quarta-feira, 2 de março de 2016
A religião acredita na ilusão de que está acima de qualquer escândalo
Quando religiões sofrem pesadas crises, há um dado que merece atenção, que é o fato de que seus movimentos, por mais traiçoeiros e corruptos que sejam, dificilmente entram em falência, sendo "empresas" que nunca são extintas, que nunca entram em concordata, que nunca perecem, mesmo diante de escândalos gravíssimos.
Vendo casos como da seita neopentecostal Renascer em Cristo, o "movimento espírita" e a Cientologia, nota-se o quanto a religião é um disfarce perfeito, em que lobos se vestem de cordeiros e conseguem passar tranquilos pelo rebanho.
Mas a religião também pode ser o galinheiro em que raposas comandam sem despertar desconfiança e, se algumas galinhas morrem devoradas pelo animal, as galinhas é que são as culpadas, elas é que "fizeram para merecer" e agiram como "malcriadas". Sem as vítimas para darem seu parecer, tudo permanece nisso mesmo.
No exterior, a religião começa a ser investigada sem o freio dos pudores diante de estereótipos de "bondade" e "caridade". Nem mesmo Madre Teresa de Calcutá, que em seu tempo chegou a ser chamada de "santa viva", foi poupada de críticas severas, quando irregularidades de suas obras "filantrópicas" começaram a ser investigadas e denunciadas.
A Cientologia também é denunciada por documentários sérios e gente conceituada, que não sente o pudor de ver a igreja ter como seus maiores pastores astros do cinema como Tom Cruise e John Travolta, bastante populares e protagonistas de muitos campeões de bilheterias.
No Brasil, a Justiça dos homens pagou o preço caro de perder a oportunidade de desmascarar Francisco Cândido Xavier, naquele processo de 1944 dos herdeiros de Humberto de Campos. A fraude estava toda clara, mas os juízes ficaram hesitantes e, além de não entenderem o processo, ficaram intimidados diante do estereótipo do "caipira inocente" de Chico Xavier.
A clareza da fraude, observada pelo advogado dos herdeiros de Humberto de Campos, Milton Barbosa, estava no fato de que as obras "espirituais" que levaram o nome do falecido autor maranhense não eram sequer a sombra do estilo pessoal que o escritor deixou em vida, sendo apenas pesadas prosas igrejistas de péssimo gosto, conteúdo piegas e de leitura mais penosa.
O Brasil tornou-se um celeiro de embustes religiosos sérios. Vê muitas seitas como se fossem camuflagens que escapam da observação dos leigos. O deslumbramento da fé, no exterior, ainda é grande, mas a do Brasil atinge níveis preocupantes, que fazem de Chico Xavier um quase deus, quando ele não teve 1% sequer do mérito e da credibilidade que recebe por nada.
Ele é aceito até por uma parcela menos vigilante dos kardecianos genuínos, que sem saber o que aproveitar de Chico Xavier, o aceitam como um velhinho ocioso e dispendioso que é alojado numa casa sem necessidade.
A crise em que vive o "movimento espírita" brasileiro não parece derrubar o sistema. Aparentemente, continuará prevalecendo a postura dúbia e contraditória dos seus integrantes, que juram "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, mas insistem num igrejismo pegajoso e gosmento, apostando num "roustanguismo sem Roustaing" e num "kardecismo com Chico Xavier".
Quando são contrariados, contestados, questionados, os "espíritas" sempre reagem da mesmíssima forma, sendo repetitivos além dos limites da exaustão: produzem textos chorosos, mostram imagens com crianças alegres e coraçõezinhos, tentam pregar a "solidariedade", a "união" e a "paz" e se dizem "injustiçados" com "lamentáveis campanhas de calúnia e perseguição contra homens de bem".
Se julgam "tranquilos" que irão passar por cima de tantas dificuldades, por causa da "força de Deus" e, como falsos cristos fingindo-se "crucificados", eles se julgam destinados a benefícios futuros, e mantém suas teimosias mistificadoras como se isso fosse sinônimo de "perseverança" e "humildade".
Daí que é muito fácil usar a capa da fé para acobertar fraudes e outras irregularidades, se julgar acima de todos os escândalos, enfrentar até mesmo os impasses da lógica, as cobranças por coerência, as contestações sucessivas.
Se achando um pouco "deuses", os religiosos em geral, incluído o "movimento espírita", se julgam invulneráveis e crentes na ilusão de que passarão por cima de todos os obstáculos, se passando por humildes e misericordiosos. Só que, havendo maior esclarecimento entre as pessoas, a mística da religião tende a perecer como uma fruta que não consegue evitar o crescimento do bolor e do mofo.
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