sábado, 15 de abril de 2017

Por que no Brasil os privilegiados acham que podem tudo?


O que tem em comum Michel Temer, Fernando Collor, Guilherme de Pádua, Alexandre de Moraes, Luciano Huck, Jair Bolsonaro, Aécio Neves, Jaime Lerner, Sérgio Moro, a CIA, Divaldo Franco, George Soros, os irmãos Marinho das Organizações Globo, entre outros?

Eles são alguns dos privilegiados que acham que, de alguma forma, podem tudo. Hoje vivemos o auge, ou talvez o canto-de-cisne, desses privilegiados que vivem a ilusão de poderem passar por cima de escândalos e ter um prestígio acima de seus erros. Todos acham que o Céu está garantido a eles e que nada irá deter seus privilégios e benefícios.

Há muito alertamos para a supremacia do status quo, o "alto da pirâmide" que agora sofre um incêndio devastador. Em primeiro momento, as elites detentoras de privilégios contam com garrafas de água para apagarem seus incêndios, até que o estoque se acabe e, por engano, recorram a uma garrafa de querosene ou água inflamável para jogarem o líquido na fogueira.

Os privilégios são diversos. Desde o porte de arma, que faz do assassino rico um "deus" que impõe tragédias aos outros e não pode sofrer a sua, até o prestígio religioso, que forja pretensos sábios diante da coreografia fácil das palavras bonitas. Mas outros privilégios, mais conhecidos, como a fama, a fortuna, o diploma, a visibilidade, a tecnocracia, o carisma, a política etc, também revelam essa situação dos "que podem tudo".

É um Brasil que, na Academia Brasileira de Letras, que deveria ser a instituição máxima da intelectualidade literária, conta com uma nulidade como Merval Pereira, que só entrou lá pelo lobby da Rede Globo. E que, na alta corte do Supremo Tribunal Federal, que deveria ser o órgão máximo de regulação das leis brasileiras, há figuras mesquinhas como Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes.

Vivemos a crise do "alto da pirâmide", que poucos levam a sério. E que faz com que as elites saiam do armário e adotem posturas e posições antissociais, o que fez com que pessoas antes de alto prestígio como a atriz Regina Duarte, o publicitário Nizan Guanaes, o empresário Flávio Rocha (dono da rede de lojas de moda Riachuelo), o roqueiro Lobão (que teve sua música "Me Chama" gravada por João Gilberto), e, recentemente, o navegador Amyr Klink.

Na carona desse surto desumano, nem Divaldo Franco escapou. Numa entrevista após um "congresso espírita", ele acusou os pobres refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos colonizadores" em outras vidas, insensível ao esforço de pessoas e até famílias de saírem de áreas em guerra. Mas que diferença tem um Divaldo Franco acusando refugiados de serem tiranos e seu conterrâneo da Bahia, Nizan Guanaes, pedindo para Michel Temer trabalhar contra o povo brasileiro?

As pessoas ainda estão iludidas. É assustador que, nas ruas das regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo, as pessoas estejam tão despreocupadas que parecem viver anos dourados, com uma felicidade acima do normal que as faz se manterem na euforia consumista e festeira como se vivessem os melhores dias de todos os tempos.

Elas não sabem que a catástrofe sócio-política está à sua porta. Há uma espécie de "tsunami social" que atingirá tudo e todos e é ilustrativo que, um ano depois das manifestações "contra a corrupção" que derrubaram Dilma Rousseff, a lista de suspeitos de esquemas de corrupção política divulgados pelo procurador Rodrigo Janot com base em delações da Odebrecht é ilustrativa.

Evidentemente, a coisa ainda não se resolverá. A crença de que "aventureiros" como Jair Bolsonaro possam chegar ao poder é muito grande e grave. A histeria cega de muitos brasileiros ditos "revoltados", iludidos por acreditarem que um "aventureiro" político possa "salvar o Brasil" (foi essa ilusão que gerou governos autoritários e sanguinários pelo mundo afora), preocupa.

Mas se até Jair Bolsonaro é citado em delações, como um dos beneficiados do escândalo de Furnas - o maior episódio de corrupção envolvendo o senador Aécio Neves - , não bastasse os crimes que ele fez em incitação ao estupro e ao racismo, a coisa então está muito, muito feia.

Na cultura, com movimentos cada vez mais decadentes de música brasileira e com o império das subcelebridades, na mobilidade urbana, com os ônibus "padronizados", todos iguaizinhos, escondendo a corrupção das empresas de ônibus ocultas pela "pintura de consórcio", nas redes sociais, com a atuação de "fascistas mirins" cometendo cyberbullying e criando páginas ofensivas contra seus desafetos.

O Brasil terá que rever muito e muito os prestígios sociais. Se um ídolo religioso usa seu prestígio para fazer juízo de valor contra miseráveis, então nem isso está a salvo de qualquer desgaste nas altas posições da pirâmide social. E se hoje empresários e políticos começam a se desgastar em escândalos de corrupção, juristas, religiosos e empresários de mídia, também dotados de muitos graves defeitos, também chegarão ao ponto de não empurrarem mais seus escândalos com a barriga.

Será um processo de convulsões do "alto", e é bom que as pessoas tenham que mudar suas percepções, seus sonhos, suas perspectivas, de forma a abandonar, se preciso, antigos ídolos, antigos totens, antigos dogmas. Depois que as elites, em 2016, tentaram uma volta para 1974, nota-se que o alto da pirâmide social, no Brasil ou nos setores estrangeiros aqui influentes (como no caso do especulador George Soros), está corroendo de mofo e cupins, além de sofrer um grave incêndio.

Se as pessoas não abrirem mão de velhos totens e dogmas, é bem provável que um grande trauma virá, porque não dá para retroceder o tempo, como os arautos da terceirização e das reformas trabalhista e previdenciária do retrógrado governo Michel Temer querem. Querer voltar a sociedade para parâmetros sociais de 1974, com alguns aspectos de República Velha ou Brasil-colônia, é querer forçar uma volta ao passado que não faz sentido hoje em dia.

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