sábado, 26 de dezembro de 2015

A incapacidade da religião "espírita" em resolver problemas


Por que o "espiritismo" brasileiro não consegue resolver problemas? Pessoas fazem tratamentos espirituais e só atraem infortúnios, mesmo que seja o "pagamento" de uma tragédia para "benefícios" concedidos (como, por exemplo, ganhar na loteria e, num passeio com o filho, ver ele ser morto num assalto).

Adepta da Teologia do Sofrimento - apesar dos palestrantes tolamente dizerem que "ninguém nasceu para sofrer", seu mestre Francisco Cândido Xavier apelava para "sofrermos em silêncio, sem queixumes" - , o "espiritismo" brasileiro não compreende a complexidade humana, as tensões cotidianas e as injustiças existentes.

Seu método de ação é o mais patético possível, com "caridades" - como concessão de donativos e cursos de alfabetização e formação profissional - que não interferem no sistema de desigualdades vigente, e ideologicamente a doutrina brasileira comprova que prefere passar por cima de problemas e pedir para que todos déssemos sorrisos amarelos para nossos próprios problemas.

Os "espíritas" acham que basta sorrir, ser bonzinho e tranquilo para ser beneficiado e ter sorte na vida. A pessoa sofre horrores, é acuada ou "sacrifica" algum ente querido pelos infortúnios da vida para ser "beneficiado" e todos temos que sorrir, dar as mãos e cantar canções piegas de louvor. Tudo parece simples e fácil quando se diz, mas na prática tudo se torna inútil.

O "espiritismo" teoriza demais o amor e a bondade de forma que só ele seja considerado a religião que trata com mais "imparcialidade" e "objetividade" os ideais de "amor e bondade". Como se teorizar demais tudo isso fosse um diferencial, o que é uma grande hipocrisia.

Perde-se tempo escrevendo poeminhas pedindo para darmos as mãos, ilustrando textos com flores, crianças sorridentes e tudo o mais - isso quando não se comete a besteira de envolver uma imagem de Chico Xavier com coraçõezinhos e jardins floridos - , enquanto as tensões da vida acontecem e as injustiças "devoram" até o que nos havia de essencialmente necessário.

Há disputas de espaços, em que pessoas sem a menor competência se tornam representantes e especialistas de uma causa que só defendem por oportunismo, seja para obter vantagens financeiras, seja para impressionar os outros.

O Brasil tornou-se um péssimo país para quem tem personalidade diferenciada, para quem não quer viver uma vida "qualquer nota", e pessoas que poderiam contribuir com seus potenciais são obrigadas a aguentar longas décadas de infortúnios e limitações pesadas, das quais só podem sair se submeterem ao jugo de alguém mais estúpido do que elas.

Fora do que "espíritas" escrevem das tintas de mel de suas canetas, dos dedos perfumados de flores campestres que digitam no computador e das bocas sorventes de açúcar, das quais saem sempre palavras dóceis e suaves, a vida mostra sua amargura e somos proibidos por essa religião de sequer reagirmos a tantos infortúnios.

É como se os "espíritas" usassem uma camiseta com estilo Johnny Walter, que diz: "Fique Calmo: Aguente qualquer tranco e SORRIA!". Só que a "bondosa" doutrina não consegue lidar com a complexidade humana e prefere que passemos por cima de nossos problemas sorrindo para nossos algozes.

Os "espíritas" prometem que os algozes "terão o que merecem". Mas daí para outra encarnação, dentro de uns cem anos. Até lá, o algoz já cometeu abusos e se vendeu como "exemplo a ser seguido" por seus semelhantes ou até por gerações posteriores, que confundem maldade com rebeldia.

E se os jovens algozes confundem maldade com rebeldia, o "espiritismo" confunde contestação com ódio. Os "espíritas" se limitam a dizer para que "não nos revoltemos", sem perceber se realmente estamos agindo com ódio ao questionar algum infortúnio ou desgraça.

Os "espíritas" não sabem que, muitas vezes, reagimos contra os infortúnios com senso de humor, que não deve ser confundido com resignação. E que muito da "resignação" que muitos de nós somos aconselhados a sentir é, na verdade, o acobertamento de nossa indignação natural.

Quantas vezes "engolimos sapos" e aceitamos os arbítrios de nossos algozes, forjando uma misericórdia tão falsa quanto forçada, e temos que reagir descontando nossas raivas contra alguém mais inocente?

Muitos dos assaltantes surgem porque eles, de origem pobre, não podem reagir contra os abusos que os mais ricos fazem contra eles. "Desestimulados" a reagir contra as injustiças sociais, eles acabam dirigindo sua revolta contra a classe média, roubando o que lhe é necessário e essencial.

Muitos dos estelionatários surgem diante de sérios infortúnios, porque pessoas que não conseguem obter um emprego pelo azar da vida - até um concurso público apresenta um programa de estudo e um formulário de questões "puxado demais" - veem na prática de golpes financeiros uma forma de ganhar dinheiro com facilidade.

Muitos dos homens que não conseguem obter mulheres de sua afinidade, mas atraem aquelas que não correspondem ao que eles necessitam para convívio são alvo de sua violência, porque eles querem impor às mulheres aquilo que elas não são, baseado no modelo ideal da mulher inacessível.

E isso quando não ocorrem atentados terroristas, vandalismos contra bens públicos, linchamentos que são estimulados pelo vácuo da Justiça na impunidade fácil, nas violências de torcedores em que o futebol é o único meio de entretenimento que lhes é disponível, e esses problemas não podem ser explicados somente por uma simples "falta de solidariedade".

Poucas pessoas obtém privilégios sem merecimento nem competência para tais. Acabam sendo donos de uma causa que não defendem com naturalidade, mas por oportunismo. Outras são privadas de ter até o que precisam, o que mais necessitam, e orações são feitas em vão para que nenhum benefício seja obtido, a não ser com algum prejuízo como brinde.

A realidade é complexa. O "espiritismo" brasileiro, por outro lado, é simplório. A doutrina brasileira não consegue entender o pensamento científico de Allan Kardec, alvo de intensa bajulação, e perde muito tempo pedindo para sermos bonzinhos, sorrirmos até quando sentimos dor intensa, a cantar louvores e tudo o mais.

Isso é grave, mas não é o "espiritismo" que será capaz de resolver se caso fizer algum esforço. Sua incompetência é extrema, sua incapacidade em resolver problemas humanos é notória e muito imensa, e um simples apelo de "bondade", "amor" e "compaixão" são muito inócuos para resolver injustiças e tensões.

Daí que, num "centro espírita" de Salvador, um membro do chamado "auxílio fraterno" não entendeu por que um assistido reclamava de não atrair mulheres de sua afinidade para a vida amorosa, e pensou que o cara era um homossexual, fazendo um juízo de valor equivocado e obrigando o pobre coitado a "sair do armário".

O que os "espíritas" querem é que deixemos tudo para lá e vamos sorrir. É lindo ver passarinhos e árvores com suas folhas mexidas pela brisa, mas não é para isso que viemos. Encarar tragédias e infortúnios como um fim em si mesmos, sofrer por sofrer e ainda agradecer ao Alto por isso é de uma leviandade cruel, e os "espíritas", com esse apelo, acabam se tornando "docilmente" sádicos.

É a Teologia do Sofrimento. Madre Teresa de Calcutá foi chamada de "anjo do inferno" ao deixar seus assistidos à mercê de graves sofrimentos, e ao dizer que o "sofrimento é presente de Deus". Mas aqui Chico Xavier é considerado "progressista" e "ativista" dizendo a mesma coisa.

O sado-masoquismo é uma prática constante no Brasil, e é lamentável que muitas pessoas ainda não abram mão disso, presas a paixões de cunho religioso. E é isso que faz o Brasil se emperrar, preso em preconceitos moralistas e religiosos que fazem com que problemas não sejam vistos como problemas, e, por isso, bloqueiam soluções que poderiam vir se incompetentes abrissem mão de seus privilégios e infortunados tenham algum benefício a mais em suas vidas.

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