sábado, 15 de agosto de 2015
O "espiritismo" que pede perdão, mas não perdoa
O perdão é a melhor vingança? Ou não seria a vingança o melhor perdão? Na ideologia "espírita", os mais retrógrados e até cruéis têm um prazo de noventa anos para propagar seus erros, ou, quando muito, promoverem seus graves erros como "arroubos de juventude", sempre parecendo bem-sucedidos em relação às suas vítimas.
Já as vítimas são sempre vistas como "culpadas" por alguma falta passada, e por isso sofrem de maneira prolongada, "de acordo com seu merecimento". O dedo acusador "espírita", doutrina brasileira que se autoproclama "rigorosamente fiel a Allan Kardec", revela esse aberrante aspecto herdado pelo "renegado" Jean-Baptiste Roustaing.
Afinal, está em Os Quatro Evangelhos que a encarnação humana é um processo de castigo e sofrimento. Isso contraria Allan Kardec, que sempre viu na vida material um processo de aprendizado e bom proveito do espírito humano.
Já a ideologia de Francisco Cândido Xavier, que orienta o "espiritismo" brasileiro, segue esse ideal roustanguista, de forma tão explícita quanto hipócrita, já que a herança de Roustaing não é assumida. Falam tanto que são fiéis a Allan Kardec, mas quando se fala em encarnação, a visão que defendem é a roustanguista.
O perdão que o "espiritismo" pede é para os outros. A "ética dos outros" é um dos pilares do "movimento espírita", que pedem para que outros não julguem, apenas aceitem, compreendam e perdoem. Mas quando é do lado dos "espíritas", isso não acontece.
É o que se vê nos tratamentos espirituais, que só trazem o benefício "seletivo" por aqueles que aceitam as imposições da vida. Se a pessoa é mais conservadora, religiosista e tudo o mais, o tratamento tem efeito positivo. Mas se o indivíduo é mais diferenciado, o tratamento pode se revelar de um preocupante mau agouro.
Sem se decidirem que avaliação ou definição atribuem para espíritos de personalidade diferenciada - só a discriminatória ideia de "crianças-índigo" pode envolver de jovens cientistas a traficantes de drogas - , os "espíritas" lançam seus dedos acusadores contra aqueles que pedem justamente auxílio e perdão.
Tentam atribuir a vidas passadas o sofrimento das pessoas, e se limitam a recomendá-las "paciência" e obediência aos "desígnios de Deus". Resta ao sofredor abrir mão de seus princípios e se reduzir a mais um "carneiro" no rebanho, de preferência tendo que encarar as arbitrariedades alheias e correr o risco de sofrer situações vexaminosas e vexatórias.
Chico Xavier chegou a dizer que o "sofrimento é lindo", e falava coisas do tipo "enquanto você está no auge do pior infortúnio, os pássaros cantam como sempre cantaram nos mais belos dias de Sol". Declaração do mais profundo cinismo roustanguista, mas também um plágio do Amigo da Onça das tirinhas brasileiras.
As acusações dos "sábios espíritas", que não entendem de Ciência Espírita e suas ideias sobre mediunidade e vida espiritual não são mais do que pura especulação, frequentemente chegam à arrogância de atribuir às dificuldades insuperáveis do sofredor a uma suposta reação ao mal que dizem que ele teria cometido em algum momento do Império Romano.
Se os pássaros continuam cantando, se o curso dos rios continua como antes e o céu está bonito, coisas assim não são para serem ditas para quem sofre e pede socorro. Isso é uma grande falta de respeito às pessoas, que têm o direito de reagir às suas angústias e aos seus piores infortúnios. É o instinto de sobrevivência.
Querer que as pessoas não reclamem, que sofram "amando", que não questionem e só "confiem", esperando com overdose de preces por uma bonança que não virá, talvez nem postumamente - apesar do risinho otimismo dos "espíritas" sobre a "vida futura" - , tudo isso é uma grande manifestação de desrespeito e revela um não-perdão dos "espíritas".
A moral do "movimento espírita", de raiz roustanguista (por mais não-assumida que seja), tem esse aspecto sutilmente vingativo. O sofredor foi um "romano cruel" no passado, terá que rezar demais e ser beato nos ritos e eventos "espíritas" para sair dessa, pelo menos parcialmente.
Geralmente o sofredor nem sai de seus infortúnios. Alguns estragos ocorridos são irreparáveis e tudo que ele tem que fazer é orar, orar, orar, ir para "centro espírita" assistir às doutrinárias, ouvir os maçantes discursos de Divaldo Franco, e isso quando não se recomendam os venenosos livros de Emmanuel com supostas dicas para uma "vida melhor".
Aliás, se ler os livros de Emmanuel, é certo que piores infortúnios virão. A maioria das doutrinárias chega a ter efeito neutro, se bem que elas influem nos bloqueios ao emprego, à vida amorosa e outros âmbitos, só permitindo que se faça o "jogo do sistema": abrir mão de seus princípios e seus potenciais e "viver como se pode", obedecendo à imposição das situações.
Mas, com os livros do jesuíta, a coisa vai sempre pior, pois constantemente surgem situações humilhantes, encrencas ameaçadoras, infortúnios ainda mais pesados. Isso para dar um susto e criar insegurança ao sofredor, que já nem mais é empurrado para ser um beato "espírita", ele acaba se tornando ESCRAVO mesmo da doutrina igrejista.
Pois é através dos livros de Emmanuel que o "espiritismo" brasileiro mostra o quanto pede o perdão dos outros, mas não faz a sua parte. Pede para que ninguém se vingue, mas faz a sua vingança. São livros mal escritos, cheios de erros de abordagens, e cuja leitura dá mais azar do que passar debaixo de uma escada ou quebrar um espelho num banheiro.
Isso tem a ver com a herança roustanguista de que a encarnação só serve para castigo e sofrimento. Alguns "espíritas" até defendem isso sutilmente, com aquela maneira "sem querer querendo" que acontece muito no Brasil, de pessoas defendendo as piores posições mas tentando desmenti-las sempre. No Brasil, o malabarismo das palavras é a arma dos algozes e dos corruptos.
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