segunda-feira, 25 de maio de 2015

"Estado Islâmico" e a questão da religião e do atraso da humanidade


O Estado Islâmico está ampliando seus domínios, invadindo e conquistando cidades e planejando, aos poucos, criar um califado, uma espécie de teocracia jihadista, a ser instalada às custas de muita carnificina e de destruição de patrimônios históricos mais antigos.

Recentemente, eles tomaram uma cidade da Síria, Palmira - ironicamente, parece um nome tipicamente brasileiro, na sua tradução em português, já que o original a cidade chama-se Tadmur - , que fica próxima da fronteira com o Iraque, onde outra cidade já havia sido conquistada pelo grupo jihadista, Ramadi.

Palmira é considerada pela Unesco um dos maiores sítios arqueológicos do mundo, e toda a cidade constitui de muitos prédios, monumentos e objetos históricos, que ameaçam ser destruídos pelos guerrilheiros do Estado Islâmico, o que, se ocorrer, representará um enorme dano para a humanidade.

Para combater o Estado Islâmico, o governo iraquiano é obrigado a recorrer a milícias xiitas para ao menos tentar frear sua ascensão. O grupo Estado Islâmico é uma força jihadista (expressão derivada de "jihad", que em árabe quer dizer "luta"), que usa o pretexto da religião para promover guerras em prol de sua supremacia política.

Eles pretendem reverter a humanidade para os moldes de um "mundo islâmico" no qual os integrantes do grupo acreditam. Infelizmente, é um dos males da religião, o de querer que a sociedade pare no tempo, e isso não é exclusivo do fundamentalismo islâmico que tem agora no Estado Islâmico a sua mais preocupante expressão.

RELIGIÃO, ATRASO E ALIENAÇÃO

Deixemos de lado os lamentos clichês que os "espíritas" tanto dizem, referindo ao Estado Islâmico a infeliz decisão de "irmãozinhos menos esclarecidos" que "desconhecem as valiosas lições de fraternidade da doutrina do Cristo".

Primeiro, porque não é aqui o caso de evocarmos necessariamente a figura de Jesus, até porque, entre os islâmicos, o que acontece é a má compreensão da doutrina muçulmana de Maomé, que para seus seguidores é o seu profeta maior.

O que observamos é que a religião, quando atinge níveis de fanatismo, recorre a atos violentos para evitar que a humanidade se transforme à revelia de seu sistema de crenças, que preferem ver a sociedade parada no tempo, vivendo uma vida subordinada a um "deus" ou um "código" e o único progresso esperado é o depois da morte, através de um "paraíso" ou uma "outra vida".

É claro que, no Brasil, o "espiritismo" brasileiro não tem o caráter bélico do Estado Islâmico e no caso dos métodos de ações nem dá para comparar um e outro, por conta de suas diferenças extremas. No entanto, a visão de atraso e retrocesso da humanidade, aliada à alienação vital que só promete uma "vida melhor" após a morte, guarda semelhanças em ambos.

Se no Oriente Médio o Estado Islâmico luta para retroceder a humanidade para os padrões do islamismo, daí a ação de seus militantes em destruir patrimônios históricos que representassem a origem da civilização moderna, no Brasil o "espiritismo" pretende recuperar o Catolicismo medieval do Império Bizantino, mesmo admitindo algumas concessões relacionadas a movimentos heréticos.

É certo que até aí Estado Islâmico e "espiritismo" brasileiro se diferem extremamente, pois se o primeiro quer que a humanidade retorne aos moldes do islamismo primitivo e abra mão de suas conquistas milenares, o "espiritismo" quer que a humanidade retorne aos parâmetros do Império Bizantino, apenas variando numa relativa tolerância a atividades consideradas hereges.

Não se sabe até que ponto estas duas religiões ou outras que existem podem aceitar ou renegar as conquistas da modernidade, ou até que ponto os avanços tecnológicos e outras conquistas práticas poderiam servir para movimentos de retrogradação social.

O que se sabe é que, no caso do "espiritismo", a parcial apreciação da ciência e as práticas tidas como "espíritas", mas herdadas não da doutrina de Allan Kardec mas de práticas heréticas ligadas à feitiçaria, ao misticismo cigano e ao curandeirismo primitivo (mas também inserindo neste a falsa homeopatia dos medicine shows), antes mortalmente combatidos pelo Catolicismo medieval.

Pois o próprio "espiritismo" se valeu da herança de um Catolicismo medieval que começava a perder o valor. Os medievais eram deixados de lado e a Igreja Católica, no final do século XIX, começava a passar por um revisionismo que chegou, em 1961, com o Concílio II do Vaticano, a admitir uma vertente de esquerda, a Teologia da Libertação.

Mas mesmo o Catolicismo conservador começava a adotar reformas e revisões que fizeram com que a ala medieval fosse deixada de lado, e os católicos ortodoxos aos poucos eram isolados tanto das graduais mudanças católicas quanto de outros ortodoxos que, pela tolerância com movimentos e práticas hereges, tornaram-se uma dissidência não-assumida com o nome de "espiritismo".

As religiões dificilmente conseguem acompanhar com fidelidade e isenção as transformações diversas da humanidade. Pode-se admitir que, atualmente, o Catolicismo e o Protestantismo façam tentativas de modernização, mas é surpreendente que o "espiritismo" que se conhece no Brasil nem de longe se interesse em acompanhar as mudanças do tempo.

É verdade que, no caso do Protestantismo, algumas seitas de segundo escalão queiram transmitir valores homofóbicos ou de alguma intolerância social, mas não existe um movimento organizado que possa criar de épocas antigas um "norte" para toda uma série de retrocessos sociais. Ao que parece, eles não estão preocupados em fazer a humanidade voltar aos tempos de Abraão.

Pelo contrário, o "espiritismo", em vez de se sujeitar a compreender o mundo em suas mudanças, prefere submeter esse mundo ao seu julgamento retrógrado, cheio de moralismo religioso, com a ânsia de escravizar o mundo à pequenez das avaliações da "fé espírita".

O atraso do "espiritismo" brasileiro, que se autoproclamava a "vanguarda" dos movimentos espiritualistas brasileiros, é preocupante, e, com toda a distância de qualquer intenção de usar os métodos brutais do Estado Islâmico, nem assim deixa de sugerir reações violentas.

O "espiritismo" brasileiro julga o homicídio como um atenuante, já que o vê como um ato nefasto mas que "cumpre" supostos resgates espirituais e reajustes morais das vítimas (ou seja, a vítima é a culpada). Admite que o homicida irá "pagar pelo que fez", mas adia a "sentença" para outras encarnações, apostando no princípio do "fiado moral".

REAÇÕES VIOLENTAS DOS CHIQUISTAS

Quando Amauri Pena, sobrinho de Francisco Cândido Xavier, resolveu denunciar os bastidores do "movimento espírita" nas fraudes mediúnicas, os dirigentes "espíritas" reagiram com ódio e fúria. Apesar do envolvimento com álcool e furtos, Amauri foi violentamente depreciado pelos amigos e adeptos de Chico Xavier e morreu jovem demais para quem apenas se envolvia com álcool, o que pode sugerir ser vítima de agressões e até envenenamento.

Os internautas que seguem Chico Xavier também reagem com violência a qualquer crítica ou questionamento, mesmo quando tentam, com mal disfarçada ironia, usarem "palavras mais fraternais", como "Irmão, você está sendo obsediado", equivalente "espírita" ao apelo neopentecostal "Você está possuído pelo demônio".

Num país em que a Igreja Universal do Reino de Deus cria seus Gladiadores do Altar, algumas seitas neo-pentecostais já mostram sessões de jiu-jitsu ou patrocinam eventos de MMA, chiquistas despejam sua fúria contra quem contestar um único espirro de Chico Xavier.

Se o "espiritismo" está a mil anos luz longe de ser um Estado Islâmico, nem por isso está isento de se empenhar pelo atraso da humanidade, já que a profecia da "Data-Limite" menciona o fim do Hemisfério Norte desenvolvido, o que lembra a destruição de boa parte do legado da Antiguidade Clássica para a formação do Império Romano medieval.

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