sexta-feira, 8 de abril de 2016

"Espiritismo" quer separar bondade da lógica e da transparência

O PLAGIADOR DE LIVROS E O ESPALHADOR DE MENTIRAS - Espiritos puros?

O "espiritismo" brasileiro, com toda a certeza, se preocupa muito com o argueiro dos neopentecostais e não com a trave de si mesmo. É certo que o argueiro do outro faça um estrago enorme, mas a trave dos "espíritas" indica um dano não menos aberrante, talvez até mais.

O "espiritismo" assumiu um compromisso que, em tese, o faria estar em larga vantagem a outros movimentos espiritualistas ou religiosos. Faria frente até a muitos movimentos ativistas, se esse compromisso fosse integralmente cumprido.

No entanto, o "espiritismo" é o que mais falha, ao renegar esses compromissos e a seriedade de evitar vaidades. O "espiritismo" fica com mania de triunfalismo, tornou-se uma fogueira das vaidades nas quais seus ídolos se arrogam a dizer que estão no caminho do céu ou, quando a falsa modéstia lhes vêm à tona, estão num caminho mais adiantado, embora "com muito a percorrer".

Esse triunfalismo é preocupante, porque os "espíritas" reagem com coitadismo, ficam em silêncio e fazem pose taciturna, como se, cabisbaixos em seu jogo de cena, pudessem triunfar diante da "tempestade" de críticas e escândalos que atingem a doutrina brasileira.

O que chama a atenção é o malabarismo discursivo, que faz com que os "espíritas" girem na órbita de uma palavra bonitinha: "bondade". A ideia é essa: "maus espíritas, pessoas bondosas". Como se a ideia de "bondade" fosse compensar a desonestidade doutrinária que marca o "movimento espírita" e seus membros.

O "espírita" não faz mediunidade e finge receber espíritos? "É, mas pelo menos ele ajuda muita gente", reagem os defensores. Ele não entendeu direito o pensamento de Allan Kardec? "É, mas ele conheceu bem o sentido de caridade", alegam seus seguidores mais apaixonados.

É assim que o "espiritismo" faz o seu escudo. Tenta dissimular sua incompetência doutrinária, seu descaso com os compromissos iniciais, e usa a "bondade" como pretenso diferencial. "Ciência do Amor", "Religião da Bondade", "Doutrina da Fraternidade". Rótulos bonitos e, para os incautos, bastante comoventes, mas completamente ocos e sem qualquer coerência.

Isso é um desvio de foco, e só mostra o rol de dissimulações diversas. Dissimulação de vaidades pessoais, de ignorância doutrinária, de incompreensão científica, de indigência intelectual, e tudo o que os "espíritas" acabam fazendo é manobrar o discurso em prol de suas vantagens institucionais.

É um jogo de mentir e desmentir, de dizer que faz praticando o oposto, de jurar fazer o que lhe desinteressa agir, de sempre colocar o discurso e a prática em permanente conflito, até quando diz que teoria e prática vivem em "inabalável harmonia". Claro, são os "bondosos espíritas", a "Ciência do Amor", a "Religião da Bondade".

Só que esse UFC entre discurso e prática, essa falta de coerência que o confuso "espiritismo" brasileiro, é preocupante, não bastasse a sua herança ideológica vinda do Catolicismo medieval, por conta do aproveitamento de raízes católicas brasileiras no Segundo Império, calcadas na Igreja Católica portuguesa, estruturalmente ainda fundamentada na Idade Média.

Até a Teologia do Sofrimento, a corrente mais retrógrada da Igreja Católica, foi inserida no "movimento espírita" por Francisco Cândido Xavier. E com suas palavras. Ele pedia para os sofredores aguentarem tudo sem queixumes e sem mostrar sofrimento aos outros. Qualquer dúvida? Foi Chico Xavier mesmo que disse. É só pesquisar.

O rol de contradições trazidas pelo "movimento espírita" é tão grande e tão engenhoso que o Brasil quer ser um país futurista guiado por duas figuras tão retrógradas: Chico Xavier, um caipira católico de dogmas ortodoxos mas de práticas paranormais, ideologicamente moralista e ultraconservador, e o não menos conservador Divaldo Franco, feito à maneira dos professores dos anos 1940, de discurso rebuscado e prolixo, ares aristocráticos e vestuário anacrônico que era mais típico na época.

Mas isso faz sentido. É um Brasil que sempre apreciou o novo sob os filtros do velho. Que, ao abraçar causas novas, as molda de acordo com as causas velhas que deveriam ser destruídas. Que mal consegue resolver tradições e novidades que, confusas, criam um engodo entre novos e velhos valores nos quais prevalecem sempre os mais nocivos e desvantajosos para a humanidade.

Por isso os brasileiros acreditam que o "espiritismo" é uma doutrina "futurista" e que está à frente do tempo, uma visão que é muito difundida mas é totalmente equivocada. O "espiritismo" é velho, antiquado, talvez menos velho que as seitas neopentecostais que parecem viver nos tempos do Velho Testamento, mesmo quando citam o Novo Testamento.

Todavia, o "espiritismo" se pauta no mesmo Catolicismo da Idade Média, apenas com as devidas adaptações de contexto. E isso é fato, não é um julgamento de valor. As raízes do "movimento espírita" mostram explicitamente a herança do Catolicismo brasileiro do Segundo Império, que se inspirou, obviamente, no similar português que, por sua vez, adotava práticas medievais.

É, portanto, uma constatação de caráter historiográfico, lógico. E que traz em seu bojo uma série, digamos, uma infinidade de avaliações lógicas que apontam uma surpreendente porção de irregularidades no "espiritismo" brasileiro, sobretudo em relação à doutrina originalmente codificada por Allan Kardec.

Os "espíritas" não conseguem explicar suas contradições. Nem têm coragem, até porque uma única tentativa resultaria em questionamentos ainda mais consistentes. Nem mesmo o coitadismo que envolve Chico Xavier e Divaldo Franco compensam a falta de lógica. Até porque, só acreditando em fantasias mistificadoras para legitimar essas duas figuras, mesmo quando em tese se despe dessas mesmas quimeras.

Por isso que o "espiritismo" brasileiro tenta usar a "bondade" como contraponto à falta de lógica e de transparência. Mas isso é uma estratégia conhecida por um nome: "bom-mocismo". A mania de se passar por bom-moço quando as demais habilidades demonstram ser falhas ou prejudiciais. Faz-se um mau trabalho, mas a pose de "bonzinho" tenta manter a reputação em pé.

Nem a argumentação de "bondade praticada" consegue convencer, até porque áreas protegidas pelos "puríssimos" Chico e Divaldo, a cidade de Uberaba e o bairro de Pau da Lima, em Salvador, são redutos da mais preocupante violência, Se os dois tivessem a mesma força poderosa que muitos supõem ter, esses dois lugares não estariam sofrendo tanto.

A coisa é tão alarmante que, contrariando o mito de que Uberaba é a "cidade brasileira com as mais elevadas energias espirituais", órgãos de imprensa dos mais diferentes níveis ideológicos publicam indignados textos sobre a violência crescente na cidade mineira, a ponto de deixar os moradores em pânico e pensando se é melhor enfrentar baratas dormindo debaixo das camas do que ser morto por uma bala perdida deitado na cama.

Não há como dizer que os "espíritos endurecidos" é que não querem que prevaleça a "bondade" nestes lugares, ou que Chico Xavier é desprezado etc. Julgar a própria impotência inventando barreiras alheias dá no mesmo que aquele, com a trave no olho, dizer que não pode ir em frente porque aquele que lhe barra o caminho está cego.

Portanto, são contradições, contradições, contradições. Cadê a chamada "coerência espírita"? O "espiritismo" acumula tantas contradições que nem mesmo ler os livros de Allan Kardec na tradução de José Herculano Pires são suficientes para resolver o problema. Eles apenas são uma forma de conhecer melhor o pensamento kardeciano, mas a boa teoria nem sempre basta se a má prática continua sendo feita.

Isso faz o "movimento espírita" enfrentar a sua mais grave crise, perdido e preso nos seus próprios vícios, sem que seus palestrantes e escrevinhadores pudessem reagir de maneira consistente. Colocar a bondade acima da lógica e da transparência é algo tão desprovido de coerência que, não fosse a emotividade dos "espíritas" e dos "laicos" simpatizantes, o "espiritismo" já teria falido.

Bondade não exclui honestidade, lógica, transparência. Se a bondade serve de escudo para se permitir pastiches e plágios literários (Chico Xavier), difusão de visões mistificadoras e mentirosas (Divaldo Franco), então ela não pode ser considerada bondade. A bondade não pode servir à mistificação nem à fraude. Se servir, ela deixará de ser boa, se sujeitando, como escrava, a interesses mesquinhos.

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