sábado, 27 de junho de 2015

O Controle Universal do Ensino dos Espíritos (C. U. E. E.), método desvalorizado no Brasil


O "espiritismo" brasileiro finge que exerce um controle rigoroso das práticas ditas mediúnicas e faz de conta que aprecia a Ciência Espírita como outras esferas do conhecimento, em especial o científico.

Muitos "espíritas" estufam o peito e chegam mesmo a teorizar sobre o Controle Universal do Ensino dos Espíritos, lançado por Allan Kardec no livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, e que constitui no método de estabelecer a comunicação com os espíritos já falecidos.

O C. U. E. E., como é conhecida a sigla, é um complemento ao que Allan Kardec já descreveu em O Livro dos Médiuns, que estabelece um roteiro para a atividade mediúnica, incluindo recomendações e restrições e alertando sobre os riscos de uma prática malfeita ou mesmo fingida.

Esse Controle, que é o legado que Kardec deixou, sabendo que ele não viveria muito para ver os novos avanços tecnológicos - a fotografia era incipiente em seu tempo e o fonógrafo veio pouco depois de sua morte - , foi feito de forma com que a linha de raciocínio do pedagogo francês fosse rigorosamente mantida e adaptada às transformações do tempo.

O Controle Universal consiste em procedimentos e cautelas que devem ser tomados diante da manifestação de uma mensagem espiritual. Entre outras coisas, Kardec recomenda que se verifique uma manifestação espiritual atribuída a um indivíduo através da ação de diferentes médiuns, sem qualquer relação entre si, e estudar a similaridade das mensagens para verificar autenticidade.

Não é um processo fácil. Afinal, é preciso ter um rigor na comparação das mensagens e na análise dos recados espirituais para ver se o espírito corresponde à identidade presumida ou não. É preciso conhecer a fundo a pessoa e ter um rigorosíssimo grau de discernimento, sem especulações nem suposições, e uma frieza emocional para não sucumbir às seduções de espíritos traiçoeiros.

Infelizmente, o que se viu, mesmo na França, foi a traição ao pensamento kardeciano, mesmo da parte de seus discípulos. A política francesa era dominada por correntes católicas, e os seguidores de Kardec acabaram aos poucos amenizando seu teor científico e diluindo seu pensamento aos níveis aceitáveis pela religião dominante.

É claro que essa deturpação era fichinha em relação ao que ocorreu no Brasil, mas se aparentes discípulos como Leon Denis já faziam concessões para o religiosismo e misticismo, a pior deturpação também veio em solo francês, através dos delírios de Jean-Baptiste Roustaing com seus três volumes de Os Quatro Evangelhos.

E aí Roustaing passou a ser defendido com entusiasmo pela Federação "Espírita" Brasileira, e Allan Kardec era desprezado, apesar das habituais bajulações a seu nome. E aí sabemos o que resultou, da bagunça doutrinária popularizada por Francisco Cândido Xavier.

Foi no Brasil que o C. U. E. E. não foi devidamente seguido. E, podemos dizer com segurança, quase nunca seguido. 99% do que se entende como "espiritismo" no Brasil nunca seguiu o controle sistematizado por Kardec. Dizem piadas maldosas que os "espíritas" brasileiros só entenderam a primeira metade.

Infelizmente, aqui a mistificação, a fraude e o improviso corrompem a mediunidade e fazem com que tudo seja descontrolado. E o que é pior, o artifício dos apelos religiosos acaba sendo a norma para atenuar as fraudes mediúnicas que se observam, pois as mensagens "fraternais" eximiriam os supostos médiuns da culpa pelas mensagens apócrifas.

E aí observa-se o faz-de-conta, todo o fingimento de lealdade a Kardec, a Erasto, ao C. U. E. E. e tudo o mais, quando nada se faz em prol de seus ensinamentos, muito pelo contrário, traindo-os e desobedecendo-os de forma aberta e aberrante, como que uma negação explícita a tais lições.

Para piorar, um farsante como Chico Xavier foi promovido, de graça, sem qualquer mérito nem qualquer motivo consistente, a "discípulo de Kardec" (para não dizer bobagens como atribuir a Xavier a reencarnação do próprio Kardec ou a personificação de Deus) e a "rigoroso cumpridor da Doutrina Espírita e todos os seus ensinamentos".

Sabemos que isso tudo é uma grande e absurda mentira e que Chico Xavier foi um dos que mais traíram os ensinamentos de Allan Kardec, se é que se interessou a seguir algum deles. É mentira mistificadora, que vincula o anti-médium mineiro àquilo que ele nunca esteve interessado em seguir, tão confortável Chico estava na sua posição de católico fervoroso e ideologicamente conservador e retrógrado.

O anti-médium foi o primeiro a desviar da rota do C. U. E. E., tendo sido Chico Xavier muito mais leviano do que a senhora Emilie Collignon, que ao menos parecia apenas cumprir o trabalho encomendado por Roustaing para trazer as mensagens atribuídas aos evangelistas e outras figuras bíblicas.

Divaldo Franco foi outro mentiroso. O anti-médium, famoso por sua habilidosa retórica, nunca cumpriu a sua autoproclamada fidelidade a Kardec e, certa vez, ainda usou o C. U. E. E. para justificar seus plágios literários, da maneira mais maliciosa possível.

Também observamos que supostos médiuns que divulgaram mensagens atribuídas às vítimas do incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS), também deturparam as lições do Controle Universal, porque os supostos médiuns podem trabalhar em regiões diferentes, mas têm um vínculo ideológico entre si e compartilham da mesma prática fraudulenta reprovada pelo método kardeciano.

Infelizmente, o Controle Universal do Ensino dos Espíritos não é cumprido no Brasil. Aqui existe a farra do propagandismo religioso mais fútil, se aproveitando da emotividade das pessoas para seduzi-las de maneira bem fácil.

Daí que a mediunidade, no Brasil, é uma prática feita sem qualquer tipo de controle, desvio feito até por aqueles que dizem cumprir o C. U. E. E.. Pois dizer não é o mesmo que fazer e, pior do que muitas seitas neopentecostais, o "espiritismo" brasileiro se vale pela mentira e pela fraude, mascarada pela suposta caridade e pelo mais escancarado proselitismo religioso.

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