quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Chico Xavier apoiou a ditadura militar

ENQUANTO CHICO XAVIER PEDIA QUE OREMOS PELA DITADURA, PRÁTICAS DE TORTURA ERAM PROMOVIDAS PELOS MILITARES QUE GOVERNAVAM A ÉPOCA.

Francisco Cândido Xavier apoiou a ditadura militar. E isso ele deixou claro quando deu a entrevista histórica no programa Pinga Fogo, na TV Tupi de São Paulo, em 28 de julho de 1971, cujo vídeo foi preservado e que gerou e continua gerando grande repercussão no público de todo o país, com reflexos em várias partes do mundo.

Tido como "o mais avançado homem do Brasil", Chico era de posições tão conservadoras que atraiu para si o convívio pessoal do jesuíta Manuel da Nóbrega, padre que se tornou o espírito Emmanuel e que, na visão oficial do "espiritismo" brasileiro, teria supostamente reencarnado num adolescente do interior paulista, a partir de 2000.

O Chico que muitos acreditam "progressista" era capaz de dizer palavras como o referido trecho que reproduzimos a seguir, ditos numa época em que muitos inocentes eram sacrificados, presos por acusações infundadas, sem julgamentos e provas, torturados da maneira mais cruel e até mortos e enterrados de forma clandestina naqueles tempos. Note o teor do "maravilhoso" texto:

"Temos que convir (...) que os militares, em 3l de março de 1964, só deram o golpe para tomar o Poder Federal, atendendo a um apelo veemente, dramático, das famílias católicas brasileiras, tendo à frente os cardeais e os bispos. E, na verdade, com justa razão, ou melhor, com grande dose de patriotismo, porque o governo do Presidente João Goulart, de tendência francamente esquerdista, deixou instalar-se aqui no Brasil um verdadeiro caos, não só nos campos, onde as ligas camponesas (os “Sem Terra” de hoje), desrespeitando o direito sagrado da propriedade, invadiam e tomavam à força as fazendas do interior. Da mesma forma os “sem teto”, apoderavam-se das casas e edifícios desocupados, como, infelizmente, ainda se faz  hoje em dia, e ali ficavam, por tempo indeterminado. Faziam isto dirigidos e orientados pelos comunistas, que, tomando como exemplo a União Soviética e o Regime Cubano de Fidel Castro, queriam também criar aqui em nossa pátria a República do Proletariado, formada pelos trabalhadores dos campos e das cidades".

A postura de Chico Xavier é confirmada quando o historiador da Universidade Federal Fluminense e biógrafo de João Goulart, Jorge Ferreira, afirma que "espíritas kardecistas" - eufemismo para seguidores do "espiritismo" da FEB - haviam participado da Marcha da Família Unida com Deus pela Liberdade, ocorrida em São Paulo em 19 de março de 1964 e que pedia o famoso golpe militar.

Chico expressa, nesse texto, os mesmos pontos de vista das forças reacionárias, e nota-se, nesse texto, que Chico exaltava o Catolicismo e creditava a data do golpe - termo difundido pela oposição, porque naquele momento a ditadura ainda se autoproclamava "revolução" - como 31 de março, e não 01 de abril, o verdadeiro dia, já que os militares queriam evitar trocadilhos com o Dia da Mentira.

Tentando justificar suas convicções, Chico tenta uma argumentação supostamente coerente e pretensamente legalista, para defender a ditadura militar e condenar qualquer reação de protesto a ela. Vejamos:

"O espiritismo nos pede paciência para esperar os processos da evolução e as realizações dos homens dignos que presidem os governos, cooperando de nossa parte, tanto quanto possível, para que as leis desses mesmos governos sejam executadas".

Pois os "homens dignos" que governavam na época decretaram como "lei principal" o quinto de seus Atos Institucionais - cujas primeiras edições extinguiram partidos e instituições representativas da sociedade e cassaram mandatos políticos - , que propiciaram a prisão, tortura e assassinato de muitos inocentes, que eram presos pela força do menor boato lançado contra eles.

A ilegalidade da ditadura militar e seus arbitrios são hoje investigados pela Comissão da Verdade, movimento composto de parlamentares, acadêmicos e ativistas sociais empenhados em analisar os abusos e crueldades cometidos durante o período militar, mas também incluindo o estado de sítio que o governador da Guanabara havia promovido em 1961, durante a crise da renúncia de Jânio Quadros.

Chico Xavier, ignorando a gravidade da situação - logo ele, considerada "figura máxima do amor e da fraternidade" - , ainda pediu para que os brasileiros orassem pelos generais da ditadura, porque eles estavam construindo o "reino de amor" da humanidade futura, cabendo a eles todo apoio e compaixão.

"NÃO CENSURES" NÃO FOI FEITO PARA CONDENAR A CENSURA

O traiçoeiro Emmanuel havia lançado, por intermédio de Chico Xavier, o texto de um capítulo do livro Rumo Certo, Não Censures. O livro foi lançado naquele mesmo ano de 1971 em que pessoas diversas como o guerrilheiro Carlos Lamarca e o deputado Rubens Paiva eram mortos pelas forças da ditadura.

A primeira vista, o título parece ser um manifesto contra a censura do regime militar, e um retrato do mais elevado humanismo em mensagens de libertação e profunda defesa do progresso humano e do fim das injustiças sociais. Mas seu conteúdo desmente o contrário.

O livro não foi apreendido pela Censura Federal nem Chico Xavier, que em 1970 havia sido abalado pela revelação do escândalo da falsa médium Otília Diogo, do qual o mineiro foi cúmplice, representou perigo para os generais. Tanto que ele foi numa boa ser entrevistado na TV Tupi de São Paulo e o anti-médium ainda elogiou os generais que estavam no poder!

Não Censures, que nem de longe foi considerado um livro subversivo, na verdade era um manifesto em favor da censura. Emmanuel, autoritário e socialmente retrógrado - só diferiu de Jair Bolsonaro pela habilidade de traduzir pontos de vista trevosos com "palavras dóceis" - , não iria ser contrário ao nível ideológico pelo qual se conduzia a ditadura militar, indo no mesmo caminho.

O que Emmanuel quis dizer é "Não Questiones". Usou o termo "censures" por simples oportunismo, mas o que ele quis fazer foi justamente censurar os questionamentos contra a forma que é feito o "espiritismo" brasileiro. O livro, na verdade, era uma "doce" revanche contra as investigações que levaram o escândalo de Otília Diogo e que quase botaram ela e Chico Xavier na cadeia.

"Não Censures" se traduz como "Não Questiones", "Não Protestes", "Não Raciocines", "Não Contestes", "Não Perguntes". Emmanuel, contrariando Allan Kardec, condenava o raciocínio crítico, a investigação, o questionamento e o debate, preferindo apenas que "oremos", "acreditemos" e "amemos", como atestam essas frases de doce cinismo:

"Onde o mal apareça, retifiquemos amando, empreendendo semelhante trabalho a partir de nós mesmos".

Claro, talvez o máximo que uma família poderá dizer, ao saber que seu ente querido foi assassinado pelos miliates, é dizer bondosamente: "Puxa, seus militares, pelo menos vocês poderiam ter avisado de que nosso ente querido iria morrer, para que possamos preparar nossas melhores orações". E talvez tenhamos que pedir bênçãos àqueles que governavam sob o instrumento férreo do AI-5.

Outro trecho:

"(...) sempre que nos vejamos defrontados por dificuldades e incompreensões, saibamos servir com paciência e aprenderemos que, à frente dos problemas da vida, sejam eles quais forem, não existem razões para que venhamos a esmorecer ou desesperar".

Se os preços de produtos, alimentos, contas, aluguéis etc, aumentam e há um congelamento salarial que diminui o poder aquisitivo, criando limitações severas a nossa qualidade de vida, as famílias precisariam apenas evitar a aflição e substituir as cestas básicas pelos livrinhos de Chico Xavier, que seus partidários dizem ser "excelente alimento para a alma".

O "espiritismo" brasileiro, do qual Chico Xavier foi seu mais típico porta-voz, pregava o conformismo e glamourizava o sofrimento humano. Quando podia, defendia medidas arbitrárias e nocivas à população.

Pois é este Chico Xavier, que defendeu a ditadura militar, que, na visão de muitos, têm nas mãos o destino da humanidade futura no planeta. E muita gente acreditando piamente nisso, sem saber o risco que está por trás desse "maravilhoso ideal" do "coração do mundo"...

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