sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015
Pesquisadores erram ao "comprovar" supostos dados científicos de "André Luiz"
Há dois anos, o "movimento espírita" havia comemorado a inclusão, sem revisão, de um artigo em inglês de acadêmicos da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que teve como foco principal um dos livros escritos sob a grife "André Luiz", Missionários da Luz, de 1945.
O livro, espécie de "continuação" de Nosso Lar (1943), havia, segundo os autores Jorge Cecílio Daher Jr., Alessandra e Giancarlo Luccheti e outros, antecipado conhecimentos científicos que só seriam descobertos seis décadas depois.
A tese referente a Missionários da Luz foi publicada em 2011 numa publicação científica de segundo escalão, a Neuroendocrinology Letters, cujo portal aparentemente parou em 2013, sem apresentar qualquer atualização de conteúdo.
Embora eles analisassem ligeiramente várias obras do chamado "ciclo André Luiz", eles voltam sua atenção para o livro de 1945 e para dois capítulos, em que são descritos conceitos relacionados à gândula pineal, uma pequena glândula localizada no cérebro e que regula atividades como o sono e o desempenho sexual.
Os pesquisadores alegam que os conhecimentos descritos eram praticamente ignorados pela comunidade científica da época e que eram poucas as publicações referentes ao tema nos meios científicos e médicos.
De acordo com sua tese, o tema só começou a ser analisado "pra valer" na década de 1950, e o "pioneirismo" do suposto espírito de André Luiz é reforçado pelo fato de que Chico Xavier, que supostamente psicografou o livro, era de baixa escolaridade e não era especializado em assuntos de tal envergadura.
INCOERÊNCIAS
A tese, embora representasse, para o pessoal da Federação "Espírita" Brasileira, a consagração de Francisco Cândido Xavier nos meios científicos, apresenta uma série de incoerências. Não vamos mostrar aquelas de cunho estritamente científico, por não ser este blogue especializado em assuntos científicos, mas aquelas correspondentes ao histórico de pesquisas sobre glândula pineal.
Os autores da tese, ligados à mesma Universidade Federal de Juiz de Fora que tenta "confirmar" a suposta mediunidade de Xavier em relação às cartas de Jair Presente - apresentamos contradições aberrantes em duas cartas pesquisadas e ainda mandamos mensagem para a UFJF sobre tais equívocos - , erram quanto ao suposto ineditismo dos livros de André Luiz.
Embora eles admitam que o assunto da glândula pineal seja longamente analisado pela comunidade científica, eles erram ao defender que o assunto havia sido "pouco estudado" nos anos 1940 e que os "conhecimentos" trazidos por Missionários da Luz só seriam reconhecidos seis décadas depois.
Antes de mais nada, o assunto era analisado desde a Antiguidade grega, por volta do século 31 a. C., a partir de pesquisas dos pensadores Herófilo e Erasístrato, e os estudos se avançaram nos últimos tempos através dos estudos do filósofo e cientista francês René Descartes (1596-1650).
Descartes, um dos pensadores apreciados por Allan Kardec, era defensor da ideia de que a dúvida era o caminho mais seguro para procurar a verdade, criando assim uma linha de raciocínio que fez o pedagogo de Lyon criar as bases intelectuais da Doutrina Espírita, bases desprezadas pelos "espíritas" brasileiros.
No século XX, havia, sim, um amplo estudo sobre glândula pineal, envolvendo pesquisadores que vão desde o czeco Frantisek Karel Studnicka, nas primeiras décadas, até pesquisadores da década de 1940 como Gladstone, Wekeley e Bargmann.
Se, na interpretação dos pesquisadores da UFJF, as publicações referentes à glândula pineal eram "escassas", alegando terem sido menos que cem, isso não quer dizer que as ideias aparentemente trazidas por "André Luiz" tenham sido inéditas ou pioneiras.
Diante de tantas acusações de plágio dadas a Chico Xavier, de que seus livros teriam a colaboração de editores da FEB e de que um jovem chamado Waldo Vieira teria criado muitos traços pessoais do suposto médico espiritual, é possível inferir que algum desses livros dos anos 1940 teria servido de fonte para as "inéditas teses" de Missionários da Luz.
Quando ideias complexas passam tardiamente a ter conhecimento público, indo um pouco além da comunidade de especialistas, isso não quer dizer que elas tenham sido ignoradas ou pouco discutidas. Pelo contrário, elas levam tempo para chegarem ao público, diante de um intenso debate que sofrem entre mais de uma corrente de abordagem científica.
Pesquisas científicas levam tempo, seja para comprovar teses sobre o funcionamento do organismo, seja para criar remédios para curar doenças graves, seja para outro fim. Teses arrojadas já são transmitidas e descobertas em dada época, mas levam muito tempo para chegar ao público.
Por isso, a equipe que pesquisou o livro Missionários da Luz, alegando que "André Luiz" antecipou em seis décadas muitos conhecimentos científicos, simplesmente cometeu um sério erro, praticamente uma grande tolice.
Nossa constatação se deu porque esses conhecimentos já eram discutidos na época, pela comunidade científica, e apenas eram de conhecimento mais específico de seus cientistas, e provavelmente algum livro deles foi usado como fonte para as informações descritas em Missionários da Luz.
Mais uma vez, o "movimento espírita" perdeu na tentativa de fazer Chico Xavier ser aceito pela ciência. Acreditando que ganhou a causa, através de uma duvidosa tese acadêmica, os "espíritas" mais uma vez esbarraram em contradições que desqualificam os livros "psicografados", verdadeiros panfletos religiosos que se apresentam como pretensa ciência.
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