terça-feira, 12 de maio de 2015

Chico Xavier não teria feito todos os 418 livros a ele atribuídos

ILUSTRAÇÃO FEITA COMBINANDO A SILHUETA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER COM SUPOSTAS CARTAS PSICOGRAFADAS.

Temos que admitir como verídicas as denúncias dadas por militantes católicos como Gustavo Corção, Alceu Amoroso Lima e Padre Quevedo, de que a psicografia de Chico Xavier seria uma grande farsa, até pela pertinência lógica que tais religiosos apresentam em seus questionamentos.

Verdadeiro popstar do "movimento espírita", Chico Xavier não era um super-homem. Ele nunca foi um speed racer da escrita mediúnica, e muito do que ele colocou no papel atribuído a espíritos falecidos encontra uma preocupante série de irregularidades, cuja gravidade põe em xeque a veracidade atribuída a muitas delas, a começar pelo famoso caso Humberto de Campos.

A verdade é que dificilmente Chico Xavier teria realmente psicografado todos os 418 livros atribuídos à sua atividade supostamente mediúnica. Ele era o astro pop do "espiritismo", tinha seus compromissos de atender pessoas, dar entrevistas, comparecer a eventos, ser homenageado em cerimônias.

Dificilmente ele se daria conta de tantos livros, mesmo se considerarmos a tese inverídica, mas verossímil, de autorias espirituais. Há o aberrante dado de que Chico Xavier está associado a uma média de 15 livros supostamente psicografados por ano!!

Poucos sabem como é o trabalho de escrever um livro. Uma publicação de cerca de 100 páginas pode levar um mês para ser escrita. É um processo que não é fácil, pois há a responsabilidade de escrever um livro com uma linguagem clara, com boa argumentação e com a máxima correção ortográfica possível.

Se quinze livros são produzidos num mesmo ano, como alguém pode dar conta sozinho - ou com a ajuda de alguns "amigos do além", o que é pouco provável no caso de Chico Xavier, apesar da tese oficialmente contrária - dentro de um período de 365 dias?

Se alguém elabora esses quinze livros sozinho - pela tese oficial, Chico Xavier foi o único na Terra a se responsabilizar sozinho por cada livro, salvo algumas parcerias - , terá que abrir mão de compromissos diversos e se isolar para elaborar todos eles.

Muitos escritores chegam a se isolarem para escreverem uma única obra literária. Escrever livro envolve concentração e, na tese da mediunidade, supõe-se que o médium teria que se retirar para se concentrar e permitir que um espírito lhe venha com um projeto de livro, que não é algo que se conclua num piscar de olhos.

E na música pop? E alguém imaginaria o astro pop Michael Jackson lançando quinze LPs por ano? Sua discografia tinha um grande intervalo entre um LP e outro. Entre o Thriller e o Bad, por exemplo, há um intervalo de cinco anos.

O próprio Chico Xavier deixou vazar que muitos de seus livros são feitos por colaboração de terceiros. Parnaso de Além-Túmulo, até pelas gravíssimas acusações de pastiches e plágios e do aberrante contraste dos poemas apresentados com o estilo original que os supostos autores espirituais fizeram em vida, teria sido obra de Chico Xavier, editores da Federação "Espírita" Brasileira e consultores literários.

As próprias cartas de Chico Xavier ao então presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, indicam isso. Pena que Suely Caldas Schubert só publicou as cartas de Xavier, sem recorrer às respostas dos destinatários, porque talvez pudéssemos ver realmente como eram as negociações para os remendos editoriais de Parnaso de Além-Túmulo.

Consta-se que a psicografia da série Emmanuel - ele teria ditado as palavras para Chico Xavier escrever - foi verídica até meados dos anos 1960, enquanto outros "autores", como Meimei, Humberto de Campos / Irmão X e André Luiz, teriam sido escritos da própria mente do anti-médium, em parceria com outros autores ligados à FEB.

A série Humberto de Campos / Irmão X, ao que tudo indica, foi feita a quatro mãos por Chico e Wantuil. A série André Luiz começou com o plágio de A Vida Além do Véu, do protestante inglês George Vale Owen, através do livro Nosso Lar, e foi adiante nos livros que teriam sido feitos em parceria, assumida ou não, com Waldo Vieira (hoje líder da Conscienciologia / Projeciologia).

Consta-se que Waldo, então adolescente, teria fornecido sugestões de ficção científica que teriam feito parte de Nosso Lar, já que o depois fundador da Conscienciologia era um ávido leitor de histórias em quadrinhos. e depois Waldo teria "elaborado melhor" o personagem André Luiz junto a Chico Xavier.

Chico Xavier teria produzido livros até meados dos anos 1970. Depois, teria se limitado a assinar livros feitos por terceiros, elaborados por editores da FEB. O anti-médium, fisicamente mais frágil, se limitaria a produzir de sua própria mente cartas que eram atribuídas a pessoas mortas.

É até notável que os livros que Chico Xavier "produziu" nas últimas décadas não sejam vistos com muita importância. A publicidade dada a esses livros é ínfima, o que dá forte indício de que ele não tenha escrito uma vírgula sequer nessas obras.

Isso lembra o conto "A Terra Árida", de Luís Fernando Veríssimo (curiosamente vítima de textos apócrifos atribuídos à sua autoria na Internet, sofrendo na carne o que Humberto de Campos passou a sofrer no além-túmulo).

O conto mencionava a trajetória de um suposto sexólogo, Dr. Murray Brown, que seria autor de uma série de livros. No conto, um tradutor tinha a missão de publicar a versão em português das obras do escritor. O tradutor, quando decidiu entrar em contato com o autor, percebe que ele oficialmente havia morrido antes e que os novos trabalhos eram feitos por uma equipe de editores.

Diferenças de detalhes à parte, o que se observa que muito que se atribui à suposta psicografia de Chico Xavier na verdade teria sido, em princípio, escrito pela própria imaginação do anti-médium mineiro, sozinho (ou ditado por Emmanuel) ou em parceria com alguém,

Mas, num certo período, ele, doente, só emprestava seu nome, mediante contratos, a obras produzidas por terceiros que apenas tinham a obrigação de se aproximarem do estilo de mensagem do anti-médium. A hipótese parece absurda para muitos, mas tem mais coerência lógica do que acreditar que um velhinho frágil e cheio de compromissos iria ter tempo para lançar 15 livros por ano.

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