domingo, 9 de agosto de 2015
Teologia do Sofrimento, defendida por Chico Xavier, é um conceito católico
O que é a Teologia do Sofrimento, defendida pelas ideias "espíritas" de Francisco Cândido Xavier? Esse conceito, na verdade, é mais um dos inúmeros valores católicos que o anti-médium mineiro inseriu na Doutrina Espírita feita no Brasil, transformando-a num movimento igrejista que rompeu com o pensamento original de Allan Kardec.
Em que consiste a Teologia do Sofrimento? É a de que os sofrimentos humanos são defendidos como instrumentos de aperfeiçoamento individual, através do "remédio" da fé cristã, sendo portanto um motivo para a devoção religiosa.
Esta ideologia traz como exemplo o martírio de Jesus de Nazaré, transformado no mítico Jesus Cristo dos católicos e, depois, de seus dissidentes (como se observa, no Brasil, os neo-pentecostais e os "espíritas"). Muito desse sofrimento de Jesus era pura ficção, já a partir do próprio motivo da condenação que ele recebeu.
Quem entende o Jesus histórico sabe que ele não foi um religioso, e sim um ativista. Foi condenado porque, assim que visitava as casas dos judeus, ele conversava muito e expunha sua refinadíssima inteligência, o que significa que ele esclarecia as pessoas sobre muitas coisas, principalmente sobre o cenário político da época.
O que isso significa é que Jesus de Nazaré foi condenado porque ele ameaçava o poder do Império Romano, já que, de conversa em conversa, ele, na medida em que esclarecia as pessoas, dava condições para elas questionarem o poder político exercido sobre elas e assim representar um potencial movimento para derrubada do poder dos aristocratas romanos.
No entanto, a Igreja Católica, que teria se apropriado do Cristianismo primitivo por algum oportunismo, apesar de não ter manifestado intolerância contra este e outros movimentos espiritualistas, tentou nos fazer crer que Jesus foi condenado porque era bonzinho.
O fictício julgamento de Pôncio Pilatos que, na verdade, como todo político da época, condenava sumariamente, é que foi feito para o sabor moralista dos medievais, dentro de uma tendência que, a partir do século II, deturpou o Cristianismo primitivo substituindo-o por um Catolicismo militaresco, ritualista e dogmatista. Com o "julgamento", os judeus eram culpados pela condenação dada a Jesus.
O SOFRIMENTO
O "sofrimento" defendido por essa derivação teológica é algo muito estranho que serve apenas para alimentar a devoção religiosa. É como se os médicos da rede privada causassem infecção hospitalar de propósito para os pacientes ficarem mais doentes e eles atraíssem mais gente para seu atendimento e vinculo, que traria mais lucro para eles.
Dessa forma, usando o mito do martírio de Jesus, o sofrimento é visto como uma "doença-remédio" para as pessoas buscarem sua "superação" pela devoção na fé. O sofrimento é, assim, rígido e doloroso, empurrando a pessoa a um receituário rigoroso de orações, missas e outras apelações religiosas.
No Catolicismo, tem esse roteiro. Preces, terços, leituras da Bíblia, missas, tudo isso depois de uma consulta no confessionário, em uma igreja da escolha de alguém. Mas, no "espiritismo" brasileiro, isso também tem seus equivalentes, por mais que o cientificismo de Allan Kardec seja uma embalagem para esconder o conteúdo católico desta doutrina.
O "espiritismo", através de Chico Xavier, até exagera na dose. Se o Catolicismo valoriza o sofrimento apenas como um meio de aprender o caminho da salvação pela fé, Chico chega a recomendar que "soframos amando", pregando um verdadeiro masoquismo existencial.
Dessa maneira, o sofrimento deixa de ser um instrumento de busca da salvação para ser um fim em si mesmo, já que o "espiritismo" trata a vida na Terra como se fosse uma penitenciária e a encarnação humana uma espécie de castigo, um "acerto de contas" com as ditas "altas esferas espirituais".
A coisa se dá de tal maneira que o "espiritismo" leva às últimas consequências a Teologia do Sofrimento defendida discreta e moderadamente pelos católicos. Fica a impressão de que os "espíritas", que se dizem tão zelosos pela fidelidade a Allan Kardec, querem ser mais católicos do que os próprios católicos.
Os católicos não ficam pregando o masoquismo existencial, que vê o sofrimento como um fim em si mesmo que é defendido em nome de recompensas póstumas, atribuídas à "vida futura". Eles apenas se referem ao sofrimento como um mal transitório que a devoção da fé humana poderá eliminar.
No "espiritismo", o sofrimento é defendido em doses exageradas. Quanto mais sofrer, mais "bênçãos" terá na "vida futura". Não é apenas um sofrimento transitório, ele pode atravessar uma ou duas encarnações, e não adianta recorrer a tratamentos espirituais. Eles só fazem piorar as coisas, somando os problemas existentes a coisas bem piores.
O "espiritismo", agindo desse modo, empurra os seguidores a uma devoção ainda mais carregada que a dos católicos. Estes não veem no sofrimento como um flagelo prolongado e permanente, e a primeira assistência religiosa pode ser eficaz para a emancipação do sofredor.
Já o "espiritismo" não. O sofrimento é prolongado, ou então alguns motivos de sofrimento são substituídos ou acrescidos de outros, e a pessoa precisa de uma overdose de devoção religiosa para que os motivos do sofrimento sejam parcialmente resolvidos.
Isso significa que o "espiritismo" oferece mais dificuldades às pessoas para superar seus sofrimentos e dificuldades, não raro estando sujeitas a situações vexaminosas ou ameaçadoras, das quais as pessoas geralmente saem com arranhões, e às custas de muito medo, pavor, depressão e irritação. Isso quando não morre por causa desses infortúnios.
E o "espiritismo" quer nos fazer crer que o sofrimento "é lindo", porque falar é fácil. A tão aclamada superação prometida pela doutrina nunca é atingida integralmente, as bênçãos vêm acompanhadas de algum suplício. Na Teologia do Sofrimento, a emenda dos "espíritas" saiu muito pior do que o soneto dos católicos.
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