domingo, 13 de dezembro de 2015

Três grandes razões para não levar 'Parnaso de Além-Túmulo' a sério


Para quem não entende ainda as irregularidades na "mediunidade" de Francisco Cândido Xavier, mostramos nesta postagem as razões da inutilidade e do desvalor da primeira suposta psicografia em livro feita pelo anti-médium mineiro, Parnaso de Além-Túmulo, de 1932.

Um dos "ovos da serpente" de tantas mistificações e deturpações que o "movimento espírita" fez contra a doutrina de Allan Kardec, constituindo nos inimigos internos alertados por Erasto em mensagens espirituais na França, o livro poético é, comprovadamente, uma coleção de pastiches literários.

Deixamos aqui três grandes motivos que mostram o quanto o livro não tem a menor serventia e, seguramente, merece o lixo das péssimas publicações literárias, e o fato de ninguém ter combatido o livro de forma firme e decidida permitiu que o mito do charlatão Chico Xavier crescesse em proporções altamente preocupantes.

Se este livro tivesse sido descartado e tomado como uma coleção deplorável de plágios literários, o mito de Chico Xavier talvez nem tivesse nascido. O católico paranormal pararia por aí, como um moleque de 22 anos que tentou enganar as pessoas com obras poéticas tidas como "espirituais" e que não condizem com os estilos dos autores originais.

Várias considerações confirmam, sem raivas nem rancores - qualidades negativas que os fanáticos seguidores de Chico Xavier tanto atribuem a quem reage contra o trabalho deixado pelo anti-médium - , mas com observação apurada e precisa, que o livro poético não tem a menor serventia e merece o esquecimento e o total desprezo dos que procuram obras literárias verdadeiras. Destacamos três:

1) O pastiche não consiste em apontar semelhanças, mas as diferenças que se chocam com as fontes originais.

A intenção do falso é sempre parecer verdadeiro. É evidente e indiscutível que o esforço de alguma falsificação seja de se assemelhar com o verdadeiro, de "lembrar o verdadeiro", de buscar a melhor semelhança possível com o autêntico, o genuíno. Portanto, não são as semelhanças que indicam que o que soa falso é ou não autêntico, mas as diferenças e os pontos sutis que destoam das fontes originais, quando o falso falha - e sempre falha - diante da reprodução das caraterísticas do original.

O não reconhecimento deste detalhe fez com que Parnaso de Além-Túmulo fosse tido como "verdadeiro" porque as pessoas só notaram as semelhanças, e não as diferenças, entre os estilos poéticos dos autores alegados e as obras que estes deixaram em vida.

2) O livro, tido como "obra acabada da espiritualidade superior", foi remendado cinco vezes.

Um aspecto que contraria, definitivamente, a ideia de que Parnaso de Além-Túmulo, como se poderia esperar se considerarmos a "figura evoluída" de Chico Xavier, seria uma "obra acabada" enviada por "benfeitores espirituais", é o fato de que o livro teve que ser reparado cinco vezes.

Não são revisões editoriais inocentes nem necessárias, e nem por motivações nobres. Umas revisões foram feitas porque críticos apontaram erros poéticos. outros porque acharam determinado poema muito agressivo, e havia também os acréscimos poéticos baseados em algum oportunismo. As revisões, além disso, foram muitas e extremas e a mais longa foi a última.

Cinco edições foram lançadas antes da "definitiva": a primeira em 1932, seguida das de 1935, 1939, 1944 e 1945. Para a última, de 1955, foi feito um longo trabalho de revisão, por dez anos, e o que mais causou escândalos e polêmicas pelo caráter longo e tendencioso do "trabalho".

Foi através da elaboração da sexta e última edição que Chico Xavier, em carta ao presidente da Federação "Espírita" Brasileira, Antônio Wantuil de Freitas, deixou vazar que o trabalho era feito por editores da FEB, o que confirma a "inconcebível" tese de Alceu Amoroso Lima que tanto ofende os "espíritas".

Em uma carta de 1947, Chico cita Wantuil e o editor da FEB, Luís da Costa Porto Carreiro Neto, como colaboradores da revisão de Parnaso de Além-Túmulo. O "médium" admite, nesta carta, "não ter tempo" para rever cuidadosamente o conteúdo do livro, e agradecia a Wantuil e Porto Carreiro por ajudarem na revisão do livro.

A elaboração da sexta edição também revelaria o escândalo do sobrinho de Chico Xavier, Amauri Xavier Pena, que foi convidado a participar da elaboração do volume, e depois denunciou a "mediunidade" do tio como uma fraude. Estranhamente, Amauri foi morto poucos anos depois, uma tragédia precoce até para os padrões biológicos de quem apenas bebia muito álcool. Há indícios de "queima-de-arquivo" ordenada pelos líderes da FEB, mas ninguém se interessa a investigar o caso.

3) A qualidade poética dos textos é sofrível e mostra o estilo pessoal de Chico Xavier.

Analisando cuidadosamente o conteúdo do livro poético, nota-se que, em que pese a tentativa de semelhança poética, principalmente na forma, dos poemas "espirituais" com o legado de seus supostos autores deixado em vida, nota-se uma queda de qualidade poética muito grande.

Em que pese a imitação de clichês estilísticos - como a postura abolicionista de Castro Alves e as lembranças da infância de Casimiro de Abreu - , há uma queda da expressão poética, que mostra ainda o caráter monotemático referente à religiosidade de Chico Xavier, praticamente uma obsessão em toda a sua obra "mediúnica".

Nota-se, por exemplo, que os poemas se tornam mais cansativos e sem musicalidade. Olavo Bilac "aparece" sem a métrica caraterística de seus poemas belamente escritos. Auta de Souza "deixa" de lado seu estilo ao mesmo tempo feminino e infantil de lirismo poético para "reaparecer" escrevendo versos iguais às famosas frases de Chico Xavier que hoje enfeitam as mídias sociais na Internet.

Décadas mais tarde, avaliando o caso dos pastiches poéticos de Chico Xavier, o jornalista da revista Realidade, Léo Gilson Ribeiro, fez um comentário bastante irônico sobre as supostas psicografias: "o espírito sobe, o talento desce".

CONCLUSÃO

Estas considerações mostram o quanto não se pode levar Parnaso de Além-Túmulo a sério. Não há como dar crédito usando o critério de bondade, porque isso não serve. Não dá para recorrer ao bom-mocismo para legitimar a fraude e a mentira, se elas se mostram evidentes diante da menor observação.

Se tivéssemos invalidado o livro poético de 1932, certamente o mito de Chico Xavier não teria crescido. Ele se limitaria a um católico paranormal que ficaria limitado às antologias das aberrações e dos fatos pitorescos. Não seria o mito difícil de ser derrubado de hoje, através de um lobby que envolve de líderes religiosos a oligarquias midiáticas.

Dessa forma, teríamos cortado o mal pela raiz e não precisaríamos recorrer aos esforços do argumento lógico e do bom senso para mostrar o quanto Chico Xavier nunca passou de um charlatão metido a "bonzinho", que fazia pastiches literários e outras fraudes acobertadas por estereótipos viscosos e melosos de "amor e bondade".

O Brasil seria outro sem Chico Xavier. Seria um país bem melhor.

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