domingo, 17 de maio de 2015
Fred Figner perdeu uma boa oportunidade de pesquisar contatos com espíritos
Que história diferente poderia, em parte, ter tido o Espiritismo no Brasil se o empresário Fred Figner não tivesse entrado no caminho distorcido da Federação "Espírita" Brasileira, então no calor do mais escancarado roustanguismo.
Antes de mais nada, vamos contar a história de Fred Figner. Nascido na cidade tcheca de Milesvko, em 02 de dezembro de 1866, Com 15 anos, em 1882, viajou para os Estados Unidos como passageiro de terceira classe no navio Main e apenas com a grana da travessia.
A chegada aos EUA, no entanto, foi proveitosa, porque no país estava sendo divulgada a novidade lançada cinco anos antes por Thomas Edison, o fonógrafo, primeiro aparelho que gravava e reproduzia sons através de cilindros giratórios.
Ele então adquiriu o aparelho e decidiu, vendo um novo horizonte profissional pela frente, viajar para o Brasil. Desembarcou em Belém do Pará, em 1891, sem entender uma única palavra em português. No entanto, foi lá onde apresentou o fonógrafo ao público, o que se tornou um grande sucesso.
Ele realizou uma excursão de divulgação do novo aparelho em capitais como Manaus, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Recife e Salvador e depois fez o mesmo no Rio de Janeiro, quando veio a ideia de usar um sobrado na Rua Uruguaiana para criar a primeira loja de discos e vitrolas, a Casa Edison.
Foi nesta casa a realização da primeira gravação, em 1902, de uma música brasileira, o lundu "Isto é Bom", do compositor baiano Xisto Bahia, interpretada por Manuel Pedro dos Santos, conterrâneo do autor da canção, daí o apelido Bahiano.
A gravação ocorreu já na nova sede da Casa Edison, na Rua do Ouvidor, instalada em 1900, que contava com um novo estúdio de gravação e uma melhor estrutura para comercialização de vitrolas e discos. Figner já havia recebido do cientista judeu Emile Berliner, vindo dos EUA, um exemplar do novo fonógrafo, com cera em vez de cilindro, que permitia uma qualidade melhor do som gravado e reproduzido.
A procura pelos discos da Casa Edison era tanta que, em 1913, Figner criou uma indústria fonográfica na Boulevard 28 de Setembro, em Vila Isabel, denominada Odeon, que mais tarde se transferiu para a Rua São Bento, em São Paulo.
A Odeon foi durante décadas parceira da inglesa EMI, que a absorveu, tornando-se a filial brasileira da companhia estrangeira, até que em 2014, com sua falência, o espólio mundial foi dividido e a parte da EMI no Brasil foi adquirida pela Universal Music, que há havia absorvido a antiga Polygram.
Famoso por sua generosidade e caridade, Figner transformou sua mansão - hoje Mansão Figner - em hospital quando houve a pandemia da gripe espanhola, em 1918, que causou várias mortes, entre elas a do presidente da República, Rodrigues Alves. O próprio Figner contraiu a doença, mas conseguiu se curar.
Figner tinha uma propriedade em Jacarepaguá, próxima ao hoje conhecido bairro de Cidade de Deus (inexistente na época), e decidiu doá-la para servir de abrigo para atores aposentados, que se tornou o Retiro dos Artistas, até hoje em funcionamento. Pela sua contribuição para a cultura brasileira, tornou-se conhecido como "o mais brasileiro dos estrangeiros".
O "ESPIRITISMO DA FEB"
Fred Figner, que abrasileirou seu prenome para Frederico, conheceu o Espiritismo de maneira errada, já que, em contato com Pedro Sayão, irmão da cantora Bidu Sayão e ambos filhos do dirigente "espírita" Antônio Luís Sayão, um dos fundadores da FEB.
A essas alturas a FEB fazia sua propaganda do "espiritismo" através de curas e atividades filantrópicas, na tentativa de compensar o rompimento com as ideias originais de Allan Kardec e a preferência, antes abertamente assumida, por Jean-Baptiste Roustaing.
E aí Fred Figner preferiu participar da cúpula da FEB, o que fez com que, com todo o aparato de caridade que o "espiritismo" trabalhava e trabalha até hoje, o empresário perdesse uma boa oportunidade de conhecer a Doutrina Espírita autêntica e aproveitar de suas possibilidades.
Se Fred Figner tivesse seguido o Espiritismo de Allan Kardec, poderia ter aproveitado suas atividades fonográficas e ter realizado estudos sobre a possibilidade de contato com os espíritos do além, em vez de fazer parte de uma instituição que se diz "espírita" mas nunca realizou qualquer atividade ou estudo que estivessem de acordo com as novidades científicas trazidas pelo professor lionês.
Além disso, Figner ainda colocou no seu testamento a doação dos bens para as instituições atendidas por Chico Xavier, que a essas alturas comemorava a vantagem obtida pelo empate judicial do caso Humberto de Campos e se preparava para se apropriar do carisma da falecida jovem Irma de Castro Rocha, a Meimei.
Com isso Fred Figner perdeu uma boa oportunidade de trazer mais uma transformação histórica, e não pôde, assim, ampliar seu trabalho fonográfico para os estudos realmente espíritas. Se tivesse, talvez pudesse ser conhecido como o precursor da Trans-Comunicação Instrumental (TCI) no Brasil.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.