos" são trazidos pela mídia e pela propaganda religiosa.

No que se diz ao projeto educacional, crianças em sala de aula, anotando coisas em seus cadernos, ou jogando bola nas quadras esportivas durante o recreio, seguem esse apelo "realista", que faz com que os deslumbrados religiosos lancem argumentos "racionais" em prol de tais medidas.

Não que essas medidas não resolvam, mas o efeito delas é inócuo, quando se espera um ativismo maior. "Caridades" assim não mexem no sistema de desigualdades, e cria geralmente cidadãos que sabem ler, escrever e até arrumam emprego, mas não trazem diferencial, são geralmente resignados e domesticados pela abordagem religiosa.

Claro. Num país religioso como o Brasil, se exalta esse tipo de "caridade", que na verdade é paliativa, e que não mexe em uma peça sequer do sistema de classes. Quando muito, as elites dão seus relativos investimentos, como quem se livra dos anéis para preservar os dedos, promovendo bom-mocismo que poderá proteger seus privilégios.

Afinal, diante do processo de caridade paliativa, que apenas evita efeitos extremos de pobreza, pelo menos em tese, as elites preferem investir em aparente filantropia do que, por exemplo, terem que pagar mais impostos pela fortuna que têm.

Além disso, essa aparente filantropia mais deslumbra do que transforma. Ela se vale da imagem ideológica de "boas ações" feitas de forma tranquila. As pessoas veem isso e vão dormir felizes. As desigualdades continuam e até mesmo a miséria, a pobreza e a violência prosseguem. Mas a "tarefa" da caridade paliativa é "feita", há um "esforço" e, por isso, as pessoas ficam tranquilas.

A relação "positiva" entre religiosos e poderosos acaba consistindo numa troca de elogios. É por isso que, no Brasil, ídolos como Chico Xavier e Divaldo Franco nunca fizeram cobrança alguma das autoridades, quando eram homenageados em cerimônias. Pelo contrário, havia sempre um discurso elogioso, bajulatório, exaltado e supostamente fraternal, como se o discurso de "fraternidade" ocultasse as desigualdades entre privilegiados e desafortunados.

CONSERVADORISMO

Isso acaba se tornando conservador. E mais: a caridade paliativa acaba mesmo tendo efeitos pouco expressivos. Mas, em prol da propaganda religiosa, se festeja mais do que se realiza e, dependendo do prestígio do ídolo religioso, ele passa a ser endeusado por pouca coisa.

É o caso da Mansão do Caminho que não consegue ajudar sequer 0,1% da população de Salvador e nem resolve o preocupante quadro de miséria e violência extremas no bairro de Pau da Lima, onde fica a instituição. Mesmo assim, Divaldo Franco é tido, por seus fanáticos seguidores e até por simpatizantes, como o "maior filantropo do país".

A ideia não é definir a caridade pelo resultado, mas medi-la pelo carisma do ídolo religioso e pela forma com que a propaganda religiosa exibe suas atividades. A lógica e o bom senso não são valorizadas pela fé religiosa, daí que Madre Teresa de Calcutá, com seu lado sombrio de megera exploradora e os dois factoides relacionados a supostos milagres, vai se tornar "santa" no próximo 04 de setembro.

O resultado ínfimo da caridade paliativa também pode ser usado como escudo argumentativo, tanto para seus propagandistas e defensores dizerem que "pelo menos os religiosos fazem por onde", "ao menos alguma coisa sempre é feita" quanto para usar como pretexto as "dificuldades enfrentadas com fé e perseverança".

Com isso, ações paliativas como as de Divaldo Franco e a nebulosa caridade de Chico Xavier, sempre com dados vagos e imprecisos, são mais defendidas do que a verdadeira caridade de Paulo Freire, cujo método educacional de alfabetização de adultos estimulava a visão crítica do meio e a união de pessoas para lutar por direitos e melhorias, é condenada pela associação ateia e esquerdista de seu idealizador.

O que importa, para uma parcela de brasileiros que se acha possuidora da "palavra final" e da "visão mais objetiva" das coisas, o que vale não é uma caridade que realmente ajuda, mas a "caridade" vinculada a um adorado ídolo religioso, que "ajuda" sem ferir o sistema de classes e, por isso, é visto como atitude "moderada" e "equilibrada".

Dessa maneira, a publicidade religiosa cria um estereótipo conservador, mas bastante convincente, de "bondade" e "caridade". Tenta, com isso, criar um teatro de sacrifícios e equilíbrios que anestesia as pessoas, já que se tratam de "bondades" que não mexem nas estruturas injustas da sociedade.

quinta-feira, 17 de março de 2016

A "bondade" que mais deslumbra do que transforma

SOPA DOS POBRES - Caridade paliativa, mas vista como "revolucionária" pelos "espíritas".

A blindagem com que ídolos religiosos como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco faz com que as pessoas prefiram estereótipos de "bondade" e "caridade", e defendam com unhas e dentes tais estereótipos, dizendo que eles "transformam, sim", tomados mais da emoção que da razão.

Um "tranquilo" seguidor de Divaldo Franco, nas mídias sociais, infiltrado numa comunidade de ateus, tentou defini-lo como autor do "maior projeto de caridade do Brasil". Dessa feita, ele insiste em dizer que Divaldo é o "maior filantropo do país", desqualificando as análises que se fez sobre os 0,08% que a Mansão do Caminho que ele encarou com indisfarçável desdém.

Ele alegou que a porcentagem era uma forma de "diminuir o trabalho" de Divaldo, mas se enrolou ao dizer que o projeto beneficia 3200 ou 3500 crianças, sem dar clareza da dimensão da "caridade", e ainda disse que "é muito" haver projetos educacionais que ensinam a "ler, escrever e trabalhar".

Se comportando como se fosse um assessor da Mansão do Caminho ou alguém que só enxerga a realidade pelos tendenciosos filtros da Rede Globo - ele se baseou numa reportagem do decadente Fantástico para defender suas convicções divaldistas - , o rapaz ilustra o desespero que os religiosos têm em defender a caridade paliativa.

É um deslumbramento que expressa uma teimosia infantil, porque sabemos que esses projetos nada têm de revolucionários nem transformadores e os resultados que trazem, se realmente existem, são ínfimos e tímidos.

É evidente que o divaldista deu um tiro no pé quando disse que "é muito" ensinar a ler, escrever e trabalhar. Isso é apenas o básico do básico, mas não significa que isso, em si, possa fazer a pessoa compreender realmente o mundo em sua volta.

O que o divaldista ignora é que o "espiritismo" inclui no cardápio educacional o proselitismo religioso. Evidentemente ninguém vai dizer "você vai seguir nossa religião". Nem os pastores da Igreja Universal, salvo exceções, fazem isso. Pelo menos os mais sutis não dizem "você vai seguir nossa fé", mas fazem de tudo para convencer a pessoa de que a "crença da casa" é "mais importante".

FORA DA FANTASIA RELIGIOSA

A bondade estereotipada não traz todas as respostas para desigualdades e conflitos de interesses diversos. O "espiritismo" se torna impotente em ver a complexidade da vida, e mesmo projetos como a Mansão do Caminho se revelam inócuos e pouco eficazes nesse contexto.

Se Divaldo Franco tivesse realmente feito um projeto revolucionário, o bairro de Pau da Lima seria seguro até para se passear de madrugada, no escuro. A reputação que se atribui ao anti-médium baiano pressupõe que ele tem poderes transformadores, sua energia é elevadíssima e por isso se espalharia por todo o lugar de sua ação, pois Pau da Lima é onde fica a Mansão do Caminho.

Mas isso não acontece. Além do índice de 0,08%, resultante de um cálculo lógico e não de invencionices caluniosas, do número anual de beneficiados da Mansão do Caminho, ser bastante inexpressivo para Divaldo merecer o título de "maior filantropo do Brasil", a trágica situação de Pau da Lima já desqualifica ainda mais essa atribuição.

Repetimos. A porcentagem de 0,08% já é humilhante em relação a Salvador, imagine em dimensão nacional. Como dizer que Divaldo é "o maior filantropo do Brasil" se, em níveis nacionais, sua "revolucionária ajuda", em dimensões de todo o território brasileiro, praticamente chega ao nível de 0% (zero por cento), ou seja, NADA?

Além disso, soa bastante arrogante comemorar uma "caridade" ínfima dessas com essa parca porcentagem. Os divaldistas nem conseguem argumentar direito, e além do mais, se Divaldo Franco tivesse feito jus ao título, o Brasil não estaria vivendo a crise que vive. E mostra o quanto o "espiritismo" brasileiro nunca tem, na firmeza, um de seus princípios.

Quando a Chico Xavier, a "caridade" dele também não era muita. Paliativa, inócua, também sem qualquer caráter transformador. E também se festejou demais com pouca coisa, com os chiquistas dizendo que seu ídolo "ajudou muita gente" sem mostrar provas, sem apresentar sequer o recibo dos "grandes feitos" do anti-médium mineiro.

É claro que o caso de Divaldo Franco é mais verossímil do que Chico Xavier, porque Divaldo sempre trabalhou seu mito com maior esperteza que o amigo de Pedro Leopoldo, marcado por escândalos e deslizes menos sutis. Xavier só foi transformado num mito "mais limpo" porque a Rede Globo teve que se inspirar em Malcolm Muggeridge para relançar o "médium" como um pretenso ícone de "bondade" e "caridade".

Essa "bondade" toda mais deslumbra que transforma. Ela segue um roteiro de "boas ações" que conforta as pessoas dotadas de emotividade religiosa. É como uma novela da vida real. É uma "caridade" mais piegas do que ativista, e é feita sem mexer com o sistema de desigualdades e injustiças que existe no Brasil.

Daí o seu caráter duvidoso. Mas o Brasil é um país conservador e as mídias sociais são cheias de gente retrógrada. Elas preferem exaltar figuras como Chico Xavier e Divaldo Franco, que "ajudam" sem mexer no sistema de desigualdades e injustiças, apenas investindo numa pequena "multidão" de pessoas inócuas, que apenas "sobrevivem" sem que tenham muita qualidade de vida.

A verdade é que a "caridade" que eles promoveram - Divaldo ainda promove - não traz transformação significativa na sociedade. Apenas interfere, de maneira mais inócua possível, em uma parcela muito pequena de vidas humanas.

Só que isso é insuficiente e desmerece qualquer título de "grandes filantropos" a esses dois anti-médiuns, porque essa caridade, na complexidade social em que se vive, se demonstra impotente e sem eficiência para resolver definitivamente as injustiças e desigualdades existentes. Tanto que as áreas "protegidas" por suas "boas energias" são tomadas da mais intensa violência e pobreza.