sexta-feira, 20 de março de 2015

Chico Xavier e a nova teocracia

CHICO XAVIER E SEGUIDORES MISTURARAM CIÊNCIA E UFOLOGIA PARA DEFENDER MISSÃO RELIGIOSA DO BRASIL.

Francisco Cândido Xavier sonhou com uma teocracia. Ele e seu "benfeitor", o jesuíta Emmanuel, sonhavam em ver o Brasil como "nação mais poderosa do mundo" e centro de um modelo doutrinário de "amor e fraternidade" que, na verdade, correspondem a uma nova teocracia mundial.

Evidentemente, os "espíritas" dizem muitas maravilhas a respeito, "tristinhos" que estão porque o mundo está agora tão sangrento, turbulento e coisa parecida. Claro, as lágrimas de crocodilo do "espiritismo" que glamouriza as mortes prematuras, não deixam os espíritos evoluídos viverem muito, mutilam famílias "permitindo" tragédias que atingem sobretudo jovens, não comovem.

Tudo é culpa desses 131 anos de doutrina que nada contribuíram para a evolução do país e do mundo. Os "espíritas" se limitaram a um religiosismo feito para agradar a Igreja Católica e adaptar todos os seus ritos e dogmas, enquanto nos bastidores rasgam os livros originais de Allan Kardec e põem suas ideias científicas no lixo.

Pois agora trabalham a suposta profecia de Chico Xavier, na verdade o relato de um sonho qualquer, inócuo como tantos outros, que só não seria "profético" se tivesse vindo de um "Mané da Padaria", de um "Joãozinho Engraxate" e de seu "Tião Caminhoneiro" ou de "Dona Eufrosina da Lavanderia". Mas como veio de Chico Xavier, virou "profecia", "relato científico" ou coisa parecida.

Pegamos a própria frase de Chico Xavier para verificarmos o sentido da suposta reunião, em 1969, de representantes do universo ou do Sistema Solar, ao lado de um Jesus Cristo caricato e de um Emmanuel que parece ter saído, meses atrás, da reunião do AI-5 com o general Costa e Silva, seu vice e seus ministros, discutindo a expedição humana à Lua.

Eis o que disse, se referindo as duas situações como as de paz ou guerra, em trecho registrado por Marlene Nobre, entrevistadora que virou co-autora do livro Não Será em 2012, sobre o depoimento dado por Geraldo Lemos Neto, que recebeu os relatos de Chico Xavier em 1969, em reportagem publicada na Folha Espírita de maio de 2011, presentes também no livro:

"Ah! Geraldinho, caso a humanidade encarnada decida seguir o infeliz caminho da III Guerra mundial, uma guerra nuclear de consequências imprevisíveis e desastrosas, aí então a própria mãe Terra, sob os auspícios da Vida Maior, reagirá com violência imprevista pelos nossos homens de ciência. O homem começaria a III Guerra, mas quem iria terminá-la seriam as forças telúricas da natureza, da própria Terra cansada dos desmandos humanos, e seríamos defrontados então com terremotos gigantescos; maremotos e ondas (tsunamis) consequentes; veríamos a explosão de vulcões há muito extintos; enfrentaríamos degelos arrasadores que avassalariam os polos do globo com trágicos resultados para as zonas costeiras, devido à elevação dos mares; e, neste caso, as cinzas vulcânicas associadas às irradiações nucleares nefastas acabariam por tornar totalmente inabitável todo o Hemisfério Norte de nosso globo terrestre".

Outro trecho que reproduziremos se refere ao "papel do Brasil" nessa marmelada toda, com um otimismo ufanista dos mais exaltados e, também, com um claro desejo de supremacia religiosa que mal se consegue disfarçar nas palavras do "católico da gema" Chico Xavier. Eis o que ele disse sobre suas fantasias sobre o país:

"Em todas as duas situações, o Brasil cumprirá o seu papel no grande processo de espiritualização planetária. Na melhor das hipóteses, nossa nação crescerá em importância sociocultural, política e econômica perante a comunidade das nações. Não só seremos o celeiro alimentício e de matérias-primas para o mundo, como também a grande fonte energética com o descobrimento de enormes reservas petrolíferas que farão da Petrobras uma das maiores empresas do mundo.

"O Brasil crescerá a passos largos e ocupará importante papel no cenário global, isso terá como consequência a elevação da cultura brasileira ao cenário internacional e, a reboque, os livros do Espiritismo Cristão, que aqui tiveram solo fértil no seu desenvolvimento, atingirão o interesse das outras nações também. Agora, caso ocorra a pior hipótese, com o Hemisfério Norte do planeta tornando-se inabitável, grandes fluxos migratórios se formariam então para o Hemisfério Sul, onde se situa o Brasil, que então seria chamado mais diretamente a desempenhar o seu papel de Pátria do Evangelho, exemplificando o amor e a renúncia, o perdão e a compreensão espiritual perante os povos migrantes.

A Nova Era da Terra, neste caso, demoraria mais tempo para chegar com todo seu esplendor de conquistas científicas e morais, porque seria necessário mais um longo período de reconstrução de nossas nações e sociedades, forçadas a se reorganizarem em seus fundamentos mais básicos".

Chico Xavier disse que o Brasil se dividirá em "quatro nações": o Norte do país ficaria com norte-americanos, canadenses e mexicanos, o Centro-Oeste com japoneses, chineses e outros povos de origem nipônica e similares, o Nordeste ficaria com os russos e os eslavos e os europeus em geral ficariam com o Sul do país, ao lado da Argentina, Uruguai e Chile (se é que o Chile continuará existindo nessa "torcida" pelo cataclisma mundial; o Chile é uma das maiores áreas vulcânicas e sísmicas da América do Sul).

Ele se baseou nisso provavelmente com pesquisas a lápis pelo mapa-mundi, e deu seu palpite com a serenidade de quem faz aposta para uma corrida de cavalos. Dá até para imaginar: "Vai, aposta no pangaré tal porque eu o vi na corrida anterior e ele costuma disparar nas últimas voltas".

Sem se decidir se esse processo será "pacífico" ou não, se serão as "melhores individualidades do mundo desenvolvido" ou as "forças bélicas" que iriam migrar para o Hemisfério Sul "remanescente", ele teria dito o seguinte para Geraldo Lemos Neto, em 1986:

"Segundo Chico me revelou, o que restasse da ONU acabaria por decidir a invasão das nações do Hemisfério Sul, incluindo-se aí obviamente o Brasil e o restante da América do Sul, a Austrália e o sul da África, a fim de que nossas nações fossem ocupadas militarmente e divididas entre os sobreviventes do holocausto do Hemisfério Norte. Aí é que nós, brasileiros, iríamos ser chamados a exemplificar a verdadeira fraternidade cristã, entendendo que nossos irmãos do Norte, embora invasores a “mano militare”, não deixariam de estar sobrecarregados e aflitos com as consequências nefastas da guerra e das hecatombes telúricas, e, portanto, ainda assim, devendo ser considerados nossos irmãos do caminho, necessitados de apoio e arrimo, compreensão e amor".

O sonho de Chico Xavier, com um argumento que mais parece um misto de ficção científica com filme de guerra, cria um maniqueísmo em que os brasileiros são o "bem" e os "irmãos do Norte" são o "mal", deixando claro também que o "Espiritismo Cristão" seria a nova teocracia.

Cabe analisar o sentido dessa nova teocracia, desse novo Império Romano que Chico Xavier sonhou para o Brasil. A própria ideia de "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" já pressupõe um projeto teocrático, que une supremacia política e religiosa, que uma análise mais profunda leva ao sentido provável de uma atualização do antigo Império Romano / Bizantino e seu Catolicismo.

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