sábado, 29 de agosto de 2015
Pensamento de Allan Kardec podia ser reformulado, mas não deturpado
O pensamento de Allan Kardec poderia ser questionado, contestado e reformulado? Sim, e essa ideia vem do próprio pedagogo francês, que, por mexer num assunto novo que era a temática espírita, ele próprio não a via como um assunto fechado e acabado.
Infelizmente, no Brasil, há uma facção do Espiritismo - e nem se fala das formas deturpadas - que, mesmo compreendendo corretamente o pensamento de Kardec, insiste numa "igreja kardeciana" e supõe que o assunto está "fechado" a novas questões e problemas.
Essa facção pode não ser chiquista ou divaldista, mas peca por distorcer, à sua maneira, o cientificismo kardeciano em um igrejismo de ideias científicas. O cuidado de evitar a religiosização das coisas deve ser feito, para evitar tamanhos equívocos.
No Rio de Janeiro, a mania de religiosizar as coisas permite que seus retrocessos prevaleçam, porque se endeusa o diploma de fulano, a visibilidade de sicrano e o poder mercadológico de beltrano. A gravidade disso foi questionada até pelo seriado South Park, que imaginou uma sociedade de religiões formadas a partir do ateísmo, que brigam entre si.
Kardec lidava com um assunto novo e, em seu tempo, a única tecnologia contemporânea que havia era a fotografia. E, mesmo assim, sem a linguagem dinâmica que temos hoje. O bonachão Kardec, bem humorado e gentil, teve sua imagem marcada para a posteridade como um homem supostamente sisudo. Mas era a regra que os fotógrafos da época determinavam para as pessoas.
As transformações da Comunicação só vieram para valer no século XX para cá. Fazer um selfie em 1857 era impossível. O que havia de próximo à Internet nos tempos de Kardec eram os correios e o noticiário da imprensa escrita. Kardec não sobreviveu à criação do fonógrafo, feita oito anos após o falecimento do pedagogo.
Isso condiz muito quanto ao sistema de conhecimentos de Allan Kardec ser contemporâneo, pertinente e em muitos aspectos atualíssimo. Mas é evidente que a abordagem era de acordo com a época, e Kardec previu isso quando estabeleceu o Controle Universal do Ensino dos Espíritos, que era uma tentativa de seu pensamento ser atualizado com o tempo.
Nesse Controle Universal, Kardec estabeleceu as diretrizes que pudessem aperfeiçoar as pesquisas espíritas. Ele não temia ser questionado. Aliás, tudo era uma questão de transmissão de ideias, de debate em prol do conhecimento e da honestidade da lógica, e era isso o que Kardec queria, sem se preocupar em fazer o seu nome pessoal em torno disso.
O grande problema é que o pensamento de Kardec foi traído, depois que ele faleceu. O debate que ele promovia foi eliminado, mesmo seus discípulos amenizaram o tom e distorceram os ensinamentos ao religiosismo para tentar agradar os católicos.
A Ciência Espírita se limitou a um objeto de bajulação, cuja prática nunca foi realmente feita como Kardec esperava que fosse. E, em vez de seu pensamento ser reformulado e atualizado com as transformações dos tempos, que não deveriam trair com a essência original de seu pensamento embora pudesse pôr à prova seus conceitos, houve tão somente uma deturpação, e das piores.
No Brasil, então, as ideias do deturpador Jean-Baptiste Roustaing prevaleceram, mas como é da mania de muitos brasileiros dissimular as coisas, tudo se rumou para que o roustanguismo seja feito enquanto seus seguidores fingem adotar "fidelidade absoluta" ao pensamento de Allan Kardec.
Com isso, o pensamento espírita e as questões acerca do mundo ficaram comprometidos. Tudo virou um igrejismo dos mais traiçoeiros, em que pretextos aparentemente bonitos como "amor", "caridade", "fraternidade", "solidariedade", "compaixão" e "luz" são usados para acobertar os piores erros, tão constrangedores e danosos para a apreciação adequada do Espiritismo.
A deturpação gerou um prejuízo enorme, que só beneficia quem lucra com os prejuízos alheios. E assim, os lideres "espíritas", com seu personalismo, seu pretenso bom-mocismo e sua verborragia, se autopromovem às custas de uma violenta deturpação da doutrina de Allan Kardec, enquanto fingem expressar respeito absoluto ao pensamento do pedagogo francês.
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