ILUSTRAÇÃO MOSTRA DEGREDADOS DESEMBARCANDO NO BRASIL.
O país que recebeu a expedição do navegador português Pedro Álvares Cabral, mas que era cobiçado por outras nações pela sua riqueza de recursos naturais, é oficialmente tido como "descoberto" pela referida expedição, em 22 de abril de 1500.
Há muitos mitos na historiografia oficial do Brasil, que se aproximam mais da fantasia e das crendices do que da realidade, e soam tão ridículas quanto acreditar que gigantescos monstros do mar habitassem os oceanos a necessariamente devorar todas as embarcações que por eles passassem.
Hoje temos navegações marítimas que, não fossem erros de qualquer natureza, como falhas mecânicas e humanas, atravessam oceanos com relativa segurança. O único problema existente é o tédio das viagens por demais longas e o mal-estar físico dos que olham o movimento das águas e sentem o tão conhecido enjoo.
Enquanto a História do Brasil oficial diz que o país foi "descoberto" em 1500, documentos indicam que, bem antes dessa data, o território era conhecido por exploradores europeus e até asiáticos, pela farta presença de recursos naturais, como árvores, frutos e animais silvestres. O nome Brasil se deve a uma das árvores típicas do lugar, o pau-brasil.
Sua colonização não se deu da forma humanista que, por exemplo, vimos nos Estados Unidos da América. Em primeiro lugar, porque o território brasileiro foi visto durante muito tempo como uma mera área de exploração econômica, de extração de produtos. Em segundo lugar, porque a origem de seu povoamento não foi das mais agradáveis.
Durante muito tempo, o Brasil era uma espécie de exílio dos degredados. Os degredados eram tipos de pessoas consideradas desagradáveis para a vida social de Portugal. Nela incluíam desde hereges que, batizados pelo Catolicismo, eram vistos como "cristãos-novos", até feiticeiros, ciganos e até mesmo ladrões, desordeiros e assassinos, detidos e condenados a viver em degredo na "nova terra".
Vários degredados eram contratados para desempenhar atividades consideradas perigosas para as tripulações de navios, ou então eram designados para desbravar áreas florestais em busca de riquezas ou recursos de potencial aproveitamento econômico. Se fizessem um bom trabalho, poderiam receber indulto e serem considerados livres.
Entre alguns degredados famosos, estavam João Nunes, cristão-novo que serviu o navegador Vasco da Gama, Luís de Moura, degredado que serviu Pedro Álvares Cabral e João Ramalho, que ajudou no povoamento português das cidades de São Vicente, na Baixada Santista, e São Paulo.
O mais antigo degredado da História do Brasil teria sido Afonso Ribeiro, jovem português que teria cometido um assassinato e cuja situação criminal fez sua noiva Elena Gonçalves desistir do casamento e optar pelo celibato religioso. Segundo carta de Pero Vaz de Caminha, ele veio com Cabral em 1500 juntamente com outro degredado, cujo nome se perdeu dos registros históricos. É considerado o primeiro brasileiro.
Outro dos mais antigos degredados teria sido Cosme Fernandes Pessoa, o Bacharel da Cananeia, cujos dados biográficos são imprecisos e contraditórios. Segundo se consta, ele teria sido um dos primeiros traficantes de escravos e tinha fama de arruaceiro, com relatos de sua presença no solo brasileiro em 1502.
O "bacharel" foi deixado na hoje cidade de Cananeia, no litoral sul paulista, depois que, tendo sido um dos fundadores do povoado de São Vicente, origem da atual cidade, havia sido expulso pelo fundador da cidade, Martim Afonso de Souza, por causa da origem herege do degredado, que havia se tornado cristão-novo.
Articulando índios da tribo Carijó que viviam em Cananeia, Cosme Fernandes se vingou da atitude de Martim Afonso e resolveu liderar uma rebelião que invadiu São Vicente e provocou saques, depredação e incêndio em diversas casas. Consta-se que Cosme já vivia no território do atual Brasil antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral.
Um dos últimos degredados portugueses, pelo menos com o perfil que tradicionalmente se tem da condição, foi o militar José Teixeira da Silva, o Zé do Telhado, conhecido por ter sido ladrão e arruaceiro. Viveu entre 1818 e 1875, época em que o Brasil era praticamente uma nação autônoma.
Zé do Telhado era conhecido por roubar dos ricos para dar aos pobres, sendo uma espécie de Robin Hood português. Num dos roubos, pretendia fugir para o Brasil, já não mais tido como exílio de degredafos, e, preso na Cadeia da Relação, na cidade portuguesa do Porto, conheceu o escritor Camilo Castelo Branco, que ali trabalhava, e que o citou no livro Memórias do Cárcere, de 1862.
TRADIÇÃO "DEGREDADA"?
O povoamento brasileiro através de degredados - que faz o anedotário popular descrever o Brasil como um "depósito de lixo de Portugal" - parece criar um "imaginário" cultural que influencia até os nossos dias, que permitem diversos aspectos existentes no nosso cotidiano.
A impunidade criminal e a mediocrização cultural seriam alguns desses aspectos, uma herança da mentalidade trazida pelos degredados, tanto pela tardia especialização em trabalhos de grande envergadura, quanto pela tardia consciência dos crimes cometidos.
Vale lembrar que muitos degredados eram ladrões bem sucedidos, o que diz muito com o longo histórico de corrupção política que se desenvolveu no Brasil e que, nos últimos anos, desafia até mesmo os níveis ideológicos e acadêmicos.
O tardio "aperfeiçoamento" dos ícones da mediocrização cultural, desde emissoras de rádio incapazes de compreender o segmento que dizem representar - como as "rádios rock" 89 FM, de São Paulo, e Rádio Cidade, do Rio de Janeiro - até cantores bregas que buscam estar "a um passo da MPB", como Chitãozinho & Xororó, Alexandre Pires, Leonardo e Daniel, também é herança dos degredados.
Pode até ser discutível, para certas correntes, tal constatação, mas ela faz sentido, uma vez que o Brasil se desenvolveu a partir de valores confusos, contraditórios e instáveis trazidos pelos diversos tipos de degredados que iniciaram o povoamento no país.
Esse sistema de valores ainda é trabalhosamente combatido ou corrigido na sociedade brasileira, estando à mercê da violenta reação que se observa em vários usuários de Internet ou mesmo em celebridades e jornalistas da grande imprensa. Apesar da modernidade tecnológica, há muita gente que ainda parece viver nos tempos do Brasil colonial.
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