sexta-feira, 26 de junho de 2015

O apelo católico de Chico Xavier durante a crise do caso Amauri Pena


No auge do escândalo de Amauri Pena, o sobrinho de Francisco Cândido Xavier que ameaçava denunciar os bastidores das fraudes "espíritas" de Minas Gerais e, talvez, da Federação "Espírita" Brasileira, por volta de julho de 1958, o anti-médium escreveu uma mensagem para o público.

Embora ele afirmasse sua suposta opção pelo Espiritismo, ele usa expressões e apelos tipicamente católicos, como católica é a mensagem em seu tom emocional caraterístico. Ela foi divulgada em Pedro Leopoldo, no dia 29 de julho daquele ano. Segue seu texto:

"O Espiritismo pertence a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Ele nosso Divino Mestre, suplicamos nos proteja e nos abençoe.

Quanto a mim, se algo posso falar ou pedir, nesta hora, rogo a todos os corações caridosos uma oração à Nossa Mãe Santíssima, em meu favor, a fim de que eu possa - se essa for a vontade da Divina Provicência - continuar cumprindo honestamente o meu dever de médium espírita, na religião que Deus me deu, sem julgar ou ferir a quem quer que seja.

Francisco Cândido Xavier
Pedro Leopoldo, 29 de Julho de 1958".

Há que relembrar o episódio de Amauri Xavier Pena, que foi erroneamente identificado como Amauri Pena Xavier, uma vez que, sendo filho da irmã de Chico Xavier, o sobrenome em questão teria vindo antes de Pena, que é o sobrenome do pai.

Ele fazia atividades supostamente mediúnicas e, de repente, sentiu-se angustiado e recorreu a um órgão de imprensa, o Diário de Minas, para revelar as fraudes da atividade "mediúnica" de Chico Xavier, causando um grande escândalo na época e um profundo mal estar.

Chico Xavier havia saído, pouco mais de uma década antes, de um sério problema judicial devido a um processo movido por herdeiros de Humberto de Campos contra a obra supostamente psicografada que levava o nome do autor maranhense. Chico contou com a sorte, uma vez que os juízes simplesmente não entenderam a questão e julgaram a ação dos herdeiros improcedente.

Temendo um outro processo judicial, provavelmente ainda mais doloroso, Chico Xavier teve que contar com o apoio de "espíritas" mineiros, da FEB e até mesmo de um delegado provavelmente truculento que prendeu Amauri, acusado de cometer roubos, provavelmente agredindo o rapaz, que era acusado até de crimes que não teria cometido, como falsificação de dinheiro e tudo.

Chico Xavier também havia participado de fraudes de materialização, assinando atestados de pretensa autenticidade, e era severamente questionado por renomados críticos literários por conta de obras supostamente atribuídas a espíritos de poetas e escritores (de Humberto aos poetas citados em Parnaso de Além-Túmulo) que apresentavam falhas estilísticas graves.

Diante de tanta pressão, o mito de Chico Xavier foi ameaçado mais uma vez e seus adeptos resolveram fazer uma campanha difamatória contra Amauri, que teria recebido maus tratos em um sanatório "espírita" e possivelmente envenenado e morrido por hepatite tóxica, aos 28 anos incompletos, idade considerada precoce para alguém que era alcoolista inveterado (que tende a morrer entre os 35 e 50 anos).

Daí que, diante dessa aguda crise, foi redigida a mensagem acima, e Chico Xavier, mesmo tendo saído apenas com "arranhões" da situação, teve que abandonar Pedro Leopoldo, depois do falecimento de Amauri, em 1961, e viver o resto de sua vida em Uberaba, onde foi enterrado após falecer, em 2002.

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