quarta-feira, 29 de abril de 2015

"Profecia" da "Data-Limite" é uma imitação do Apocalipse bíblico

A COLINA DE MEGGIDO, EM ISRAEL - Local onde os católicos acreditam de onde começará o "fim do mundo".

O que foi o sonho de Francisco Cândido Xavier? Um relato científico misturado com geopolítica? Nada disso. Foi um sonho daqueles que têm enquanto dormem, e que no fundo pouco tem a dizer sobre o futuro da humanidade.

Isso é tão certo que, se deixarmos que todos os sonhos que os cidadãos têm durante o sono tenham algum sentido "profético", seria o caos. Se o próprio sonho de Chico Xavier, com seus aberrantes erros de abordagens sociológicas e geológicas, causa uma bagunça nas interpretações futuras, quanto mais se a coisa se tornar banal.

Pois o que se observa, com atenção redobrada, é que o sonho que Chico Xavier teve em 1969, pouco depois da viagem de um grupo de astronautas estadunidenses à Lua, no 20 de julho daquele ano, é, na verdade, uma cópia do livro do Apocalipse, considerado o último livro da Bíblia, presente no Novo Testamento, conhecido como "Apocalipse de João".

O João que teria escrito esse livro, não foi o João Batista, primo de Jesus, nem o João Evangelista, um dos autores do mesmo volume bíblico, mas João de Patmos, um suposto profeta que teria vivido em Patmos, pequena ilha da Grécia, próxima à Turquia, que teria sido tanto lugar de exílio quanto local de banimento, neste caso por imposição do Império Romano.

A palavra "apocalipse" teria surgido do grego "apokálypsis", derivado da junção das duas palavras "apo", que significa "retirar", e "kalumna", que quer dizer "véu". O significado da palavra "apocalipse" é "revelação", e, segundo católicos e judaicos, corresponde aos segredos da Terra que teriam sido confiados a um profeta.

Algumas fontes atribuem a profecia do "apocalipse" ao próprio Jesus Cristo, que no caso teria ditado as palavras a João de Patmos. Em todo o caso, a narrativa corresponde a uma batalha final prevista para acontecer na colina de Meggido (Har Meggido, em hebraico), em Israel. Uma tradução malfeita, porém, fez popularizar uma corruptela, Armageddon, como referência a essa batalha.

Atualmente, Israel é um dos países envolvidos na região altamente conflituosa chamada Oriente Médio, que inclui países localizados no Centro da Ásia e no Norte da África. É um país protegido dos EUA, e os conflitos entre israelenses e palestinos revelam traços remanescentes da Guerra Fria, quando os EUA e a URSS polarizavam a disputa pela supremacia mundial.

Nessas regiões, ocorrem intensas atividades terroristas, com atentados que dizimam edifícios, residências e locais públicos, mesmo um ponto de ônibus. O fundamentalismo islâmico, que atualmente se manifesta por grupos como o Estado Islâmico, está por trás de muitos atentados que causaram várias mortes, inclusive de autoridades.

O QUE DIZ O CATÓLICO CHICO XAVIER

O sonho de Chico Xavier ainda se deu em 1969, durante a vigência da Guerra Fria, oficialmente declarada extinta em 1990 com o fim da URSS e do comunismo de orientação majoritariamente stalinista (correspondente ao ditador russo, Josef Stalin, que deturpou os conceitos de Karl Marx e mesmo de seu antigo mestre Vladimir Lênin) no Leste Europeu.

Embora Chico Xavier usasse um discurso "pacifista", alegando que se o "velho mundo" - EUA, Canadá, Europa, Oriente Médio, Ásia e parte da Oceania - evitasse as tensões internacionais, ele seria poupado de se tornar "área inabitável". Mas o anti-médium mineiro sabia que essa tendência era difícil, tanto naquela época quanto hoje, apesar das diferenças de contextos.

Diante disso, Chico Xavier, que no fundo sempre foi um católico fervoroso, rezador de terços, adorador de imagens de santos e devoto dos dogmas da Igreja Católica a ponto de evocar para seu convívio o espírito do antigo jesuíta Manuel da Nóbrega, rebatizado de Emmanuel, retirou suas "profecias" no livro do Apocalipse, de alguma forma ou de outra.

Nos devaneios de Chico Xavier, a Natureza - alegoria "científica" do "Deus punitivo" bíblico - castigaria os países que insistissem nas suas tensões e conflitos. Era uma espécie de "praga moralista" que atribuiria às catástrofes naturais a tarefa de liquidar com o "velho mundo", reagindo à violência cometida pelos homens.

Apesar de ser um livro do Novo Testamento, o Apocalipse de João retoma a narrativa belicosa do Velho Testamento, do qual se observam episódios, fantasiosos, surreais ou supostamente verídicos, de genocídios e guerras, dos quais inspirou-se o caráter sanguinário e punitivo do Catolicismo da Idade Média.

O Catolicismo medieval foi base do "espiritismo" brasileiro, mais do que qualquer vírgula escrita por Allan Kardec. Chegando ao Brasil através de Jean-Baptiste Roustaing, hoje renegado pelos "espíritas", o "espiritismo" catolicizado se desenvolveu no Brasil através do enérgico moralismo trazido pelos volumes de Os Quatro Evangelhos de Roustaing.

Nele são vistos valores punitivos e moralistas típicos do Velho Testamento, apesar do livro roustanguiano ter sido feito sob a suposta revelação psicográfica dos espíritos dos quatro evangelistas, João, Lucas, Mateus e Marcos, autores do Novo Testamento, que enfatizava uma narrativa mais "pacifista".

Através deles, Chico Xavier teria de alguma forma formulado seu julgamento sobre o futuro da humanidade terrestre. Juntando conhecimentos tortos sobre geopolítica e geologia, já que ele, embora seja um habituado leitor de livros, não era muito conhecedor de Ciências Sociais, ele divulgou sua predição de que a Terra passaria por guerras e catástrofes até chegar à "paz mundial".

Ele criou um maniqueísmo no qual o "velho mundo", mais experiente mas supostamente mais afeito às guerras, seria destruído, enquanto o "novo mundo" (o Hemisfério Sul), seria poupado da destruição, sendo o Brasil predestinado a "nação mais poderosa do planeta" e supostamente promovedor da paz e solidariedade planetárias.

Portanto, a "profecia" de Chico Xavier nada tem de original, sendo apenas uma adaptação, ao sabor das convicções pessoais do anti-médium mineiro, do Livro do Apocalipse, que o sensacionalismo dos "espíritas" tenta levar a sério demais, até mesmo fora dos círculos de sua religião.

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