quinta-feira, 30 de abril de 2015

O "coração do mundo" e a repressão contra os professores do Paraná


Que "coração do mundo" é esse? Que Brasil que irá comandar o mundo sem dar investimentos à Educação? Claro, os "espíritas" acreditam que só a prece irá resolver a situação e que, num passe de mágica, os professores serão o farol de condução da humanidade planetária para uma era de prosperidade e solidariedade.

Recentemente, professores protestavam pacificamente pedindo melhores condições salariais e profissionais, na "evoluída" cidade de Curitiba onde ultimamente machistas truculentos fuzilavam ex-namoradas na rua em plena luz do dia, e a polícia do governador paranaense Beto Richa e seu secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini (espécie de Bolsonaro local) deu a sua "recepção" aos grevistas.

Professores foram espancados e feridos, vários com sangramentos no rosto ou em outras partes do corpo. Tropas de choque intimidavam pessoas. E Beto Richa ainda usou a desculpa de que haviam black blocs entre os manifestantes para justificar tamanha truculência.

Beto Richa é ligado ao PSDB, partido que, no plano nacional, é ligado a uma mentalidade tecnocrática aliada a uma vocação autoritária de impor medidas sem consultar a sociedade e causando transtornos à população. É o partido de Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin, este ligado à seita neo-medieval Opus Dei.

No plano estadual, Richa é ligado tanto ao pai, José Richa, afilhado político de Jaime Lerner, quando ao chefão do PSDB local, o hoje senador Álvaro Dias. Vale lembrar que os integrantes do PSDB e seus seguidores e simpatizantes são conhecidos como "tucanos", porque a conhecida ave brasileira é o símbolo do partido.

Jaime Lerner é uma das pessoas consideradas "iluminadas" dentro de um país que considera Francisco Cândido Xavier seu "deus". Portanto, faz parte daquele grupo seleto de personalidades às quais possuem uma reputação alta e inabalável sob o pior escândalo, embora não tivessem méritos para tanto. Vide outros exemplos de "gente iluminada" como Luciano Huck, Neymar, Ivete Sangalo ou instituições como a Rede Globo e a rádio 89 FM, de São Paulo. E tem também o Divaldo Franco.

Lerner foi um arquiteto formado pela UFPR na época da gestão do ultraconservador Flávio Suplicy de Lacerda, o mesmo que, como ministro da Educação da ditadura, durante o governo do general Castelo Branco, quis privatizar as universidades públicas e criar uma entidade substituta da União Nacional dos Estudantes (UNE) vinculada ao Ministério da Educação ditatorial.

Como político, Lerner se filiou à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido mandão da ditadura militar, e iniciou seu processo de mobilidade urbana, tido como "progressista", através de um modelo tecnocrático que só os incautos consideram "democrático" e "eficiente".

Lerner apadrinhou politicamente José Richa, já falecido, que também se formou na UFPR, mas na ditadura tinha domicílio eleitoral em Londrina e fez sua carreira política no MDB (Movimento Democrático Brasileiro, atual PMDB). Em Curitiba, se aliou a Jaime Lerner e mais tarde estimulou um de seus filhos, Carlos Alberto Richa, a ser seu herdeiro político. José Richa encerrou sua vida filiado ao PSDB do qual faz parte seu filho.

A partir de Lerner, vieram atitudes arbitrárias como a dupla função de motorista-cobrador, num claro desejo de cortar postos de trabalho e sobrecarregar a profissão dos que ficam, causando riscos de acidentes de trânsito. Já houve casos de motoristas sobrecarregados que sofreram mal súbito ou infarto e causaram acidentes com mortos, feridos ou até casas destruidas.

O "progressista" Lerner também fez outras medidas nocivas como a pintura padronizada nos ônibus, que confunde as pessoas e acoberta a corrupção das empresas "licitadas". Também era um ávido defensor da redução de frotas em circulação, aumentando o tempo de espera nos pontos de ônibus e provocando superlotação até em BRTs, Implantou bancos sem o menor conforto, e outros transtornos que faziam os cidadãos preferirem seus automóveis, e, com isso, mais congestionamentos.

E esse padrão de mobilidade urbana, implantado em 1974 e "atualizado" em 1982, é visto como "novidade" em cidades como o Rio de Janeiro, Recife, Florianópolis, Niterói, como não bastasse os esforços para ele continuar vigente em São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Vitória e São Luís.

Fazer o quê? São grupos políticos que pensam como se ainda estivessem nos tempos do "milagre brasileiro". No Rio de Janeiro, há o grupo político de Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão que pensam a mesma coisa dos paranaenses e fizeram das suas ao reprimir protestos de trabalhadores.

O próprio processo de repressão aos professores lembra muito o que "titio Flávio" fazia há mais de 45 anos, diante dos primeiros protestos estudantis que aconteceram no Brasil ditatorial, em 1966, que geraram mortos, feridos e detidos. Infelizmente, para políticos isolados em seus gabinetes, custa a valer a realidade de que os tempos mudaram e escapam dos limites do PowerPoint e do Photoshop.

Que Brasil educacional é esse, que trata os professores com essa violência inadmissível? E que futuro teremos quando professores não podem mais se manifestar, sob pena de saírem feridos ou presos? Professores que acabam tendo fichas policiais preenchidas só porque protestaram para pedir melhores condições e foram detidos por policiais truculentos.

Será que eles teriam que orar em silêncio e fazer malabarismos para que seus salários apertados rendam um equilibrado gasto de cestas básicas para suas famílias, escolas para os filhos, pagamento regular das contas, algum conforto mínimo no lar e material educativo para montarem seus programas de ensino?

A fantasia "espírita" aconselha que as pessoas sofram caladas e orem para as autoridades que são capazes de reprimir com violência protestos pacíficos de trabalhadores. Fica muito fácil, com seus delírios supostamente fraternais, pedir para os professores não protestarem e a sociedade brasileira orasse pelas autoridades paranaenses, pedindo "luz" para eles conduzirem a sociedade da "melhor maneira", com "paz" e "respeito ao próximo".

E onde está o "novo Emmanuel" nessa parada? Já que sabemos que Guilherme Romano não é o "novo Emmanuel", o que o rapaz que seria o jesuíta reencarnado, tido como "futuro grande educador", diria para os professores que foram vítimas da repressão policial? Que lamenta pela ação de "irmãozinhos sofredores" e por isso pede para que a classe aguentasse o problema com "resignação" e "abnegação"?

Falar é muito fácil, o problema é que a religião não consegue compreender a complexidade social em que vivemos hoje. Nem mesmo a religião "espírita", que se arroga em estar acima de outras seitas e se autoproclama a "vanguarda das crenças espiritualistas".

Só que não dá para orar em silêncio num mundo de tensões e injustiças, e num país em que o arbítrio político e a corrupção são o receituário de autoridades que se acham com "poderes divinos" para fazer o que querem com a população. É preciso protestar com a voz enérgica dos indignados, algo que parece "violento e doloroso" para os padrões "espíritas", mas é o meio mais eficaz de combater injustiças.

Dizendo assim, soa duro para os "espíritas". Mas eles mesmos nunca ofereceram respostas eficientes para os problemas que enfrenta nossa sociedade, com suas injustiças graves e suas tensões mais complexas. Sobretudo quando o Brasil sofre uma crise que torna cada vez mais distante o sonho de Chico Xavier em vê-lo o "coração do mundo".

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Adeptos de Chico Xavier "apostam" em jovem paulista como "novo Emmanuel"


Polêmica no "movimento espírita". Um jovem escritor e "médium" é visto pelos seguidores de Chico Xavier como suposta reencarnação do jesuíta Emmanuel, mentor do anti-médium de Pedro Leopoldo. Mesmo com dados que não conferem às previsões de Xavier, a tendenciosa associação já repercute na grande imprensa.

O jornal O Globo publicou uma reportagem intitulada "Muito prazer, eu não sou Emmanuel", mostrando o jovem Guilherme Romano, adepto de crenças hindus e espiritualista, seguidor do guru espiritual Sri Swami Shivaharyànanda, que conheceu numa viagem à Índia, e que completará 22 anos este ano.

O caso começou quando Guilherme foi entrevistado, em 2007, por Ana Maria Braga no programa Mais Você, sobre a "mediunidade precoce". O jovem impressionava pela desenvoltura com que respondia as perguntas. No entanto, não houve qualquer menção de que ele teria sido a reencarnação do antigo jesuíta que se tornou "mentor" de Chico Xavier.

A associação se deu anos depois, quando o vídeo foi lançado no YouTube. Apenas pelo fato de apresentar qualidades genéricas, porém consideradas excepcionais no contexto brasileiro, como falar e escrever bastante, já ter lançado livros (no caso, dois, até agora) e mostrar amplo interesse em trabalhar com Educação.


Além disso, a simples comparação de semelhança física entre Guilherme Romano e Emmanuel (cuja aparência, por sua vez, remete ao padre Manuel da Nóbrega) foi usada para alimentar a associação, mas isso é tão tolo quanto crer que Rafinha Bastos é reencarnação de Sérgio Porto (famoso pelo codinome Stanislaw Ponte Preta) só pela "irreverência" (sabe-se lá o que isso quer dizer).

Que podem não haver acasos nem coincidências, sim, mas a realidade é tão complexa que, num momento, a associação de elementos em comum é acertada, em outros é bastante equivocada, e só mesmo o contexto pormenorizado de dada ocorrência pode apontar elementos que possam confirmar uma aparente coincidência.

No caso de Guilherme, ex-colaborador da Casa Perseverança, tido como "um dos maiores centros espíritas do mundo" e um dos fundadores da Núcleo de Estudos Espiritualistas Luz da Nova Alvorada (NEELNA), as coincidências simplesmente não procedem.

Afinal, Guilherme já tem 21 anos e vai fazer 22 ainda este ano. Segundo relatos de Chico Xavier, que em princípio disse que Emmanuel iria abandoná-lo após sua morte, mas depois afirmou que ele o deixaria antes, em 1996, ele teria reencarnado no final de 1999 (teria hoje entre 15 e 16 anos) e teria nascido e estaria vivendo numa cidade do interior paulista.

Guilherme nasceu e trabalha na capital. Estuda Filosofia na Universidade de São Paulo. Seu visual de cabelo comprido, que lembra um hippie mais arrumado, não condiz ao perfil austero de Emmanuel, assim como sua personalidade mais suave e sua inclinação às crenças hindus, diferentes do perfil sisudo,por vezes agressivo, e voltado à rigorosa opção católica, do "mentor" de Chico Xavier.

Pelo menos o presidente da Casa de Chico Xavier, de Pedro Leopoldo, o mesmo Geraldo Lemos Neto que difundiu a suposta "profecia" do anti-médium mineiro, admite que Guilherme nunca seria uma reencarnação de Emmanuel, com base em depoimentos de Xavier em 1973 e 1978, que afirmavam que o jesuíta iria nascer em 1999. Guilherme nasceu em 1993.

O próprio Guilherme não acredita ser Emmanuel reencarnado. Ele até declarou aos repórteres de O Globo com uma simpática ironia que virou título de reportagem: "Muito prazer, eu não sou Emmanuel". Ele afirma que prefere se esforçar para conhecer sua pessoa e sua missão moral na encarnação presente, em vez de se preocupar se foi alguém que ele nem mesmo conhece direito.

A polêmica, porém, serve para alimentar a visibilidade do "movimento espírita", que sofre sua grave crise, diante das denúncias crescentes de suas irregularidades e pelo fato do "espiritismo" brasileiro estar mais voltado para a herança do Catolicismo português do que por qualquer identificação com o pensamento de Allan Kardec.

Aliás, O Globo cometeu um erro grosseiro ao afirmar que Chico Xavier foi "continuador" da obra de Allan Kardec. Xavier nunca se identificou com o pensamento kardeciano, e é pouco provável que ele tenha lido para valer alguma de suas obras. Faz mais sentido dizer que Divaldo Franco leu a obra de Jean-Baptiste Roustaing que o anti-médium baiano jurava "não ter tempo" para conhecer.

O termo "kardecista", aliás, é um eufemismo armado para mascarar o igrejismo do "movimento espírita", principalmente a partir de 1975, quando o fim da "era Wantuil", após a morte do ex-presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, e a decadência de seus discípulos, como Luciano dos Anjos, expuseram a crise do roustanguismo no meio.

Dificilmente Guilherme Romano seria o "novo Emmanuel". Sua personalidade não apresenta traços que correspondessem ao austero jesuíta. Seus dados biográficos não correspondem às supostas previsões. E. além disso, o "novo Emmanuel" continua até agora sem qualquer anúncio oficial pelos dirigentes da FEB.

Enquanto isso, o episódio de Guilherme Romano, ao alimentar as polêmicas e o sensacionalismo referentes ao "movimento espírita", embora contrariasse diretrizes e procedimentos da cúpula de sua doutrina, fazem o "espiritismo" em crise ao menos alimentar sua publicidade através de tamanho factoide. Ás vezes a religião aproveita as lições do show business.

"Profecia" da "Data-Limite" é uma imitação do Apocalipse bíblico

A COLINA DE MEGGIDO, EM ISRAEL - Local onde os católicos acreditam de onde começará o "fim do mundo".

O que foi o sonho de Francisco Cândido Xavier? Um relato científico misturado com geopolítica? Nada disso. Foi um sonho daqueles que têm enquanto dormem, e que no fundo pouco tem a dizer sobre o futuro da humanidade.

Isso é tão certo que, se deixarmos que todos os sonhos que os cidadãos têm durante o sono tenham algum sentido "profético", seria o caos. Se o próprio sonho de Chico Xavier, com seus aberrantes erros de abordagens sociológicas e geológicas, causa uma bagunça nas interpretações futuras, quanto mais se a coisa se tornar banal.

Pois o que se observa, com atenção redobrada, é que o sonho que Chico Xavier teve em 1969, pouco depois da viagem de um grupo de astronautas estadunidenses à Lua, no 20 de julho daquele ano, é, na verdade, uma cópia do livro do Apocalipse, considerado o último livro da Bíblia, presente no Novo Testamento, conhecido como "Apocalipse de João".

O João que teria escrito esse livro, não foi o João Batista, primo de Jesus, nem o João Evangelista, um dos autores do mesmo volume bíblico, mas João de Patmos, um suposto profeta que teria vivido em Patmos, pequena ilha da Grécia, próxima à Turquia, que teria sido tanto lugar de exílio quanto local de banimento, neste caso por imposição do Império Romano.

A palavra "apocalipse" teria surgido do grego "apokálypsis", derivado da junção das duas palavras "apo", que significa "retirar", e "kalumna", que quer dizer "véu". O significado da palavra "apocalipse" é "revelação", e, segundo católicos e judaicos, corresponde aos segredos da Terra que teriam sido confiados a um profeta.

Algumas fontes atribuem a profecia do "apocalipse" ao próprio Jesus Cristo, que no caso teria ditado as palavras a João de Patmos. Em todo o caso, a narrativa corresponde a uma batalha final prevista para acontecer na colina de Meggido (Har Meggido, em hebraico), em Israel. Uma tradução malfeita, porém, fez popularizar uma corruptela, Armageddon, como referência a essa batalha.

Atualmente, Israel é um dos países envolvidos na região altamente conflituosa chamada Oriente Médio, que inclui países localizados no Centro da Ásia e no Norte da África. É um país protegido dos EUA, e os conflitos entre israelenses e palestinos revelam traços remanescentes da Guerra Fria, quando os EUA e a URSS polarizavam a disputa pela supremacia mundial.

Nessas regiões, ocorrem intensas atividades terroristas, com atentados que dizimam edifícios, residências e locais públicos, mesmo um ponto de ônibus. O fundamentalismo islâmico, que atualmente se manifesta por grupos como o Estado Islâmico, está por trás de muitos atentados que causaram várias mortes, inclusive de autoridades.

O QUE DIZ O CATÓLICO CHICO XAVIER

O sonho de Chico Xavier ainda se deu em 1969, durante a vigência da Guerra Fria, oficialmente declarada extinta em 1990 com o fim da URSS e do comunismo de orientação majoritariamente stalinista (correspondente ao ditador russo, Josef Stalin, que deturpou os conceitos de Karl Marx e mesmo de seu antigo mestre Vladimir Lênin) no Leste Europeu.

Embora Chico Xavier usasse um discurso "pacifista", alegando que se o "velho mundo" - EUA, Canadá, Europa, Oriente Médio, Ásia e parte da Oceania - evitasse as tensões internacionais, ele seria poupado de se tornar "área inabitável". Mas o anti-médium mineiro sabia que essa tendência era difícil, tanto naquela época quanto hoje, apesar das diferenças de contextos.

Diante disso, Chico Xavier, que no fundo sempre foi um católico fervoroso, rezador de terços, adorador de imagens de santos e devoto dos dogmas da Igreja Católica a ponto de evocar para seu convívio o espírito do antigo jesuíta Manuel da Nóbrega, rebatizado de Emmanuel, retirou suas "profecias" no livro do Apocalipse, de alguma forma ou de outra.

Nos devaneios de Chico Xavier, a Natureza - alegoria "científica" do "Deus punitivo" bíblico - castigaria os países que insistissem nas suas tensões e conflitos. Era uma espécie de "praga moralista" que atribuiria às catástrofes naturais a tarefa de liquidar com o "velho mundo", reagindo à violência cometida pelos homens.

Apesar de ser um livro do Novo Testamento, o Apocalipse de João retoma a narrativa belicosa do Velho Testamento, do qual se observam episódios, fantasiosos, surreais ou supostamente verídicos, de genocídios e guerras, dos quais inspirou-se o caráter sanguinário e punitivo do Catolicismo da Idade Média.

O Catolicismo medieval foi base do "espiritismo" brasileiro, mais do que qualquer vírgula escrita por Allan Kardec. Chegando ao Brasil através de Jean-Baptiste Roustaing, hoje renegado pelos "espíritas", o "espiritismo" catolicizado se desenvolveu no Brasil através do enérgico moralismo trazido pelos volumes de Os Quatro Evangelhos de Roustaing.

Nele são vistos valores punitivos e moralistas típicos do Velho Testamento, apesar do livro roustanguiano ter sido feito sob a suposta revelação psicográfica dos espíritos dos quatro evangelistas, João, Lucas, Mateus e Marcos, autores do Novo Testamento, que enfatizava uma narrativa mais "pacifista".

Através deles, Chico Xavier teria de alguma forma formulado seu julgamento sobre o futuro da humanidade terrestre. Juntando conhecimentos tortos sobre geopolítica e geologia, já que ele, embora seja um habituado leitor de livros, não era muito conhecedor de Ciências Sociais, ele divulgou sua predição de que a Terra passaria por guerras e catástrofes até chegar à "paz mundial".

Ele criou um maniqueísmo no qual o "velho mundo", mais experiente mas supostamente mais afeito às guerras, seria destruído, enquanto o "novo mundo" (o Hemisfério Sul), seria poupado da destruição, sendo o Brasil predestinado a "nação mais poderosa do planeta" e supostamente promovedor da paz e solidariedade planetárias.

Portanto, a "profecia" de Chico Xavier nada tem de original, sendo apenas uma adaptação, ao sabor das convicções pessoais do anti-médium mineiro, do Livro do Apocalipse, que o sensacionalismo dos "espíritas" tenta levar a sério demais, até mesmo fora dos círculos de sua religião.

terça-feira, 28 de abril de 2015

A mensagem igrejista de suposto espírito Theophorus


Depois de amedrontar os desavisados, a "profecia" de Chico Xavier, anos após a morte, recebeu avisos "consoladores" principalmente do "espírita" Geraldo Lemos Neto, quando, a quase quatro décadas após ter recebido o relato do anti-médium mineiro, "psicografou" uma mensagem de puro panfletarismo religioso e forte apelo igrejista, atribuído ao suposto espírito Theophorus.

A mensagem foi divulgada em 14 de agosto de 2006, no "centro espírita" Luz, Amor e Caridade, em Belo Horizonte (MG), e apresenta todos os clichês piegas e sentimentaloides do texto igrejista, sempre "mendigando fraternidade".

A mensagem, em tom solene, também descreve a suposta vinda de crianças de "caráter elevado" na Terra, cometendo o equívoco de atribuir a 2010 o "início da regeneração" da humanidade na Terra e o ano de 2057 para sua conclusão na etapa evolutiva, ano que coincide com a aposta do anti-médium baiano Divaldo Franco, um entusiasta em criar datas fixas para o futuro.

A mensagem aposta num otimismo igrejista em que vale até mesmo o título católico de "Nosso Senhor Jesus Cristo", embora também haja a bajulação a Allan Kardec em duas passagens, como no começo do texto, em que cita uma frase de Jesus reproduzida por Kardec, e outra, citando 2057, ano do bicentenário de O Livro dos Espíritos, definindo o livro como o "consolador prometido pelo Cristo".

A açucarada mensagem se equivoca em muitos aspectos, não bastasse o nível igrejista e à maneira enjoada de "pedir fraternidade". Cria datas fixas, como o aniversário de 100 anos de nascimento de Chico Xavier, 2010, como o "marco da regeneração", quando sabemos que, no Brasil e no mundo, a humanidade tornou-se o inverso, mais turbulenta, tensa e conflituosa.

Mera desculpa para criar uma esfera emocional para "fortalecer" o "movimento espírita", essa mensagem do suposto Theophorus é reproduzida abaixo, a título de análise questionadora, para as pessoas perceberem o tom do discurso igrejista e dos apelos fantasiosos de evolução da Terra, que, sabemos, está longe de fazer realizar as quimeras "espíritas" tão conhecidas:

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Irmãos,

Na abertura do Capítulo IX de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, com muita propriedade, escolheu a frase inesquecível de Nosso Senhor Jesus Cristo:

“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra!” (Ma­teus, 5: 5)

Por muitos séculos, a frase augusta do divino Mestre restou não compreendida pela coletividade cristã na face terrestre. Afinal, que terra prometida é essa a que se refere o Cristo, reservando-a aos brandos de coração e aos humildes do espírito?

Não obstante o aspecto profundo, muitas vezes atribuindo às palavras iluminadas de Jesus de Nazaré o sentido figurado, em que muitos estudiosos da letra cristã consideraram essa terra sob o significado espiritual da terra simbólica da paz reinante nos corações dos justos, forçoso é reconhecermos que o real alcance da promessa do Cristo a esse respeito vai mais longe. Os mundos, estâncias de trabalho e aperfeiçoamento que enxameiam a colmeia universal da Criação divina, também progridem espiritualmente, galgando novos postos de serviço como educandários valiosos dos espíritos de suas humanidades correlatas, em contínuo processo de ascensão. À medida que avançam as noções superiores do espírito encarnado, levantando o próprio olhar para as realidades da vida imperecível, soa o clarim de uma nova era para as coletividades humanas sedentas de paz e de progresso.

É chegado o momento de novo degrau evolutivo para a casa planetária a que chamamos Terra. O prazo de 20 séculos da mensagem espiritual do Mestre inesquecível, desde sua passagem renovadora às margens do mar da Galileia, chegará no próximo ano de 2030. Desde o advento do novo século XXI, por determinação superior, apenas têm acesso à porta da reencarnação os espíritos que atingiram em suas conquistas espirituais a mansidão, a brandura e a humildade. Aqueles que não souberam adquirir esses patrimônios morais na contabilidade de seus créditos pessoais, no transcurso de suas sucessivas reencarnações em 20 séculos de vida cristã na face da Terra, serão, como já estão sendo, conduzidos a mundos de expiação e provas que se lhes afinem com as tendências inferiores e infelizes.

Os bons alunos, que se têm esforçado por domar as suas más tendências, reajustando-se-lhes os corações em sintonia com o amor universal e a sabedoria de todos os tempos, são estes que o divino Mestre apelida de brandos e humildes, mansos e pacíficos, que hão de herdar a nova Terra. Muitos deles já estão entre vós, apresentando-se com a infância natural de seus primeiros anos de crianças terrestres.

À medida que forem chegando à juventude e à madureza, contudo, assumirão cada vez mais o relevante papel para o qual foram chamados na sociedade terrestre, o que imprimirá vigorosa transformação no ambiente conturbado que ainda vos envolve o cotidiano.

Aproxima-se a fase final desta transição que haverá de elevar a Terra à condição de “mundo regenerado” para a qual se destina. Este período final será justamente aquele entre o centésimo aniversário do nascimento do apóstolo consolador Chico Xavier, a comemorar-se no próximo ano de 2010, em 2 de abril, e o aniversário do bicentenário do advento do Consolador prometido pelo Cristo, a comemorar-se no futuro ano de 2057, mais precisamente no dia 18 de abril.

Até lá ainda experimentareis os estertores da vida sombria dos sentimentos inferiores que ainda vos circundam a existência, fadada, invariavelmente, a ser varrida da nova Terra pela presença da Luz. Estejamos, pois, confiantes que Jesus, nosso divino Mestre, está no leme de nossa embarcação planetária, conduzindo-a ao porto seguro da paz e da esperança, da alegria e do amor, que haverá de nos irmanar, uns aos outros, como genuínos herdeiros dessa nova humanidade.

Irmãos, amigos queridos e companheiros de jornada, façamos, pois, nossa parte para merecê-la!

“Tudo dependerá, em última análise, de nossas próprias escolhas, enquanto entidades individuais ou colettivas, para nosso progresso e ascensão espiritual. É o ‘A cada um será dado segundo as suas próprias obras!’ que o Cristo nos ensinou”.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Brasil não é "Coração do Mundo", mas uma "Terra em Transe"

MONTAGEM SOBRE CENA DO FILME TERRA EM TRANSE, COM CHICO XAVIER CALANDO A BOCA DE ALGUÉM.

Ainda preso em valores e abordagens provincianas, até quando assimila (tardia e precariamente) as novidades vindas de fora, o Brasil nem de longe tem condições para se tornar o "Coração do Mundo", mas o país constitui numa "Terra em Transe".

A mediocrização sócio-cultural continua em pé, embora seus sinais sérios de crise já se tornem evidentes. Mas muitas pessoas beneficiadas por uma série de arbítrios, omissões, descasos, corrupções, mentiras, violências e tudo o mais não querem "largar o osso".

Por enquanto o "estabelecido" continua, por mais que o som das vaias populares já ressoe e tenda a aumentar. Infelizmente, porém, nada parece poder desfazer os inúmeros retrocessos ocorridos no país nos últimos 51 anos.

Mesmo os pequenos progressos são descaraterizados em segundo momento. Novidades de grande impacto são deturpadas e sua forma definitiva não passa de caricatura daquilo que surgiu e inovou em algum aspecto. Irregularidades são permitidas por causa do status de alguém, que pode ser considerado confiável até quando apunhala pelas costas seus aliados menos vigilantes.

O Brasil está mergulhado num atraso tão grande que os valores trazidos pelas diversas grandes instâncias de retrocessos não conseguem ser desfeitos, por mais que pereçam no desgaste dos seus prejuízos, transtornos, tragédias e aborrecimentos causados.

E isso se deu de forma definitiva em 1964, embora sua raiz tenha ocorrido quatro anos antes, em outubro de 1960, quando um esboço de sensacionalismo fez com que o povo brasileiro fizesse uma má escolha que deu origem a uma série de confusões e prejuízos para o país.

TUDO POR UMA "VASSOURA"

Não dá para entender, a princípio, por que o então presidente Juscelino Kubitschek, que simbolizou um cenário de esperança que depois foi definido, até com certo exagero, como "Anos Dourados", mesmo com a inauguração da ambiciosa Brasília, a então nova capital do país, não conseguiu eleger seu sucessor, o general progressista Henrique Teixeira Lott.

Lott, o mesmo que havia garantido a posse de Juscelino para 1956, realizando em 1955 um contragolpe para conter um golpe movido por Carlos Lacerda e pelo presidente em exercício, Carlos Luz (que sucedeu o convalescente Café Filho, por sua vez sucessor de Getúlio Vargas, que havia se suicidado), tinha as qualidades de um político moderado e fiel ao rigor da lei.

No entanto, Lott não tinha o caráter espetacular para atrair o eleitorado. Era sério e considerado "sem graça" para o espetáculo da campanha eleitoral. Nessa época, os EUA viveram o espetáculo da disputa entre Richard Nixon e John Kennedy para a presidência do país, e o "soldado da lei" parecia insosso diante de um rival que mais parecia um cruzamento de Mazzaropi com Groucho Marx.

Jânio da Silva Quadros parecia ter saído de uma chanchada, embora muitos tivesse elogiado seu desempenho como governador de São Paulo. Populista estranho, que falava de maneira complicada, usando uma pronúncia do século XVIII, Jânio classificava o governo do antecessor Juscelino de "corrupto" e prometia "varrer com a vassoura" a "sujeira política do país".

Ele foi eleito, empossado em 1961, e em seguida governou por apenas sete meses. Adotava uma política interna conservadora, apoiada pela direitista UDN (União Democrática Nacional, primeira "encarnação" do atual DEM), mas sua política externa era tão simpática ao Leste Europeu e a Cuba que Jânio tinha um retrato do presidente da antiga Iugoslávia, Josip Broz Tito, pendurado no seu gabinete, e quis dar a Ordem do Cruzeiro do Sul para o guerrilheiro Che Guevara.

Jânio renunciou e a Constituição de 1946 previa a sucessão pelo vice-presidente, João Goulart. Jango era da chapa de Lott, mas se votava para vice-presidente, em separado. O vice também tinha direito a presidir o Senado Federal. Com isso, os ministros militares ameaçaram realizar um golpe para impedir a posse de Jango, nem que fosse para prendê-lo ou matá-lo, mas uma campanha radiofônica liderada pelo cunhado de Jango, Leonel Brizola, reverteu a situação e garantiu a posse.

Esse cenário de confusão não impediu que alguma esperança em torno de um país melhor no âmbito social, econômico e cultural, estimulada pelo otimismo da Era JK, se mantivesse. Ela praticamente acabou em 1964, depois de muita confusão política (do "parlamentarismo" inicial do governo Jango até a sua aliança com radicais de esquerda), por causa do golpe militar, e tornou-se irrecuperável por conta do AI-5.

OS RETROCESSOS

O golpe militar ceifou os debates que a União Nacional dos Estudantes realizava com as classes populares em torno de seu patrimônio cultural, por meio do Centro Popular de Cultura. No lugar, as classes populares foram bombardeadas pelo coronelismo radiofônico que impôs o que o povo pobre deveria consumir sob o rótulo de "cultura popular" e que, infelizmente, vale até hoje.

Essa "cultura", o brega, fez substituir os artistas genuínos, que brilhavam nas classes populares, por ídolos medíocres tutelados por empresários "artísticos" e que levavam 20 anos para alcançar apenas 1% do talento dos antigos e vibrantes artistas populares originais.

A imbecilização cultural veio com programas policialescos de rádio e TV, imprensa sensacionalista, mulheres-objetos forçadamente sensuais e tantas coisas deploráveis. Só a década de 1960 no Brasil houve dois grandes retrocessos, o de abril de 1964 e o de dezembro de 1968, este um segundo golpe militar, ainda mais retrógrado.

Depois veio o "milagre brasileiro" que desenhou os valores sócio-culturais que a ditadura queria que o povo acreditasse. Virou uma cartilha para o imaginário brasileiro até hoje. A submissão a tecnocratas, a conformação com o "estabelecido", a resignada indignação contra os males políticos, a degradação cultural ano após ano, tudo isso dentro de um astral ufanista.

Esse "milagre" criou um modelo de país que teve traços definidos em 1974, quando o general Ernesto Geisel, um dos estrategistas da ditadura, criou uma "democracia" que até hoje acostumou mal os brasileiros, baseada na submissão hierárquica, na mediocridade cultural e no desestímulo ao ativismo e à mobilização.

A subordinação política de 1964, o medo de mobilização de 1968, a exaltação da tecnocracia em 1974, tiveram sequência com os valores "pragmáticos" de 1990, com Fernando Collor de Mello, e com Fernando Henrique Cardoso, em 1994. E aí o país não abandonou um sistema de valores que, na verdade, tiveram raiz em um golpe militar.

É a mediocrização sócio-cultural, o populismo conservador, a tecnocracia, o fanatismo religioso, o paternalismo da imprensa, a sociedade do espetáculo, vários desses elementos já descritos no filme Terra em Transe, de Gláuber Rocha, um dos críticos ferozes da acomodação social que até hoje vicia os brasileiros.

O Brasil tem uma cultura fraca, apesar de seu riquíssimo patrimônio cultural do passado. Isso porque a cultura popular foi privatizada e, se antes tínhamos personalidades das classes pobres com grande inteligência na música, literatura, artes plásticas, teatro etc, hoje o que vemos são subcelebridades e sub-artistas amestrados por empresários do entretenimento, estes já bastante ricos.

Ainda endeusamos tecnocratas como se estivéssemos ainda nos tempos do general Emílio Médici, e muitos não percebem que Jaime Lerner é um "filhote da ditadura" e uma espécie de Roberto Campos da mobilidade urbana. Mas se vemos, no caso da religião, que tem gente que considera Chico Xavier "progressista", sem qualquer motivo lógico para isso, então faz sentido.

As pessoas não têm noção do que é moderno ou antiquado, e aceitam seus próprios prejuízos porque acham que eles são uma etapa para algo melhor, que eles não sabem o que é e sabem muito menos que não virá. Até a vitória de um time de futebol vira pretexto para as pessoas aceitarem reduzir o abastecimento de alimentos na sua despensa.

O Brasil subserviente, alienado, degradado, complacente e acomodado não pode comandar o mundo. Dizer isso nada tem de reacionário, mas tudo tem de realista. Acreditar em fantasias tornou-se regra, só porque elas foram trazidas por um ídolo religioso que personifica estereótipos agradáveis de velhice e humildade, e isso num Brasil que despreza os idosos.

Cheio de problemas e impasses, o Brasil já não se tornou a primeira potência econômica dos cinco emergentes (os BRICS, junto a Rússia, Índia, China e África do Sul), já que a China, em que pese seus próprios e graves problemas, passou a dianteira por suas vantagens a mais.

Quanto ao "velho mundo", ele parece repensar os episódios da crise do Euro, do terrorismo e outras crises e tragédias, com a experiência que tem de milênios. Faz mais sentido acreditar que um país europeu possa comandar a evolução da humanidade, talvez a Noruega. O Brasil que assista ao progresso do mundo de camarote.

sábado, 25 de abril de 2015

Idolatria a Chico Xavier, ao brega e ao "funk": formas de mascarar preconceitos

CHICO XAVIER, WALDICK SORIANO E VALESCA POPOZUDA - Quando a sociedade usa valores simbólicos para camuflar preconceitos.

Anos atrás, ocorreu uma moda de uma corrente de intelectuais, entre cientistas sociais e acadêmcios, em classificar como "preconceito" a rejeição a determinados fenômenos supostamente populares, mesmo quando eles apresentam uma visão deturpada e até caricata das classes pobres.

O termo foi tomado emprestado do noticiário político, quando se falava em preconceito racial como um dos males do apartheid, o regime fascista que durante anos vigorou na África do Sul e que muitos males causaram a seu povo.

No entanto, a ideia de "preconceito" adotada no Brasil foi bastante deturpada, e o que se viu foi uma forma, realmente preconceituosa, de "romper o preconceito", aceitando tudo sem verificar. Afinal, a aceitação sem verificação, sem crítica, é em si só preconceituosa e não o contrário, Porque a aceitação se baseia numa visão pré-concebida das coisas, é uma incompreensão "positiva".

No Brasil marcado pelo moralismo religioso e por outros valores conservadores originários do Brasil colônia mas reciclados pela ditadura militar, existe até um jeito de adotar simbolicamente a idolatria a certos ícones para disfarçar preconceitos severos que muitas pessoas sentem.

Dessa maneira, criam-se totens que são alvo da idolatria mais sentimental, que simbolizam justamente valores e condições que as elites que admiram cegamente esses totens normalmente sentem repugnância. É como se eles adorassem as estátuas que representam, na verdade, tudo aquilo que em condições naturais lhes causa nojo.

A idolatria de uma elite tida como intelectualizada e de maior poder aquisitivo a ícones da "cultura" brega é um exemplo. De Waldick Soriano a Valesca Popozuda, passando por "sertanejos", "pagodeiros", demais funqueiros, axézeiros e tudo o mais, era uma forma dessa elite disfarçar sua ojeriza às classes pobres, usando o simbólico para mascarar o real.

Assim, as pessoas que odeiam ver trabalhadores rurais fazendo passeatas, empregadas domésticas pedindo aumento salarial e não aguentam visitar pessoalmente uma favela, passam a "gostar de pobre" quando se tratam de explorações midiáticas a ídolos "culturais" patrocinados pelo coronelismo televisivo e radiofônico.

Há toda uma apreciação à "linda história" de Waldick Soriano, ou a "corajosa trajetória" do "funk carioca", em ambos os casos valendo as mesmas apologias que se observa na idolatria de Francisco Cândido Xavier.

A POBREZA COMO MITO

Eles são representantes simbólicos de uma pobreza que, dentro desse discurso midiático e através desses totens, trabalham a visão dócil da miséria e da baixa escolaridade. A pobreza aparece romantizada, transformada em mito, e essa pobreza como mito compensa a pobreza real, hostilizada e cruelmente desdenhada por essas mesmas elites que falam "como é lindo ser pobre".

O mito se contrapõe à realidade, e apreciando mitos, cria-se uma falsa postura em que a pobreza, como mercadoria do imaginário midiático, é "admiravelmente bela", ou "corajosamente digna", enquanto a pobreza real torna-se igualmente repugnante, essas elites "generosas" continuam sentindo horror a favelas, a favelados, a sem-teto, sem-terra e pedintes nas ruas.

Mas o mito consegue substituir a realidade e fazer com que essas elites passem a impressão de que são generosas, altruístas e socialmente engajadas. Mascaram seus preconceitos elitistas com um discurso, não obstante panfletário, "em favor" das classes populares, carregando nos clichês da retórica militante, ativista e até sindical.

As pessoas passam a se comoverem com os exemplos "sofridos" de Waldick Soriano, Odair José e outros ícones da cafonice cultural do passado e do presente. A imagem de "coitados" dos ídolos "populares" garante a apreciação simbólica por parte das mesmas elites que, naturalmente preconceituosas, veem nesse simulacro um modo de parecer "boazinha" para as classes populares.

Aí as elites podem se passar por "solidárias" às classes populares, quando, no íntimo de suas privacidades, continuam vendo as pessoas carentes com desdém. Fecham os vidros dos carros para não darem esmola para as classes populares, não têm uma proposta real de melhoria de vida para os pobres, fazem caridade só para ostentação e depois vão embora às pressas para o isolamento do lar.

CHICO XAVIER

A idolatria de Chico Xavier também é um grande problema das elites, que vão para as mídias sociais publicar frases dele ou fazer comentários condescendentes com seus erros. Ele é, por si, a imagem simbólica do velhinho humilde que serve para adoçar as mentes das pessoas.

Falecido há 13 anos, ele tornou-se o idoso mais glamourizado do país, um mito associado a estereótipos de velhice, bondade, humildade que criam até mesmo jogos de contradições, atribuindo a ele qualidades que ele nunca teve nem era capaz de assumir.

Chico Xavier também é associado à pobreza e à subescolaridade. Embora razoável leitor de livros, sua instrução é considerada modesta. Sob ele se apoiam estereótipos de pobreza, ignorância, humildade e fraqueza que fazem com que as pessoas naturalmente preconceituosas se apoiassem em algum ícone "frágil" para disfarçarem suas neuroses pessoais.

Daí a idolatria que faz com que muitos chiquistas disfarçassem sem elitismo. A ideia do "velhinho pobre" endeusado por suas "palavras de amor" serve de escudo para pessoas que mal conseguem ter consideração com seus próprios pais, tios ou avós, que mal se dispõem em ceder seus assentos para os idosos sentarem, mas vão correndo pegar uma frase de Chico Xavier para enfeitar seus perfis nas mídias sociais.

Xavier tornou-se a única pessoa que não responde pelos seus erros, e que é mantida no seu pedestal de adoração e idolatria, num apego obsessivo que marca não só os chamados espiritólicos - "espíritas" de forte influência católica - , mas mesmo alguns críticos do "espiritismo da FEB" que ainda estão condescendentes com o mito do anti-médium mineiro.

O grande problema é que a idolatria obsessiva a Chico Xavier e a glamourização de seu trabalho, que nem foi assim tão brilhante nem transformador - ele apenas expressava ideias conservadoras e moralistas em "dóceis palavras" e fazia "caridade" paliativa - , também camuflam os preconceitos que os "espíritas" têm em relação aos velhos.

Há casos de "espíritas" que abandonam os velhos, ou relegam a eles os papéis subordinados e patéticos que já exercem na religião "espírita": a fé mística (que contraria a falsa postura de "fé raciocinada"), a devoção exagerada, o sentimentalismo piegas e a tristeza profunda.

Não existe um diálogo entre jovens e velhos, e muitos "espíritas" deixam seus pais e avós no asilo sem dar muita atenção. Há quem, todavia, dá exemplar dedicação aos idosos, com devoção e apreço ímpar, mas isso não é tendência constante para uma seita marcada por ideais moralistas e outras contradições, que pouco fazem para a evolução moral verdadeira das pessoas.

Uma religião que prega que soframos em silêncio e em "amorosa" conformação - como se pudéssemos ficar felizes quando tudo dá errado em nossas vidas - sufoca revoltas, ódios, desprezos dentro de um aparato que reduz os sentimentos de amor e caridade à letra morta. Pede-se fraternidade, porque a religião "espírita" não tem esse recurso no seu estoque.

Assim, o próprio "espiritismo" estimula que as pessoas mascarem suas neuroses e preconceitos, criando, nos seguidores mais elitistas, um preconceito ainda mais elitista, contra pobres, contra idosos, contra aqueles que não correspondem à sua vida confortável de gente abastada.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

A "leitura fria" e o "efeito Forer" como técnicas do ilusionismo "espírita"


Sem um estudo sério e consistente sobre mediunidade, o "espiritismo" brasileiro acaba desenvolvendo a prática de maneira improvisada e inventada, sendo mais um recurso de propagandismo religioso do que de qualquer tentativa - sim, isso mesmo, tentativa - de comunicação com os espíritos.

Uma prática que poucas pessoas levam em conta, e que é um dos recursos da neurolinguística, é a "leitura a frio", ou "leitura fria", técnica que na verdade teria sido a especialidade de Francisco Cândido Xavier e que virou "escola" para a atividade supostamente mediúnica dos "espíritas".

A "leitura fria" consiste numa técnica de manipulação psicológica. O entrevistador, integrante de um "centro espírita" com uma certa experiência - daí ser designado para tal trabalho - , procura, num breve contato, sempre em tom de simpatia e cordialidade quase paternal, perguntar o que a pessoa, que procura um recado do além, está sofrendo.

Se esforçando para observar os gestos emocionais da pessoa, o entrevistador deve ter a habilidade suficiente para captar sensações e depoimentos, sempre verificando a emotividade do entrevistado. Se, por exemplo, aquela mãe que perdeu o filho começa uma mensagem chorosa, e depois, com relatos saudosos, começa a sorrir diante das lembranças do ente falecido, e aí descreve pormenores da vida dele.

O entrevistador anota, aparentemente indiferente, mas de vez em quando olhando de forma bondosa para a mulher. Sempre existe esse recurso psicológico, do entrevistador "bondoso", mas atento, capaz de, mesmo no final de uma doutrinária, observar as pessoas que conversam com ele na saída, diante de multidões falando e se movimentando.

Os "espíritas" procuram verificar as fraquezas emocionais das pessoas, e exploram as mesmas quase que por instinto. O hábito faz com que nem os entrevistadores percebam suas habilidades, porque o ambiente psicológico e as "boas energias" já desenvolvem esse clima emocional.

Com esses contatos "informais" e "sem qualquer pretensão" senão o de auxílio fraterno, os "espíritas" colhem informações que depois vão sendo inseridas em mensagens ditas "mediúnicas". Nelas aparecem informações pessoais e uma distribuição de palavras que, embora sigam o mesmo padrão de relatos de sofrimento e recuperação e, no fim, pregações morais e religiosas, dão a impressão de serem diferenciadas.

EFEITO FORER

E aí entra o "efeito Forer", um fenômeno psicológico observado por Bentram R. Forer, psicólogo norte-americano do século XX. O fenômeno também é chamado de "efeito Barnum" por causa da similaridade com as brincadeiras do comediante circense Phineas Taylor Barnum, ou P. T. Barnum, celebridade norte-americana do século XIX.

Forer realizou um teste com vários alunos seus em 1948. Ele disse a cada um de seus alunos que mandaria um texto individual avaliando o comportamento de cada um, depois de um teste de personalidade. O aluno que recebeu a avaliação, por conseguinte, daria o seu parecer, considerando a avaliação do professor em níveis de 0 a 5 (de muito ruim a muito boa) quanto à precisão dessa avaliação.

Forer, no entanto, deu o mesmo texto para todos os alunos, sem que eles soubessem disso, tendo a impressão de que cada aluno havia recebido uma mensagem personalizada. O texto teve as seguintes palavras:

"Você tem uma necessidade de ser querido e admirado por outros, e mesmo assim você faz críticas a si mesmo. Você possui certas fraquezas de personalidade mas, no geral, consegue compensá-las. Você tem uma capacidade não utilizada que ainda não a tomou em seu favor. Disciplinado e com auto-controle, você tende a se preocupar e ser inseguro por dentro. Às vezes tem dúvidas se tomou a decisão certa ou se fez a coisa certa. Você prefere certas mudanças e variedade, e fica insatisfeito com restrições e limitações. Você tem orgulho por ser um pensador independente, e não aceita as opiniões dos outros sem uma comprovação satisfatória. Mas você descobriu que é melhor não ser tão franco ao falar de si para os outros. Você é extrovertido e sociável, mas há momentos em que você é introvertido e reservado. Por fim, algumas de suas aspirações tendem a fugir da realidade".

Forer depois revelou para seus alunos que havia mandado o mesmo texto, baseado em frases contidas nos horóscopos publicados nos jornais e revistas populares. Ele depois explicou que as frases se aplicam a qualquer pessoa, e nada têm de individualizadas. Antes de divulgar o resultado, os alunos deram, em média, a nota 4,26 para avaliar o grau de precisão de cada avaliação.

Segundo revelaram estudos posteriores, as notas mais altas tiveram como critérios a crença de que a pessoa teve uma análise personalizada e individual pelo avaliador, a impressão dessa pessoa da autoridade de quem a avalia (baseada em status acadêmicos, tecnocráticos etc), e a ênfase da qualidade positiva dos avaliados em cada parecer.

E o que isso tem a ver com as mensagens "mediúnicas"? Muita coisa. Depois que a "leitura fria" colheu informações que, secretamente, "personificam" mensagens escritas nos bastidores do "centro espírita", o "efeito Forer" ou "efeito Barnum" é produzido na ocasião da divulgação de tais mensagens.

A forma com que essas mensagens são produzidas, explorando o máximo de emotividade familiar e enfatizando as "palavras de amor" e os apelos "positivos" e "fraternais", tornam tais textos verossímeis, nem tanto pelo rigor dos aspectos particulares, mas pela "positividade" das palavras e pelo apelo religioso que explora a sensibilidade emocional dos familiares do falecido.

As mensagens são divulgadas na maioria das vezes publicamente, após as doutrinárias, aproveitando do clima emocional desenvolvido. E o "efeito Forer" se dá na crença de que cada mensagem é individualizada e familiar, quando se tratam de textos genéricos e vagos, em que apenas se inserem dados biográficos dos falecidos, mas que apontam o mesmo apelo religioso, a mesma propaganda subliminar do "espiritismo".

E isso é tomado como "verídico" por conta da "autoridade" de quem divulga tais mensagens. Chico Xavier e Divaldo Franco construíram seus mitos assim, e durante tempos eles passavam por "insuspeitos" até entre aqueles que denunciavam severamente muitos erros cometidos pelo "espiritismo" brasileiro, tendo os dois anti-médiuns passado, em primeiro momento incólumes, pela crise do roustanguismo no "movimento espírita" brasileiro.

Só que a "leitura fria" e o "efeito Forer", trabalhados nos "centros espíritas", revelam o que há de duvidoso em mensagens "mediúnicas", diante do desconhecimento da Ciência Espírita, compensado por essas técnicas de ilusionismo e manipulação de mentes.

Infelizmente, é a Ciência, no caso, a Psicologia, que se subordina e se submete às fraudes "espíritas" que ainda causam deslumbramento a muita gente e explora as fraquezas emocionais das famílias que perderam entes queridos. A Ciência reduzida a escrava das mistificações do "espiritismo" brasileiro.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Erupção vulcânica no Chile contraria "profecia" de Chico Xavier


Parece um cenário infernal, prenunciando o fim do mundo e anunciando um território a se tornar inabitável, diante da explosão de um vulcão soltando lavas e fumaça, comprometendo até mesmo viagens aéreas.

Japão? Havaí? Itália? Algum despertar vulcânico na Costa Oeste do solo dos EUA? Não, trata-se do Chile, país sul-americano que não é vizinho do Brasil, mas é relativamente próximo e descrito por Francisco Cândido Xavier como uma das áreas "protegidas" pelas catástrofes violentas que atingiriam o planeta depois de 2019.

Nem é preciso dizer que estamos ainda antes de 2019. Mas o fato de estarmos a quatro anos da dita "data-limite" pode nos fazer inferir e avaliar tantas coisas, questionando a validade da onírica predição de Chico Xavier já bem antes da conclusão do prazo de 50 anos após o sonho de 1969.

Chico Xavier se baseou em critérios religiosos e algumas avaliações primárias, como mapas cartográficos, e criou uma "geopolítica de papel" para julgar o que ele imaginaria ser as transformações que a Terra supostamente sofreria nos próximos anos.

São critérios assim, em que um mapa-mundi, por si só, bastava para Chico Xavier predizer o futuro da humanidade, que mostram seus diversos e graves erros de abordagem, tanto de ordem geológica e geográfica, quanto de ordem sociológica.

Por exemplo, o que fariam os norte-americanos vivendo no Acre? E os eslavos, vindos de países frios, enfrentando o calor do Nordeste? Se fosse assim, com essa "geopolítica de mapa-mundi", os brasileiros, em vez de viajarem para Miami, Los Angeles e Nova York, iriam para o Tennessee ou para o Alabama. Se bem que os reacionários "coxinhas" brasileiros achariam uma boa ideia viverem no ultraconservador Alabama.


O Chile, que já enfrentou várias ocorrências sísmicas e vulcânicas trágicas - uma das piores ocorreu em 22 de maio de 1960, quando um terremoto e um maremoto dizimou milhares de pessoas e deixou outros milhares de desabrigados e feridos - , faz parte do Círculo de Fogo do Pacífico, região de intensa atividade vulcânica e sísmica no planeta.

Na tragédia de 1960, houve um terremoto de 9,5 pontos da escala Richter, considerado um dos maiores, que resultou num gigantesco maremoto que atingiu sobretudo as cidades de Valdívia e Concepción, e a erupção do vulcão Puyehue. Cerca de 5700 pessoas morreram e 2 milhões saíram feridos. As ocorrências chegaram a ameaçar a realização da Copa do Mundo de 1962.

Nos últimos dias, dois vulcões, Villarica e Calbuco, entraram em erupção, causando alertas em várias regiões do país. Só a erupção do Calbuco, cuja única grande erupção ocorreu em 1961, um ano após a tragédia do maremoto e do terremoto no país, comprometeu várias regiões e cancelou os voos para Puerto Montt e Bariloche, importantes polos turísticos do Chile e da Argentina, respectivamente.

O vulcão Calbuco, em pouco mais de dez minutos após a erupção, soltou uma grande fumaça que tomou conta do céu, juntando uma nuvem de cinzas que gerou também relâmpagos. Um montanhista que percorria o lugar está desaparecido. As escolas das cidades da região, onde 4 mil pessoas tiveram que abandonar suas casas, tiveram suas aulas suspensas.

Se levássemos em conta o teor da violência das catástrofes que Chico Xavier narrou para Geraldo Lemos Neto, e que resultou no livro Não Será em 2012, deste e de Marlene Nobre, e no documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, o Chile teria sido, sem dúvida, uma das regiões a serem destruídas ou tornadas inabitáveis no planeta.

A Terra não se comporta de forma maniqueísta em dois hemisférios. Além disso, quando há atividades vulcânicas e sísmicas em países como Japão e Itália, frequentemente também ocorrem fenômenos semelhantes em países como Chile e Argentina, que têm áreas integrantes do mesmo Círculo de Fogo do Pacífico que envolve áreas como Japão, México, Filipinas e o Estado da Califórnia, nos EUA.

O Círculo de Fogo do Pacífico e áreas localizadas na Europa, África e parte da Ásia ainda apresentam estruturas geológicas consideradas recentes, o que significam atividades vulcânicas e sísmicas intensas, que não necessariamente se medem pelos limites da linha do Equador, o traço imaginário que divide a Terra em dois hemisférios.

O que poucos sabem é que foi justamente um terremoto que se tornou a raiz do "espiritismo cristão", uma vez que o terremoto e maremoto em Portugal, em 1755, que arrasaram Lisboa e outras áreas, gerou um prejuízo incalculável que fez o Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, cancelar investimentos, entre eles os das atividades da Companhia de Jesus no Brasil.

O "espiritismo" teria surgido como uma revanche de algumas correntes católicas pelo fim das atividades jesuítas no Brasil. Daí a deturpação da doutrina de Allan Kardec através de toda uma importação de valores jesuíticos de herança medieval, incluindo alguns que, depois, nem a Igreja Católica se interessou mais em manter.

A ocorrência de grandes erupções vulcânicas no Chile mostra o quanto a "geologia de papel" de Chico Xavier está errada, já que o mundo não é a junção de duas fatias diferentes. Mais uma vez a "profecia" da "data-limite" caiu por terra, diante de tamanhos erros de geologia.

A fraude das sessões de psicografia


Infelizmente, o "espiritismo" no Brasil se desenvolveu sem que estudos sérios sobre a Ciência Espírita possibilitassem técnicas confiáveis de mediunidade que permitissem um contato com os espíritos do além com o máximo de confiabilidade possível.

Tudo isso foi impedido porque o que se conhece como Espiritismo no nosso país se reduziu a ser uma espécie de genérico do Catolicismo em que conceitos medievais são herdados deixando de lado os aspectos mais coercitivos e acrescentando apenas as ideias de vida espiritual e reencarnação, além de alguns conceitos esotéricos.

Nada da Ciência Espírita foi devidamente aproveitado. Grupos ligados ao cientificismo de Allan Kardec já existiam pelo menos desde 1880, mas eles foram deixados à margem e estabelecem atividades paralelas ao grupo dominante (religiosista) sem obter apoio moral, logístico ou financeiro.

Portanto, não falta quem exerça corretamente a Ciência Espírita, com pesquisas associadas a outros ramos do conhecimento científico, como Informática, Comunicação e Física, mas são uma minoria discriminada e desprezada num meio em que a maioria dominante prefere o misticismo religioso.

Daí que a mediunidade no Brasil tornou-se uma prática corrompida e sem mérito de credibilidade, embora muitas fraudes sejam legitimadas e "confirmadas" até por monografias e pesquisas "científicas" (cheias de falhas em método e abordagem, apesar da pretensão de seriedade). Infelizmente muita gente vê autenticidade onde não existe.

E o que vamos relatar nas supostas cartas psicográficas, que faziam com que anti-médiuns como Chico Xavier recebessem milhares de pessoas para divulgar mensagens "do além", Um caso similar, referente a Carlos Baccelli, então amigo de Chico Xavier e também de atividades "mediúnicas" semelhantes, foi descrito pelo jornalista Marcel Souto Maior, então imparcial observador do "espiritismo" brasileiro, no livro Por Trás do Véu de Ísis:

"Pais e mães vindos de todo o país esperam a vez de conversar com Baccelli, antes da sessão, numa saleta miúda localizada ao lado do hall de entrada. 

É ali, atrás de uma mesa de madeira, que Baccelli atende os candidatos a receber uma mensagem do além. Estes encontros se sucedem a partir das cinco da manhã, uma hora e meia antes do início da psicografia. 

Durante as conversas, quase sempre ligeiras, Baccelli pede mais detalhes aos visitantes sobre seus entes queridos e as circunstâncias da morte. Informações como nomes de avôs e avós são anotadas por ele, muitas vezes, em pequenos pedaços de papel, levados mais tarde até a mesa do salão principal, o palco da psicografia. 

Quem organiza a fila é um carteiro aposentado de Uberaba, o seu Paulo, sempre simpático e dedicado. Ele se posiciona em frente à porta da saleta, que se fecha assim que cada visitante entra. 

Neste sábado, ele está preocupado com a família que veio de carro de Florianópolis em busca de uma mensagem do filho morto. Foram dezenove horas de viagem. 

O pai do jovem está na fila e recebe instruções solidárias do seu Paulo: 

— Capricha, hein? Conta tudo pro médium pra você receber sua mensagem. 

O pai entra sozinho na saleta e, para alívio do seu Paulo, fica quase três minutos lá dentro.

— Este deve receber a cartinha — prevê o ex-carteiro, agora encarregado da correspondência entre vivos e mortos. 

O seu Paulo quase nunca erra. 

[...] 

Uma das cartas chama atenção especial pela crise de choro provocada na platéia. Um choro profundo, desesperado, que começa com lágrimas e soluços e termina com berros, gritos de dor e de saudade.

Querido papai Manoel João, querida mamãe Maria Therezinha, Esqueçamos o acidente de que fui vítima. Imaturidade aos 23 anos de idade… 

Os avós são citados, com nomes e sobrenomes, entre detalhes sobre as circunstâncias da morte: um acidente de carro. 

Quando a sessão termina, aproximo-me da mãe, ainda aos prantos, ao lado do marido contido e tenso. 

Demoro a reconhecê-lo. 

É o pai de Florianópolis, instruído pelo solidário seu Paulo. 

Dona Maria Therezinha não tem nenhuma dúvida: o filho dela está vivo. 

O seu Manoel João responde antes que eu tenha tempo de perguntar: 

— Tudo o que está na mensagem eu contei para o médium lá na sala — ele diz".

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No caso Jair Presente, recentemente analisado em trabalho acadêmico recente, tentou-se desmentir a fraude alegando que as informações contidas nas supostas mensagens do espírito do jovem, que morreu afogado em 1974, eram "complexas" e "pouco conhecidas" até entre seus familiares.

A desculpa, porém, se revelou improcedente, quando comparamos duas das mensagens atribuídas a Jair Presente, em que diversas estranhezas foram constatadas. A primeira mensagem tem o habitual tom igrejista de Chico Xavier, mas uma das mensagens posteriores, lançada cinco meses depois, era excessivamente nervosa e forçadamente coloquial, e a narrativa lembra a de alguém drogado.

Se levarmos em conta a veracidade da autoria, ela cairia a equívocos, como um "sereno" Jair Presente da mensagem de março de 1974 (um mês após sua morte) e seu jeito "perturbado" da mensagem de agosto do mesmo ano, indicando um surreal retrocesso moral, grotesco e fora do contexto de aparente caridade de Chico Xavier e seus "benfeitores espirituais".

As informações "complexas" poderiam ter sido transmitidas em conversas informais. Não há apenas a entrevista ligeira, mas também outros contatos, e mesmo conversas sem qualquer compromisso serviçal, como o bate-papo entre familiares com membros de um "centro espírita" no final de cada doutrinária, também são usados para reforçar informações sobre espíritos de falecidos.

Todo um levantamento é feito, incluindo reportagens, telefonemas, e mesmo a intuição dos membros de um "centro espírita" envolvido servem para inventar a "psicografia". Mesmo informações sutis não são garantia de veracidade, porque elas podem vir da intuição ou de conversas de bastidores ou segredos colhidos em algum contato particular.

E isso aconteceu, sim, com Chico Xavier e seus colaboradores. As cartas de Chico Xavier não apresentavam as caligrafias dos falecidos, e quase sempre só tinha a caligrafia do anti-médium mineiro. Tudo era um simulacro e criava-se uma esfera de emotividade que deslumbrava os presentes a ponto de chorarem. Pieguice é uma ótima forma de enganar, seduzir e dominar as pessoas.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Tornado em SC contraria tese de Chico Xavier


Na cidade de Xanxerê, cidade situada a Oeste do Estado de Santa Catarina, houve um tornado que atingiu quase 3 mil casas, comprometeu a rede elétrica da região e causou, até o final da tarde de anteontem, momento da ocorrência, dois mortos, 120 feridos e mil desabrigados.

Um redemoinho que se dirigia à cidade com velocidade variável entre 100 e 300 quilômetros por hora assustava os moradores já na sua chegada. Junto ao vendaval, relâmpagos se davam anunciando a tempestade.

Segundo especialistas de meteorologia, o vendaval atingiu as escalas F2 e F3, conforme avaliação entre o critério mais fraco, F0, e o mais forte, F5. Portanto, foi um fenômeno considerado entre forte e severo, que causou um significativo impacto de destruição.

A tempestade derrubou árvores e fez voar vários objetos. Boa parte dos feridos foram atingidas por eles. Um dos mortos foi um homem que salvou a esposa e seu filho, um bebê, mas foi atingido pela queda da parede de sua casa.

Outras cidades da Região Oeste catarinense tiveram a energia elétrica cortada. Até o momento não foi contabilizado o valor do prejuízo financeiro. Consta-se que 500 casas foram atingidas. A Defesa Civil já disponibilizou 570 kits de acomodação para os desabrigados. além de 630 colchões e 300 cestas básicas.

CONTRARIANDO A "DATA-LIMITE"

O Brasil não era famoso por ter terremotos nem tornados. Mas a cada vez mais essa tese se torna contrária, e ela ocorre principalmente no interior do país. O mito do país "sem catástrofes naturais", considerado por Francisco Cândido Xavier no sonho supostamente profético da "Data-Limite", é contestado pela realidade dos últimos tempos.

Segundo Chico Xavier, as catástrofes atingiriam os países do "velho mundo" - Europa, EUA, Canadá, Oriente Médio, Ásia e parte da Oceania - , mas só atingiriam "de leve" o Hemisfério Sul, como os maremotos atingindo o litoral brasileiro.

Por um erro de abordagem geológica, a "profecia" de Chico Xavier alegou que o Chile seria preservado de catástrofes, por mais que as atividades sísmicas e vulcânicas que acontecessem no chamado Círculo de Fogo do Pacífico fossem, por exemplo, eliminar o Estado da Califórnia e dizimassem quase todo o território do Japão.

Na realidade, porém, essas catástrofes não são tão graves quanto parecem e fazem parte dos desequilíbrios ambientais causados pela espécie humana, aliados à formação geológica recente de diversas áreas do planeta.

A exemplo dos EUA, os tornados que acontecem no Brasil podem estar acontecendo por causa dos diversos desequilíbrios ambientais causados, como o desmatamento e as queimadas que contribuem para o aquecimento de temperaturas que provocam tempestades graves.

Por outro lado, os terremotos que acontecem em algumas partes do Brasil - a mais conhecida delas é a região de Montes Claros, em Minas Gerais - se devem provavelmente ao desgaste do solo causado por diversos danos ecológicos causados pelos homens.

Em todo caso, a "profecia" de Chico Xavier foi posta em xeque mais uma vez, já que muitas vezes um sonho de quem dorme mostra mais absurdos e fantasias do que a realidade propriamente dita.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Com "senha", Chico Xavier ridiculariza critérios do C.U.E.E.


Conta-se que, no final da vida, Francisco Cândido Xavier comunicou a três pessoas uma espécie de "senha" ou "código secreto" que verificaria a "veracidade" de suas mensagens assim que retomar a comunicação no mundo espiritual.

Junto a ele estavam dois Eurípedes, o Eurípedes Higino, filho adotivo de Chico Xavier, o médico Eurípedes Tahan e Kátia Maria, esta já falecida. Chico teria revelado a eles o código que eles deveriam identificar para reconhecer a veracidade de sua mensagem.

A "senha", que nenhum dos três revelou - sobretudo Kátia, por razões óbvias - , é cheia de irregularidades e ela, em si, é um dos episódios mais ridículos e hilários que envolvem o anti-médium mineiro, o suposto "profeta" da "data-limite".

Os dois remanescentes ficam cheios de dedos ao explicar se vão ou não revelar a senha, diante do impasse de analisar as supostas mensagens que vieram usando o nome de Chico Xavier depois que ele morreu, em 2002. Eles temem que as supostas mensagens pudessem trazer repercussões bastante arriscadas ou perigosas.

Eles preferem dizer que "não há necessidade" de divulgar o suposto código secreto, já que o "código maior" de Chico Xavier foi "seu trabalho para o bem". Uma coisa vaga e que não diz muito sobre a necessidade ou não de saber que códigos são esses e quais mensagens poderiam ou não ser de Chico Xavier.

UMA SÉRIE DE EQUÍVOCOS

A história da "senha" é, portanto, um episódio surreal. Nela se reúnem os mais diversos absurdos, que à luz do raciocínio lógico seriam facilmente desmentidas, e que fazem o caso apenas mais uma das histórias feitas para mistificar Chico Xavier.

Para começar, não existe segredo no mundo espiritual, e a senha nem de longe é uma opção confiável para reconhecer a veracidade de uma mensagem. Muitos espíritos farsantes poderão se servir dessas mesmas senhas para escrever mensagens com o devido capricho de tornar tudo verossímil, se esforçando para apresentar todos os elementos descritos por Chico Xavier.

O próprio anti-médium mineiro, pelo que ele fez se apropriando da memória dos mortos e usurpando seus nomes, seria alvo de um "troco", porque brincadeira puxa brincadeira e se Chico Xavier brincava de ser "Humberto de Campos" fazendo um discurso igrejista só para sacanear o escritor maranhense, que era ateu e associado a uma prosa laica, alguém vai brincar de ser "Chico Xavier".

O próprio anti-médium mineiro criou um método fraudulento de forjar psicografias, criando um padrão de mensagens de puro panfletarismo religioso, que servem muito bem para supostos médiuns incapazes de se comunicarem com os espíritos do além e que, por isso, precisam inventar mensagens "fraternais" e usar os nomes dos mortos para ludibriar seus familiares com "categoria".

Se Chico Xavier foi o primeiro que praticou essa bagunça, fazendo mensagens apócrifas vindas de sua própria imaginação, mandando seus colaboradores colher informações dos familiares dos mortos - fraude nem sempre admitida pelos colaboradores do anti-médium - e pondo tudo na autoria dos espíritos, mesmo que irregularidades evidentes sejam apresentadas.

RINDO DA CARA DE ALLAN KARDEC

Chico Xavier, que nunca foi simpático à obra de Allan Kardec, por ela apresentar um cientificismo que contraria severamente o religiosismo devoto do anti-médium, praticamente riu da cara do professor lionês quando decidiu anunciar a sua "senha" para três amigos seus.

Isso porque Kardec, para preservar seu caminho de abordagem científica e prepará-lo para os novos tempos, criou o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos (C.U.E.E.) que, diz uma piada picante, os "espíritas" valorizam pela metade, aproveitando apenas as duas primeiras letras.

Esse controle se baseava no que Allan Kardec escreveu não apenas em seus livros mais conhecidos, mas em todo um sistema de conhecimentos paciente e trabalhosamente escritos na Revista Espírita, e ele estabeleceu formas que permitam condicionar esses conhecimentos para novas tecnologias e para outros processos de transformação social no planeta.

Kardec temia pela deturpação que "aventureiros da fé" tendiam a fazer, e fizeram, como se vê no caso brasileiro. E o Brasil, o país do "jeitinho", no começo preferiu Jean-Baptiste Roustaing a Allan Kardec, mas teve a "doce" hipocrisia de tentar dar a impressão contrária.

E aí temos a máscara de "Allan Kardec" usada para um roustanguismo enrustido e mal-assumido, do qual Chico Xavier deu um tempero brasileiro, tirando os "criptógamos carnudos" ("vermes" com almas humanas) e colocando os "animais domésticos do além" no lugar.

Isso porque o "espiritismo" brasileiro nem de longe seguiu os rígidos critérios do C.U.E.E., O próprio vale-tudo da falsa mediunidade é uma prova disso. E como é que Chico Xavier vai usar uma "senha" para ter controle de suas mensagens? Ele mesmo, responsável por tantas fraudes, iria ter controle sobre suas supostas mensagens espirituais? Não.

É até surpreendente o medo dos "espíritas" em verificar as supostas mensagens de Chico Xavier, falando dos "riscos" que elas podem causar, quando o anti-médium mineiro, "dono dos mortos", tão famoso por sua pretensa mediunidade, "não pode mais" se expressar.

Quem deve, teme, e o que está em jogo são as consequências que, num efeito bumerangue, se voltam contra quem transformou a atividade mediúnica numa fraude. Talvez a "senha maior" fosse que espíritos zombeteiros se aproveitassem do mito de Chico Xavier para usarem seu nome em pastiches literários ou missivistas, ou então usando supostos médiuns para sugeri-los a escrever suas mensagens.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

O medo "espírita"


Nos últimos anos, a Internet realiza uma devassa dos erros cometidos pelo "movimento espírita" ao longo dos seus 131 anos, e a alta repercussão de muitos de seus episódios está causando uma reação de medo e de pavor entre seus líderes e astros.

Entre a tristeza resignada e a indignação raivosa, os "espíritas" tentam se julgar "perseguidos" e "injustiçados", alegando só fazerem a "tarefa do bem", não admitindo os erros que eles cometeram e que comprometeram seriamente a Doutrina Espírita.

Eles achavam que poderiam prevalecer impunes traindo a doutrina de Allan Kardec mas se julgando fiéis a ela. Achavam que o rol de contradições e equívocos iria ser protegido pela credulidade religiosa, pelo "mistério da fé" à maneira "espírita" e pelo manto das ações "filantrópicas" e das pregações "fraternais" das "palavras de amor".

O problema é que eles foram os que mais traíram o Espiritismo, foram os que mais combateram os princípios de espiritualidade, em prol de um moralismo familiaresco, um misticismo fraudulento e um simulacro de mediunidade que nada tem de mediúnico, enquanto promovia o estrelato de pretensos médiuns que viravam dublês de filósofos através de suas pregações baratas.

E fala-se mesmo de Divaldo Franco e Francisco Cândido Xavier, dois dos que mais traíram a doutrina de Allan Kardec, dois dos que mais combateram, deturparam e ridicularizaram a Doutrina Espírita, inserindo nelas o dogmatismo católico adoçado por "palavras de amor" e pelo simulacro de humildade.

Isso causa pavor aos líderes "espíritas", que sempre empurraram com a barriga tais escândalos, que não são novos, pois existem desde os tempos de Afonso Angeli Torteroli, que não conseguiu desenvolver no nascente Espiritismo no Brasil, a corrente cientificista que colocava a lógica acima da fé, sem reprová-la em seu todo, mas deixando-a no seu devido lugar da crença emocional.

Em vez disso, tivemos Bezerra de Menezes impondo o religiosismo mais mistificador, colocando a fé acima da ciência e, quando muito, transformando o raciocínio científico em um escravo da fé, a um procedimento só feito para defender as mistificações e os mitos "espíritas", como se vê no caso da "mediunidade" de Chico Xavier.

Os escândalos foram muitos, e foram tensos. E isso tem boa parte da responsabilidade da Federação "Espírita" Brasileira, que durante muito tempo fez seus demandos, agiu com poder concentrado - durante um tempo não dava voz às federações regionais, mesmo espiritólicas - e deturpou a Doutrina Espírita, rebaixando a sua forma brasileira a uma espécie de Catolicismo híbrido e alucinado.

Com a ampliação das informações e questionamentos na Internet, as antigas "doenças infantis" são novamente contestadas em larga escala, causando medo nos líderes "espíritas", que durante muitos anos se protegiam com o mel retórico que corria nas suas pregações morais.

Como toda religião, o "espiritismo" tentou resistir às mudanças do tempo, e hoje ele é testado pelo raciocínio lógico, embora até hoje não tenha conseguido explicar suas contradições, seus equívocos e omissões, preferindo agir com coitadismo em vez de ter autocrítica e isenção.

Um líder "espírita" tentou até dizer que sua doutrina vive a "coerência de comportamento", quando na verdade o que houve foi sempre uma deturpação organizada, uma criação engenhosa de um "espiritismo" que nunca teve a ver com Allan Kardec, apesar das dóceis bajulações a seu nome.

As contradições corriam no curso organizado de uma deturpação em que a retórica era muito bem arrumada, com palavras dóceis, que tanto poderiam exprimir pretensa e falsa sabedoria quanto poderiam ferir com dóceis vocábulos, como no caso dos "reajustes espirituais", desculpa para pessoas sem muito conhecimento do mundo espiritual culparem as vítimas de infortúnios diversos.

São 131 anos de erros, cuja permissividade foi garantida pelo chamado "jeitinho brasileiro", que permite que pessoas digam uma coisa e façam outra sem que despertassem qualquer desconfiança nas multidões. Só que hoje os questionamentos se aprofundam e a "caixa de Pandora" dos erros "espíritas" começa a ser aberta.

Não estamos caluniando, nem perseguindo, nem cometendo intolerância. Temos a tolerância religiosa profunda. Somos capazes de admirar Irmã Dulce, Martin Luther King e Mahatma Gandhi, pessoas de magnífico valor e indiscutível missão de amor ao próximo e combate às injustiças sociais.

O que não toleramos é a mentira travestida de verdade, as fraudes acobertadas pelas "palavras de amor', as mistificações e os mitos que usam seus carismas para esconder práticas duvidosas. Somos contra o desfile de palavras bonitas que disfarçam atos nem tão bonitos assim.

Daí o medo dos "espíritas". O medo, o pavor, o pânico. Mais uma vez os erros de 131 anos são divulgados, e agora de forma mais intensa, desafiando a normalidade forçada que sempre dominou nesse problemático país chamado Brasil. Normalidade esta que mais acoberta injustiças, corrupções e crimes do que os resolve de maneira honesta e transparente.

sábado, 18 de abril de 2015

"Profecia" de Chico Xavier tem graves erros de Geologia, Geografia Humana e Sociologia

IMAGINE ESSES CARAS VIVENDO (OU MORRENDO) NO VERÃO NORDESTINO DO BRASIL.

A "profecia" de Francisco Cândido Xavier, descrita no livro Não Será em 2012, de Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre, e no documentário Data-Limite Segundo Chico Xavier, de Fábio Medeiros, é falha em todos os aspectos, porque, já a partir do título, a ideia de fixar uma data vai contra os conhecimentos científicos e lógicos da doutrina de Allan Kardec.

O maniqueísmo fácil de criar um Hemisfério Norte vilão, que será destruído primeiro pelas guerras e depois pela fúria da Natureza, norteia o sonho de Chico Xavier ocorrido em 1969, pouco depois a chegada de uma missão da Nasa ao solo da Lua, em 20 de julho daquele ano.

O "cruel" Hemisfério Norte, dos armamentistas da Otan e dos terroristas do Oriente Médio, será destruindo, enquanto o Hemisfério Sul, "protegido" pelos "espíritos benfeitores", florescerá sob a liderança do Brasil, que desde os primeiros livros "mediúnicos" era sonhado por Chico Xavier como o "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho".

O que chama a atenção em seus relatos é um trecho que revela a vergonhosa ignorância de Chico Xavier quanto a alguns aspectos correspondentes à Geologia, à Geografia Humana e à Sociologia, descritos através destas palavras:

"Nosso Brasil como o conhecemos hoje será então desfigurado e dividido em quatro nações distintas. Somente uma quarta parte de nosso território permanecerá conosco e aos brasileiros restarão apenas os Estados do Sudeste somados a Goiás e ao Distrito Federal. Os norte­-americanos, canadenses e mexicanos ocuparão os Estados da Região Norte do País, em sintonia com a Colômbia e a Venezuela. Os europeus virão ocupar os Estados da Região Sul do Brasil unindo-os ao Uru­guai, à Argentina e ao Chile. Os asiáticos, notadamente chineses, japoneses e coreanos, virão ocupar o nosso Centro-Oeste, em conexão com o Paraguai, a Bolívia e o Peru. E, por fim, os Estados do Nordeste brasileiro serão ocu­pados pelos russos e povos eslavos. Nós não podemos nos esquecer de que todo esse intrincado processo tem a sua ascendência espiritual e somos forçados a reconhecer que temos muito que aprender com os povos invasores".

Primeiro, dá para imaginar o critério que Chico Xavier usou para fazer essa "previsão". O critério é puramente cartográfico. Ele teve um mapa-mundi em mãos, uma régua e apenas desenhou o rumo que sua imaginação achava para onde os povos do "velho mundo" iriam migrar no Brasil se caso suas regiões de origem fossem destruídas.

O que se observa no trecho acima é que Chico Xavier cometeu gravíssimos erros de abordagem em Geologia, Geografia Humana e Sociologia, através desse relato que em dados momentos chega a ser constrangedor de tão fora de lógica. Vejamos alguns aspectos:

1) Sociologicamente, norte-americanos povoariam não o Norte do Brasil, mas o Sudeste, sobretudo as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo e seus respectivos Estados. Essa é uma realidade comprovada pela importância que a região tem no país e por serem os grandes centros que se comunicam com os demais grandes centros de fora do país.

2) O Chile seria completamente destruído se as catástrofes naturais atingissem uma boa parte do Hemisfério Norte, como a Costa Oeste dos EUA e o Japão. Isso porque o Chile é um dos países com maior atividade vulcânica no Hemisfério Sul e seria afetado pelas catástrofes que atingirem a parte Norte do Círculo de Fogo do Pacífico, por causa de seus reflexos naturais.

3) Os eslavos e russos dificilmente iriam povoar o Nordeste brasileiro, por causa do choque de temperatura que isso poderia causar. A História do Brasil registra que, quando os eslavos chegaram ao Brasil, eles preferiram povoar áreas do Sul do país, quando muito parte de São Paulo e das regiões de Petrópolis e Nova Friburgo, de climas mais frios. Se forem para o Nordeste, morreriam de calor.

Portanto, são erros gravíssimos, que reforçam a invalidade dessa suposta "profecia", o que faz com que as pessoas devessem não pensar duas vezes para evitar perder tempo com uma coisa dessas. Nós só nos ocupamos para questionar Chico Xavier e sua suposta profecia, até para informar ao caro leitor do equívoco que isso representa.

Se esses erros são dignos de reprovar algum aluno de escola, por que Chico Xavier, o péssimo aluno do professor Allan Kardec, seria aprovado em seus delírios oníricos citando esses aberrantes erros de natureza geológica, geográfica e sociológica. Pensar o povoamento do mundo com cartografia é insuficiente para analisar a realidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Por que não tem cabimento dizer que militares dos EUA confirmaram tese de Chico Xavier


Muitos ainda insistem que dois militares norte-americanos, Robert Salas e Robert Jacobs, "confirmaram" a tese da "Data-Limite segundo Chico Xavier", e defendem essa absurda ideia com o máximo de convicção.

No entanto, eles não conseguem dar um argumento consistente para corroborar essa tese, dando um discurso completamente confuso em que vagas alegações científicas, além de outras de cunho ufológico e geopolítico, se misturam com pregações igrejistas. Em nome da "caridade", pode-se enrolar misturando meias-verdades com mentiras completas.

Vejamos o caso, aliás dois. São dois testemunhos sobre fatos semelhantes, correspondentes à suposta vista de naves extraterrestres sobrevoando bases da Aeronáutica, nos EUA. Robert Jacobs relata o caso da base de Vandenberg, Califórnia, em 15 de setembro de 1964 e Robert Salas, por sua vez, narra o caso da base de Malstrom, Montana, em 16 de março de 1967. Ambos nos EUA.

Nenhum deles têm ideia exata de quem foi Chico Xavier e os defensores da tese da "confirmação" simplesmente não trouxeram um único argumento lógico, um único embasamento teórico que pudesse realmente afirmar que os militares confirmaram essa tese.

Em primeiro lugar, a argumentação que eles fazem é vaga e imprecisa, típica das interpretações tendenciosas e sem fundamento. Cria-se um discurso no qual junta-se naves extraterrestres, conflitos entre os países ricos e catástrofes naturais, junta-se a essa gororoba uma pregação igrejista e, pronto, "Chico Xavier tem sempre razão". Logo o anti-médium, que hostilizava o raciocínio lógico.

Em segundo lugar, essa argumentação é meramente brasileira, sem qualquer reflexo no que pensam e dizem os cientistas e estrategistas políticos do Primeiro Mundo. Só o provincianismo dos chiquistas, bem à altura do caipira de Pedro Leopoldo, é que acham que os chefes da OTAN estão ouvindo Chico Xavier e, a partir dele, estão negociando processos de paz e recuperação ambiental.

Mas isso faz parte do Brasil, infelizmente. Cria-se uma lorota, como se nota nos tenebrosos nomes da música popularesca que domina as rádios e TVs, em que o ídolo do momento se apresenta em inexpressivos bares dos subúrbios da Espanha e da Itália e vai a mídia dizer que ele conquistou o mundo inteiro, que arrastou multidões em todo o planeta.

Esse discurso só funciona no Brasil. Mas aí as pessoas mostram revistas estrangeiras, que na verdade são de quinto escalão, com o ídolo popularesco na capa. Da mesma forma, chegam a mostrar publicações acadêmicas de menor expressão para "confirmar" que o suposto André Luiz antecipou uma descoberta científica em 60 anos, uma conclusão infundada desde sua metodologia.

Não importa. Esse papo furado só faz sentido entre os brasileiros, porque mesmo a divulgação estrangeira é medíocre, feita por espaços sem muito conceito, de baixíssima reputação. O funqueiro vai se apresentar num puteiro de um subúrbio de Nápoles e a mídia brasileira inventa que até os ingleses se ajoelharam a ele. É um hábito produzir lorotas desse tipo.

O que houve é que militares simplesmente disseram terem visto naves extraterrestres. Só isso. Mas daí a dizer que eles "confirmaram" as teses do sonho que Francisco Cândido Xavier teve em 1969 e foi relatado a Geraldo Lemos Neto é uma grande bobagem.

Primeiro, porque até os relatos de Robert Jacobs e Robert Salas ainda são discutíveis e misteriosos, e causam muita polêmica nos meios militares e científicos dos EUA. Aparentemente, são apenas relatos e ainda não há uma confirmação séria de que isso realmente teria ocorrido.

Segundo, se esses relatos já são discutíveis em si, por que insistir que eles confirmaram a tese de Chico Xavier, se o sonho que o anti-médium mineiro teve é dotado de sérios erros de abordagem, de argumento e tudo, desde a ideia de uma "data fixa" para a evolução da humanidade, que Allan Kardec NUNCA defendeu em hipótese alguma em suas obras.

Se prever uma data fixa é algo inconcebível porque é da natureza dos homens a imprevisibilidade, conforme deixa claro Kardec em A Gênese, então podemos ter completa segurança que a "profecia" de Chico Xavier foi uma grande perda de tempo.

Por outro lado, se ainda é preciso estudar, questionar e avaliar os relatos dos dois militares estadunidenses, então a palavra que não deve ser pronunciada em momento algum é "confirmação". Portanto, Chico Xavier saiu derrotado nessa história. Com toda a certeza.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A questão do fundamentalismo ou da intolerância


Muitos "espíritas" andam chocados com o crescimento de críticas à sua doutrina na Internet. O pavor é imenso e as reações variam do pesar silencioso à raiva rancorosa de quem se julgava incapaz de tal sentimento.

A tentativa de crescimento do "espiritismo" brasileiro, no vácuo deixado pelo desgaste do Catolicismo e dos escândalos que atingem as seitas ditas "evangélicas", junto aos barões da grande mídia - como são conhecidos popularmente os empresários dos veículos mais poderosos de rádio, TV e imprensa escrita e digital - , é atropelada por uma enxurrada de questionamentos severos.

Um conhecido pregador "espírita" tentou desqualificar esses questionamentos como se fossem de "intolerância religiosa", afirmando que ele e seus pares seguem fielmente a coerência na Doutrina Espírita, fiéis a Allan Kardec no que define como "renovação do ser humano".

Confuso, o pregador tenta misturar conceitos igrejistas com o cientificismo de Allan Kardec, e fala em "coerência de comportamento" em relação a uma doutrina que comete mil incoerências, que tenta não se responsabilizar pelos erros de "pseudoespíritas" ou "pseudomédiuns" quando tudo isso vem desde as "altas decisões" da Federação "Espírita" Brasileira.

Todos os erros são cometidos, vários deles graves e vindos de gente "ilibada" e "íntegra". Indícios de fraudes surgem associados a Chico Xavier e Divaldo Franco e que são devidamente comprovadas pelo raciocínio lógico, e não por manifestações agressivas de rancor e intolerância religiosa.

O "espiritismo" brasileiro, que se julga "fiel" a Allan Kardec e aos ensinamentos contidos sobretudo em O Livro dos Espíritos, praticou as piores traições ao pensamento e às recomendações do professor lionês, vindas da cúpula, vindas de representantes nacionais ou regionais, de líderes e discípulos, apoiadas por Chico Xavier e tudo.

Investigam-se uma série de irregularidades e os líderes "espíritas" se perdem, querendo jogar a culpa para terceiros, defendendo os "verdadeiros espíritas" que no fundo também fizeram erros grotescos, mas que o status quo e a reputação atingida entre os homens da Terra permite sejam inocentados até de seus mais sérios delitos.

As crises que o "espiritismo" passou e passa correspondem a seus dois maiores e piores erros: a deturpação da Doutrina Espírita por conceitos vindos do Catolicismo de herança portuguesa e medieval, e o desconhecimento das práticas mediúnicas, pela falta de estudos e pelo preço determinado pelo afastamento do rigor científico de Kardec.

Evidentemente, seus "líderes", com suas palavras dóceis, com seu coitadismo e vitimismo, tentam dizer que o "espiritismo" sofre "perseguição", por causa de seu trabalho de "renovação moral" e "ação pelo bem", mas sabe-se que isso é um acalanto para boi dormir.

Não cometemos intolerância religiosa, como os críticos do "espiritismo" não cometem, mas sim a intolerância a uma série de práticas, visões, crenças e métodos que traem qualquer tipo de coerência lógica, que vão contra os princípios de transparência, de realismo, de racional. Tudo é feito sob o manto da fé cega que se diz "raciocinada" e mais parece uma fé sem razão que se acha com razão para tudo.

O grande risco, numa situação dessas, não é a intolerância religiosa, que não pode ser confundida com a intolerância ao absurdo, ao surreal e ao fraudulento, que é o que se queixa do "movimento espírita", mas o risco dos "espíritas" partirem para desenvolver seu fundamentalismo.

O "espiritismo", aliás, se atola em uma série de incoerências, e isso não é obra de uns e outros membros mais falhos, mas através de um princípio único, vindo desde a apreciação de Jean-Baptiste Roustaing, antes entusiasmada e hoje envergonhada, até os efeitos do Pacto Áureo de 1949 e dos procedimentos fraudulentos envolvendo sobretudo Francisco Cândido Xavier.

O próprio "espiritismo" preferiu promover a união em torno da corrente religiosista, abandonando o cientificismo de Kardec. Há o caso do marido traidor, quando ele arruma amantes, se diverte e se sente feliz com ela, traindo seriamente sua esposa, mas depois ele, chorando, volta ao lar para dormir ao lado dela e dizer que promete "ser mais fiel" a ela.

Pois o "espiritismo" tornou-se esse marido traidor, se aventurando em dogmatismo religioso, misticismo barato, pretensa mediunidade que "dá branco" na hora H, deixando Allan Kardec de lado nos momentos mais delicados, mas depois os "espíritas" fazem beiço e choram, dizendo que são fiéis a Kardec ou, quando muito, que prometem ser mais fiéis a ele.

E tudo vira um círculo vicioso, um faz-de-conta de tudo quanto é lado, de uma cúpula que erra e que não é responsável pelos próprios erros, de uma religião unida que é obrigada a separar o joio do joio, pensando preservar o bom trigo. No malabarismo das palavras, até os mais corruptos adotam pose de vítimas, tornando-se dóceis nos seus argumentos.

Os erros são denunciados a cada vez, porque o próprio "espiritismo" se deixou corromper, acumulou erros, contradições, equívocos porque criou condições para isso. Quando lhe convinha, transformava a tragédia dos jovens mortos em sensacionalismo. Quando lhe convinha, usava modelos fotográficos e travesseiros para cobrir de pano branco ou cobertor e colar uma foto de alguém morto, e dizer que foi materialização.

Quando lhe convinha, os "espíritas" julgavam as vítimas de crimes como se fossem algozes romanos. Quando era de sua conveniência, os "espíritas" faziam acusações injustas e manifestos de rancor, mesmo quando juravam incapazes disso.

É bom deixar claro, por exemplo, que se um Woyne Figner Sacchetin foi processado por acusar injustamente as vítimas do acidente da TAM de terem sido romanos sanguinários e botou tudo na conta de Santos Dumont, Chico Xavier fez a mesmíssima coisa contra as vítimas do incêndio num circo em Niterói, usando o nome de Humberto de Campos e saiu impune nessa, porque tinha "melhor reputação" que o outro.

É certo que esse vitimismo dos "espíritas" assusta, e muito, porque se teme que haja um movimento fundamentalista em torno do "espiritismo da FEB" e hoje a religião está por trás dos piores movimentos de intolerância sócio-cultural no mundo, destruindo desde patrimônios históricos até casas populares e matando de palestinos a homossexuais brasileiros.

O fundamentalismo surge quando a fé cega não consegue criar seu território nem construir sua ascensão rumo à supremacia, jurando vingança porque o mundo que esta fé acredita não corresponde mais ao que passa a existir na atualidade. E quando as demandas relgiosas começam a ficar escassas, o fundamentalismo passa a ser ameaçador.

O "espiritismo" tem agora é que aceitar com autocrítica os seus erros, que foram imensos e muitíssimo graves. Quando anunciou ser a vanguarda da espiritualidade brasileira, assumiu responsabilidaes e compromissos que, no entanto, deixou de cumprir. E isso ao longo de 131 anos. Daí ser muito tarde para qualquer vitimização. Se o "espiritismo" hoje sofre sua crise, ela é o efeito natural de suas próprias e tristes escolhas.