sexta-feira, 19 de junho de 2015

A farsa mística das "Crianças das Estrelas"


Depois do "fenômeno" editorial das "crianças-índigo", uma farsa sem qualquer relação com a Doutrina Espírita que foi abraçada pelo anti-médium baiano Divaldo Franco, outro caso similar tende a mistificar os espíritos diferenciados que existem na humanidade da Terra.

Desta vez, no lugar das "crianças-índigo" e das "crianças-cristais", aparecem as "crianças das estrelas", o que pode também agradar o "professor Divaldo" por causa do verniz científico que cerca a tese e o background profissional da autora, Nikki Pattillo.

A autora norte-americana é formada em Biologia Molecular na Universidade do Texas e é engajada em projetos ambientais. No entanto, ela tanta misturar sua formação científica com misticismo energético, realizando experiências com golfinhos.

Tendo feito sucesso com os livros A Spiritual Evolution e Children of the Stars, Nikki teria entrado em contato com anjos que descreveram um tipo de pessoas "especiais", que supostamente teriam habilidades psíquicas, espirituais e sensoriais. São as "crianças das estrelas", descritas de uma forma similar à das "crianças-índigo".

Juntando as mensagens dos dois livros, que Nikki alega ter recebido "dos anjos", que descreveram, da mesma maneira do outro caso, que a Terra estaria passando por "melhorias" nas "frequências vibratórias".

Primeiro, em A Spiritual Evolution a autora busca afirmar a chegada de um período "melhor" para a humanidade, como percebemos nas pregações "espíritas" que afirmam que a era de "regeneração" já chegou, e que 2010 ou 2012 seriam o começo dessa era.

Na prática, porém, sabemos que entramos no mundo de provas e expiação, já que só agora podemos superar alguns aspectos de selvageria que triunfavam na humanidade, e que se tornaram judicialmente condenáveis, como os genocídios políticos pelos tribunais internacionais e, no caso do Brasil, o feminicídio que havia ceifado as vidas de muitas brasileiras e hoje é considerado crime hediondo, décadas depois de ser socialmente tolerado como "defesa da honra masculina".

Mas isso é muito pouco diante de ameaças de retrocessos ou do fato de que mesmo capitais como o Rio de Janeiro sofre o fenômeno da "religiosização" das coisas, em que qualquer arbitrariedade é encarada como se fosse uma decisão divina, com direito ao exército de fundamentalistas nas mídias sociais.

É a cidade do deputado Eduardo Cunha, o da terceirização do trabalho, da "cristofobia", do anti-laicismo. É capital de um Estado cuja sociedade aceita, com submissão medieval, ônibus com pintura padronizada, "rádios rock" ruins, a "folclorização" do "funk carioca" e o fanatismo do futebol como se fossem "fenômenos divinos".

Se uma capital como o Rio de Janeiro torna-se o palco de tamanhos retrocessos, só porque uma meia-dúzia de tecnocratas do transporte, executivos de rádio e antropólogos, dirigentes esportivos e produtores culturais amigos de funqueiros, só pelo status que alcançaram, são vistos como "semi-deuses". Eles podem decidir até o pior, que são aceitos como se seguissem "princípios superiores".

Daí que se observa a banalização da mediocridade, em que o que era antes aberrante é tido como "normal" e "aceitável". Se no Brasil houve o avanço de considerar o feminicídio como crime hediondo, há o retrocesso da cultura popular, patrocinado pelos grandes senhores da mídia e no entanto visto como a "modernização" do folclore brasileiro.

E aí, quando há pessoas consideradas diferenciadas, que em muitos casos apenas aperfeiçoaram um padrão de inteligência e moral que já existia em outros tempos e que seria normal acontecesse hoje, se não houvesse a nivelação por baixo das coisas, os místicos se aproveitam e dão um rótulo a tais pessoas.

Daí as crianças "cristal", "índigo", "das estrelas", daí os supostos profetas angelicais e extra-terrestres, daí as promessas de um mundo melhor que só ficam na esperança vã. Daí junta-se tudo isso com os delírios oníricos de Chico Xavier, ou os delírios esotéricos de Divaldo Franco, e cria-se um engodo que não passa de uma discriminação de quem não faz parte da mediocridade reinante de hoje.

Isso porque os rótulos maravilhosos que supõem pessoas "especiais" não passa de um "bom preconceito", que é feito para autores desocupados venderem muitos livros e espalharem feito epidemia seus conceitos místicos, que não condizem com a realidade.

E isso acaba criando um problema, porque os rótulos "cristal", "índigo" e similares servem para "separar", do resto da sociedade (e sua "normalidade" medíocre), aqueles que possuem uma personalidade mais diferenciada e evoluída. A "boa segregação" que serve ao sensacionalismo místico e religioso, mas que cria problemas sérios para os diferenciados.

Afinal, essa classificação os define como os "bons" antissociais, e, dependendo de interpretações mais rasteiras, como no caso das "crianças-índigo" através de correntes que consideram seu nível moral impreciso, o rótulo tanto pode servir para nerds quanto para lutadores de UFC, para alunos exemplares de grande saber e nazi-punks que espancam gays, negros e nordestinos.

A rotulação, portanto, é tendenciosa e mostra o quanto ter inteligência é visto como antissocial. Compreender melhor as coisas - sobretudo quando, em muitos aspectos, o nível de compreensão se equipara ao que era considerado convencional há 50 anos - torna-se uma "boa" aberração, cuja discriminação "positiva" isola severamente as pessoas que não participam da festa da mediocridade.

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