sábado, 30 de setembro de 2017

"Espiritismo" brasileiro abriu caminho para o golpe de 1964?


Até parece que o "espiritismo" brasileiro é a religião mais golpista do Brasil. O fim de governos progressistas, em momentos recentes da História do Brasil, coincidem com ocasiões que favoreceram o "movimento espírita", e dois grandes momentos revelam o mau agouro que a doutrina que sonha com a "pátria do Evangelho" tanto inspira nas pessoas.

Em 1944, a seletividade da Justiça dos homens, movida pelas paixões religiosas, absolveu o "médium" Francisco Cândido Xavier, no processo movido pelos herdeiros de Humberto de Campos, mesmo quando as supostas psicografias que levam o nome do autor maranhense apresentem, de forma surpreendentemente comprovada, irregularidades muito graves em relação à obra original do mesmo autor.

As irregularidades são tão grandes que o "espírito Humberto de Campos" nem chega a representar plágios da obra do autor maranhense. Com uma narrativa que lembra a de um sacerdote católico, os plágios remetem mais ao próprio Novo Testamento do que à obra do autor de O Brasil Anedótico. O suposto espírito mais parece um evangelista resgatado da poeira do tempo do que um escritor brasileiro que foi membro da Academia Brasileira de Letras.

É irônico que um dos raros plágios do autor maranhense em Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (escrita a quatro mãos por Chico Xavier e o presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas) remete a este livro cômico.

Pouco depois da absolvição dos juristas de 1944 - que lembram atuações irregulares ou tendenciosas de hoje vindas de gente como Gilmar Mendes, Sérgio Moro, Marcelo Bretas e Deltan Dallagnol - , Chico Xavier veio com Lázaro Redivivo em 1945, se apropriando, com apetite redobrado, do prestígio de Humberto, agora usando o codinome Irmão X para "evitar maiores dissabores", nos dizeres do esperto "médium".

Diante disso, o governo Getúlio Vargas, que aos poucos suavizava os arbítrios do Estado Novo, foi deposto do poder pelo seu ex-ministro e general do Exército, Eurico Gaspar Dutra, que depois tornou-se presidente do Brasil até 1950, quando o próprio queremismo fez Vargas ser eleito e voltar ao poder, numa época de entressafra no "movimento espírita".

A queda de Getúlio Vargas, através de seu suicídio em 1954, se deu quando o "espiritismo" tentou explorar o lado "psicófono" de Chico Xavier, uma atividade pouco mencionada no "movimento espírita". Essa "mediunidade oral", que pelo jeito resultou num retumbante fracasso, não era outra tarefa atribuída ao "médium", que também atuava como "observador" de supostas experiências de materialização espiritual.

Entre 1958 e 1960, o desgaste do governo Juscelino Kubitschek se deu numa época em que a FEB teve que se virar com o sobrinho Amauri Xavier, que ameaçou denunciar, quase seis décadas antes das delações premiadas da Operação Lava Jato, o esquema de supostas psicografias do "movimento espírita", inclusive o envolvimento de Chico Xavier.

Amauri foi internado num sanatório do interior de São Paulo, que existe até hoje, e teria sofrido maus tratos, semelhantes aos de um furtador de uma loja apreendido pelo gerente. Tendo como único vício provável o de ser viciado em álcool, Amauri morreu cedo demais para um vício assim - dez anos a menos do que se espera de gente assim - , tendo sido provavelmente envenenado em 1961.

Juscelino ainda presenteou a FEB com o título de "Instituição de Utilidade Pública" e ainda manifestou generosidade com Chico Xavier. A "gratidão" dos "espíritas" com Juscelino foi dar início a uma série de infortúnios que criou uma maré de azar para o então presidente e seus relacionados (como João Goulart e Márcia Kubitschek), sendo uma epidemia de azar que chegou até o ator José Wilker, que interpretou o político mineiro numa minissérie da Rede Globo.

Juscelino não conseguiu eleger o sucessor que ele apoiava, o marechal Henrique Teixeira Lott, derrotado pelo populista de direita Jânio Quadros. Também Juscelino não conseguiu voltar à Presidência da República, tendo sido um dos primeiros parlamentares cassados pelo golpe militar, que cancelou as eleições presidenciais de 1965 que o mineiro tanto sonhava concorrer, acreditando que sairia vencedor.

O "movimento espírita" e a FEB apoiaram o golpe militar de 1964. Para aqueles que acham "absurda" essa constatação contra a "doutrina do amor ao próximo", é bom deixar claro que a revelação foi dada pelo experiente historiador Jorge Ferreira, ele mesmo autor de uma detalhada biografia de João Goulart, o vice de Juscelino e depois presidente deposto em 1964.

O próprio Chico Xavier, pela sua formação conservadora de mineiro interiorano e pelo seu moralismo retrógrado manifesto em muitas obras e depoimentos, defendeu o golpe militar de 1964 e saiu defendendo a ditadura militar na sua pior fase, como claramente se observou no programa Pinga Fogo da TV Tupi de São Paulo, em 1971.

É bom deixar claro que, naquele ano de 1971, parte da direita que apoiava o golpe militar passou a se opor ao regime. É irônico que Carlos Lacerda, o político que mais apoiou o golpe militar, e Alceu Amoroso Lima, que denunciou a farsa do livro Parnaso de Além-Túmulo como "invenção de editores da FEB", outro apoiador do golpe, passaram a repudiar a ditadura, que estava em sua fase mais violenta.

Já o anticomunista Chico Xavier, que muitos acreditavam ser "progressista" e cuja imagem "bondosa" - construída por sucessivas manobras discursivas da FEB e, depois, da Rede Globo de Televisão - seduzia até setores ideológicos de esquerda (recentemente, uma blogueira declaradamente comunista cometeu uma gafe ao reclamar que As Mães de Chico Xavier, co-produção da Globo Filmes, era boicotada pela grande mídia), disse que a ditadura "estava construindo um reino de amor".

É também curioso que, pouco depois de ter falecido, em junho de 2002, Chico deixou a poeira dissolver seu sua influência material e o governo Fernando Henrique Cardoso entrou no seu ocaso. É bom deixar claro que dois conservadores, o apresentador Luciano Huck e o político Aécio Neves, choraram a morte do "médium" dando louvores apaixonados àquele que consideram "seu mestre".

E aí tivemos um breve período progressista governado pelo PT. Até que a crise política ceifou pela metade o governo da presidenta Dilma Rousseff e as manifestações dos "coxinhas" eram apoiadas abertamente pelo "movimento espírita", que chegou a falar no "início de um período de regeneração". Os "espíritas", depois, sinalizaram apoio subliminar ao governo Michel Temer. Isso mostra que o "movimento espírita" brasileiro nada tem de progressista, do contrário que muitos acreditam.

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Reportagem omite nome de João de Deus e sugere blindagem da Globo ao "médium"


Cinco anos atrás, um caso de uma austríaca de 80 anos que faleceu na Casa Dom Inácio, "centro espírita" de Abadiânia, Goiás, em circunstâncias misteriosas - apesar do falecimento ter ocorrido durante idade considerada avançada - , rendeu uma reportagem do portal G1, das Organizações Globo, que no entanto resolveu omitir o nome do "médium" que atende o lugar, o famosíssimo João Teixeira de Faria, o João de Deus.

A reportagem chega a citar o nome da casa, do lugar e do fato de que ela atende milhares de pessoas e "realiza cirurgias espirituais". Mas em nenhuma passagem é citada o nome de João de Deus, se limitando apenas a mencionar o nome de seu secretário, Francisco Lobo Sobrinho, o Chico Lobo.

A ideia não é necessariamente omitir a relação com João de Deus, mas dificultar a busca na Internet. João de Deus é o terceiro "médium" blindado pela Rede Globo de Televisão, que transforma os "médiuns espíritas" em sacerdotes à paisana, promovidos a ídolos religiosos com um discurso filantrópico que lembra o duvidoso Criança Esperança com toques de dramaturgia de novela.

Com Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, morto, e com Divaldo Franco se aposentando de suas atividades, João de Deus é hoje a terceira aposta da Globo, no seu empenho em promover um ídolo religioso tido como "acima de todas as crenças e todas as ideologias", como num processo sutil de passar a rasteira nos pastores eletrônicos neopentecostais que atuam nas emissoras concorrentes.

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Austríaca morre dentro de centro espírita de Abadiânia, em Goiás

Polícia Civil instaurou inquérito para apurar morte da mulher de 80 anos. Estrangeira veio ao Brasil para fazer tratamento espiritual com o médium.

Do Portal G1 - 10 de fevereiro de 2012, com informações da TV Anhanguera (afiliada da Rede Globo em Goiás)

  A Polícia Civil de Abadiânia, a 85 quilômetros de Goiânia, instaurou inquérito para apurar a morte de uma austríaca de 80 anos, a pedido do Ministério Público. Ela morreu na última quinta-feira (2) na Casa Dom Inácio, centro religioso mundialmente conhecido pelos tratamentos espirituais.

 Segundo testemunhas, a mulher estava na Casa Dom Inácio na última quinta, quando, por volta das 22h, teria passado mal e sido socorrida pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Os enfermeiros tentaram reanimá-la, mas ela não resistiu.

 Secretário do médium reponsável pelos atendimentos espirituais, Francisco Lobo Sobrinho, conhecido como Chico Lobo, falou sobre o caso à reportagem da TV Anhanguera. Ao contrário do que consta no inquérito, ele negou que estivesse no local na hora da morte da austríaca. Segundo Chico Lobo, o médium também não estava presente.

 De acordo com a polícia, a forma que o corpo da austríaca teria sido retirado de dentro da casa chama a atenção. Segundo uma testemunha, um funcionário de uma funerária de Anápolis, identificado apenas como Júnior, teria feito o transporte do corpo em uma camionete descaracterizada.

Tratamento

 A austríaca estava hospedada numa pousada em Abadiânia desde o dia 21 de janeiro. Ela veio ao Brasil, juntamente com duas amigas, para fazer um tratamento espiritual com o médium responsável pela casa.



 Mais de mil pessoas são atendidas todos os dias na Casa Dom Inácio, 80% delas estrangeiras. Além de atendimento espiritual, o centro oferece até cirurgias.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

"Desaparecimento" de Humberto de Campos nas livrarias revela covardia e hipocrisia dos "espíritas"

ANTIGOS VOLUMES DE HUMBERTO DE CAMPOS SÃO VENDIDOS NA INTERNET, MAS INEXISTEM EDIÇÕES NOVAS EM CATÁLOGO NAS LIVRARIAS.

Assim como a não publicação do livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia, obra de jornalismo investigativo de Attila Paes Barreto, lançado em 1944, a obra original de Humberto de Campos, em que pese uma grande coleção lançada em 2014 mas já fora de catálogo, nunca teve uma reedição mais recente que colocasse o autor ao acesso do grande público nas livrarias brasileiras.

O livro de Attila Paes Barreto, sabemos, que explica várias irregularidades da atividade "mediúnica" de Francisco Cândido Xavier e traz os bastidores do processo judicial dos herdeiros de Humberto de Campos, numa linguagem que, para os padrões dos deslumbrados religiosos, soa agressiva, mas contém detalhes muito consistentes sobre o tema abordado, além de argumentos e explicações sobre fatos sombrios do "médium" mineiro.

Se um livro desses, de jornalismo investigativo, não tem sequer arquivo em PDF disponível na Internet, Chico Xavier, que foi uma espécie de Aécio Neves da religião brasileira (o próprio Aécio deu altos louvores ao conterrâneo na ocasião de sua morte, em 2002), tem livros sobre a risível "profecia da Data-Limite", cheia de erros de abordagem sociológica e geológica.

Publicações que evocam fantasias religiosas que protegem a reputação de um ídolo do gênero são, não apenas prioridade, mas exclusividade diante de outras que investigam seus aspectos sombrios. O Brasil não tem a vantagem do Primeiro Mundo, onde fenômenos como Madre Teresa de Calcutá e a Cientologia têm fartos documentos revelando seus aspectos irregulares e sombrios.

O Brasil é marcado por um profundo fanatismo religioso, aparentemente "inofensivo" porque apoiado por um aparato de belas imagens e belas palavras. A formação religiosa do Brasil é extremamente conservadora e apegada a fantasias associadas à mística da fé e apoiadas por relatos imaginários e sentimentais que exercem supremacia até sobre a realidade dos fatos, a lógica e o bom senso. A pós-verdade já existia no Brasil que mais aproveitou o legado do Catolicismo medieval até hoje.

Os defensores da tese da veracidade das supostas psicografias de Chico Xavier usam a falácia de que "certos aspectos escapam da razão humana", que definem como "materialista", tentando creditar o "misterioso" como se fosse "verídico". Houve até um simpatizante "não-espírita" que manifestou seu empenho de "lutar pela autenticidade do livro Parnaso de Além-Túmulo", como se fosse possível, em vez de provar autenticidade, "desejar autenticidade", querendo proteger um ídolo religioso.

O sujeito, Jorge Caetano Júnior, tentou alegar que um poema atribuído ao espírito de Casimiro de Abreu, "A Terra", apresentava "semelhanças indiscutíveis" em relação à obra original do poeta fluminense. No entanto, ele, para "provar" sua tese, usou apenas duas primeiras estrofes. Mas, na penúltima estrofe, aparecem versos que Casimiro nunca teria sido capaz de escrever e refletem claramente o pensamento pessoal de Chico Xavier:

"Sabe encontrar a ventura / Nesse jardim de pujanças, / E enche-se de esperanças / Para sofrer e lutar".

Não se deseja autenticidade. Autenticidade se prova e, se ela não existe, não é porque alguém gosta muito do farsante que irá defini-lo como honesto, e atribuir sua fraude como algo verídico. A ideia de "encher de esperanças para sofrer e lutar" nunca teria sido escrita por um poeta ultrarromântico, sendo tais ideias próprias da Teologia do Sofrimento, defendida por Chico Xavier que, arrivista, gostava botar suas ideias na "boca dos mortos" para forçar o apoio do grande público.

São esses pontos sombrios que se quer evitar no caso Humberto de Campos. O próprio Jorge Caetano parece saber, na sua esperteza, que não poderia levar a reprodução do poema até o fim, para evitar um flagrante. A dificuldade de trazer Humberto de Campos para as estantes das livrarias, complicando o acesso do grande público, sobretudo juvenil, à obra do autor maranhense, é um artifício para evitar que se identifiquem irregularidades na suposta obra espiritual que leva o mesmo nome.

Muitos jovens, em processo de aprendizado escolar e em desenvolvimento do intelecto, se limitam a ser "desviados", pela mídia do entretenimento, para a leitura de bobagens como os livros escritos por youtubers. Há o risco deles, em sua curiosidade, compararem os livros originais de Humberto de Campos com as obras "espirituais" e apontar irregularidades evidentes, que numa simples leitura saltam aos olhos.

As irregularidades são tão grandes que um leitor que conheça a obra original de Humberto de Campos dificilmente evitará o constrangimento após a leitura das supostas obras mediúnicas. A impressão que se tem, mediante tão grave disparidade, é que as obras mais lembram arremedos ruins do Novo Testamento do que qualquer obra do autor maranhense e antigo imortal da Academia Brasileira de Letras.

E essa manobra do mercado literário de, se não esconder, mas dificultar o acesso à obra original de Humberto de Campos, revela a covardia e a hipocrisia dos "espíritas" que querem evitar a leitura comparativa entre obras originais do escritor e supostas obras mediúnicas.

Além disso, isso revela também as relações de poder que estão por trás de um mercado literário, que protegem um ídolo religioso que publica obras fake mas que é blindado pela Rede Globo de Televisão (que produziu até filme biográfico, protagonizado pelo falecido Nelson Xavier), ela mesma também influente no seu poder e tráfico de influência no mercado editorial.

Dessa forma, prevalece a aberrante situação surreal de um escritor que não tem obras originais facilmente disponíveis no mercado, porque isso é feito para favorecer obras fake que só valem pelo conteúdo religioso, porque claramente estas escapam severamente do estilo original do escritor, com o agravante que as obras "psicográficas" são de qualidade literária muito inferior. Ver o público desvendando essa irregularidade irá contrariar interesses mercadológicos e comerciais em jogo.

domingo, 24 de setembro de 2017

A perigosa ascensão de jovens fascistas derruba a ideia de "crianças-índigo"

ARTHUR MOLEDO, DO MOVIMENTO BRASIL LIVRE, FAZENDO CARETA, E EDUARDO BOLSONARO, FILHO DE JAIR, SEGURANDO UMA PLACA FAZENDO APOLOGIA À VIOLÊNCIA.

A catarse coletiva, que se volta para a histeria religiosa e a mitificação e o fanatismo cegos - que no "espiritismo" é expressa na imagem glamourizada dos "médiuns" e sua "caridade de novela da Globo" - , também se volta para manifestações de ódio, o que pode parecer dois aspectos bastante opostos, mas não são.

A verdade é que hoje existe o contexto ultraconservador que reúne tanto a "bondade espírita" quanto os manifestos reaças que se observa desde os tempos do Orkut, com as ondas de ataques coletivos de cyberbullying - ataques combinados por vários internautas que simulam fóruns de discussão feitos para insultar internautas de sua escolha - que hoje culminaram no chamado "tribunal do Facebook".

Antes tidas como possíveis paraísos de revoluções sociais de caráter progressista e arrojado, as redes sociais da Internet se transformaram em redutos de puro obscurantismo social, em que pessoas expressam abertamente seus preconceitos, em certos casos sem o cuidado de esconder seus nomes, e muitos deles atuam humilhando, de maneira perversa, internautas que não correspondem aos padrões sociais e pontos de vista aceitos pelos jovens mais conservadores.

O reacionarismo crescente nas redes sociais é um reflexo da decadência de uma parcela da pirâmide social - o "topo" da mesma - , que prevalecia soberana desde o auge da ditadura militar e sobreviveu ao período de redemocratização e de breves políticas progressistas, como a Era PT (2003-2016).

Hoje o "alto da pirâmide", já dotado de avançado estado de perecimento, luta para sobreviver acima de tudo e de todos, implantando uma pauta social retrógrada, na qual se defende até o fim das conquistas trabalhistas e a volta dos velhos padrões sub-humanos dos primórdios da Revolução Industrial, mais os padrões escravagistas que vigoraram no período colonial no Brasil.

O "alto da pirâmide" também luta para que suas convicções estejam acima de toda compreensão lógica da realidade. A coerência é jogada na lata de lixo. Esse processo ganhou o nome de "pós-verdade", um fenômeno não originário do Brasil, mas que encontra em nosso país um terreno fértil para exercer supremacia nos tempos sombrios em que vivemos.

Até os "espíritas" adoram a "pós-verdade". Francisco Cândido Xavier foi o que mais simbolizou os paradigmas de pós-verdade no Brasil. Chico Xavier, de criador de confusões, pastichador literário e deturpador do Espiritismo, tornou-se o "dono da verdade", sobre a qual exerce, mesmo postumamente, um monopólio de prevalência pessoal, garantida pelas paixões religiosas.

É um quadro desolador, que se torna mais preocupante quando se observa, nas ruas das grandes cidades, sobretudo as capitais do Sul e do Sudeste - hoje mergulhados num surto provincianista e reacionário - , uma despreocupação muito grande das pessoas, que agem como se estivessem num paraíso florido quando ignoram a catástrofe social que está em andamento.

Os próprios "espíritas", com sorridente cinismo, estão apoiando os rumos ultraconservadores do Brasil de hoje e o que se observa nas publicações e palestras "espíritas" são combinações de apelos para os desafortunados "aceitarem (e até amarem) o sofrimento" com outros que falam em "esperanças" e "tempos melhores já em andamento (sic)".

O periódico "Correio Espírita", de Niterói, chegou a ventilar que a "Pátria do Evangelho" sonhada por Chico Xavier já foi inaugurada. O periódico, corroborando os devaneios de diversos "espíritas" - de Divaldo Franco ao escritor Robson Pinheiro - , já afirmou que o período atual é "de profunda regeneração social".

Com base nessas alegações, inferimos, que a ideia deles de que o Brasil, "mesmo com dificuldades, ingressou numa nova fase de mudanças benéficas que colocarão o país em posição de destaque no mundo". Ou seja, a causa do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" teria se "concretizado" de acordo com o que diz o "movimento espírita".

Só que, na prática, vemos o Brasil retomar sua posição subalterna no concerto das nações. E, para piorar, a interpretação subliminar da ideia de "coração do mundo" e "pátria do Evangelho" remete a um misto de imperialismo com teocracia, fazendo surgir a perspectiva sombria de que os espíritos medievais que reduziram a Doutrina Espírita, da forma como é feita no Brasil, a uma reciclagem do Catolicismo jesuíta do período colonial, estariam, com isso, querendo recriar o Império Romano.

Enquanto "espíritas" ficam falando em "despertar da humanidade", "conscientização da juventude" e "início de um período de regeneração", o que vemos é o contrário. Enquanto "espíritas" sonham com a fantasiosa ideia de "crianças-índigo", supostos prodígios comprometidos com o progresso moral e intelectual da humanidade, o que se observa é a manifestação cada vez mais aberta de preconceitos sociais e incitações ao ódio e à violência.

Na foto que ilustra esta postagem, observa-se o filho do político Jair Bolsonaro, o também parlamentar Eduardo Bolsonaro, segurando uma placa com a frase "Eu vou pacificamente te matar". Ele aparece sorrindo, com uma pistola em outra mão, ao lado de um integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), Arthur Moledo, que segura um fuzil enquanto faz uma careta de puro escracho.

O MBL, que comandou as passeatas contra a presidenta Dilma Rousseff, depois expulsa do poder, tem como principais membros-fundadores Renan Santos, Kim Kataguiri e Fernando Holiday, em plena ascensão pessoal. Holiday foi eleito vereador por São Paulo, pelo direitista DEM. Kataguiri é um dublê de intelectual que é convidado para palestras e vai lançar um livro de artigos (muito mal escritos e desinformativos) publicados na Folha de São Paulo.

A ascensão dos jovens fascistas ganhou impulso quando eles conseguiram, através de uma campanha nas redes sociais, cancelar prematuramente uma exposição sobre diversidade sexual chamada Queermuseu, no Santander Cultural, em Porto Alegre, que se encerraria no próximo mês mas foi encerrada há poucos dias.

Promovido pelo banco espanhol, o evento não era uma baixaria, mas uma coleção de obras que estimulavam o debate e o questionamento social, focalizando sobretudo a causa LGBTT (sigla que se refere a lésbicas, gays, bissexuais, trangêneros e travestis). Mesmo assim, o evento foi atacado por supostas alusões à pedofilia e zoofilia.

Outro fato preocupante é que as encrencas em que se meteu o deputado Jair Bolsonaro - pai de Eduardo, que por sua vez foi acusado de tentar agredir verbalmente uma ex-namorada e tem como delirante proposta legislativa a criminalização do comunismo - , além de renderem punições brandas ao ex-militar, também lhe favorecem em visibilidade e valentia, sendo um dos políticos com potenciais chances de vencer as eleições presidenciais do Brasil.

Isso é muito perigoso. Jair segue aquele tipo de político de extrema-direita que nem mesmo as elites empresariais brasileiras, associadas ao capitalismo dos EUA, querem como governante. Essas elites, que tomam as rédeas da população brasileira, temem que Jair Bolsonaro atue como um direitista que "vai longe demais", como os extremistas que, a serviço do capitalismo, podem governar de forma personalista e prejudicar até mesmo as determinações do empresariado.

Ainda assim, a ideia de que um governo fascista é uma hipótese provável para o Brasil é assustadora e real. O trágico cenário brasileiro não é uma paranoia, porque, infelizmente, existem debilidades sociais brasileiras que podem abrir caminho para um quadro desse porte.

A continuidade de pautas reacionárias, com um Legislativo indiferente ao povo e um Judiciário atuando de maneira seletiva conforme interesses dominantes, pode fazer o Brasil regredir ainda mais, causando uma ameaça maior aos brasileiros.

A ascensão da juventude reacionária dos "bolsomitos" (seguidores dos Bolsonaro), do MBL, do Vem Pra Rua e dos Revoltados On Line (nome que é um aviso aos "espíritas", que dizem condenar a revolta e apostam nestes movimentos reacionários para "regenerar o Brasil"), ao menos, derrubou a tese de "criança-índigo", na medida em que mostram jovens cada vez mais truculentos e trogloditas, que apostam em valores retrógrados e na coerção violenta para defender seus interesses.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Dissimulação: um dos maiores pecados dos "espíritas" brasileiros


Um dos maiores males cometidos pelos "espíritas" em toda sua trajetória, e que contribui para a crise irremediável de sua doutrina - que, mesmo calcada no Catolicismo medieval, busca, em certos momentos, aproximações estratégicas com os neopentecostais, sobretudo no que se refere à Escola Sem Partido - , é a dissimulação.

Desde a "fase dúbia" (oficialmente denominada "kardecismo") adotada nos últimos anos, em que a promessa de recuperar as bases espíritas originais foi apenas "conversa para boi dormir" dada por roustanguistas (inclusive "médiuns"!) para levarem vantagem no sabor das circunstâncias, a dissimulação foi uma caraterística inerente do "movimento espírita" brasileiro.

Pratica-se o roustanguismo mas renega-se o nome de Jean-Baptiste Roustaing. Critica-se a "vaticanização" do "movimento espírita", mas seus críticos são os que mais a praticam, devotamente. E quantos que reprovam os "imperadores Constantinos" que aparecem nas entranhas do "movimento espírita" que deveriam se olhar no espelho!

Assim como, no ensinamento de Jesus de Nazaré, fala-se que "nem todos os que dizem 'Senhor! Senhor!' entrarão no reino dos céus", nem todos os que alegam "fidelidade absoluta" e "respeito rigoroso" à obra de Allan Kardec são realmente kardecianos autênticos (rejeita-se o termo "kardecista", por ele ter sido apropriado pelos próprios deturpadores).

Pelo contrário, os piores farsantes são aqueles que arrumam desculpas imensas por seus atos e dissimulam o tempo todo para dar uma impressão de que não cometem os delitos a que comprovadamente estão associados. Eles sempre adotam procedimentos, práticas e opiniões os quais desmentem diante da pior repercussão de seus atos.

Quantas dissimulações se escondem nas palestras "espíritas" em que corre o mel das palavras que agradam e distraem muita gente? Quantas dissimulações ocorrem diante de depoimentos, artifícios e tantas atividades que os "espíritas" se empenham para esconder erros, posturas obscuras, julgamentos de valor e tantas coisas inconvenientes e até ilícitas?

É o suposto médium que cria quadros falsos mas, de contatos em contatos na alta sociedade, alicia uma crítica de arte de considerável prestígio no seu meio para atribuir "autenticidade" a obras que se vê claramente fraudulentas.

É outro suposto médium seduzindo o herdeiro de um morto usurpado numa suposta psicografia ao convidar a vítima para uma doutrinária e para acompanhar, como espectador, um ostensivo espetáculo de Assistencialismo em que muita festa é feita para doar uns mantimentos que se esgotam em três semanas, enquanto os festejos duram até um ano por cada "caridade" realizada.

MITÔMANOS

Os "espíritas" dissimulam tanto as coisas que a doutrina brasileira popularizada por Francisco Cândido Xavier virou a religião da mitomania. A mitomania é um problema psicológico que faz com que uma pessoa, querendo levar alguma grande vantagem pessoal ou se livrar de encrencas por graves erros, passa a mentir sem o menor escrúpulo.

O livro Parnaso de Além-Túmulo de Chico Xavier acabou sendo o ponto inicial desse processo de mitomania que contagiou o "médium", um dos maiores arrivistas de toda a História do Brasil, ao se tornar uma coleção de pastiches feitas pelo "médium" sob a colaboração do próprio presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, e da equipe de editores e redatores do periódico da federação, o Reformador.

Num país maluco e desinformado como o Brasil, que comete o erro grosseiro de recorrer ainda mais à religião para resolver as crises vividas pelo país nos últimos anos (um pastor, fanático evangélico, tornado parlamentar, insatisfeito de haver FMs evangélicas em todo o país, quer impor canções religiosas em absolutamente todas as rádios do país), mitomania em nome do "pão dos pobres" tem status de "verdade indiscutível".

Em nome da religião, sem excluir o caso "espírita", as pessoas são capazes de mandar a lógica e a coerência às favas, iludidas que estão pelas percepções surreais que aprendem através da mística religiosa, desde factoides sensacionalistas como o "mar se partindo" do tempo de Moisés (na verdade, era apenas uma baixa de maré) e as mediunidades fake que apelam para "sermos irmãos".

Isso é muito ruim. Criar um terreno onde a fantasia e a mistificação estabelecem supremacia diante da realidade é extremamente negativo e é compreensível que pessoas que se prendem a essas crenças religiosas sob a alegação de que estão "protegidas por energias elevadas" são as que se tornam mais violentas e odiosas diante do menor questionamento.

Em certos casos, muitos dissimulam, no caso dos "espíritas". Comentários em tom de irônica candura são feitos como "o irmão está alterado", "o amigo está obsediado, dominado por outros amigos pouco esclarecidos", dados em aparente doçura por pessoas que, no íntimo, haviam espumado de raiva e rosnado palavras de puro rancor.

Ah, o que o "espiritismo" mostra de dissimulações, desde, pelo menos, 1932, quando a deturpação da Doutrina Espírita passou a ter Chico Xavier como propagandista, quantos e tão pesados volumes de livros seriam publicadas para registrar tantos exemplos! E é assustador que, apesar disso, os "espíritas" ainda estufam o peito dizendo que praticam e respeitam a coerência e o bom senso. Mais dissimulação...

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Erros do "espiritismo" fortaleceram crescimento de evangélicos

O ENTÃO DEPUTADO EDUARDO CUNHA, HOJE PRESO, COMANDANDO UM CULTO EVANGÉLICO.

Os "espíritas" costumam dizer, com seu triunfalismo dotado de certa arrogância, que as críticas que seu movimento recebe são "benvindas", porque contribuem para aquilo que entendem como a "divulgação da Doutrina Espírita". Imaginam eles que podem enfrentar os piores obstáculos e saírem vencedores, colocando a deturpação acima de tudo, até do próprio Allan Kardec.

Na prática, porém, o que vemos é que os erros do "espiritismo" brasileiro, sobretudo a "fase dúbia" - que bajula Kardec mas segue ideias de Roustaing, algo visto na quase totalidade dos "espíritas" no Brasil e em movimentos similares no exterior - , favoreceram ainda mais o crescimento das seitas evangélicas, principalmente as da linha neopentecostal, nos últimos anos.

A "fase dúbia" surgiu depois da saída de Antônio Wantuil de Freitas do comando da FEB, que foi na virada dos anos 1960 para os 1970. Com a divulgação de irregularidades e a animosidade dos "médiuns" e das federações regionais ao grupo que herdou o poder de Wantuil, uma parcela considerável de roustanguistas, visando agradar os espíritas "científicos", prometeram participar da recuperação das bases doutrinárias originais do Espiritismo.

Essa promessa foi apenas maneira de dizer e manter as aparências, porque o igrejismo e a vaticanização do Espiritismo continuaram a todo vapor, apenas dissimulada por apreciações teóricas "corretas" do pensamento kardeciano original, ainda que por meio de traduções igrejeiras como as de Salvador Gentile, que passaram a prevalecer sobre a de Guillón Ribeiro, esta da FEB.

Mas a série de contradições que envolveu o "movimento espírita" a partir dos anos 1970, mesmo com a poderosa blindagem da Rede Globo de Televisão aos "médiuns espíritas" - transformados em sacerdotes à maneira do Catolicismo medieval, mas à paisana, sem batina - , não conseguiu neutralizar a ascensão das seitas neopentecostais, que agora tentam, através de processos ativistas (Movimento Brasil Livre) e legislativos (Bancada da Bíblia), impor velhos valores à sociedade.

A Rede Globo contribuiu para a reinvenção do mito de Francisco Cândido Xavier visando evitar a ascensão de pastores eletrônicos como Edir Macedo e R. R. Soares, nos anos 1970. O mito de Chico Xavier, trabalhado sob inspiração na receita de Malcolm Muggeridge para Madre Teresa de Calcutá, tornou-se um paradigma de "filantropia de novela", uma visão "positiva" de Assistencialismo, uma caridade que traz poucos resultados mas é feita para promover comoção e idolatria religiosa.

Apesar da blindagem que envolve os "espíritas", como se fosse o PSDB da religião - há denúncias de mediunidades fake que não são devidamente investigadas, mas aceitas cegamente por causa de mensagens aparentemente fraternais - , o "espiritismo" nunca conseguiu crescer, mantendo-se, oficialmente, com uma porcentagem de 2% de adeptos segundo dados do Censo do IBGE, mas podendo ser um número ainda menor se tornassem os critérios ainda menos confusos.

Enquanto isso, as seitas neopentecostais cresceram tanto que, de arrendamento em arrendamento, episódios como a compra de todo o espólio da Record pelo "bispo" Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, impulsionaram o crescimento das seitas neopentecostais e até de movimentos dissidentes.

Hoje a influência das seitas neopentecostais está na propaganda da Escola Sem Partido - embora seu projeto pedagógico seja "independente", apenas condenando o debate dos problemas da realidade e permitindo a crença de fantasias religiosas, o que faz com que católicos e "espíritas" também pudessem se enquadrar nesta causa - , nas censuras à arte engajada e em propostas como obrigar FMs laicas a tocarem música religiosa em sua programação.

Recentemente, por influência de movimentos neopentecostais, o Movimento Brasil Livre - do qual fazem parte figuras como Kim Kataguiri e o hoje vereador paulista Fernando Holiday, divulgador da Escola Sem Partido - , fizeram uma campanha nas redes sociais contra uma exposição sobre diversidade sexual que era exibida no Santander Cultural, em Porto Alegre, o Queermuseu.

O crescimento dos evangélicos, principalmente em Estados conservadores como os do Sul e Sudeste mas de forma não menos expressiva em outras regiões, está fazendo com que uma pauta retrógrada fosse proposta para o Brasil, fazendo o país retroceder para os padrões conservadores do século XIX.

RETROCESSOS

Na verdade, ocorre uma série de movimentos de retrocessos sociais, como se houvesse um saudosismo de parte considerável da sociedade brasileira em retomar paradigmas e padrões sociais de pelo menos, antes da Lei Áurea. Se bem que mesmo conquistas como a Independência do Brasil e a modernização do país após a chegada da família real portuguesa em 1808 podem ser postas a perder nessa cavalgada louca para trás.

A neurótica e psicótica retomada ultraconservadora faz com que muitas pessoas, em nome da recuperação de valores hierárquicos hoje obsoletos, cheguem a ameaçar mudanças sociais a ponto de, se necessário, agirem contra a Constituição e ameaçarem a democracia brasileira. Tanto que o candidato dos neopentecostais é um desordeiro político, Jair Bolsonaro, infelizmente com grandes chances de ser eleito presidente do Brasil.

O "espiritismo", que nunca representou qualquer diferencial de religião e, muito pelo contrário, se tornou um "segundo Catolicismo", também está sintonizado com os movimentos retrógrados do país. Se pautando no antigo Catolicismo jesuíta, de origem portuguesa e medieval, que vigorou no período colonial, o "espiritismo" brasileiro passou a ter uma agenda cada vez mais conservadora, igrejista, de apelos emocionais piegas, e sinalizou apoio ao projeto político do presidente Michel Temer.

Solidário à "Bancada da Bíblia" em causas como a condenação ao aborto mesmo em casos de estupro - os "espíritas" chegam a recomendar à estuprada que "dialogue fraternalmente" com o estuprador - , o "movimento espírita" acaba consentindo a ascensão dos neopentecostais, até pela afinidade conservadora de suas ideias.

Bem antes da "cura gay", que voltou a ser defendida, desta vez por um juiz evangélico, Waldemar Cláudio de Carvalho, do Distrito Federal, o "médium" Chico Xavier atribuiu o homossexualismo à "confusão mental" do espírito encarnado, como se fosse uma doença psicológica. A ironia é que o "médium" foi famoso pelos gestos efeminados que fizeram alguns atribuírem a Chico supostas encarnações passadas em personalidades femininas.

Mas aí temos o vereador Fernando Holiday, que, negro e gay, também participa de pautas conservadoras que se voltam contra negros e gays. Ele quer revogar o Dia da Consciência Negra sob a desculpa de que não deveria haver uma data de consciência do povo negro, mas de "todos os brasileiros". A desculpa usada pelo membro do MBL é a mesma dos "espíritas", voltada a uma suposta fraternidade entre os cidadãos.

domingo, 17 de setembro de 2017

"Espíritas" se confundem ao definir a "data-limite" como fase de turbulência ou regeneração

"PROTEGIDA" POR "NOSSO LAR", PELA RÁDIO RIO DE JANEIRO E PELO JORNAL "CORREIO ESPÍRITA", A CIDADE DO RIO DE JANEIRO VIVE GRAVE SURTO DE VIOLÊNCIA.

Os "espíritas" são marcados pela confusão de argumentos, quando o assunto é evolução da humanidade. Não conseguem se decidir se o que ocorre é uma regeneração ou um momento de turbulência, chegando mesmo a desmentir expectativas que, na véspera, afirmavam como certeiras, tão possuidores da verdade que se acham os "espíritas", que lutam para ter para si a palavra final.

Nos eventos políticos de maio de 2016, houve um processo que depois se definiu como "golpe político moderno", um golpe que foi marcado não pela ação de tanques do Exército nem de grupos paramilitares assaltando o poder, mas pelo aparato de "legalidade" trazida pelos poderes Legislativo e Judiciário, aliados ao Ministério Público e à Polícia Federal. Foi o golpe político que representou a volta dos conservadores ao poder no Brasil, através do governo do retrógrado Michel Temer.

Pois esse golpe político-judiciário, também apoiado pela grande mídia, foi definido pelos "espíritas" como um "momento de despertar para o Brasil". Além do habitual refrão de pedir "orações para as autoridades pensarem no povo brasileiro", os "espíritas" passaram a alternar artigos de puro otimismo com súplicas, cada vez mais constantes, para os sofredores e desafortunados da sorte aceitarem desgraças e limitações pesadas, suportando tudo com "fé e resignação".

Os "espíritas" chegaram mesmo a apelar para os sofredores "amarem o sofrimento". Mas aí, quando se divulgou na Internet que o "espiritismo" brasileiro estava acolhendo a Teologia do Sofrimento, corrente católica-medieval que faz apologia da desgraça humana, os "espíritas", dissimuladores contumazes, logo recuaram e tentam desmentir, criando agora textos sobre "esperança" e até sobre o lema cristão "Pedi e Obtereis".

A defesa subliminar do governo Michel Temer era observada, nos textos "espíritas", por essa Teologia do Sofrimento. Infere-se que as reformas conservadoras do governo Temer são apoiadas com entusiasmo pelos "espíritas": a reforma trabalhista, por evocar valores ligados à hierarquia social, ao desapego material e à conformação com as limitações humanas. A reforma previdenciária, pela ideia de adiar um benefício para a beira do túmulo.

Mas também o "espiritismo" definiu os manifestantes do Março de 2016, que pediram o fim do governo Dilma Rousseff, como "jovens conscientizados", atribuindo a eles um "despertar político" e "intuição de espíritos benfeitores". Há quem viesse a atribuir a ação das "crianças-índigo" e "crianças-cristais" que estariam impulsionando o progresso no Brasil.

Esta alegação parece bonita, mas se torna risível quando se observa quem são esses manifestantes. Uma histérica Janaína Paschoal, recentemente reprovada num concurso para o corpo docente da USP, um Alexandre Frota (que foi famoso ator de TV e chegou a ser casado com Cláudia Raia) que, de tão reacionário, teve conta cancelada no Twitter, e grupos como o Movimento Brasil Livre, Vem Pra Rua e o Revoltados On Line, na ironia dos "espíritas" se dizerem contra qualquer expressão de revolta.

No Movimento Brasil Livre (MBL), se destacam figuras pitorescas como Kim Kataguiri e Fernando Holiday, este um negro homossexual que defende propostas contrárias a negros e homossexuais. Eleito vereador de São Paulo pelo DEM, na chapa que apoiou o prefeito João Dória Jr., Holiday decidiu "peregrinar" pelas escolas públicas patrulhando os professores e forçando-os a seguir as ideias da Escola Sem Partido.

A Escola Sem Partido é um projeto educacional insosso, de moldes conservadores e essência medieval. Consiste em restringir a pedagogia ao processo de ensinar a ler, escrever e aprender um ofício. No nível universitário, ela se restringe à formação técnica. Não se estimula o desenvolvimento real de conhecimentos fora dos limites pragmáticos de cada especialização, e se desencoraja o pensamento crítico, mas, em contrapartida, se permite transmitir fantasias religiosas.

No "espiritismo" brasileiro, o programa educacional de instituições como a Mansão do Caminho, de Divaldo Franco, localizada no bairro de Pau da Lima, em Salvador, encontra afinidades com a Escola Sem Partido, de tal forma que muitos fazem o trocadilho da sigla ESP com o próprio nome "espiritismo".

O próprio Divaldo Franco havia sido um entusiasta dos "novos tempos", mas ultimamente ele estava meio perdido diante dos rumos do Brasil, e, numa entrevista recente durante um "congresso espírita" na Espanha, ele "criticou" aquilo que ele mesmo adorava fazer, o de estabelecer datas prévias para acontecimentos sócio-políticos na Terra.

Divaldo, assim como os demais ícones "espíritas", sempre se embolou ao definir datas futuras. Os "espíritas" apostavam que o biênio 2010-2012 - 2010, pelo centenário de nascimento de Francisco Cândido Xavier - iria ser um preparativo para um período de regeneração da humanidade, mas a onda reacionária que surgiu nas redes sociais e estourou nas ruas e nas urnas em 2016 desmentiu tal perspectiva.

Os "espíritas", então, que na véspera eram tão taxativos e seguros em suas predições, tentam arrumar desculpas para o fracasso de suas visões. Dizem que os "irmãos pouco esclarecidos" (eufemismo para "espíritos inferiores") não deixaram ocorrer a evolução, que turbulências repentinas ocorreram e, por isso, os "benfeitores espirituais" estabeleceram novas datas para a regeneração da humanidade. Foi sempre essa mesma lorota, existente há pelo menos 50 anos.

DATA-LIMITE

Os "espíritas" também se confundem ao definir a data-limite de 2019 "prevista" por um sonho de Chico Xavier como um período de regeneração ou de depuração. Uns dizem que o ano será um marco de um futuro progresso da humanidade, outros um período ainda de turbulências.

Não há uma definição exata e coerente, porque os "espíritas" se arrogam em querer prever o futuro, estabelecer datas fixas para acontecimentos futuros e ficar plantando esperanças vãs com o objetivo de lotar as "casas espíritas" e aumentar a quantidade de fiéis.

Sabe-se que o auge do "movimento espírita", apoiado pelo discurso da "Nova Era" plantado entre 1975 e 2010, representou uma série de perspectivas e expectativas que se revelaram, depois, grandes e profundas bobagens. E, vindas de deturpadores do Espiritismo original, essa bobagem tem suas razões de ser.

Afinal, o próprio Allan Kardec reprovava o estabelecimento de datas prévias para acontecimentos cruciais para a humanidade. Uma citação do espírito São Luís, publicada em O Livro dos Médiuns e cujas ideias estão de acordo com a lógica trazida pelo Codificador, é clara:

"Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação".

A declaração praticamente derrubou Chico Xavier, Divaldo Franco e outros que se atrevem a ser pretensos cristos e pretensos profetas, se valendo do prestígio religioso e do aparato de palavras enfeitadas e textos verborrágicos que soam prolixos e rebuscados, mas são do agrado de muita gente.

Perdidos, os "espíritas" precisam fazer ginástica mental para explicar por que suas "previsões", que julgavam tão certeiras e precisas, foram desmentidas pelos fatos. Criam argumentos e desculpas esfarrapadas, sem medir escrúpulos para contradições, e depois apelam para o "deixa para lá" para ficarem apelando para conceitos igrejeiros de "fraternidade".

Pretensamente racionais, os "espíritas" criam um engodo intelectual, mas no final tudo acaba soando meros apelos igrejistas. Depois os "espíritas" ficam falando mal da "vaticanização" e do roustanguismo.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Mensagem "espiritual" atribuída a Allan Kardec dá indícios de obra 'fake'


É muito pouco provável que o professor Leon Rivail, conhecido pelo pseudônimo de Allan Kardec, tenha deixado mensagens espirituais. As mensagens que foram divulgadas atribuindo-se a ele soam muito igrejeiras, e, no caso brasileiro, bastante grotescas, sendo a mais famosa, por Frederico Júnior, lançada em 1889, mostrando um suposto Kardec que pedia para valorizarmos a "revelação da revelação" (nome dado à causa do deturpador J. B. Roustaing).

O que se pode inferir, com base na personalidade rigorosamente criteriosa e objetiva de Kardec, é que ele não teria retornado à Terra nem enviado mensagens espirituais. Mesmo deixando seu trabalho incompleto, Kardec teve consciência, na fragilidade de sua doença, de ter deixado uma orientação suficiente para a humanidade apreciar sua teoria e suas ideias.

A mensagem que reproduzimos abaixo é uma "pegadinha". Ela foi publicada na França, destinada à Revista Espírita e publicada nos Anais do Espiritismo daquele país. Isso sugere que a mensagem atribuída a Allan Kardec é "autêntica" e "indiscutível", mas indícios de que a mensagem tem veracidade duvidosa, embora sutis, podem ser identificados.

O texto, no seu conteúdo, apresenta um Kardec estranho, que se proclama um "missionário" e não um professor e muito menos lembra o Kardec original que lançava ideias com o objetivo de estabelecer um debate e mesmo um questionamento, a ponto de dizer que, se a Ciência provar logicamente o equívoco de uma ideia lançada pelo Espiritismo, que se prefira a Ciência do que a Doutrina Espírita.

No texto abaixo, embora o suposto Kardec fale em "ciência", o texto soa bastante igrejeiro. Ele transforma a "ciência espírita" numa religião e Kardec, estranhamente, trata a si mesmo como se fosse um "missionário". Isso parece bonito para as pessoas, mas contraria a natureza pessoal de Kardec, que nunca se comportou como se fosse um militante religioso.

As alegações do suposto Kardec soam místicas e o Espiritismo é visto como uma religião, e o texto triunfalista foge da natureza kardeciana original, embora, sendo uma mensagem veiculada na França e não no Brasil (onde supostas mensagens espirituais não escondem seu caráter fraudulento), pareça um sutil arremedo das mensagens que Kardec veiculou em obras finais como A Gênese e a coletânea Obras Póstumas.

Embora pareça estranho para os leigos, a Revista Espírita (La Revue Spirite), periódico fundado por Kardec, escapou dos propósitos originais do pedagogo de Lyon. O Espiritismo original também foi deturpado na França, a partir de J. B. Roustaing, mas mesmo os seguidores de Kardec suavizaram seu legado ao sabor de crenças católicas, o que comprometeu a essência original da Doutrina Espírita.

Isso significa que mesmo o Espiritismo francês se deixou diluir ao sabor do Catolicismo, não com a voracidade que se observa no Brasil, mas de maneira decisiva, tanto que, no decorrer dos tempos, deturpadores como Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, teriam livros traduzidos para o francês.

Vamos ao texto da mensagem do suposto espírito de Kardec.

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Comunicação de Allan Kardec em 30 de Março de 1924, confiada à - "La Revue Spirite" - pelos Anais do Espiritismo de Rocheford-Sur-Mer (França). N. º de julho de 1924.

"Outrora os espíritas podiam ser contados nos dedos. Escarneciam e praguejavam contra aqueles que se interessavam por essa Ciência; esses tais eram tidos por malucos e evitados com cautela; mas, hoje, vai-se fazendo luz intensa sobre o Espiritismo, porque os sábios o explicam e procuram a realidade dos fatos. Eu não disse na minha vida terrestre, que o Espiritismo havia de ser cientifico ou morreria?

E a ciência vai pouco a pouco homologando os fenômenos espíritas.

Para muita gente, nós o sabemos, esses fenômenos continuam ainda incompreensíveis, porque não se pode explicar e analisar a força que os produz, mas dia virá em que os sábios à descobrirão e provarão que, se a matéria compõe nosso corpo, existe também no ser humano uma coisa mais sutil que anima esse corpo: a alma imortal!

Com grande alegria vejo um raio luminoso aclarando alguns sábios que tendo a princípio repelido os fatos com desdém, observando-os depois com atenção, vão reconhecendo a sua realidade.

Direi, portanto, aos que ainda não compreendem o Espiritismo: estudai, observai, mas não o aceiteis senão com a vossa razão e com a ciência; é por atenção acurada na observação dos fenômenos que chega a concluir: Cela est! ("É isso!", em francês - o tradutor manteve a expressão original)

Aqueles que nos fatos espíritas só vêm ilusão e crendices da parte dos médiuns que nós animamos, estão em erro, podem também estar de má fé.

Se há médiuns mais preocupados de seus interesses que da verdade, também os há, e em maior número, que são sinceros e desinteressados e são na realidade uma força psíquica poderosa, capaz de ajudar os Espíritos a produzir fenômenos; esses são para nós preciosos auxiliares que nos permitirão atingir o triunfo de nossa obra de Luz.

Que Deus abençoe esse trabalho dos Espíritos, que vai crescendo de dia para dia neste planeta, para maior bem da humanidade. Quanto a mim, a minha missão espiritual está cumprida em parte, e dentro de alguns anos tornarei a reencarnar-me entre vós, amigos; e muitas pessoas jovens, que aqui se acham presentes, poderão reconhecer-me então pela minha obra de Espiritismo.

Essa missão terrestre eu a aceitarei com jubilo por amor de meus irmãos da Terra; e para bem a desempenhar meu espírito está se instruindo, está se iluminando nestas maravilhas estupendas e sem limites, onde há tanto que observar.

Eu estou aí haurindo poderosas forças espirituais para voltar ao serviço do progresso da humanidade terrestre, para afirmar a meus irmãos a realidade e a beleza desta vida do espírito no Espaço.

Sim, eu voltarei para trabalhar neste planeta onde lutei e sofri, mas estarei com o espírito mais forte, mais generoso, mais elevado, para aí fazer reinar mais fraternidade, mais justiça, mais paz".

sábado, 9 de setembro de 2017

Imagem "dócil" dos "médiuns" impede que eles sejam investigados em irregularidades


O "espiritismo" não passa de um grande balé de palavras bonitas que escondem um conteúdo conservador. Uma embalagem bonita e aparentemente "limpa", mas que no seu interior esconde uma série de graves e terríveis contradições.

No Brasil, há o costume das pessoas julgarem o conteúdo pela embalagem. O jogo das aparências, sobretudo numa sociedade de hierarquias rígidas e desiguais, onde o "topo da pirâmide" fica com tudo e a "base", sem sequer o necessário, é defendido de maneira ferrenha, neurótica e extremamente apegada.

O "espiritismo" brasileiro fala tanto em desapego, mas é uma das religiões que mais sofrem de apegos muito doentios. É o caso dos supostos "médiuns", que se vê claramente deturpando o legado espírita original, mas pelos quais há um esforço obsessivo em mantê-los como representantes daquilo que justamente deturpam e traem com gosto, a Doutrina Espírita.

O Brasil é um dos países mais ignorantes do mundo. Talvez o mais, se levarmos em conta que pesquisas são apenas recortes de uma parcela da sociedade. A desinformação generalizada faz com que muitas pessoas, mesmo tidas como "esclarecidas" e "progressistas", aceitem gato por lebre e cultuem um "espiritismo" que nada tem a ver com o original francês.

O apego aos "médiuns" atinge níveis que são definidos, pela Ciência Espírita original, como processos obsessivos de "fascinação" e, em certos casos, de "subjugação", criando uma ilusão de "boas energias amorosas" que, diante da mais inofensiva contestação, se convertem em explosões de ódio, raiva e até violência.

É o que se vê em relação a Francisco Cândido Xavier e outros. A adoração cega, a "fascinação" e "subjugação" que eram alertados, com muita antecedência, por Allan Kardec e seus mensageiros, infelizmente é um vício do qual dificilmente sai das mentes de muitos deslumbrados, obsediados pela mística e pela magia que se associam aos supostos "médiuns" brasileiros.

Isso é muito terrível. A imagem dos "médiuns" brasileiros, que romperam com o caráter intermediário da função e vivem do culto à personalidade, se equipara à imagem das fadas-madrinhas dos contos de fadas infantis. O próprio entretenimento das "belas estórias", que existe nas palestras e textos "espíritas" em geral, remete a uma forma grosseiramente adulta do lazer de ouvir estórias infantis durante a infância.

Isso garante a imunidade e a impunidade dos "médiuns espíritas", que se tornam "imexíveis" como os políticos do PSDB, às vezes bem mais do que os chamados tucanos. Há casos de irregularidades em obras "mediúnicas", sejam livros, cartas e pinturas, e ninguém investiga, ou, quando se investiga, lembra o simulacro de investigação que remete a atividades recentes da Polícia Federal, do Ministério Público e do Supremo Tribunal Federal que promovem uma "justiça seletiva".

São irregularidades graves, que em país menos imperfeito dariam em acusações de falsidade ideológica e ofensa à memória de pessoas mortas. O baiano José Medrado cria um falso quadro de Cândido Portinari, intitulado "São Francisco de Assis", e o exibe como um troféu no seu programa na TV Bandeirantes, mas ele nem de longe lembra o "São Francisco de Assis" original que o pintor havia feito em 1941.

Mas os casos de Chico Xavier são notórios. O aberrante contraste estilístico que se observa em obras espirituais atribuídas aos espíritos de Humberto de Campos, Auta de Souza, Olavo Bilac, Casimiro de Abreu e tantos e tantos outros, mesmo não-famosos, em relação ao que eles eram em vida, é evidente. Imagine se a adorável poetisa Auta de Souza, no mundo espiritual, abriria mão de seu estilo feminino de lirismo infantil para "escrever" igualzinho ao "médium" que a recebeu?

Tudo isso daria cadeia, em países menos evoluídos. É charlatanismo puro, uma atitude que até Kardec reprovaria com energia. E não foi por falta de aviso que essa irregularidade ocorre livremente no Brasil, pois a contundente obra O Livro dos Médiuns já preveniu a humanidade da apropriação de nomes ilustres que tanto espíritos farsantes quanto supostos médiuns se utilizam para levar vantagem com o sensacionalismo e a mistificação.

Mas experimente iniciar alguma investigação. Lágrimas serão derramadas pelos seguidores dos "médiuns", que chorarão copiosamente só de imaginar vem um de seus adorados como réus num tribunal. A situação é preocupante, porque a obsessão reage com muita cegueira, mediante falácias como "perseguição ao trabalho do bem" a pessoas, que, na verdade, só ajudam muito, muito pouco.

Sejamos sinceros. Se os "médiuns" brasileiros tivessem realmente feito caridade, até pela pretensão de grandeza que se atribui a eles, o Brasil teria atingido níveis escandinavos de qualidade de vida, até porque se alega que a ajuda desses "filantropos" é "profunda e transformadora".

Mas a verdade é que isso é conversa para boi dormir e o que os "médiuns" fazem é mero Assistencialismo, uma caridade paliativa, pontual, sem enfrentamento real com os problemas da pobreza, uma medida que "não cura" a doença da miséria, apenas "alivia" sua dor. Além disso, o Assistencialismo se preocupa mais em promover o "benfeitor" às custas de uma "caridade" que só traz resultados medíocres para os mais necessitados.

Vergonhoso é ver que Chico Xavier fazia todo um espetáculo de ostentação, a níveis de espalhafato, em pomposas caravanas que só serviam para oferecer doações que se esgotavam em três semanas. Enquanto os mantimentos de um evento filantrópico se esgotavam das despensas das famílias carentes, ainda havia muita comemoração por aquele donativo praticado. Os resultados da "caridade" desaparecem, mas as comemorações continuam, em desrespeito ao sofrimento dos mais pobres.

Igualmente vergonhoso é ver que um fanático seguidor de Divaldo Franco, numa comunidade de ateísmo (?!) nas redes sociais, tenha insistido tanto em defender a risível imagem do suposto médium como "maior filantropo do país", quando dados concretos confirmam que ele não chegou a ajudar 1% da população de Salvador, quanto mais em níveis nacionais.

A teimosia do referido internauta, num meio em que a pós-verdade se dispõe de um exército de desculpas que promovem a supremacia do contrassenso sobre a coerência, tão comum nas redes sociais, revela a preocupação que se tem em definir a "bondade humana" apenas pelo rótulo da religião e pelo prestígio de ídolos religiosos. A miséria dos infortunados da sorte é só um detalhe.

É preciso haver mais questionamentos sobre o "espiritismo" brasileiro e que eles possam ultrapassar os limites da Internet, criando esforços para que até a grande imprensa seja, mesmo a contragosto, induzida a admitir os problemas que envolvem a doutrina igrejeira.

Se ao menos a chamada imprensa alternativa, sobretudo a mídia progressista, rompesse com a complacência obsessiva que envolve os "médiuns espíritas" - que, aliás, são protegidos da mídia mais reacionária, sobretudo as Organizações Globo - e resolvesse investigá-los, sem medo de fazer demolir, como castelos de areia, a imagem adocicada aos níveis das fadas-madrinhas, seria um belo esforço.

Afinal, enquanto as paixões religiosas inebriam as pessoas na Terra, acreditando que as mensagens fake atribuídas aos mortos mas vindos apenas das mentes dos "médiuns" são "autênticas" apenas porque mostram "lindas mensagens", nos planos espirituais os espíritos ficam assustados com as pernas-de-pau longas que a mentira "mediúnica" arruma para manter o status de "verdade absoluta".

A ilusão doentia dos "médiuns" imunes a tudo, até mesmo à coerência dos fatos, só foi possível porque as pessoas são desinformadas, se rendem fácil às tentações da paixão religiosa (tão inebriantes quanto as tentações do sensualismo) e são capazes de mentir a si mesmos dizendo que são "as mais esclarecidas e as mais realistas". Infelizes daqueles que estão presos nestas ilusões.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O blefe perigoso do Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho

A EXTREMA-DIREITA CRESCE, NO ÁPICE DA RETOMADA ULTRACONSERVADORA QUE VIGORA NO BRASIL DESDE 2016.

O quadro político brasileiro simplesmente desqualificou, por completo, o mito de que o Brasil seria "o coração do mundo e a pátria do Evangelho". Não há como os "espíritas" falarem que esse mito apenas "começará em 2019" e que "será um longo caminho". Sabe-se que tudo isso se sustenta com muitas falácias e que a situação do Brasil, na comunidade das nações, não só voltou a ser humilhante como se tornou ainda mais constrangedora para o exterior.

Como o "espiritismo" brasileiro não conseguiu mais esconder seu ultraconservadorismo, um resultado amargo, porém natural, pelas escolhas que a doutrina igrejeira fez a partir do apreço a Jean-Baptiste Roustaing, sabe-se que suas perspectivas de que o Brasil entraria numa "nova era" e que "comandaria o progresso da humanidade" são ao mesmo tempo falaciosas e perigosas.

Podemos garantir que, a poucos meses da "data-limite" - a alegada "profecia" de Francisco Cândido Xavier divulgada em 1986, de que um sonho de 1969 prenunciava uma "moratória de 50 anos" para a humanidade planetária, antes da ascensão do Brasil como "nação-guia" do planeta - , o Brasil perdeu todas as condições da tão sonhada posição. Isso parece ruim, mas é bom, em certo sentido.

Em primeiro lugar, os rumos que o Brasil está vivendo desmoralizaram os "espíritas", que demonstraram que, por trás de seu discurso "futurista", havia um conteúdo doutrinário medieval, cada vez mais afastado de Allan Kardec, ainda que seu nome fosse bajulado com insistência e seus ensinamentos, mal interpretados, fossem evocados de forma pedante pelos palestrantes "espíritas".

A chamada "nova era", fantasia que fez lotar muitas casas "espíritas", na carona de tantos movimentos esotéricos e místicos, uns misturando até ufologia e horóscopo com pastiches de religiões hindus e chinesas, foi derrubada quando, no Brasil, se observa a barbárie querendo voltar com toda força.

Recentemente, se fala de casos de vários homens se achando no direito de se masturbarem em público, ofendendo as pessoas que são alvo desse ato grosseiramente praticado em ônibus. E isso fora os casos de racismo, machismo, homicídio, homofobia e outros, além da ascensão "tranquila" e "segura" do político Jair Bolsonaro, que parece estar indiferente às críticas que recebe e aos escândalos, gravíssimos, que provoca.

Mas se até Chico Xavier é imune aos escândalos que provocou, tendo reagido, em seu tempo, aos piores impasses com vitimismo e hipocrisia - o caso Otília Diogo, que ele acompanhou com gosto nos bastidores, é um exemplo - , sempre buscando um meio de se livrar de encrencas e aliciar pessoas (como o caso de Humberto de Campos Filho, que processou o "médium" e depois foi por este seduzido por um espetáculo de Ad Passiones e Assistencialismo em Uberaba), então Bolsonaro também pode tudo.

Vivemos a viciada complacência com as hierarquias e com a desinformação generalizada das pessoas que parecem ter a sensação, bastante enganosa, de que estão vivendo os tempos áureos. Para elas, bastava tirar o PT no poder e era só "arrumar a casa". Elas pensam que os projetos retrógrados do governo Michel Temer - apoiado pelos "espíritas" - irão beneficiar os não-ricos, mesmo com o desmonte dos direitos trabalhistas e a desnacionalização predatória de nossa economia.

Essa sensação enganosa pode até gerar o discurso de que a "data-limite" se "consolidou" em 2019 e o Brasil "está a salvo". Fala-se de falácias como a "inauguração da Pátria do Evangelho" ("Correio Espírita") e "o fim da recessão na nossa Economia" (O Globo). Depois os "espíritas" não gostam quando alguém diz que Chico Xavier não passa de mais uma estrela da Rede Globo...

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Madre Teresa e o Assistencialismo


Há vinte anos, Madre Teresa de Calcutá faleceu, aos 87 anos de idade. Nascida no mesmo ano que Francisco Cândido Xavier, Madre Teresa é um nome do Catolicismo adotado pelos "espíritas", o que diz muito sobre o caráter conservador do "espiritismo" brasileiro, que acolhe esta que é um dos ícones da Teologia do Sofrimento, corrente medieval do Catolicismo.

O próprio mito de Madre Teresa de Calcutá, construído pelo discurso engenhoso e emocionalmente apelativo do jornalista católico inglês Malcolm Muggeridge, inspirou no Brasil a reinvenção do mito de Chico Xavier, sem os apelos pitorescos do antigo tutor do "médium", o presidente da FEB Antônio Wantuil de Freitas, mas com a narrativa de novela tomada emprestada da Rede Globo, que fez o papel de "Muggeridge" da ocasião.

A ideia é sempre criar um paradigma de "caridade" e "bondade" que cause mais deslumbramento do que resultados concretos. No que se refere aos efeitos da sociedade, essa "caridade" traz resultados bastante medíocres, expondo mais o nome do "benfeitor" que se torna objeto de idolatria, extrema e cega, até mesmo quando os donativos que haviam sido distribuídos à população carente tenham se esgotado há um tempo.

A sociedade brasileira é extremamente conservadora e mesmo pessoas que se julgam "progressistas" e "modernas" não conseguem mais esconder seu conservadorismo extremo e, por vezes, reacionário, que contraditoriamente só aceita transformações sociais moderadas, que não mexem nos privilégios das elites dominantes.

Daí que é uma sociedade que vê a "caridade" apenas como um derivado da religião. O raciocínio da sociedade é meramente institucionalista, quase mercantil. Afinal, a "bondade" reduz-se a um "produto", no qual as pessoas prestam mais atenção ao "benfeitor" que é alvo de adoração extrema, quase que como um velocino de ouro.

Os necessitados são só um detalhe. Fala-se vagamente que "muitas pessoas" foram beneficiadas, sem dar informações concretas, se contentando com meras propagandas institucionais, em que os "benfeitores" são cercados de crianças e velhinhos e faz sua "humilde" ostentação que lhe garante os prêmios e os aplausos de autoridades e aristocratas.

Há denúncias sobre aspectos sombrios de Madre Teresa de Calcutá, bastante conhecidos. Mas suponhamos que a "caridade" que ela fez foi "verdadeira". Nem considerando assim permite defini-la realmente como caridade plena, pois se trata apenas de Assistencialismo, "caridade paliativa", uma ideia que as pessoas tomadas de paixões religiosas, como os "espíritas", que remetem aos "médiuns" o culto à personalidade, não conseguem perceber.

O que o "espiritismo" sempre fez foi Assistencialismo. Ele é muito diferente de Assistência Social, embora os "espíritas" aleguem essa segunda denominação. Mas a verdade é que a diferença entre Assistencialismo e Assistência Social é que, enquanto o primeiro apenas "alivia as dores", a segunda "cura a doença" da pobreza.

Os "espíritas" criam toda uma retórica sobre "assistência social", "caridade transformadora", "revolução social" etc. Mas, na prática, só fazem Assistencialismo. Afinal, se a caridade fosse realmente transformadora, o Brasil teria atingido padrões escandinavos de vida, se levarmos a sério a pretensão de grandeza que sempre se atribuiu ao "espiritismo" brasileiro.

Infelizmente, o Brasil sucumbiu ao contrário, e vemos o desmonte voraz dos direitos sociais, comandado pelo presidente Michel Temer, e o "espiritismo" brasileiro dá o maior apoio, vendo neste desmonte "uma excelente oportunidade de exercitar o desapego, o acordo entre irmãos, a resignação e a fé diante do sofrimento".

Os "espíritas" que idolatram Chico Xavier, Divaldo Franco, João de Deus, Madre Teresa e outros "filantropos", movidos pelas paixões religiosas, chegam a cometer a incoerência de dizer que "não é missão da caridade promover o progresso sócio-econômico do país", caindo em muita contradição, porque caridade tem a ver com qualidade de vida, sim.

Enquanto a "bondade" servir apenas para a idolatria religiosa de "benfeitores" que comemoram demais pelo pouco que fazem, as virtudes humanas se reduzem a esse estereótipo do rótulo religioso, da visão institucionalista, burocrática e até mercadológica, que comprova a crença de muitos de que a sociedade é sórdida e a bondade só existiria sob o rótulo de um movimento religioso.

Os brasileiros têm essa visão de "bondade" porque veem novela demais, e seu paradigma é o Criança Esperança da Rede Globo. Submetidas a uma narrativa ao mesmo tempo fabulosa e maniqueísta, feita aos moldes de um "conto de fadas" para adultos, as pessoas entendem a "bondade" sem a compreensão realista verdadeira. Mesmo a miséria lhes é apresentada em tons de dramalhão, o que impede a compreensão objetiva do problema.

Uma grande prova do quanto essas pessoas só aceitam uma "caridade" mais restritiva, que promova a imagem pessoal do "benfeitor", é que elas são as mesmas que se irritam quando políticos e ativistas progressistas, como o ex-presidente Lula e o professor Paulo Freire, realizam projetos de inclusão social mais ampla.

As pessoas que costumam glorificar ídolos como Chico Xavier, Divaldo Franco etc. acabam se irritando com os projetos progressistas, que acusam seus idealizadores de "corruptos", "escolas de guerrilheiros", "doutrinação ideológica" etc. Preferem projetos como a pedagogia igrejeira da Mansão do Caminho, de Divaldo Franco, que aliás se insere nos padrões que estão de acordo com a proposta ultraconservadora da Escola Sem Partido.

Para a sociedade conservadora, é melhor defender uma "caridade" espetacularizada que, embora ajude muito menos pessoas e traga resultados medíocres, é envolvida pela fabulosa mística religiosa, rende uma narrativa digna de contos de fadas e, o que lhe é mais importante, não ameaça os privilégios das elites. A definição desta "caridade" como "transformadora" é apenas conversa para boi dormir. E para as elites dormirem sossegadas, também.

sábado, 2 de setembro de 2017

No Brasil das 'fake news', querem reabilitar o falso Humberto de Campos


O Brasil é hoje marcado pelas páginas de fake news, portais reacionários da imprensa de segundo escalão que, na prática, soam como "satélites" da grande imprensa, que também cada vez mais está desinformando e manipulando as pessoas.

Páginas como "Imprensa Livre", "Jornalivre", "Diário do Brasil", ""Folha da Pátria" e o que vier com nomes igualmente pomposos, difundem notícias de valor verídico bastante duvidoso, em muitos casos transmitindo juízos de valor sem provas, visando sobretudo proteger os interesses das classes dominantes, que sustentam essas páginas mentirosas financiando espaços na Internet.

No "espiritismo", a habitual falta de concentração típica dos brasileiros impede a real comunicação com os mortos. Se ela faz os brasileiros não terem paciência sequer para ouvir música ou ler um livro, quanto mais para se comunicar com o povo do além-túmulo?

Daí que os ditos "médiuns", aberrações que são idolatradas e recebem culto à personalidade, recorrem a obras fake, caprichando nas mensagens religiosas para desencorajar qualquer denúncia. Ninguém iria apontar fraude em "mensagens de amor".

O "espiritismo", no seu desespero paranoico de tentar reabilitar o mito de Francisco Cândido Xavier, agora tenta partir para todos os lados. Algumas concessões têm que ser feitas, como o periódico "Correio Espírita" admitir que Chico Xavier não foi reencarnação de Allan Kardec, mas esta concessão foi feita mais para destacar o anti-médium mineiro e reforçar a "peculiaridade" do "espiritismo" que é feito no Brasil.

A reabilitação de Chico Xavier - algo comparável ao que se fez com Aécio Neves na política - envolve até mesmo a duvidosa e farsante obra que usa o nome de Humberto de Campos. O volume da série "Grandes Temas do Espiritismo", da revista Espiritismo & Ciência (sic), insiste em tentar dar alguma validade à farsa que usurpou o falecido autor maranhense.

A capa da edição destaca o pseudônimo que Chico Xavier e o presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, deu para o pseudo-Humberto, "Irmão X", uma paródia do Conselheiro XX, apesar da pronúncia ser "irmão xis" diante do "conselheiro vinte". Conselheiro XX foi um pseudônimo usado por Humberto para escrever crônicas satíricas sobre personalidades históricas ou de seu tempo.

A revista, que, como muitas outras, ensina e informa mal a Doutrina Espírita, define como "fundamental" a obra do suposto Humberto de Campos para a divulgação do Espiritismo, algo que vemos ter sido bastante duvidoso e de muito mau gosto, por ter sido uma usurpação de um nome ilustre para vender livros, promover sensacionalismo em torno do "médium" e assim seduzir e enganar a opinião pública, aliciada por apelos igrejeiros das "mensagens fraternais".

O QUE REALMENTE ACONTECEU

A farsa do "espírito Humberto de Campos", que causava, com muita razão, indignação nos meios intelectuais, foi o maior escândalo causado por Chico Xavier, uma das confusões deploráveis que o anti-médium causou mas das quais se serviu do vitimismo para sair ileso de qualquer enrascada. O caso jogou Chico e Wantuil para os tribunais, e os dois, espertos, chegaram mesmo a veicular uma carta fake atribuída a Humberto na qual há apelos muito estranhos. Entre eles:

"(...)Exigem meus filhos a minha patente literária e, para isso, recorrem à petição judicial. Não precisavam, todavia, movimentar o exército dos parágrafos e atormentar o cérebro dos juízes. Que é semelhante reclamação para quem já lhes deu a vida da sua vida? Que é um nome, simples ajuntamento de sílabas, sem maior significação? Ninguém conhece, na Terra, os nomes dos elevados cooperadores de Deus, que sustentam as leis universais; entretanto são elas executadas sem esquecimento de um til".

Essa declaração Humberto nunca daria, porque se trata de uma ideia um tanto estranha. Um autor defendendo a omissão de sua identidade, como se autorizasse a usurpação de seu nome ao bel prazer, sob a desculpa da "elevada cooperação para Deus". A frase é muito estranha e traz um forte indício do estilo pessoal de Chico Xavier.

Algumas verdades devem ser expostas, esclarecendo os incautos que, com a memória curta e com a percepção equivocada da "bondade" trazida pelas novelas da Rede Globo e pelo Criança Esperança - lembremos que Chico é um protegido da Globo - , veem as coisas como se fossem um conto de fadas, e por isso se recusam a perceber o que está por trás do caso Humberto de Campos. Vejamos:

1) Chico Xavier teria feito uma revanche, por não ter gostado da resenha que Humberto, em vida, fez do livro Parnaso de Além-Túmulo. Embora, aparentemente, Humberto tenha visto semelhanças de estilo nos poemas "psicografados" em relação aos autores originais, o que não indica que Humberto teria legitimado o livro, ele reprovou a "psicografia" sob a alegação de que "autores mortos não podiam concorrer com autores vivos". Ao morrer, pouco depois, Humberto teve o nome usurpado por Chico Xavier, que teria inventado um sonho para justificar a "parceria".

2) Os parentes de Humberto de Campos moveram, contra Chico Xavier e a FEB, um processo judicial que foi um tanto ingènuo na petição: pedia à Justiça analisar as "psicografias" para ver se eram autênticas ou não. Se caso positivo, os herdeiros participariam dos lucros dos livros, mediante direitos autorais. Se caso negativo, Chico e a FEB teriam que indenizar os familiares. Faltou firmeza para apontar que a "psicografia" era uma demonstração de falsidade ideológica, facilmente identificável numa leitura analítica.

3) A "seletividade" da Justiça, famosa por inocentar criminosos ricos - "condenados" à liberdade condicional - e, recentemente, por poupar políticos do PSDB e até do PMDB, em 1944 inocentou Chico Xavier pela desculpa de achar o processo "improcedente", ou seja, a Justiça ignorou a verdadeira natureza da questão, pegando mais no problema secundário de direitos autorais, quando se vê que o caso era claramente de falsidade ideológica, pois o "espírito Humberto de Campos" comprovadamente era diferente, em estilo, do que o autor maranhense demonstrou em vida.

4) O escritor Agrippino Grieco, apontado pelos "espíritas" como "comprovador" da "autenticidade" do "espírito Humberto de Campos", por ver, em princípio, algumas semelhanças entre a obra deixada em vida e a "psicografia", mudou seu ponto de vista e se desiludiu ao saber das revelações dadas aos que questionaram a "obra mediúnica". Com isso, Grieco se envergonhou de ter acreditado na "autenticidade", ao ver que havia irregularidades no estilo do Humberto original e do "espírito".

5) Visando abafar futuros processos judiciais, o esperto Chico Xavier tentou fazer agrados aos familiares de Humberto. O filho homônimo, que virou produtor de TV, foi seduzido pela "doce emboscada" de assistir a um culto liderado por Chico Xavier, em 1957. Esperto, Chico pediu à casa espírita (o Grupo Espírita da Prece, em Uberaba), para organizar atividades de Assistencialismo (caridade meramente paliativa), enquanto ele se valia de um recurso considerado falacioso, chamado "bombardeio de amor" (um tipo perigoso de apelo emocional). Assim, Chico "encheu de afeições" o produtor Humberto de Campos Filho, que foi levado a chorar copiosamente, e depois o produtor era levado pelo "médium" a acompanhar uma caravana ostensiva demais para uma finalidade meramente paliativa: a doação de mantimentos e roupas. Portanto, uma "caridade" que serve mais para propaganda do "benfeitor" do que para realizar uma profunda transformação social.

ESTILOS DIFERENTES

Para quem acha que o "espírito Humberto de Campos" tem "semelhanças" com o Humberto de Campos original, impressão que se dá numa leitura meramente superficial e apressada, identificamos as diferenças de estilos entre o autor original e o "espírito", que devem ser levadas em conta.

1) O estilo de narrativa do Humberto de Campos original era ágil, quase cinematográfica e gostosa de se ler. O do "espírito Humberto" era mais pachorrenta, prolixa, cansativa e inspirava uma leitura "pesada" e entediante, que só agrada a quem for beato religioso.

2) O texto de Humberto de Campos original era culto e correto, porém bastante acessível e coloquial. O do "espírito" era prolixo, rebuscado, pretensamente erudito, porém com sérios vícios de linguagem, como escrever "que cada" (trocadilho com "quicada").

3) A escrita de Humberto de Campos original era descontraída, com uma linguagem parnasiana quase modernista. A do "espírito" tem um forte acento igrejista, era melancólica e deprimente, soando mais como um velho folhetim medieval.

4) Os temas de Humberto de Campos original eram diversos, relacionados à realidade política e cultural, e quase sempre laicos. Mesmo um conto sobre Jesus, no livro O Monstro e Outros Contos, falava mais sobre infância e não de religião. Já o "espírito" era monotemático, escrevendo episódios bíblicos ou usando situações cotidianas para veicular mensagens religiosas, não raro correspondendo ao pensamento pessoal de Chico Xavier.

CONCLUSÃO

As observações acima foram constatadas mediante leitura minuciosa e cuidadosa das duas biblografias, a original de Humberto de Campos e a suposta obra espiritual. As semelhanças de estilo entre os dois repertórios não é muita, e quando há, revela um grande pastiche literário.

A verdade é que a atribuição da "obra espiritual" a Humberto de Campos se conclui falsa, porque as diferenças estilísticas são extremas. Daí que a revista "Espiritismo & Ciência", no volume "Grandes Temas do Espiritismo" dedicados ao suposto Irmão X, cometeu uma grande perda de tempo e se junta à onda das "informações fake" que, em certos casos, cria exércitos de jovens fascistas. Os adeptos de Jair Bolsonaro, tido pelas fake news como "o homem mais honesto do Brasil", que o digam.