sábado, 21 de fevereiro de 2015

Estados Unidos dá a lição amarga do mito do "Coração do Mundo"


Dá pena ver os fanáticos seguidores de Francisco Cândido Xavier se horrorizarem quando alguém denuncia que o projeto do "Brasil Coração do Mundo" é um novo imperialismo e uma nova teocracia, nos moldes do Império Romano medieval.

Preferem eles que fiquem com suas fantasias e acreditem que uma fada madrinha "espírita" virá no escurecer das trevas brasileiras para transformar o Brasil cambaleante, problemático e caótico num país próspero que irá comandar a comunidade das nações do mundo inteiro.

É uma utopia perigosa, da qual advertimos seriamente, porque o mito do "povo escolhido" e da "nação predestinada" pode representar mais uma supremacia que promoverá privilégios de um lado, mas também causará perdas sangrentas no outro.

Mesmo assim, os incautos que alegremente colocam frases de Chico Xavier nas mídias sociais preferem a fantasia. Tentam até argumentar que a suposta ascensão do Brasil "não acontecerá da noite para o dia" e que será um "trabalho árduo de décadas", de preferência cumprindo a promessa que Divaldo Franco acredita ser o ano que o Brasil virará um paraíso: 2052.

O que essas pessoas não sabem é que a História já registrou casos de nações "predestinadas" que, ao atingir um grau de supremacia na comunidade das nações, elas nem de longe representaram a prometida perspectiva de nação iluminada, pátria da solidariedade e da prosperidade, e sim poderosos impérios que se estabelecem e se estabilizam à custa do derramamento de sangue alheio.

O EXEMPLO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Os adeptos de Chico Xavier têm em mãos um exemplo bastante claro e fácil de entender do que é uma nação que desejou ser "a mais poderosa do planeta". Os Estados Unidos da América foram construídos com um ideal não muito diferente do que sonha o "bondoso velhinho" das frases açucaradas.

Os EUA também vinham com um ideal unificador. Daí o nome: Estados Unidos da América. A união de seus 50 Estados - mais tarde duas unidades longe de sua zona territorial, o Alasca, situado ao Norte, quase colado na Rússia, e o Havaí, situado na Oceania, mas hoje "território americano" - se deu sob um discurso conciliador e aglutinador, em primeira instância.

Em segunda instância, os EUA, vendo que outros movimentos políticos ameaçaram sua ascensão, como o nazi-fascismo, derrotado durante a Segunda Guerra Mundial, e o comunismo, contra o qual atuou durante a Guerra Fria, quis ao mesmo tempo promover uma aliança do "mundo moderno" e de toda a América Latina e o Canadá.

O ideal "panamericano", no qual evocam virtudes de Américo Vespúcio, Cristóvão Colombo, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin e Abraham Lincoln, além da inicial defesa dos direitos humanos e da extensão dos avanços políticos trazidos pela Revolução Francesa, também falava em unir os demais países americanos, incluindo o nosso Brasil.

Só que isso se converteu, tempos depois, numa supremacia política à qual os países ocidentais só teriam razão de existir se seguissem, mesmo indiretamente, a influência política dos Estados Unidos, criando um sistema de dominação e exploração que resultou em mercados hegemônicos e socialmente excludentes.

E o que vemos com o poderio norte-americano? Um sistema sórdido de espionagem promovido pela CIA, campanhas bélicas em diversas partes do mundo, violações cruéis dos direitos humanos e a promoção de severas injustiças e desigualdades sociais não só no resto do mundo, como no próprio território dos EUA.

Constam nos registros confidenciais divulgados posteriormente pela imprensa norte-americana que os EUA, com o objetivo de eliminar os movimentos sociais e das classes trabalhadoras na Guatemala, na década de 1980, financiou o crime organizado e o terrorismo para assassinar sindicalistas, ativistas, padres, camponeses, jornalistas e outros comprometidos com as causas sociais.

O racismo, a falta de uma política justa de imigração, a indiferença das autoridades estadunidenses às populações rurais e suburbanas, principalmente de áreas longínquas, e as inúmeras repressões aos movimentos sociais realizados dentro do seu território revelam a amarga lição que os EUA traz, de graça, para os seguidores de Chico Xavier.

São lições fáceis de entender, transmitidas por noticiários diversos, e que mostram o que pode fazer uma nação transformada na "nação mais poderosa do mundo", mesmo quando os mais belos discursos tentam desmentir.

Tivemos até mesmo uma ditadura militar financiada pelo governo dos Estados Unidos da América e pelas empresas nela instaladas, além de outras instaladas em países do G-7 (como Inglaterra, Itália, Alemanha e Japão), e os EUA já tinham pronta até mesmo uma operação de guerra contra o Brasil, a Operação Brother Sam, caso João Goulart resistisse a sair do poder em 1964.

E é a mesma ditadura militar que Chico Xavier acreditava ser uma etapa de "construção do reino de amor" para a humanidade futura. Então tá. Talvez os EUA ajudem o Brasil a se tornar o tão sonhado "coração do mundo" do "bom velhinho", não é mesmo? Talvez, por essa tese, vivamos no conto-de-fadas que fará o Brasil virar o paraíso dentro da Terra daqui a uns cinco anos.

Só que a realidade mostra o contrário e a vida é muito complexa. O caso dos Estados Unidos, que também se serviu de discursos humanistas, depois largados ou simplesmente ignorados desde o começo, mostra o que é realmente uma "nação poderosa". Podem-se colocar mil flores e rosas de mais bela cor, mas chegará o momento em que seus espinhos irão ferir, daí o perigo.

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