O Brasil é conservador e provinciano. Nem de longe está preparado para ser a vanguarda da humanidade na Terra, do contrário que dizem as "profecias" de Francisco Cândido Xavier atribuídas a um sonho do anti-médium em 1969.
Também, que esperar de "vanguarda" em Chico Xavier, que sempre foi uma figura conservadora, o típico caipira de direita
e um católico fervoroso dos mais tradicionalistas, embora fosse também um excêntrico conversador com espíritos mortos, como sua mãe e o padre Emmanuel?
Chico Xavier sempre defendeu ideias como a apologia ao sofrimento humano, em prol de supostas recompensas futuras - quer dizer, póstumas e desconhecidas, para não dizer fictícias - , e a oração em silêncio ao invés do protesto ativista e do pensamento contestatório. Tudo bastante conservador e até retrógrado.
No entanto, a emotividade exagerada e, admitamos, irracional de seus seguidores insiste em ver Chico Xavier como uma figura "progressista", "ativista" e "intelectual", sendo um dublê de filósofo num país que nunca teve grandes filósofos, pelo menos aqueles cujo pensamento ultrapassa o correr dos séculos, como se vê nos grandes pensadores da Filosofia europeus.
Para piorar, o direitista Chico Xavier, que defendeu o golpe de 1964 e, no programa Pinga Fogo (TV Tupi / SP) em 1971, defendia os generais e ainda disparava contra João Goulart - a título de comparação, católicos como Dom Hélder Câmara e Alceu Amoroso Lima já se manifestaram abertamente contra a ditadura - , ainda é protegido pelas esquerdas brasileiras.
Chico Xavier parece um personagem de literatura surreal, um caipira de personalidade relativamente ingênua do qual o Brasil se tornou refém. A dependência psicológica dos seguidores do anti-médium mineiro é preocupante, como se CX fosse a personificação do Rivotril, um conhecido remédio contra os nervos.
Mas talvez Chico Xavier tenha muito mais a ver com ópio, mesmo, pela forma adocicada com que glamouriza o sofrimento humano, com aquele discurso de "sofrer, amando", e com piadinhas sem graça travestidas de "boa mensagem", como uma em que atribui a caridade a uma "desidratação", em alusão ao "suor humano".
Isso é um círculo vicioso que se agrava quando um incidente envolve a "admirável" figura do "velhinho humilde", já que Chico Xavier envolve estereótipos ligados a velhice, bondade e humildade de um Brasil que raramente exerce essas qualidades de maneira espontânea.
O ataque de um grupo de vândalos contra o mausoléu de Chico Xavier, pouco importando a provável ignorância dos desordeiros - o mausoléu poderia ser de Tancredo Neves, Leonel Brizola, Hebe Camargo ou Chacrinha que a cambada teria feito a mesma coisa - , foi visto como "ato de intolerância religiosa" e impulsionou os "feicibuqueiros" a despejar mais frases do "bondoso médium".
Há quem faça isso no automático, ainda mais se o "meme" (arquivo de imagem que expressa algum recado nas mídias sociais) mostra a imagem de Chico Xavier montada diante de uma paisagem de flores ou de um céu azulado.
A histeria servil atinge muita gente e até alguns que nem se imagina que pudessem aderir ao dócil conservadorismo de Xavier. Tudo se torna viciado, Chico Xavier é a personificação da zona de conforto, o Brasil não muda porque é subserviente à ideologia do "médium", e as pessoas acreditam que para mudar têm que publicar as frases adocicadas dele e, aí, nada muda.
Há quem acredite que o Brasil não melhorou porque "não ouviu" a "voz da sabedoria" do "bondoso médium". Grande engano. O Brasil não melhorou porque o ouviu demais, trocando o ativismo pela oração em silêncio, pela aceitação servil do reacionarismo e da arbitrariedade alheia.
Chico Xavier personifica aspectos ideológicos bastante conservadores, sendo o porta-voz maior do moralismo religioso do "espiritismo" que rompeu com Allan Kardec e finge ser rigorosamente fiel a ele.
O grande problema é que o Brasil sempre foi conservador, provinciano, matuto, moralista e ainda sente saudosismo doentio por valores ainda mais conservadores. É certo que existe a tal intolerância religiosa, manifesta por Silas Malafaia e similares, na carona de uma intolerância maior simbolizada por políticos como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro.
Daí que todo mundo quer ser moderno, progressista, ativista e revolucionário sendo o oposto, às vezes até o extremo oposto, de tudo isso. E é por isso que o Brasil não vai para a frente, porque temos sempre o maniqueísmo que envolve retrocessos diversos, para a libertinagem grotesca ou para o moralismo castrador.
O Brasil não vai mudar se continuar se mantendo refém de Chico Xavier e manifestando sua crônica dependência psicológica aos seus estereótipos e suas frases, mesmo sendo Chico Xavier uma figura supérflua que nada contribuiu para o progresso real do nosso país.
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