sábado, 30 de maio de 2015

"Desafio Charlie" e "Desafio Chico"

DRAMATIZAÇÃO DAS "PSICOGRAFIAS" DE CHICO XAVIER, NO FILME AS MÃES DE CHICO XAVIER.

Um dos assuntos do momento é o "Desafio Charlie", uma brincadeira feita por crianças e adolescentes que consiste em criar uma folha de papel, na qual as palavras "Sim" e "Não", com cada uma posicionada duas vezes, uma em diagonal com a outra, formam uma quadrinha, sobre a qual são colocados dois lápis, um sobre outro, em posição transversal.

Com esses objetos, os curiosos fazem perguntas de qualquer natureza - mesmo as mais maliciosas e traiçoeiras - a um suposto espírito a quem se dá o nome de "Charlie". O lápis de cima é movimentado e, se ele para na palavra "Sim", a resposta é afirmativa. Se para na palavra "Não", ela é negativa.

A prática é muito difundida nas mídias sociais, como no Instagram, Twitter, Facebook e YouTube. Vários jovens ficaram assustados. No Brasil, um caso de mal estar entre alunos de uma escola pública em Manaus foi noticiado pela imprensa.

A prática do "Desafio Charlie" fez várias alunas sentirem convulsões e desmaios. Uma aluna foi carregada de maca. Outra foi detida por um funcionário da escola e estava perturbada, falando coisas absurdas e pedindo para que ninguém a levasse para fora do lugar.

Houve alunos que se batiam ou se enforcavam, em cenas que causaram horror nos colegas. Vários estudantes imploraram para seus pais para não voltarem à escola, traumatizados com as ocorrências que tinham que tomar conhecimento.

A prática, comparável à tábua Ouija, representa um grande perigo e faz com que espíritos zombeteiros se divirtam às custas das perturbações que os curiosos acabam tendo com o jogo do "Charlie, Charlie", outro nome do fenômeno. A brincadeira é uma fonte de obsessões espirituais que podem trazer danos mais graves no futuro.

Dizendo assim, com toda a certeza se está afirmando, com a máxima coerência, do grave perigo que essa prática apresenta para seus usuários. Mas muitos devem pensar que o "movimento espírita", descontando adeptos descuidados, está imune a práticas igualmente perigosas. Só que não é bem assim que acontece.

CHICO XAVIER, O "HOMEM CHAMADO OUIJA"

O caso de Francisco Cândido Xavier e suas mensagens "espirituais" mostra que o verniz de "seriedade" é insuficiente para dar transparência e confiabilidade a essas práticas que, à sua maneira, são uma espécie de "Desafio Charlie" dos adultos, pelo perigo que isso representa.

Chico Xavier prejudicou muitas famílias explorando suas tragédias e transformando-as no ostensivo espetáculo de pieguice, sensacionalismo e propagandismo religioso. O anti-médium mineiro explorou levianamente as tragédias familiares e se apropriava e autopromovia às custas das dores que as famílias deveriam sofrer no íntimo de sua privacidade.

A desesperada corrida de familiares para saberem as mensagens dos entes queridos falecidos, formando longas filas visando o atendimento "fraternal" de Chico Xavier, mostram o grotesco do sensacionalismo místico, promovendo o "Homem Chamado Amor" que, na verdade, deveria ser definido como o "Homem Chamado Ouija".

Isso porque Chico Xavier foi a personificação humana da tábua Ouija, simbolicamente falando. É certo que ele escrevia mensagens apócrifas, quase sempre de sua própria imaginação, usando "leitura fria" de seus clientes (ou seja, as manipulava emocionalmente para divulgar detalhes aprofundados sobre suas vidas e as dos entes falecidos) para produzir mensagens de igual apelo religioso.

As famílias acabam recorrendo a ele como quem recorre à tábua Ouija, querendo saber respostas supostamente atribuídas aos espíritos de seus entes queridos. A perspectiva é a mesma, e o descuido também, e muitas famílias perdem tempo e se comovem à toa, diante de mensagens que, em verdade, não seriam realmente dos falecidos parentes ou amigos.

O "Desafio Chico" torna-se uma fonte de sensacionalismo, ostentação, exploração e prolongamento das tragédias e tristezas familiares. Falsas alegrias são produzidas pelas mensagens apócrifas, enquanto os familiares acabam expondo seus comportamentos patéticos, fartamente documentados para o marketing religioso feito para lotar "centros espíritas" e garantir fama, para não dizer dinheiro, a seus líderes e "médiuns".

A roupagem de "seriedade" e o pretexto da "caridade" não livram tal prática do caráter leviano e perigoso observado no "Desafio Charlie". Pelo contrário, em se tratando de uma prática ainda mais sutil e engenhosa, ela demonstra ser muito mais perigosa, perturbando os espíritos de bem encarnados e desencarnados e criando problemas diversos às famílias.

É bom deixar claro que o "espiritismo" brasileiro, pelas suas energias negativas trazidas pelo seu caráter católico-medieval, pelo seu moralismo religioso e seu ultraconservadorismo influem nas mortes precoces de membros de famílias já praticantes dessa religião confusa e retrógrada. Os jovens são "sacrificados" em prol de uma seita "espiritualista" que valoriza valores ideológicos antigos, herdados pelo Catolicismo português medieval.

Por isso, a "religião espírita", como se conhece no Brasil, completamente divorciada do pensamento científico de Allan Kardec, se reduz a um religiosismo de valor duvidoso, que rebaixa a mediunidade a um espetáculo comparável ao das tábuas Ouija, das mesas girantes e do "Desafio Charlie".

Sem estudos nem pesquisas sérios e honestos, e preso a um conservadorismo religioso e moralista, o "espiritismo" brasileiro acaba se equiparando às perigosas brincadeiras que fazem os espíritos zombeteiros se divertirem.

E isso vem com o agravante de que o verniz de seriedade e de superioridade do "espiritismo" causa ainda mais entusiasmo aos espíritos zombeteiros, por tornar a "brincadeira" da pretensa mediunidade mais sutil e engenhosa.

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