quinta-feira, 19 de março de 2015

Fernando Collor foi apoiado por Chico Xavier. E teve mais sorte!


Se Juscelino Kubitschek, que foi todo amor e fraternidade, luz e caridade para Francisco Cândido Xavier, só recebeu infortúnio e desgraça, Fernando Collor, por outro lado, parece ter tido mais sorte quando recebeu o apoio do anti-médium mineiro.

Collor nem exerceu uma amizade muito forte com Chico Xavier. Apenas se limitou a visitá-lo três vezes e a comentar, em uma frase: "Chico Xavier não é somente um bom brasileiro. Ele é um Espírito Iluminado. É um homem que joga luzes no momento em que nós estamos em duvida sobre o caminho a seguir. Um homem que nos dá inspiração para prosseguirmos na luta".

O pano de fundo da carreira de Fernando Collor de Mello não é das melhores. Seus pais, o político Arnon de Mello e sua esposa, Leda Collor (filha do ex-ministro de Getúlio Vargas, Lindolfo Collor), militaram no IPES, "instituto" de fachada que se empenhou para desmoralizar o governo João Goulart e convencer os brasileiros de que a ditadura militar era a melhor saída para a crise.

Tendo sua família sido beneficiada pela ditadura militar, Fernando Collor começou sua carreira pela ARENA, o partido "da situação" na ditadura militar, e apoiou Paulo Maluf na eleição indireta para a presidência da República, em 1984, da qual saiu vitorioso Tancredo Neves (que havia sido colega de Juscelino Kubitschek no PSD, antes de abril de 1964).

Collor era um político pouco carismático, até a imprensa paulista criar um discurso que construiu um mito em torno desse político e economista nascido no Rio de Janeiro, mas domiciliado em Alagoas. Assim, o jornal Folha de São Paulo e a revista Veja criaram uma imagem "heroica" de Collor, que era divulgado como o "caçador de marajás", suposto combatente à corrupção do serviço público.

Esse trabalho foi feito em 1988. Em 1989, a Rede Globo de Televisão passou a adotar o mito construído pelos dois veículos da mídia paulista e, desta forma, fez o possível para que Fernando Collor se tornasse eleito presidente da República.

Fernando Collor fez uma campanha medíocre, faltou ao debate dos candidatos do primeiro turno, tinha um programa de governo mais demagógico que convincente, e suas ideias não pareciam ter pé nem cabeça. No debate decisivo da Rede Globo, Collor foi muito menos seguro que Lula, seu rival no segundo turno, mas a Globo editou o debate e mostrou Collor "mais seguro" no Jornal Nacional.

Eleito, Collor foi fazer a festa com parte da "nata" da canastrice musical que anda envergonhando a música brasileira, com "sertanejos" que, ao lado dos "pagodeiros românticos", agora passam a falsa imagem de "respeitáveis", parasitando a MPB com covers oportunistas que disfarçam o péssimo repertório autoral que esses "artistas" fazem até hoje.

O governo Collor representou o inverso do que foi o governo Juscelino Kubitschek. A direita mais radical, do contrário que tentou fazer com o médico mineiro, fez tudo para que o medíocre Collor fosse eleito, e seu marqueteiro até plantou um factoide contra Lula para jogar as famílias contra o petista.

E o que Collor fez? Confiscou as poupanças dos brasileiros - que revelou-se, depois, eram para pagar as dívidas com o tesoureiro Paulo César Farias, assassinado em 1996 antes de poder dar alguma explicação a respeito disso - , ameaçou privatizar as universidades públicas, extinguiu a Embrafilme, promoveu arrocho salarial, entre tantas outras medidas antipopulares.

No ramo da Economia, Collor fez o contrário de Juscelino. Este substituiu as importações por produtos produzidos em indústrias instaladas no Brasil. Collor, sob a desculpa de criar um mercado "mais competitivo", concentrou-se nos produtos importados, sobretudo um automóvel de péssima qualidade chamado Lada, que consumia muito combustível e era de difícil manutenção.

No decorrer de 1992, denúncias de Pedro Collor, irmão do presidente mas empresário rival de Paulo César nos negócios midiáticos de Alagoas, revelavam o esquema de corrupção existente desde a campanha eleitoral, daí surgindo a informação que as poupanças dos brasileiros foram extraviadas para pagar o "esquema PC", o que revoltou o povo.

E aí, deu no que deu. Collor ainda teve problemas com o Congresso Nacional, e a Rede Globo, talvez por "acidente", por reprisar a minissérie Anos Rebeldes, inspirou o então combalido movimento estudantil - com a UNE longe de seus melhores dias, reduzida a "fábrica de carteirinhas estudantis" e dotada de lideres e membros arrogantes - a fazer uma passeata pelo "Fora Collor", feita mais por modismo do que por idealismo.

O então líder das passeatas, o estudante Lindbergh Farias, depois se tornou político fluminense, e o político consagrado pelo "Fora Collor" acabou, tempos depois, se tornando amigo daquele que desejava ver fora do Planalto em 1992.

Fernando Collor foi impedido de continuar o mandato, devido à sentença do impeachment. Mas, depois de oito anos sem exercer direitos políticos, Collor parece que ganhou a Mega-Sena, de repente tornou-se um cidadão sortudo.

O ex-presidente separou-se de sua então primeira-dama, Rosane Collor, que voltou a ser Rosane Malta, e se casou com uma bela jovem. Fernando Collor teve sua imagem de corrupto relativizada e passou a ser visto como "injustiçado", enquanto os assassinatos de PC Farias e Suzana Marcolino, com todos seus vestígios apagados, deixaram para sempre oculto um grande mistério no seu esquema de corrupção.

Collor passou a ser relembrado como um presidente que "modernizou" o país e tudo que simbolizou seu período, inclusive a canastrice dos "sertanejos" e "pagodeiros" da época, virou genial, e há quem ache que tais canastrões são "grandes nomes da MPB" (!). Até Guilherme de Pádua, que matou a atriz Daniella Perez no dia do impeachment, passou a compartilhar da "sorte grande" de Collor.

Até seus antigos algozes foram "tirados" do caminho. Os irmãos Pedro e Leopoldo, que denunciaram o "esquema PC", morreram doentes. Paulo César Farias foi assassinado ao lado da namorada Suzana Marcolino e os vestígios do misterioso crime acabaram sendo apagados, comprometendo para sempre as investigações sobre possíveis ligações de PC com a Máfia italiana e o narcotráfico internacional.

E de repente Collor foi reabilitado pela revista Isto É, concorrente de Veja, tinha internautas blindando ele nas mídias sociais, era querido pelos estudantes, e até o ex-rival Lula tornou-se seu amigo e aliado. E até os anti-petistas tratam Fernando Collor como se fosse um "corrupto menor".

Mesmo parte da mídia esquerdista até deu um jeito para dividir Fernando Collor em dois: um era o repugnante ex-presidente que confiscou as poupanças dos brasileiros, e outro, o "admirável" senador que fazia discurso contra a grande mídia corporativa.

Hoje Fernando Collor voltou a ser incluído numa lista de corrupção, como suspeito de estar envolvido no esquema de propinas da Petrobras. Podem ser outros tempos. Mas Collor já foi beneficiado o suficiente pela sorte que Juscelino não teve. Pelo jeito, Emmanuel, o "mentor" de Chico Xavier, gostava mais de Fernando Collor do que de Juscelino Kubitschek.

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