Que "coração do mundo" é esse? Que Brasil que irá comandar o mundo sem dar investimentos à Educação? Claro, os "espíritas" acreditam que só a prece irá resolver a situação e que, num passe de mágica, os professores serão o farol de condução da humanidade planetária para uma era de prosperidade e solidariedade.
Recentemente, professores protestavam pacificamente pedindo melhores condições salariais e profissionais, na "evoluída" cidade de Curitiba onde ultimamente machistas truculentos fuzilavam ex-namoradas na rua em plena luz do dia, e a polícia do governador paranaense Beto Richa e seu secretário de Segurança Pública, Fernando Francischini (espécie de Bolsonaro local) deu a sua "recepção" aos grevistas.
Professores foram espancados e feridos, vários com sangramentos no rosto ou em outras partes do corpo. Tropas de choque intimidavam pessoas. E Beto Richa ainda usou a desculpa de que haviam black blocs entre os manifestantes para justificar tamanha truculência.
Beto Richa é ligado ao PSDB, partido que, no plano nacional, é ligado a uma mentalidade tecnocrática aliada a uma vocação autoritária de impor medidas sem consultar a sociedade e causando transtornos à população. É o partido de Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin, este ligado à seita neo-medieval Opus Dei.
No plano estadual, Richa é ligado tanto ao pai, José Richa, afilhado político de Jaime Lerner, quando ao chefão do PSDB local, o hoje senador Álvaro Dias. Vale lembrar que os integrantes do PSDB e seus seguidores e simpatizantes são conhecidos como "tucanos", porque a conhecida ave brasileira é o símbolo do partido.
Jaime Lerner é uma das pessoas consideradas "iluminadas" dentro de um país que considera Francisco Cândido Xavier seu "deus". Portanto, faz parte daquele grupo seleto de personalidades às quais possuem uma reputação alta e inabalável sob o pior escândalo, embora não tivessem méritos para tanto. Vide outros exemplos de "gente iluminada" como Luciano Huck, Neymar, Ivete Sangalo ou instituições como a Rede Globo e a rádio 89 FM, de São Paulo. E tem também o Divaldo Franco.
Lerner foi um arquiteto formado pela UFPR na época da gestão do ultraconservador Flávio Suplicy de Lacerda, o mesmo que, como ministro da Educação da ditadura, durante o governo do general Castelo Branco, quis privatizar as universidades públicas e criar uma entidade substituta da União Nacional dos Estudantes (UNE) vinculada ao Ministério da Educação ditatorial.
Como político, Lerner se filiou à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o partido mandão da ditadura militar, e iniciou seu processo de mobilidade urbana, tido como "progressista", através de um modelo tecnocrático que só os incautos consideram "democrático" e "eficiente".
Lerner apadrinhou politicamente José Richa, já falecido, que também se formou na UFPR, mas na ditadura tinha domicílio eleitoral em Londrina e fez sua carreira política no MDB (Movimento Democrático Brasileiro, atual PMDB). Em Curitiba, se aliou a Jaime Lerner e mais tarde estimulou um de seus filhos, Carlos Alberto Richa, a ser seu herdeiro político. José Richa encerrou sua vida filiado ao PSDB do qual faz parte seu filho.
O "progressista" Lerner também fez outras medidas nocivas como a pintura padronizada nos ônibus, que confunde as pessoas e acoberta a corrupção das empresas "licitadas". Também era um ávido defensor da redução de frotas em circulação, aumentando o tempo de espera nos pontos de ônibus e provocando superlotação até em BRTs, Implantou bancos sem o menor conforto, e outros transtornos que faziam os cidadãos preferirem seus automóveis, e, com isso, mais congestionamentos.
E esse padrão de mobilidade urbana, implantado em 1974 e "atualizado" em 1982, é visto como "novidade" em cidades como o Rio de Janeiro, Recife, Florianópolis, Niterói, como não bastasse os esforços para ele continuar vigente em São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Vitória e São Luís.
Fazer o quê? São grupos políticos que pensam como se ainda estivessem nos tempos do "milagre brasileiro". No Rio de Janeiro, há o grupo político de Eduardo Paes, Sérgio Cabral Filho e Luiz Fernando Pezão que pensam a mesma coisa dos paranaenses e fizeram das suas ao reprimir protestos de trabalhadores.
O próprio processo de repressão aos professores lembra muito o que "titio Flávio" fazia há mais de 45 anos, diante dos primeiros protestos estudantis que aconteceram no Brasil ditatorial, em 1966, que geraram mortos, feridos e detidos. Infelizmente, para políticos isolados em seus gabinetes, custa a valer a realidade de que os tempos mudaram e escapam dos limites do PowerPoint e do Photoshop.
Que Brasil educacional é esse, que trata os professores com essa violência inadmissível? E que futuro teremos quando professores não podem mais se manifestar, sob pena de saírem feridos ou presos? Professores que acabam tendo fichas policiais preenchidas só porque protestaram para pedir melhores condições e foram detidos por policiais truculentos.
Será que eles teriam que orar em silêncio e fazer malabarismos para que seus salários apertados rendam um equilibrado gasto de cestas básicas para suas famílias, escolas para os filhos, pagamento regular das contas, algum conforto mínimo no lar e material educativo para montarem seus programas de ensino?
A fantasia "espírita" aconselha que as pessoas sofram caladas e orem para as autoridades que são capazes de reprimir com violência protestos pacíficos de trabalhadores. Fica muito fácil, com seus delírios supostamente fraternais, pedir para os professores não protestarem e a sociedade brasileira orasse pelas autoridades paranaenses, pedindo "luz" para eles conduzirem a sociedade da "melhor maneira", com "paz" e "respeito ao próximo".
E onde está o "novo Emmanuel" nessa parada? Já que sabemos que Guilherme Romano não é o "novo Emmanuel", o que o rapaz que seria o jesuíta reencarnado, tido como "futuro grande educador", diria para os professores que foram vítimas da repressão policial? Que lamenta pela ação de "irmãozinhos sofredores" e por isso pede para que a classe aguentasse o problema com "resignação" e "abnegação"?
Falar é muito fácil, o problema é que a religião não consegue compreender a complexidade social em que vivemos hoje. Nem mesmo a religião "espírita", que se arroga em estar acima de outras seitas e se autoproclama a "vanguarda das crenças espiritualistas".
Só que não dá para orar em silêncio num mundo de tensões e injustiças, e num país em que o arbítrio político e a corrupção são o receituário de autoridades que se acham com "poderes divinos" para fazer o que querem com a população. É preciso protestar com a voz enérgica dos indignados, algo que parece "violento e doloroso" para os padrões "espíritas", mas é o meio mais eficaz de combater injustiças.
Dizendo assim, soa duro para os "espíritas". Mas eles mesmos nunca ofereceram respostas eficientes para os problemas que enfrenta nossa sociedade, com suas injustiças graves e suas tensões mais complexas. Sobretudo quando o Brasil sofre uma crise que torna cada vez mais distante o sonho de Chico Xavier em vê-lo o "coração do mundo".
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