terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O lado oculto da "Data-Limite": Brasil seria o Novo Império Romano

ILUSTRAÇÃO MOSTRA O IMPÉRIO ROMANO DURANTE A IDADE MÉDIA.

Um dos pontos que incomodam os adeptos de Francisco Cândido Xavier é a ideia de que, por trás da "maravilhosa profecia" do Brasil como "coração do mundo", está um projeto de rearticulação do Império Romano medieval, berço do Catolicismo mais conservador.

Evidentemente, a ideia não seria exposta de forma mais clara, mas ela é certa porque analisamos as coisas por trás das aparências e do discurso dócil, juntando as peças para constatarmos uma hipótese que não parece tão agradável quanto parece ser, à primeira vista.

Se o "espiritismo" brasileiro surgiu no século XIX, se baseou no Catolicismo vigente, que herdou do Catolicismo português que, por sua vez, ainda mantinha um ranço medieval, então ele tem suas bases medievais, trazidas sobretudo pelas mensagens de Emmanuel (que foi Manuel da Nóbrega) e Joana de Angelis (que NÃO foi Joana Angélica).

O "espiritismo" só combateu o Catolicismo medieval nos pontos que se tornaram incômodos para os dias de hoje. Não combateu, no entanto, a essência de sua doutrina, mas hoje prefere cooptar do que exterminar o pensamento científico e as chamadas heresias.

O que está em jogo nesse projeto do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", que virou até nome de livro que o anti-médium Chico Xavier co-escreveu com Antônio Wantuil de Freitas mas botou na conta do espírito de Humberto de Campos - que não está mais aí para reclamar - , é a ameaça de uma nova teocracia que simboliza o revanchismo dos antigos medievais.

Isso porque eles não gostaram quando o Império Romano ruiu, por volta do ano 476 da nossa era e, um milênio depois, do declínio, pelo menos como força hegemônica, do próprio Catolicismo medieval. Também não gostaram quando o Marquês de Pombal, primeiro-ministro português, ordenou o fim das atividades jesuítas no Brasil, ainda no século XVIII.

Queriam rearticular o Catolicismo jesuíta do Brasil colonial trazendo a Doutrina Espírita de Allan Kardec para a deturpação catolicizante baseada em Jean-Baptiste Roustaing, por sua vez devidamente adaptado pela obra de Francisco Cândido Xavier.

Agora, sob o pretexto de criar uma "nação de amor e fraternidade" a "conduzir" a humanidade planetária e promover seu desenvolvimento humanístico, anuncia-se que o Brasil irá ascender diante dos presumidos escombros do Primeiro Mundo, promovendo uma série de transformações e progressos que não se sabe de que forma florescerão num país problemático e caótico como o nosso.

FUTURO PERIGOSO

O que se observa por trás da "maravilhosa profecia" de Chico Xavier é que poderá vir um processo semelhante ao que aconteceu na Antiguidade quando, aos poucos, os progressos de ordem cultural, científica e intelectual observados na Grécia Antiga deram lugar ao obscurantismo teocrático medieval do Império Romano pós-Constantino.

Para quem não sabe, o imperador Constantino (288-337), considerado um dos fundadores do Império Romano do Oriente (tentativa de descentralizar a administração política do Império Romano), teria adaptado o Cristianismo primitivo conforme os valores e interesses da aristocracia imperial romana, criando as bases para o que se conhece hoje como Igreja Católica.

Através dessa fase, o Império Romano deixou para trás todo aquele legado sócio-cultural, científico e filosófico que marcaram a Antiguidade clássica, desde as expressões da Grécia Antiga até a fase em que Roma havia criado um cenário equivalente.

O que se observou foi o início de uma prática de supremacia político-religiosa, que deu origem a um período de intensa repressão e violência, com extermínios e outras crueldades. E tudo isso porque o Império Romano e, mais tarde, o Catolicismo apostólico romano, queria promover o "amor em Cristo" e a "união dos povos no planeta".

Esse temor é o que se observa quando "espíritas" anunciam alegremente que o Brasil "florescerá", diante das catástrofes e atos terroristas que iriam dizimar o Primeiro Mundo, desde terremotos e maremotos que destruiriam a Califórnia, até geleiras derretidas que causariam enchentes a destruir a Escandinávia, passando pelos inúmeros atentados a bomba que arrasariam capitais europeias.

Um Brasil que hoje não consegue manter um abastecimento de água em vários Estados vai ver surgirem do nada cientistas, intelectuais e artistas de grande valor que não têm dinheiro nem apoio para terem sequer um pouquinho mais de visibilidade e que são até rejeitados por boa parcela do grande público.

Isso, na verdade, é uma conversa para boi dormir. Chico Xavier e Divaldo Franco - um dos entrevistados em Data-Limite Segundo Chico Xavier - há muito exploram esse otimismo como forma de atraírem público para si (Chico até 2002) e para os "centros espíritas", sem que percebamos o que está por trás da "cobertura" desse bolo "delicioso e saudável".

O velho fantasma do extermínio de regiões de muito esclarecimento cultural - mesmo em crise, a Europa e os EUA conseguem ampliar e fortalecer o debate sobre diversos deslizes sociais, culturais e políticos - remete à uma possível repetição do extermínio da Grécia, cujas antigas cidades viraram ruínas e cuja boa parte de seu acervo se perdeu, desaparecendo na posteridade.

O Brasil que vê no "funk carioca" um símbolo de "progresso sócio-cultural" vai conduzir a humanidade planetária. De um lado, as baixarias do grotesco atribuídas ao "popular". De outro, o religiosismo moralista "espiritualizado" dos "evoluídos". Sem qualquer sinal de progresso, mas afundado numa crise, o Brasil se destina a ser "a nação mais poderosa do planeta".

Com isso, se repetirá o caso da Antiguidade destruída, enquanto o Catolicismo medieval simbolizava o lado místico e religioso do poder do Império Romano, coisa que se pode repetir quando um Brasil em frangalhos se tornar a "maior nação do mundo".

Eliminando o "velho mundo" que começa a se reavaliar em autocrítica para dar lugar à supremacia de um Brasil tomado de fé cega e impulsos violentos - os noticiários não mentem - , sobretudo a Escandinávia com sua qualidade de vida, o projeto do "coração do mundo" (se esqueceram de que deveria haver também um "cérebro do mundo") poderá trazer danos sérios para a humanidade.

A ideia de um país política e religiosamente centralizador, ainda que sob o pretexto de "unir os povos esclarecidos e sofredores do planeta" e de "resumir as diversas crenças e culturas numa única manifestação de solidariedade", representa sério perigo.

Pois o próprio Catolicismo medieval veio com essa conversa de "união de povos e culturas", de "promoção da solidariedade", de "defesa dos princípios cristãos", e deu no que deu: um período de violentos declínios de ordem social, cultural e política do qual a humanidade teve muito trabalho de recuperar o antigo progresso depois que a Idade Média passou.

Agora, quando se tenta levar um caminho de algum avanço para a humanidade da Terra, surge uma nova ameaça que irá mais uma vez provocar outro retrocesso planetário, criando mais uma dificuldade para se recuperar de tamanhas quedas.

O mundo poderá ficar mais uma vez infartado com mais uma supremacia político-religiosa, desta vez prevista pelo tal projeto do "coração do mundo".

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