sábado, 19 de dezembro de 2015

Allan Kardec rejeita tese defendida por Divaldo Franco

DIVALDO FRANCO FINGINDO QUE SEGUE AS LIÇÕES DE ALLAN KARDEC.

Hoje, dia do evento "Você e a Paz", missa "ecumênica" comandada pelo anti-médium baiano Divaldo Pereira Franco e que promete "a paz mundial" com uma simples retórica religiosa e rebuscada de sua atração principal, sugere uma reflexão bastante delicada.

Afinal, algumas correntes do "movimento espírita" acreditam que, se Francisco Cândido Xavier, o "popular" Chico Xavier, desviou de maneira explícita dos ensinamentos kardecianos, Divaldo Franco parecia mais "exemplar" e "correto" nas lições do professor lionês.

Só que isso consiste numa grande ilusão. Divaldo Franco deturpou tanto a Doutrina Espírita quanto Chico Xavier. Os dois nunca aprenderam de maneira devida as lições trazidas por Allan Kardec, e o que difere é a maneira com que o mineiro e o baiano fizeram na deturpação dos ensinamentos kardecianos. De toda forma, nenhum dos dois deveria ser considerado seguidor de Kardec.

Divaldo Franco apenas possui um verniz mais caprichado. Chico Xavier era confuso e contraditório, e muito mais explícito nas suas pregações igrejistas. Além disso, sua alta visibilidade foi obtida sob o preço de escândalos e polêmicas, de maneira indiscreta e conflituosa, o que faz com que seja mais fácil contestar o "kardecismo" de Chico Xavier do que o "kardecismo" de Divaldo Franco.

O verniz "espírita" de Divaldo Franco se apoia numa postura aparentemente elegante, com um ar professoral que lembra os antigos professores dos anos 1940, dotados de discurso rebuscado e pretensa erudição intelectual.

Além disso, se Chico Xavier trabalhou seu mito mais pela "humildade" e pela suposta força de um "velhinho frágil e bondoso", Divaldo Franco trabalha seu mito pelo estereótipo do pretenso sábio, que se supõe ter as respostas prontas para todos os assuntos, o que, diante da complexidade da vida humana, é uma tarefa impossível de ser feita, indicando que a "sabedoria" do "médium" baiano não é mais do que simples pose.

Duas das provas que Divaldo Franco contraria Allan Kardec se referem a duas manias que fazem o anti-médium baiano contradizer o professor lionês: o apreço que Divaldo tem por previsão de datas determinadas e sua crença na fantasiosa ideia de "crianças especiais", sejam "índigos" ou "cristais".

Ambas as ideias foram duramente combatidas por Allan Kardec, por representarem incoerências sérias e aberrações sem qualquer tipo de lógica. No decorrer de sua obra, Kardec sempre alertou que não existem tipos "diferenciados" de pessoas nem datas "determinadas" para a ocorrência de progressos na humanidade.

Quanto ao mito das "crianças-índigo" e "crianças-cristais", Kardec rejeitaria de imediato, porque, embora ele admita que, em determinado estágio da humanidade, possam surgir pessoas de elevada formação moral e intelectual, é inadmissível enquadrá-las em grupos "diferenciados", até porque podem sugerir discriminação.

Diz Kardec no livro A Genese, que na falta de, no momento deste texto, um exemplar da tradução de Herculano Pires, recorremos a nós mesmos ao original francês e publicarmos tradução por conta própria:

"A nova geração, destinada a iniciar a era do progresso moral, distingue-se pela inteligência e pela razão adquiridas geralmente cedo, somadas ao senso inato a respeito do bem e das crenças espiritualistas, que é o sinal inconfundível de um certo grau de progresso anterior. Ela não se compõe exclusivamente de espíritos eminentemente superiores, mas daqueles que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e capaz de ajudar no andamento da regeneração".

Em nenhum momento Kardec rotulou tais espíritos deste ou daquele nome, se limitando apenas a dizer suas qualidades, verificando não os conceitos místicos de evolução espiritual, mas aspectos sociais de evolução moral e intelectual.

Além disso, os critérios de "índigo" e "cristais" são tão confusos que tais rótulos podem corresponder tanto a jovens cientistas como a membros de torcidas organizadas, ou intelectuais precoces e troleiros irresponsáveis, além do fato de que doenças como TDA (Transtorno de Déficit de Atenção), que se manifestam por surtos de desatenção de pessoas inteligentes mas sobrecarregadas, que às vezes as impelem a pequenas gafes ou trabalhos incompletos, como "qualidades positivas".

Portanto, não se trata de atribuir a uma "divindade interplanetária" chamada Kryon - figura tão fictícia e ridícula quanto o Xenu dos cientologistas - a evolução de determinadas pessoas, até porque muitas das qualidades das almas evoluídas podem ser obtidas através da educação e de um ambiente social saudável.

O mal-entendido do "movimento espírita" que atribui a Kardec a confirmação das "crianças astrais" (sejam "índigos", "cristais" ou, em outra variante, "estrelas") ignora que o pedagogo francês, pelo seu método de raciocínio científico e pela forma de analisar a humanidade, não iria discriminar em rótulos de que natureza for as gerações de pessoas diferenciadas moral e intelectualmente.

Portanto, é correto afirmar que Allan Kardec rejeitaria tais rótulos, em vez de confirmá-los, porque ele sabe muito bem que não é da natureza da humanidade tais rótulos, até pelo fato de que, separando as pessoas mais evoluídas em um rótulo, promove-se uma discriminação e, em contrapartida, se atribuirá às mesmas um caráter de anormalidade impróprios da natureza humana.

O "movimento espírita", que não aprecia individualidades e adota uma ideologia conservadora, é que costuma discriminar essas pessoas "especiais" tanto pelos critérios de agrupamentos quanto pela ideia "anormal" de evolução moral e intelectual (se bem que limitados ao juízo de valor religioso "espírita").

Na visão dos "espíritas", a definição de "crianças astrais" seria uma forma de juntar coletivamente, como que fazendo um gado bovino, de pessoas que não corresponderiam aos padrões de "normalidade" esperados pela sociedade convencional.

Quanto aos planetas chupões, Kardec nunca acreditou nisso e, em A Gênese, ele se limitava a admitir que a Terra sofreria uma evolução lenta e gradual da humanidade, sem haver qualquer fantasia de planeta "aspirador de pó" que "chupasse" a "gente ruim" da orbe terrestre. Kardec acreditava que a humanidade só se evoluiria pelo natural processo das evoluções sociais que conhecemos.

DIVALDO E SUAS DATAS CERTINHAS

O outro aspecto corresponde ao joguinho de falsa profecia, que é o de determinar datas certas como supostos marcos de evolução da humanidade, geralmente inspiradas em efemérides que o "movimento espírita" sente maior simpatia e apreço.

Sabe-se que o livro A Caminho da Luz, de Chico Xavier, ditado pelo esperto Emmanuel, anunciava "marcos" de evolução da Terra, como o surgimento do planeta, a vinda de Jesus ao mundo carnal terreno e uma "outra reunião" que, segundo conversas do anti-médium com Geraldo Lemos Neto, em 1986, se deu num sonho de 1969 tido após a notícia da viagem de astronautas à Lua, que daria numa "data-limite" para o "progresso da humanidade".

A tal "data-limite" escolhida foi 2019, e o "movimento espírita" já determinou "datas fixas" para supostas profecias que nunca ocorreram. Houve atribuições diversas, como 1952, 1970, 2000 e 2012, entre abordagens catastrofistas e outras igrejistas, que simplesmente não passaram de grandes bobagens para assustar crianças e adultos infantilizados.

Divaldo Franco parece estar tranquilo com seus desvarios de falso profeta, quando afirma, com discurso rebuscado e pseudo-racional, que a Terra passará por uma fase de regeneração em 2052 ou 2057, datas determinadas que o anti-médium baiano usou em causa própria.

Afinal, observemos os dois anos. 2052 é o ano dos cem anos da Mansão do Caminho, entidade fundada por Divaldo e seu parceiro, já falecido, Nilson Pereira. Já 2057 é alvo de bajulação, por significar os 200 anos do lançamento de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec.

Isso, no entanto, desmascara um Divaldo Franco que, feliz da vida, "consegue ser visto" por uma parcela da sociedade "espírita" como um "correto discípulo" de Allan Kardec, porque a determinação de datas fixas para qualquer fato é algo firmemente rejeitado pelo pedagogo francês.

Diz Kardec em A Gênese que "os espíritos realmente sábios nunca predizem nada com épocas determinadas", acrescentando que "se pode ter por certo que, quanto mais circunstanciadas as predições, mais elas são suspeitas".

Em O Livro dos Médiuns, Kardec expressou-se com muita clareza: "Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação".

Isso desmascarou Divaldo Franco de vez e fez com que sua roupagem de "kardecista autêntico", protegida por um ar professoral e falsamente científico, fosse derrubada por vez. O fato dele acreditar em "crianças astrais", planetas "aspiradores de pó" e datas fixas para qualquer coisa revela o quanto o anti-médium baiano é, a exemplo de Chico Xavier, um péssimo aluno do pedagogo francês.

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