SELEÇÃO BRASILEIRA, DIANTE DA HUMILHANTE DERROTA NO JOGO CONTRA A SELEÇÃO ALEMÃ, NA COPA DO MUNDO DE 2014.
A prisão, anteontem, do ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, José Maria Marin, atualmente uma das figuras de honra da gestão de Joseph Blatter (até a edição deste texto, presidente da FIFA, Federação Internacional de Football Association), da qual comentaremos em outra oportunidade, nos faz pensar sobre as relações entre ufanismo "espirita" e ufanismo no futebol.
Antes de se revelar o grande desastre para os brasileiros, tanto nos prejuízos financeiros quanto no péssimo desempenho da Seleção Brasileira de Futebol, a Copa do Mundo do Brasil 2014 era anunciada como um período de "grande importância" para a sociedade brasileira, sob a ótica do "espiritismo" brasileiro.
Até mesmo uma mensagem "psicofônica", na verdade um falsete de um líder "espírita" forjando o que imaginava ser a voz do abolicionista José do Patrocínio - que, tendo vivido no século XIX e no ínício do século XX, não viveu para ver as tecnologias de registro sonoro se tornarem mais acessíveis, não registrando sua voz para a posteridade - , foi feita.
A mensagem do falso José do Patrocínio apelava para uma risível, de tão constrangedora, propaganda religiosa, em que se atribuída ao combativo abolicionista o passivo apelo de "orar pela paz", trazida no dia 10 de maio do ano passado pelo "médium" João Pinto Rabelo, na sede da Federação "Espírita" Brasileira, em Brasília. Em outra oportunidade, reproduziremos a mensagem.
Essa mensagem supostamente psicofônica tentava coroar todas as expectativas que a FEB tinha em relação à Copa do Mundo realizada no Brasil. "Agora é que a profecia de Chico Xavier começará a valer. Era tudo o que sonhamos há décadas", diriam, provavelmente, seus líderes.
Chico Xavier faleceu em 30 de junho de 2002, no dia do "penta", oficialmente tido como "o dia em que o povo brasileiro estava feliz", conforme teria dito o anti-médium no final de sua vida. Só que a Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão, foi a pior da história desse evento e mostrou uma seleção brasileira, mesmo desastrosa, ganhar todas as partidas.
Houve até mesmo atuações irregulares de árbitros e um estranho desempenho da seleção inglesa, que deixou ser derrotada por uma insegura e temperamental seleção brasileira que, com um jogador a menos (Ronaldinho Gaúcho, autor do primeiro gol, perdeu a cabeça e foi expulso), "ganhou" a partida por 2 a 1, com o campo rival "liberado" para Rivaldo, sem marcação, fazer o segundo.
Essa era a Copa que Ricardo Teixeira, José Maria Marin, João Havelange, Marco Polo Del Nero e outros comparsas queriam. Eles é que foram os "brasileiros felizes" do estranho "penta", que cheirava a uma vitória comprada, já que, desde as Eliminatórias da Copa, em 2001, a Seleção Brasileira de Futebol não estava nos seus melhores momentos.
Mas aí a "vitória da seleção" criou expectativas que "ajudassem a confirmar" a "profecia" de Chico Xavier de que o Brasil seria "mesmo" o "coração do mundo" em 2019. 2014 seria o "aperitivo", depois que o Brasil foi escolhido para sediar o evento, como "prêmio" pelo seu "bom desempenho" em 2002.
Com isso, ao ufanismo futebolístico que tem como seu principal porta-voz o locutor da Rede Globo de Televisão, Galvão Bueno, se somou o ufanismo religioso que previa que, com a Copa de 2014, o Brasil iria reunir uma "grande diversidade de povos estrangeiros", fazendo com que o evento fosse "símbolo da fraternidade e da solidariedade cristãs".
Juntando isso ao ufanismo econômico do Governo Federal - que em 2002, contrariando as expectativas de mais um governo do PSDB, fez o Partido dos Trabalhadores vitorioso pela primeira vez - , surgiu a promessa do Brasil como maior potência econômica do planeta, e líder dos chamados BRICS (grupo dos países emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Só que, desde 2012, estourou a crise econômica. Em 2013 já haviam protestos de rua contra tantas arbitrariedades de âmbito político e sócio-econômico. Em 2014 a Copa do Mundo 2014 foi um fiasco e a população saiu irritada. O "aperitivo" da "profecia' de Chico Xavier foi para o ralo.
Hoje se nota um país em crises profundas, em conflitos e crise de valores, e é pouco provável que a tal "profecia" se cumpra em 2019 ou mesmo depois dela. Dos BRICS, a China, mesmo autoritária e desigual, partiu para a dianteira, e é possível que Rússia e Índia passem a perna no Brasil, mesmo com suas respectivas crises.
Isso porque o Brasil não só é um país desigual mas um país confuso, que trabalhou suas expectativas e perspectivas ainda pensando em reviver o "milagre brasileiro" da Era Médici, através de elites tecnocráticas, empresariais e políticas que até hoje ditam valores nem sempre benéficos à sociedade.
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