segunda-feira, 23 de março de 2015

"Profecia" de Chico Xavier revela desejo de novo obscurantismo

JESUS CRISTO PANTOCRATOR - PINTURA DOS TEMPOS DO IMPÉRIO BIZANTINO, NA IDADE MÉDIA, MOSTRA O JESUS CATÓLICO "SENHOR DOS EXÉRCITOS".

Ninguém percebe o perigo de atribuir como "profecias" as interpretações oníricas de Francisco Cândido Xavier, sonhadas em 1969 e reveladas publicamente por Geraldo Lemos Neto, que recebeu o relato do sonho quando era jovem, naquele ano.

Isso porque o que está por trás do catastrofismo de Chico Xavier, que "prenuncia" a destruição do "mundo velho" (o Hemisfério Norte) e a ascensão do Brasil e "seu Espiritismo Cristão" para o comando do mundo, é a mesma história da teocracia que marcou séculos de muito sofrimento através do Império Romano medieval e, por conseguinte, do Império Bizantino.

Como todo discurso traiçoeiro, bons argumentos são utilizados. Isso vem desde a infância e adolescência, quando aquele "amiguinho estranho" tenta nos convencer a consumir alguma droga, alegando que ela trará "mais alegria, mais amigos, mais confiança e melhor desempenho nos esportes e na conquista da mulherada".

Ninguém vai aparecer com o corpo pintado de vermelho para dizer "Eu vou acabar com você, porque sou muito mau, mesmo, e é bom ficar com medo", porque isso é conversa frouxa que pode gerar até reações contrárias e fazer o facínora da ocasião cair na pior das humilhações.

Os espíritos traiçoeiros que comandam o "espiritismo" no Brasil, que há muito romperam com as lições de Allan Kardec embora evoquem o nome dele a todo momento, por pura bajulação, usam das palavras mais dóceis para impor seus dogmas e sua ideologia, conforme havia advertido o espírito de Erasto, em mensagem espiritual divulgada em Paris.

É isso que nos preocupa. Vem a mensagem trazida sob uma dócil retórica, mas também carregada de seu lado peçonhento - Chico Xavier rogando a destruição do "velho mundo" enquanto, com suave cinismo, atribui ao Brasil um poder "acolhedor" aos remanescentes das nações arrasadas - , que esconde os propósitos de uma nova supremacia teocrática.

Os espíritos que cercam os líderes "espíritas" e seus centros, assim como outros ambientes e colaboradores que lhes são solidários, são antigos jesuítas que nunca gostaram de ver o Catolicismo sendo passado para trás pela Reforma protestante e outros manifestos que neutralizaram a antiga supremacia católica da Idade Média.

Eles também se sentiram indignados quando houve a medida do Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, que, para salvar Portugal dos prejuízos de dimensões imensuráveis, cortou muitos gastos com a colônia brasileira, entre eles o cancelamento da missão da Companhia de Jesus no país sul-americano, obrigando seus padres a voltarem para a Metrópole lusitana.

Daí que, no mundo espiritual, as almas dos antigos jesuítas, horrorizadas com o fim de seu catequismo em solo brasileiro, arrumaram um jeito para recuperar a supremacia perdida, pegando carona numa mal-digerida assimilação das ideias de Allan Kardec na sociedade brasileira.

Como virtualmente conseguiram o que queriam, criando um "espiritismo" que nada tinha a ver com Kardec, apesar de adotar o nome "kardecismo", e que no fundo era uma forma repaginada do Catolicismo medieval, agora as almas querem recuperar a antiga supremacia mundial do Catolicismo romano-bizantino.

Pode até ser que o "espiritismo" brasileiro não tenha sido uma religião muito forte, e isso se observa quando campanhas sensacionalistas promovidas pela FEB querem transformar Chico Xavier em "profeta", entre outros apelos (usaram até a Turma da Mônica para promover a doutrina!), mas ao menos tirou de escanteio a vanguarda cientificista de Allan Kardec.

E como os antigos jesuítas, hoje no além, conseguiram intuir uma parcela de brasileiros para recuperar o antigo catequismo jesuíta agora travestido de "espiritismo", agora eles querem que esse "espiritismo" se amplie para o mundo, "pisando" em cima do "velho mundo".

O que isso significa? Séculos de progresso obtidos no mundo desenvolvido seriam mais uma vez sacrificados e perdidos, até que um doloroso processo de reconstrução recuperasse o caminho interrompido.

É mais um período de obscurantismo que virá em frente, Mais uma supremacia religiosa, que mantém a essência do Catolicismo medieval e apenas se adapta parcialmente às novidades e mudanças de contexto, mas significando um "período das trevas" à maneira dos tempos atuais.

Não adianta reclamar. Chico Xavier só apreciava a ciência e o raciocínio lógico se eles se subordinassem à "fé espírita" e nunca investissem em qualquer questionamento ou, quando muito, sua investigação fosse somente favorável, ainda que superficial e falha em seus métodos.

Caso a ciência e a lógica resolvessem questionar os dogmas e ritos "espíritas", aí sim a coisa pesaria e os "espíritas" que "nunca acusam jamais" iriam acusar severamente os questionadores de serem "prisioneiros de paixões terrenas" e "escravos de juízos mundanos e materialistas". A razão não pode contrariar Chico Xavier, o "dono da verdade".

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