sábado, 20 de junho de 2015

Críticas aos erros "espíritas" e a intolerância religiosa


Na manhã de ontem, foi encontrado morto o "médium" Gilberto Arruda, de 73 anos, principal figura do "centro espírita" Lar de Frei Luiz, localizado na Taquara, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Ele foi encontrado amarrado na cama e apresentando sinais de espancamento e um corte num dos braços.

Arruda era considerado um dos mais destacados membros da instituição e suas atividades eram relacionadas a aparentes práticas de curas mediúnicas, atribuídas a doenças consideradas graves e incuráveis. Supõe-se que ele recebia o espírito do médico alemão Frederich Von Stein. O caso está sob investigação criminal.

A ação teria ocorrido numa época em que, no Rio de Janeiro, há manifestos de intolerância religiosa, que na última semana foram expressos com o apedrejamento de um templo religioso no Humaitá, na Zona Sul, e na agressão a uma menina na saída de um culto de candomblé, no bairro Vila da Penha.

O fanatismo religioso tornou-se um preocupante fenômeno mundial e motivação para conflitos sangrentos em várias partes do mundo. Recentemente, jihadistas haviam feito um atentado que matou vários jornalistas franceses que estavam na redação do periódico Charlie Hebdo, famoso por suas críticas religiosas.

A intolerância religiosa é motivada pela intenção expansionista de grupos religiosos, geralmente comprometidos em retroceder a humanidade para padrões sócio-culturais correspondentes aos tempos considerados "áureos" de suas respectivas escrituras.

Essa hipótese é comprovada quando cidades consideradas patrimônios culturais situadas no Egito, Síria e outros países do Oriente Médio, definidas por historiadores como berço da civilização, sofrem os ataques do grupo jihadista Estado Islâmico.

Na mesma semana, numa igreja da Carolina do Sul, nos EUA, um jovem de 21 anos entrou em uma missa e, depois de assisti-la até o fim, abriu fogo contra os fiéis, matando nove pessoas. Alegando profundo ódio contra os negros que "estupravam moças brancas", o jovem, depois de capturado, assumiu a autoria da chacina. Ele teria usado um revólver que recebeu do pai como presente de aniversário.

O SUPOSTO MÉDIUM GILBERTO ARRUDA.

Condenamos todo tipo de intolerância religiosa, e sabemos o quanto ela é nociva, como toda intolerância social. Vivemos numa época de disputas de espaços e, em diversos aspectos, se nota a obsessão de uns pelos espaços dos outros, o que gera uma grande crise social, o que envolve questões de diversidade, de competência, de mérito e também da ganância.

No caso do "espiritismo" brasileiro, a morte de Gilberto Arruda é a segunda ocorrida nos últimos dois anos. Em um "centro espírita" do Barreto, em Niterói, um outro líder de um "centro espírita" foi morto supostamente por assalto, embora o caso, ainda sob investigação criminal, trabalhe com várias hipóteses, incluindo execução.

TOLERAMOS O "ESPIRITISMO", SÓ NÃO TOLERAMOS A MENTIRA

O "espiritismo" vive uma crise sem precedentes no país, embora não tenha sido a primeira. Sabe-se que, desde os primórdios da Federação "Espírita" Brasileira, conflitos pesados acontecem, principalmente diante das divergências entre o grupo majoritário, de tendência mística-religiosa, e o grupo dos que se voltam às bases científicas de Allan Kardec.

A grande mídia desconhece essas questões. Ela segue a orientação oficial dos últimos 40 anos, em que o "movimento espírita", depois da crise da gestão Francisco Thiesen (que levava a opção de Jean-Baptiste Roustaing às últimas consequências), adotou uma postura "mista" que mesclasse o religiosismo febiano com a parcial apreciação ao cientificismo kardeciano.

Atualmente, é a mais grave crise envolvendo o "movimeno espírita", Além dos questionamentos mais recentes a respeito de suas práticas e atividades, acumula-se, na Internet, o registro de antigas crises, como os conflitos entre Afonso Angeli Torteroli, defensor das bases kardecianas, e o roustanguista Adolfo Bezerra de Menezes, há cem anos, e os escândalos envolvendo Chico Xavier.

As críticas a esses erros não podem ser consideradas intolerância religiosa. Aceitamos a existência do "movimento espírita", desde que assumisse as bases roustanguistas que sempre trabalhou. Nossa intolerância é contra a mentira, a mistificação, a contradição entre o dizer e o fazer que tanto faz parte da rotina dos "espíritas".

Se líderes "espíritas" são mortos, isso não se deve à campanha que se faz contra o "movimento espírita", mas muito provavelmente aos conflitos pessoais de gente que já percorria o local de cada "centro espírita". São motivações que parecem ser de ordem pessoal ou então criminal, como num latrocínio por exemplo, coisas cuja conclusão se deixa para os criminalistas constatarem.

Nós fazemos o combate de ideias e procedimentos. Se o "espiritismo" tenta, na teoria, exaltar Allan Kardec, mas, na prática, se aproximar a Roustaing, isso deve ser criticado severamente. Se a plataforma ideológica de Chico Xavier é fazer apologia do sofrimento em prol da recompensa póstuma das "bênçãos futuras", isso deve ser criticado, porque não é esse nosso propósito na Terra.

E A SUPREMACIA "ESPÍRITA"?

O outro lado da questão corresponde à supremacia do "espiritismo" brasileiro diante das supostas profecias de Chico Xavier. O sonho de 1969 fala da destruição do Hemisfério Norte e da ascensão do "movimento espírita" brasileiro, com aspectos que coincidem, e muito, com o contexto do fim da Antiguidade Clássica e do surgimento do Catolicismo medieval.

É como se o "espiritismo" brasileiro se configurasse numa atualização do Catolicismo romano da Idade Média, já que a Igreja Católica propriamente dita passou por reformas de pensamento que, mesmo mantendo suas crenças, dogmas e ritos em toda sua essência, permite posturas relativamente mais modernas.

O "espiritismo" brasileiro, em compensação, virou uma expressão repaginada do Catolicismo medieval, eliminando os aspectos mais coercitivos e admitindo parcialmente algumas práticas hereges, ligadas ao curandeirismo e, em tese, à mediunidade.

A gente fica questionando se a "profecia" de Chico Xavier não seria também uma forma de intolerância religiosa, embora, teoricamente, o "espiritismo" se diga "receptivo" ao convívio e a integração da mais ampla diversidade de credos e movimentos religiosos.

Só que lembremos do que pensava Roustaing, fonte ideológica das obras de Chico Xavier, sobre a diversidade religiosa. O autor de Os Quatro Evangelhos alegava que, com o tempo, as diversas religiões seriam unidas pela integração que culminaria numa nova Igreja, uma Igreja Católica que absorvesse todas as demais religiões.

O próprio projeto do "movimento espírita" corresponde a uma adaptação do Catolicismo medieval para a temática da espiritualidade e do misticismo trazido pelos movimentos hereges, como se fosse um produto de um acordo entre católicos medievais e hereges, com quase nenhum vínculo real com o pensamento científico de Allan Kardec, apesar da pretensa associação a seu nome.

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