domingo, 1 de março de 2015

Como os cientistas irão se virar no "Coração do Mundo"?

O FÍSICO ALEMÃO ALBERT EINSTEIN É VULGARMENTE CONHECIDO MAIS POR ESSE GESTO DO QUE POR SUAS IDEIAS.

Oficialmente, a "maravilhosa profecia" sonhada por Francisco Cândido Xavier em 1969 sugere que a nata da comunidade científica irá se reunir e florescer no Brasil, com muitos cientistas estrangeiros fugindo de catástrofes e atos terroristas no exterior e vários cientistas brasileiros se destacando plenamente em suas atividades.

É uma ideia maravilhosa, que lota "centros espíritas" e faz muitos deslumbrados continuarem compartilhando frases de Chico Xavier no Facebook, enquanto especialistas em Photoshop correm imediatamente para a busca do Google para procurar fotos de um céu azul com nuvens e sol brilhando para inserir uma foto recortada de Chico e uma de suas frases dóceis junto.

No entanto, como nós somos realistas, ficamos perguntando: como se dará esse quadro fantástico, se os cientistas no Brasil sofrem muito preconceito de boa parte da opinião pública, é desprezado pela grande mídia e não recebe sequer verbas para realizar pelo menos metade de suas pesquisas urgentes?

A imagem dos cientistas é tão negativa que o que mais marca na mente dos leigos a respeito da lembrança do físico alemão Albert Einstein é tão somente a foto em que ele aparece mostrando a língua. "Deve estar zoando com a gente", diria um internauta médio.

Indo para as livrarias, observa-se que o que as pessoas menos leem são livros de ciências, pelo menos as Ciências Humanas. Quando prestam concursos públicos ou estudam para a faculdade, ainda leem livros sobre leis, fatos históricos ou conceitos de Matemática. Mas, fora isso, o hábito de leitura, que já não é tão regular, é qualitativamente deprimente.

O que se costuma ler são livros sobre diários juvenis sobre coisa nenhuma, aventuras de terror e fantasia ambientados na Idade Média - Emmanuel iria adorar - e (bingo!) livros de auto-ajuda, incluindo os tenebrosos livros de Chico Xavier e Divaldo Franco, ou de figuras recentes e atrapalhadas como Robson Monteiro e João Carlos de Lucca.

Enquanto isso, as mídias sociais rejeitam todo tipo de trabalho intelectual. Mas o pior não é isso, esse preconceito que atinge pessoas que aproveitam melhor sua capacidade de raciocinar e as faz vítimas de cyberbullying, mas a própria leviandade que é feita dentro dos meios intelectuais brasileiros.

Isso ocorre sobretudo nas Ciências Humanas. Nos últimos anos, houve uma onda de jornalistas, cineastas documentaristas e cientistas sociais, que se julgavam especializados em cultura popular brasileira, etnografia, história social e tudo o mais, que fizeram campanha para que o Brasil aceitasse todo tipo de degradação cultural, sob a desculpa de "romper o preconceito".

E as ciências propriamente ditas? Pessoas preocupadas em saber se tocar a macarena vai fazer os tomates crescerem melhor ou não ou se um jato de água posicionado ao Leste influi na melhor irrigação da grama.

Enquanto isso, há gente orgulhosa em odiar ler livros, pessoas que entram na Universidade apenas visando o diploma e gente que, movida pela ilusão de que "já nasceu inteligente" - estimulada apenas porque consome mais "informações" na Internet desde a infância - , não precisa mais conhecer melhor as coisas, sem perceber que se tornam ainda mais burras e estúpidas.

E como é que um quadro desses, muito comum no Brasil, vai fazer com que nossos cientistas e intelectuais florescessem a partir da tal "data-limite", com toda a nata da sociedade pensante aterrizando no Galeão, Congonhas e Cumbica, para se instalar em nossas terras e apoiar os irmãos tão ou mais sapientes?

E os nossos melhores cientistas, como é que vão arrumar dinheiro para que, a partir de 2019, tenham o merecido destaque, capazes de desviar as atenções das sub-celebridades que acumulam milhares e milhares de seguidores do Instagram, só porque inventam sentido a coisas sem a menor importância?

Tudo parece lindo, fascinante, confortador e animador na "profecia" de Chico Xavier. Mas o Brasil impõe suas limitações que prejudicam as atividades intelectuais e científicas, que vão da depreciação da imagem do cientista no país e na falta de investimentos financeiros à essa classe em seus diversos tipos e atividades.

O próprio Chico Xavier também nunca ajudou. Afinal, ele defendeu a ditadura militar que acabou com nossos melhores pensadores e, quando muito, desmoralizou, marginalizou ou empobreceu vários deles. O próprio "reino de amor" que Chico afirmava ser construído pelos generais impediu a ascensão do que temos de melhor entre cientistas e pensadores.

Além do mais, Chico sempre preferiu a oração em silêncio do que a mobilização e o questionamento. O máximo de mudanças estava na caridade paliativa das esmolas e donativos, ou de "cursos escolares" dados "gratuitamente", mas sob o preço caríssimo do proselitismo religioso. Claro, ninguém é obrigado a ser "espírita", mas acaba fatalmente aprendendo suas crenças.

O que esperar dessa condenação ao questionamento, à contestação e ao exame, tão conhecido das frases dóceis de Chico e dos argumentos severos de Emmanuel, senão a campanha severa contra o pensamento científico, o debate e o argumento lógico?

Só isso já derruba a tese de que, depois da "data-limite", o Brasil trará fatalmente momentos positivos para a ciência e, se algum avanço ocorrer, não será ainda de maneira fabulosa e será em função de muito trabalho, muita conscientização que passará a anos-luz de distância das pregações e visões surreais do anti-médium de Pedro Leopoldo.

Para o "movimento espírita", a atividade científica só é válida nos limites que não atingem os absurdos e as irregularidades do "espiritismo", com sua "mediunidade" feita no mais completo grau de corrupção e falsidade ideológica, limites nos quais só cabe à ciência, neste caso, dizer "amém" e ficar na sua.

Infelizmente, o "espiritismo" brasileiro cria um território todo seu de absurdos, surrealismos e corrupção, que têm que ser aceitas sob a desculpa da "tolerância religiosa" e do "respeito da fé". Podem ocorrer mil prejuízos, que o surrealismo não pode se ceder sequer às mais rigorosas provas do questionamento científico e do exame investigativo.

O "mistério" da "fé espírita", para seus seguidores, tem que ser preservado intocável, com todas suas contradições, irregularidades e equívocos, mesmo graves. Qualquer investigação científica que vier, com todas suas provas rigorosas e seus argumentos precisos, será desqualificada e rebaixada a "julgamento material dos homens da terra".

Portanto, a ciência do supostamente futuro "coração do mundo" continuará em situação tão problemática quanto agora.

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