TABULEIRO OUIJA E A SUPOSTA MEDIUNIDADE DE CHICO XAVIER - O mesmo entretenimento fútil e sensacionalista.
O "espiritismo" brasileiro é uma religião negativamente peculiar. Diferente das religiões católica e evangélica, que podem ser mistificadoras mas são honestas em sua estrutura doutrinária, o "espiritismo" brasileiro tem a marca da dissimulação: pratica igrejismo barato e mediunidade de faz-de-conta, mas diz que "mantém respeito rigoroso" aos postulados kardecianos.
Com DNA roustanguista, ou seja, com sua estrutura doutrinária fundamentada no igrejismo medieval de Jean-Baptiste Roustaing, o "espiritismo" feito no Brasil está pagando o preço caro de suas contradições, e a "fase dúbia" está vivendo a mais aguda crise, depois que ela se instituiu após a morte do ex-presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas.
O legado de Wantuil continuou. Ele criou o mito de Chico Xavier, quando o suposto médium Francisco Cândido Xavier, um católico ortodoxo, de crenças medievais próprias de caipira do interior, afirmou possui paranormalidade. Foi como se Wantuil tivesse investido na criação de um popstar, alçado para popularizar uma doutrina já desfigurada, que nada tinha da essência original das obras do pedagogo francês Allan Kardec.
A desonestidade doutrinária do "espiritismo", que depois de assumir um roustanguismo entusiasmado, a ponto de forjar falsas mensagens espirituais de um caricato "Allan Kardec" falando como se fosse um padre brasileiro e pedindo para conhecer "a Revelação da Revelação" (subtítulo de Os Quatro Evangelhos de Roustaing), passou a prometer "rigor absoluto" aos postulados kardecianos, atraiu espíritos levianos, identificados com todo tipo de dissimulação.
A mediunidade de faz-de-conta, que faz supostos mortos "pensarem" e "escreverem" igual ao "médium" de ocasião, o igrejismo velho calcado no jesuitismo do Brasil-colônia, as tentativas de desmentir e omitir atitudes e posturas gravíssimas adotadas por seus praticantes, alguns deles palestrantes tidos como de "mais alto gabarito", tudo isso transformou o "espiritismo" numa doutrina com energias maléficas.
Nem passando debaixo de escada ou quebrando espelhos se consegue tamanho azar. E, coitados dos gatos pretos, que podem ser adoráveis e fontes de muita boa sorte, tidos injustamente como animais de mau agouro! Ler, por exemplo, um livro de Emmanuel vale, não obstante, um azar dos mais graves, e não raro uma simples adoração a Chico Xavier por uma exposição de meia-hora pode significar um azar de uma vida inteira!
Os seguidores do "espiritismo" se chocam quando se chega a essa constatação. Mesmo alguns críticos da deturpação da Doutrina Espírita acham isso "um exagero". Não raro se vê gente comentando: "Que o espiritismo no Brasil é igrejista, mistificador e ritualista, tudo bem, mas não acho que isso cause azar", apelando para a culpabilidade da vítima pelo azar contraído.
Mas muitas vezes esse azar vem do nada. Os infortunados fazem sua parte: vão para uma "casa espírita" com o melhor dos humores. Assistem com paciência doutrinárias que soam maçantes, esperam longas filas para recorrer ao auxílio fraterno, vêm de lugares distantes para fazer tratamentos espirituais, seguem todas as recomendações, prestam respeito aos figurões "espíritas", se envolvem em bons sentimentos e obtém simpatia.
Portanto não é a vítima que é culpada pelo azar. É muito fácil acusar a vítima de sofrimento de ser culpada pelo seu próprio mal. O sofredor faz sua parte para superar suas aflições, e até evita suicídio, embora os "espíritas" pensem que se suicide por pura diversão, talvez para ver se a faca está afiada ou se a bala de revólver pergura mesmo o corpo humano.
O "espiritismo" é que não faz sua parte. E a doutrina já começou infectada de más energias, que fez a seita brasileira ser tomada de espíritos atrasados de várias espécies: uns vindo das elites do Império Romano, outros das tirânicas fileiras católicas da Idade Média, outros do jesuitismo autoritário e sociopata do Brasil-colônia e outros do período macartista dos EUA.
TÁBUA OUIJA
São energias maléficas trabalhadas por ações dissimuladas ou fingidas, e por posturas retrógradas tomadas. Uma "mediunidade" em que, na prática, o "médium" fala pelos mortos - não na saudável metáfora do porta-voz, mas pelo pastiche e pela imitação grosseiras que desrespeita a individualidade alheia - , acaba equivalendo à prática perigosa da Tábua Ouija que entretinha levianamente muitas pessoas.
Sim. Chico Xavier e Divaldo Franco, e, mais recentemente, João de Deus, entre tantos outros, acabam rebaixando a mediunidade a uma diversão fútil e extremamente perigosa nos níveis da Tábua Ouija, em que pessoas pediam para copos e mesas se moverem para ver se são os espíritos do além-túmulo, popularmente conhecidos como "fantasmas", estão dando algum recado.
O que se vê, em espetáculos "mediúnicos" como os que marcaram a trajetória de Chico Xavier, ele mesmo uma personalidade sem um pingo de confiabilidade e que, em fotos mais antigas, mostrava claramente seu semblante pesado e diabólico, algo que o anti-médium baiano teve que esconder através dos óculos escuros, porque, sem eles, o olhar do "médium" poderia até matar alguém, de tão maligno.
Quanta ambição arrivista, quantas confusões armadas, quanta mistificação, quanto conservadorismo, quanta leviandade! E os espetáculos "mediúnicos", que as pessoas estão acostumadas a ver como atividades "saudáveis" de "solidariedade" e "humildade" porque os noticiários da Rede Globo - a atuação da Globo na reciclagem do mito de Chico Xavier, para enfrentar os "pastores eletrônicos" neopentecostais, não pode ser ignorada - , se tornaram passatempos fúteis e levianos.
Primeiro, porque evoca-se um morto sem muita necessidade, e na ostentação de plateias numa "casa espírita". Chama-se um morto, mas ele não pode se manifestar, porque o "médium" é que se manifesta em nome dele. Cria-se muito sensacionalismo, e há também as paixões igrejeiras que só complicam as coisas, criando um sentimentalismo exagerado, mórbido, alucinado.
O "espiritismo" virou, portanto, uma mera diversão fútil, um balé de palavras bonitas, um desfile de estórias de gente que sofreu derrotas pesadas na vida, obteve bênçãos e viveu feliz, arremedos grotescos dos contos de fadas da infância. Livros "espíritas" cheios de erros históricos grotescos, romances "espíritas" ruins, livros "científicos" cheios de invencionices, pedantismo e esoterismo, em que se encontra mais Horóscopo do que a verdadeira Filosofia.
E tudo isso gerando também uma orgia religiosa. Muitos ignoram que as paixões religiosas podem revelar uma morbidez psicológica semelhante à das orgias do sexo, do dinheiro e das drogas. Quantas trevas se vê nas "casas espíritas" do espetáculo sensacionalista da pretensa mediunidade, diferente dos serviços mediúnicos dos tempos de Kardec. E que masturbação com os olhos se observa no recreio das comoções fáceis diante da água-com-açúcar dos dramalhões "espíritas"!
Essa "atmosfera" não afasta os espíritos inferiores, mesmo os maléficos. Os faz apenas se controlarem, como aquelas pessoas que ficam humilhando os outros na Internet e, pessoalmente, se comportam de maneira civilizada nos eventos sociais. Quantos mafiosos também não se comportaram de maneira elegante em festas de gala! E os espíritos inferiores são os que mais gostam de palavras adocicadas, melodias melífluas e igrejismo piegas, bem mais do que possamos imaginar.
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