sábado, 8 de abril de 2017
"Amor" e "caridade" não transformam engodo retórico em coerência
As pessoas estão acostumadas com o "espiritismo" deturpado, que evoca Allan Kardec apenas no discurso. Na prática, elas se conformam com um engodo igrejeiro que nada diz em relação aos postulados espíritas originais, e que reduzem a Doutrina Espírita a um mero receituário moralista, mais parecendo um Catolicismo à paisana.
A prevalência do "espiritismo" brasileiro se dá pela confusão de ideias e pela falta de esclarecimento na sociedade. O pouco conhecimento das ideias de Allan Kardec, apenas mal apreciadas através de terceiros - inclusive revistas e reportagens que só descrevem errado a Doutrina Espírita e a oferecem deturpada aos leitores - , e a conformação com o igrejismo que remete a um saudosismo religioso do passado.
O engodo igrejeiro que mistura ideias genéricas de mediunidade e vida espiritual com valores do igrejismo católico, incluindo toda a carga piegas e sentimentalista de seus ritos e mitos, faz as pessoas acharem que há coerência quando todo esse engodo está "destinado ao bem". Mistura-se ideias místicas e fora de lógica com imagens de crianças pobres e jardins floridos e, pronto, acredita-se que a coerência encontrou morada nessa bagunça ideológica.
Não é assim. Imagine você se hospedar num hotel sujo, mal construído, com serviços irregulares, mas com a equipe toda dando um atendimento cordial, simpático e alegre. O ambiente fica limpo só porque gerente e funcionários são simpáticos a seus hóspedes?
E quando um encanador é contratado, ele tenta consertar um vazamento num cano de cozinha, o trabalho é malfeito, o cano se encaixa, mas, em poucas horas, ele estoura e molha toda a cozinha. E o eletricista, fazendo um trabalho semelhante, mas depois do resultado ocorre um sério curto-circuito. Se esses trabalhadores são simpáticos e trazem palavras de alegria e otimismo, eles se tornam bons trabalhadores com isso, apesar dos péssimos resultados causados?
Mas no "espiritismo", em que valores moralistas conservadores se mesclam a visões fantasiosas da vida espiritual, como as "colônias espirituais" concebidas pelos caprichos materialistas de quem quer acreditar que a encarnação presente é sempre um lixo, as pessoas aceitam toda a confusão de ideias por causa de "mensagens bonitas" e outras ideias agradáveis.
"Vazam" ideias reacionárias por trás de alegações moralistas em defesa do sofrimento, sob a famosa desculpa dos "resgates espirituais". "Curtos-circuitos" ocorrem entre ideias "sábias" de Chico Xavier e Divaldo Franco e os postulados espíritas originais, algo facilmente comparável no confronto entre as bibliografias "espíritas" brasileiras e a de Kardec.
Será que, apesar disso, as pessoas irão atribuir coerência só por causa do apelo ideológico das belas palavras, das imagens de gente humilde, triste ou alegre, dos jardins floridos e dos céus azuis com nuvens brancas e a frequência com que se pronuncia a palavra "amor"?
Não. Isso é falta de coerência. Por mais agradável que seja sua ideia, o "amor" não está acima de tudo, até porque seu sentido só se mantém através da honestidade, da sinceridade e da coerência de ideias. Quando a ideia de "amor" está associada, pelo contrário, à desonestidade doutrinária de um "espiritismo" que evoca Kardec no discurso e o trai na prática, não assume o roustanguismo que no fundo professa e prega ideias truncadas e mistificadoras, o "amor" perde todo o sentido de ser.
As pessoas precisam parar com a emotividade cega, que trava a percepção das coisas, achando que "tudo é amor" e por isso vale jogar a coerência no lixo. Paciência, somos seres racionais e não se pode trair, mesmo sob a desculpa dos "bons sentimentos" e das "lindas emoções", nossa capacidade de raciocínio.
O Catolicismo já se perdeu porque jogou fora os escrúpulos da razão e o "espiritismo" está seguindo o mesmo caminho, de um vale tudo de "belas fantasias" e "palavras de amor". E isso, de maneira explícita, contraria seriamente os ensinamentos de Allan Kardec, que sempre recomendou o rigor da razão para examinarmos muito engodo que é inserido em nome da Doutrina Espírita.
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