quinta-feira, 31 de março de 2016

Fizeram peça sobre a "polêmica" de Parnaso de Além-Túmulo


Acreditem, a "polêmica" do livro Parnaso de Além-Túmulo, uma coletânea de pastiches literários de Francisco Cândido Xavier, foi tema de peça de teatro "espírita", e, é claro, com uma abordagem que, no fim, é favorável ao anti-médium, por mais que os pastiches sejam de fácil identificação.

A peça foi encenada pelo Grupo de Teatro Leopoldo Machado e se intitulou Chico Xavier, a Mão dos Imortais. Foi, evidentemente, para celebrar os cem anos de nascimento do anti-médium mineiro. A peça constituiu numa comédia dramática em que intelectuais dos anos 1940 debatem, num bar carioca, sobre o caso do Parnaso de Além-Túmulo.

Dirigida por Reginauro Sousa, com texto de Romário Fernandes e pesquisa de Edir Paixão, a peça pretendeu apresentar a polêmica, com momentos cômicos e desentendimentos entre os três personagens, atendidos por um garçom atrapalhado.

Mas, ao longo da trama, fatos "emocionantes" da vida de Chico Xavier chegam à tona no enredo, e o sofrimento interior do "médium" é narrado junto a outros fatos relacionados à sua "sensibilidade" e ao seu "trabalho".

A roupagem de peça "polêmica" serve para dar um verniz "intelectual" e "controverso" ao espetáculo, que, aparentemente, buscou interagir com a plateia, para envolvê-la e promover o coitadismo que serve para dar razão a Chico Xavier, como se ele tivesse sido maltratado pelos intelectuais que o acusaram de pastiche literário.

Sabe-se que o livro Parnaso de Além-Túmulo, lançado em 1932, tem uma trajetória muito estranha para um livro que se afirmava como uma "obra acabada dos benfeitores espirituais". Foi reeditada cinco vezes, com alguns textos eliminados e outros acrescidos, além de outros reparados, e foi divulgada uma carta de Chico Xavier a Antônio Wantuil que deixava claro que o livro era feito por editores da FEB.

Esta informação, apesar de divulgada por uma seguidora de Chico Xavier, Sueli Caldas Schubert, confirma o que o escritor católico Alceu Amoroso Lima (também conhecido pelo codinome Tristão de Ataíde) havia denunciado, que Parnaso de Além-Túmulo era uma obra de editores da FEB.

A observação cautelosa e desprovida de paixões religiosas seguramente leva a uma constatação contrária a dos "espíritas" e, evidentemente, da peça apresentada. Nota-se pastiches grosseiros em que os nomes de autores como Augusto dos Anjos, Casimiro de Abreu, Olavo Bilac e Auta de Souza nem de longe correspondem aos estilos originais.

O conteúdo do livro é apenas uma série de paródias estilísticas que reflete apenas um único estilo, o estilo correto mas mediano de Chico Xavier como poeta, ao lado também da colaboração dos editores da FEB e de Wantuil, que também escreveram poemas e tiveram a consultoria de especialistas literários para a reprodução, a nível de pastiche, dos estilos dos autores originais.

Daí que a conclusão é que o livro nunca foi uma psicografia de verdade. Os estilos dos poemas publicados em suas seis edições não reflete de forma alguma os estilos originais dos autores alegados. A qualidade também é bastante inferior. É como ironicamente disse o jornalista Léo Gilson Ribeiro, da revista Realidade, a respeito: "O espírito sobe, o talento desce".

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