"#SOMOSTODOSEDUARDOCUNHA" - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e seus colegas do autoritário PMDB carioca.
O Rio de Janeiro passa por intensos retrocessos que causa muita preocupação para o país. Afinal, o eixo Rio-São Paulo é considerado referência para a prevalência de valores e práticas no país, e os retrocessos vividos pelos dois Estados, sobretudo o Rio, podem levar o Brasil a uma situação catastrófica.
É extremamente grave a atuação do PMDB carioca, tanto no âmbito regional, quanto no âmbito federal. Este último é bastante conhecido pela atuação arbitrária do deputado Eduardo Cunha que, como chefe da Câmara Federal, tem ainda o direito de exercer a Presidência da República se a titular Dilma Rousseff e seu vice Michel Temer estiverem fora do país ou sob algum impedimento.
Cunha é famoso por diversas pautas que comprometem ou simplesmente eliminam conquistas sociais. Vão desde a terceirização no mercado de trabalho, em que uma profissão retrocede aos padrões do começo da Revolução Industrial, quando pessoas trabalhavam com baixos salários e sem garantias sociais, até a redução da maioridade penal.
A redução, neste caso, praticamente inocenta os verdadeiros responsáveis pela criminalidade feita por adolescentes, que são os programas policialescos de televisão e apresentadores como José Luiz Datena e Marcelo Rezende, que "põem coisa" nas cabeças das crianças com seus "jornalísticos" transmitidos de tarde, abertamente expostos a todos, sobretudo o público infanto-juvenil.
Seria longo demais comentar uma a uma das propostas reacionárias e antissociais de Eduardo Cunha, mas elas seguem a pauta autoritária do PMDB carioca, um "frankenstein" partidário que mistura um brizolismo deturpado com um tucanato acanhado trazidos por "caciques" como os falecidos Marcello Alencar e Luiz Paulo Conde e o hoje oposicionista César Maia.
Eduardo Cunha começa a ser investigado pela sua participação no esquema de corrupção que envolve a Petrobras, vendo para si o começo de seu declínio político ele que, ligado a movimentos neo-pentecostais, é famoso por "governar com o estômago" suas "pautas-bombas" e por ser comparado pelos analistas políticos ao famoso senador estadunidense Joseph McCarthy (1908-1957).
De brevíssima mas bombástica trajetória, Joe McCarthy, como era conhecido, era um senador ultrarreacionário do Partido Republicano que se empenhava em promover as denúncias contra qualquer personalidade, que vivesse nos EUA, que se demonstrasse simpatizante do esquerdismo.
A partir de McCarthy, os especialistas passaram a denominar "macartismo" toda a fúria direitista de combater os movimentos sociais e defender práticas autoritárias que fossem feitas sob o pretexto de "manter a ordem" e "evitar a subversão".
McCarthy exagerou tanto no seu reacionarismo que nem a direita, sobretudo seus colegas de partido, aguentou ele, que depois sofreu um declínio político após sua breve campanha - que durou de 1950 a 1955 - e, já decadente, faleceu prematuramente, aos 49 anos.
No Brasil, Cunha já começa também a receber oposição de parte da direita, como as Organizações Globo, pelo fato do deputado, por representar grupos neo-pentecostais, estar, desta forma, próximo do "bispo" Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, dona da Rede Record, principal concorrente da Rede Globo de Televisão.
"MOBILIDADE URBANA" COM APARTHEID SOCIAL
O que muitos esquecem é que, se Eduardo Cunha sofre um ocaso político, sua metodologia autoritária é compartilhada até mesmo pelo discreto subsecretário de Planejamento da Prefeitura do Rio de Janeiro, Alexandre Sansão, que na ironia de seu sobrenome, não possui os "atributos bíblicos" do famoso guerreiro dos imaginários católico e protestante. Sansão é careca.
Responsável por implantar medidas impopulares e nocivas para o sistema de ônibus do Rio de Janeiro, como a pintura padronizada em diferentes empresas de ônibus - que confunde os passageiros e estimula a corrupção político-empresarial - e a dupla função do motorista-cobrador - causadora de muitos acidentes, dos quais a queda num viaduto de Bonsucesso foi o mais trágico, com oito mortos, motivado por uma briga por causa de um troco de passagem - , Sansão está desenvolvendo um projeto que pode representar um apartheid social para os cariocas.
Extinguindo longos trajetos de linhas e criando uma farra de "linhas alimentadoras" e "linhas troncais" Sansão promete, a partir de outubro, extinguir a ligação direta Zona Norte-Zona Sul, agravando ainda mais a discriminação das classes populares que terão dificuldades para se deslocarem dos subúrbios para as praias da Zona Sul.
Sansão já eliminou várias linhas tradicionais e bastante funcionais: 676 Méier / Penha, 910 Bananal / Madureira, 952 Penha / Praça Seca, entre tantas outras, substituídas por "alimentadoras" que apenas reproduzem parcialmente os itinerários, hoje "esquartejados", para forçar o uso do Bilhete Único, que nem sempre funciona e, numa cidade congestionada, se esgota facilmente em duas horas.
Ele pretende fazer isso com as linhas da Zona Sul com destino ao Centro e à Barra da Tijuca, o que irá aumentar ainda mais o apartheid, já que, a exemplo do que fez para "cobrir" as estações de BRT em Madureira e no Fundão, ele irá ceifar linhas de ônibus funcionais e com grande frota (cada uma com uma média de 25 ônibus) para substituir por corredores de BRT que só comportam 10% da demanda das linhas desativadas. Daí os BRTs superlotados.
Os moradores dos subúrbios não poderão mais ir às praias cariocas de maneira confortável, havendo ainda o grande risco do Bilhete Único se esgotar em pouco tempo. O deslocamento de Copacabana para o Centro é longo e com trânsito congestionado e, frequentemente, dura mais de duas horas, tempo de validade do cartão eletrônico. O passageiro chega ao Centro já sendo obrigado a pagar mais uma tarifa, na volta para o subúrbio.
Os pobres vão "torrar" seus salários, já baixos. Em certos casos, terão dificuldade até para se deslocarem para o Piscinão de Ramos, no desconforto da baldeação por ônibus. Terão que se contentar em fazer festas na laje e gastar dinheiro com piscinas em suas casas, e forjar um "clima de praia" em suas residências.
A medida torna-se um aberrante caso de higienização social - há até a desculpa de "evitar arrastões", como se não houvessem subúrbios em plena Zona Sul, como Rocinha e Pavãozinho - e mostra que o autoritarismo do PMDB carioca não se expressa só em Eduardo Cunha. Alexandre Sansão está lá, quieto, planejando seu higienismo social através de uma visão ditatorial de mobilidade urbana, com um apetite não muito diferente do presidente da Câmara dos Deputados.
O autoritarismo do PMDB carioca, de impor medidas que contrariam as leis e o interesse público - só a pintura padronizada nas empresas de ônibus vai contra artigos da Lei de Licitações, do Código de Defesa do Consumidor e até da Constituição Federal - e depois mentir que age a favor dos mesmos, é uma praxe em todo o grupo político de Eduardo Paes.
É um autoritarismo que não se observa somente em "pautas-bombas", mas também na especulação imobiliária que derruba áreas de proteção ambiental e patrimonial para construir pomposos condomínios de luxo ou hotéis imponentes, deixando as populações desalojadas à própria sorte e dando a elas indenizações precárias e residências desconfortáveis.
CIDADE SEM LEI
Pode ser Eduardo Cunha, mas também pode ser Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão. Como são também Carlos Roberto Osório e o citado Alexandre Sansão. É usar o poder acima da responsabilidade, mandar usando a desculpa da disciplina e da organização, mas deixando as coisas se desorganizarem e criarem desordens piores do que aquelas que eles dizem combater.
É o caso do secretário de Segurança Pública da Prefeitura do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, que prometeu "revolucionar a segurança" com as tais Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Sem adotar um projeto que combata de verdade a criminalidade, a UPP, na verdade guaritas policiais instaladas na entrada de favelas, demonstraram seu grande fracasso e grave risco.
As áreas "pacificadas" tornaram-se, nos últimos meses, cenários de muita violência, com policiais sendo assassinados e cidadãos também, estes geralmente por balas perdidas. O lado dramático é que o "grosso" da violência ocorre nos complexos do Alemão e da Maré, localizados no entorno de Bonsucesso e Ramos, no caminho entre o Aeroporto Tom Jobim (antigo Galeão) e o Centro.
Um grande campus universitário se encontra na área, assim como um viaduto direto entre o Centro carioca e a Baixada Fluminense, a Linha Vermelha, que frequentemente é fechada por causa de ações do crime organizado, com bandidos tomando a área, ou devido a tiroteios entre estes e os policiais que tentam reprimir tais ações.
O Rio de Janeiro tornou-se uma cidade sem lei, decadente, que pode fazer ruir todas as tentativas feitas para ela se tornar uma cidade moderna e justa. A antiga capital do país chegou perto disso, daí o título de Cidade Maravilhosa que se popularizou em 1958, quando o município tornou-se o símbolo dos "Anos Dourados", nome dado a uma onda de otimismos e esperanças de progresso no Brasil.
O Rio de Janeiro só sofreu tardiamente com a perda de condição de capital do país, em 1960. Da mesma forma que sua vizinha Niterói também perdeu, de forma tardia, a condição de capital do Estado do Rio de Janeiro, "roubada" pela ex-Cidade Maravilhosa devido a manobras políticas da ditadura militar e seus aliados civis.
Dessa forma, o Rio de Janeiro vê o extremo de uma decadência que já acontecia há 30 anos, com o crescimento do crime organizado e o caos urbano, hoje totalmente fora de controle. E Niterói se comporta como se fosse uma cidade do interior perdida no Amapá, de tão perdida e autista que faz muitos se esquecerem que ela um dia foi capital de Estado.
A decadência do Rio de Janeiro, que fecha seus espaços culturais e quer transformar o Centro numa paródia sombria de Barcelona, com praças imponentes que viram potenciais redutos de usuários de crack (que na vizinha Niterói já se acomodam na Praia João Caetano, antiga Praia das Flechas), faz sentido até na trilha sonora dos "bons momentos" que hoje vive a cidade e sua região metropolitana.
Se em 1958 o ritmo mais badalado no Rio de Janeiro era a Bossa Nova de riquíssima combinação de samba, baião, música erudita e jazz, hoje o ritmo é o "funk", um engodo sonoro em que não se permite a atuação do músico instrumentista nem do compositor de boas melodias, e, com todo o seu discurso "socializante" em "prol da população pobre e excluída", revela um perverso esquema de exploração profissional de jovens da periferia, a serviço de valores que escondem uma visão caricatural e pejorativa de negros, mulheres e dos favelados em geral.
Se o "funk carioca" é higienista e Eduardo Cunha leva isso às últimas consequências, embora o "discreto" Alexandre Sansão e sua "racionalidade" na mobilidade urbana, restrita à realidade digital de jogos virtuais e computação gráfica, desse sua contribuição dificultando a população da Zona Norte de passearem pela Zona Sul, o Rio de Janeiro se encontra numa decadência que poderá trazer efeitos catastróficos para o país.
E AS PESSOAS "FELIZES DEMAIS", CONVERSANDO BOBAGENS E BRINCANDO COM WHATSAPP
Afinal, aparentemente muitas pessoas estão indiferentes a essa situação, como um doente de câncer que só sabe da doença após um exame médico. Percorrendo praias e ruas do Grande Rio, pessoas parecem "felizes demais" e "bem de vida" jogando conversa fora com bobagens ou brincando com o smartphone curtindo tolices no WhatsApp.
Essa "felicidade" perigosa, a "paz sem voz" da música de O Rappa, é ainda reforçada pela aparente "tranquilidade" do futebol carioca, cujos quatro times (Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo) parecem "capazes" de superar suas crises, com uma facilidade que não corresponde à realidade carioca, cujo caos está difícil de se resolver e até se agrava pelas decisões das autoridades.
Chega a ser assustador que pessoas se recusem a enfrentar os problemas e o fanatismo do futebol - em que o esporte se torna praticamente uma "moeda corrente" exigida nas relações sociais - torna-se o ópio de cariocas e fluminenses para abafar os problemas e aceitar os arbítrios das autoridades, da mídia e do mercado, vistos como se fossem "decisões divinas".
A situação é tão grave que muitos cariocas, quando conhecem alguém, perguntam se ela torce por algum dos times cariocas antes de perguntar o nome. E a submissão as "decisões superiores" da política, da mídia e do mercado chegam a gerar uma anedota, em que um carioca atingido por fezes de pombo é capaz de agradecê-lo se a ave tiver diploma de doutorado e grande prestígio na mídia.
É terrível. E o pior é que o conformismo bovino dos cariocas que não sabem os problemas em sua volta, mesmo com gente atingida por bueiros explosivos, balas perdidas ou ônibus desgovernados - fora ainda a ação de sociopatas na Internet a defender tudo que é "decidido do alto" no Rio - pode iludir o resto do país.
Afinal, mesmo com o despertar que começa a haver no Norte e Nordeste, em que mesmo o recreio debiloide da axé-music, do "forró eletrônico" e do tecnobrega começam a ser duramente contestados pela sociedade, ainda há o risco do Rio de Janeiro ser ainda considerado "referência" para a implantação de valores a prevalecerem na vida social, cultural e administrativa.
Daí os ônibus de pintura padronizada que foram empurrados até para Recife. Ou os derivados caricatos que se faz, na Bahia e em Minas Gerais, do "funk carioca". Sem falar das decisões de Eduardo Cunha, ele mesmo controlando o Legislativo federal com o mesmo apetite autoritário com que o grupo de seu amigo Eduardo Paes comanda o Estado do Rio de Janeiro.
Isso pode trazer efeitos devastadores para o Brasil. Talvez seja hora das pessoas evitarem boicotar os textos "desagradáveis" que encontram na Internet e parassem de ser "felizes demais" e deixassem a brincadeira do WhatsApp para encarar os problemas de frente e sem medo.
Afinal, de que adianta Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo poderem dar a volta por cima - às vezes de forma corrupta - nos campeonatos de futebol se o Rio de Janeiro sofre o BRT do retrocesso sem freio e o bonde da violência sem controle? A condenação de Eduardo Cunha, após as investigações, apesar de essencial para o país, é apenas uma pequena parte do que se deve fazer.
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