domingo, 31 de dezembro de 2017

Você e a Paz, Ecumênico? Ou uma propaganda pessoal de Divaldo Franco?

EVENTO VOCÊ E A PAZ É UM ATENTADO AO LEGADO ORIGINAL DO ESPIRITISMO.

O evento Você e a Paz é uma boa oportunidade para observarmos as armadilhas existentes em atividades que envolvem um forte apelo emocional, um aparato que soa bastante suspeito pelo excesso de elementos belos e comoventes, que geram uma catarse emotiva que é confundida com vibrações elevadas e alegria verdadeira, mas são apenas sensações emocionais motivadas pelo deslumbramento religioso.

O evento, em si, já é um atentado ao legado original do Espiritismo de Allan Kardec, não pela mistura de religiões, mas, antes, pelo desvirtuamento do sentido da palavra "médium", No tempo do pedagogo francês, a figura do médium era apenas serviçal, quase anônima, na qual só se reconhecia praticamente pelo sobrenome e tinha uma reputação de mero intermediário, sem pretensões de suposta filantropia nem de arrivismos pseudo-intelectuais.

No Brasil, o sentido original de médium foi derrubado. Ele deixou de ser o intermediário para ser o centro das atenções e, além do sobrenome, o "médium" brasileiro tem prenome e nome do meio. Tornou-se anti-médium, porque, até para buscar mensagens dos mortos, o "médium" passou a ser uma grife, contrariando as lições originais do Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos.

Como no Brasil existe desinformação e emotividade frágil, os "médiuns espíritas", mesmo sendo abertamente traidores dos ensinamentos espíritas originais, são acolhidos até por muitos incautos que creem que os próprios deturpadores, "aprendendo a lição", vão recuperar os postulados kardecianos originais, como raposas que prometem reconstruir o galinheiro.

Mas tudo isso foi em vão. E o que se viu foi praticamente uma "privatização" das virtudes humanas, que se tornaram apenas marcas centrais dos "médiuns espíritas", tidos como "símbolos máximos de amor e caridade".

Há artifícios que comprovam isso, embora se fale que essas virtudes estão "no alcance de qualquer um". Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco tornaram-se exemplos disso, e, se eles são vistos como "símbolos máximos" das virtudes humanas, é porque eles, simbolicamente, tornaram-se "donos" delas, como se ninguém pudesse ser bondoso se não passar por eles.

Chico Xavier virou "dono" da palavra "amor", obtendo uma espécie de copyright simbólico em relação a essa palavra. Divaldo Franco escolheu a palavra "paz" para obter seu copyright simbólico que, a exemplo do outro, é "de livre uso para todo tipo de pessoa e de todo tipo de crença", mas seu vínculo ideológico tem que passar inevitavelmente pelos "médiuns".

O VOCÊ E A PAZ DEIXA CLARO: CULTO DA PERSONALIDADE DE UM "MÉDIUM"

O evento Você e a Paz deveria ser investigado pela imprensa progressista, que adota uma abordagem bem diferente da mídia hegemônica, que protege os "médiuns espíritas" e os transformam em mitos às custas de muito sensacionalismo, pieguice, fascinação e proselitismo religioso.

O caso da "farinata", lançada durante o evento, surpreendeu não pela gravidade do ato em si, pois o alimento gerou um escândalo que provocou seu cancelamento pelo próprio prefeito de São Paulo, João Dória Jr., mas pelo surreal silêncio da imprensa progressista quanto ao envolvimento de Divaldo Franco como anfitrião do evento que lançou oficialmente a constrangedora "ração humana".

Os "médiuns" já são mais blindados que os políticos do PSDB, e sabe-se muito bem que o "médium" Divaldo Franco foi o anfitrião que saiu pela porta dos fundos, pois o lançamento da "farinata" se deu num evento comandado por ele e, no entanto, ele nunca foi responsabilizado por tal equívoco. Se ao menos um Diário do Centro do Mundo, um Brasil 247 ou um Jornal GGN indagasse sobre a participação de Divaldo nessa roubada, seria razoável. Mas o silêncio foi geral.

Isso porque há uma coisa surreal que beneficia os "médiuns". Quando eles fazem algo de positivo ou agradável, eles "têm decisão própria", são pessoas "de coragem" e agem "com muita lucidez e coerência". Quando os "médiuns" fazem coisa errada, ainda que comprovadamente por decisão própria e consciência dos riscos, fala-se que eles "foram manipulados", "não sabiam das coisas", "foram enganados" etc.

Isso traz muitas contradições. Mas o que é contradição no "espiritismo" brasileiro, que jogou no lixo a racionalidade original da doutrina francesa, e preferiu ficar imerso nas tentações da emotividade cega? Afinal, os "médiuns", ao serem atribuídos, nos seus erros, como "enganados" ou "desinformados", põem em xeque sua alegada postura de "mestres" e "sábios".

O Você e a Paz é um evento de Divaldo Franco. Isso é claro. A imprensa progressista tentou inventar que a edição paulista era de responsabilidade da católica Arquidiocese de São Paulo, que apenas atuou como parceira e patrocinadora. Mas o "médium espírita" é que é responsável pelo evento, e isso se torna claro quando ele é divulgado em suas edições no Brasil e no mundo.

Embora seja um evento "ecumênico", no qual participam representantes de diversas correntes religiosas - da Seicho-No-Iê à umbanda - , o evento mostra claramente quem é que é o centro das atenções. Divaldo Franco é quem idealizou, comanda e se destaca no evento.

E aí vemos a derrubada do sentido original do médium da Doutrina Espírita. Há o culto à personalidade em torno de Divaldo, que é o único a ser entrevistado em nome do evento, o que contraria as atribuições subliminares de certos esquerdistas de vontade débil, que no caso da "farinata" fizeram crer que o Você e a Paz era um evento do arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer.

Divaldo Franco é o maior deturpador vivo da História do Espiritismo. Apesar do tom professoral e de poses de falso intelectual e pretenso sábio, ele transmite ideias igrejeiras bastante explícitas e foi definido como seguidor de Jean-Baptiste Roustaing por ninguém menos que José Herculano Pires, jornalista espírita e o melhor tradutor da obra original de Allan Kardec.

O Você e a Paz, que muitos acreditam ser um "evento pacifista sério", mas não passa de uma turnê de missas multi-religiosas com Divaldo comandando o sermão final, demonstra claramente que é um evento de propaganda pessoal do "médium" baiano, que, recebendo o culto à personalidade, se destaca como um suposto líder pacifista que não foi capaz de combater uma "farinata".

Ele se beneficia pelos vícios que os brasileiros possuem, que os levam a aderir facilmente a ídolos religiosos que fazem apelos emotivos fortes, manipulando corações e mentes. Se os neopentecostais, com seu pretenso profetismo e seu discurso de "indignação", manipulam as pessoas mesmo com seus apelos mais grosseiros e agressivos, um "médium" espírita se passa por "confiável" com um discurso adocicado e cheio de pieguices.

Fazer o quê, o Brasil anda muito brega nas últimas décadas a ponto de permitir que os deturpadores Chico Xavier e Divaldo Franco sejam vistos como pretensas unanimidades e se deixe que eles se tornem os "donos" das virtudes humanas como o "amor" e a "paz", que não podem ser livremente apreciadas sem passar pelo culto à personalidade dos dois "médiuns"!

sábado, 30 de dezembro de 2017

Depois de receber Divaldo Franco, PUC-RS tem evento com Sérgio Moro. Progressista?


Depois de oferecer suas instalações para a realização do 9ª Congresso Espírita do Rio Grande do Sul, do qual um dos principais palestrantes foi Divaldo Franco, a Pontifícia Universidade Católica do Estado sulista, cuja sigla é PUC-RS, promove um curso de pós-graduação com figuras associadas ao conservadorismo ideológico.

Intitulado "Pós-graduação em finanças, investimentos e banking", o evento tem em seu programa convidados associados ao pensamento conservador brasileiro nos últimos anos, incluindo personagens que vieram à tona depois que a presidenta Dilma Rousseff foi expulsa do poder, em 2016.

Um dos convidados a dar aula-palestra é o juiz paranaense Sérgio Moro, um dos responsáveis pela Operação Lava Jato. Muito badalado, o juiz Moro, no entanto, é conhecido por desobedecer princípios do Direito, investindo em arbitrariedades policialescas como a condução coercitiva para depoimento. Ele também é acusado de quebrar protocolos que seriam caros para seu ofício, como receber homenagens de políticos do PSDB e de executivos da Rede Globo.

Mas a pior acusação relacionada ao juiz Sérgio Moro é a de que sua atuação está sendo bastante parcial, sendo o magistrado extremamente rigoroso e inflexível com acusados ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT) - principalmente o ex-presidente Lula, condenado sem provas documentais - , mas bastante frouxo em relação a outros partidos, como o próprio PSDB.

O evento conta também com a participação do economista e comentarista do Manhattan Connection do canal Globo News - um dos veículos destacados do cenário conservador atual e que tem o reacionário Diogo Mainardi, do blog de extrema-direita O Antagonista, como participante - , Ricardo Amorim (que falou uma besteira sobre a reforma trabalhista, dizendo que, "para os salários crescerem, eles teriam que cair").

Outro participante é Luiz Felipe Pondé, "filósofo" de direita que, por uma certa ironia, não acredita no Espiritismo, seja ele autêntico ou bastardo. Não faz mal: em relação ao "espiritismo" brasileiro, se Luiz Felipe Pondé não acredita nos "espíritas", os "espíritas" acreditam nele. O "espiritismo" brasileiro, pelo menos, apoiou o mesmo golpe político de 2016 apoiado também por Pondé.

Porto Alegre também é sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no qual três desembargadores, sendo um deles, João Pedro Gebran Neto, amigo e ex-colega de faculdade de Moro, irão julgar em segunda instância a condenação que o juiz paranaense deu a Lula pelo caso do triplex do Guarujá, de nove anos e meio de prisão em regime semi-aberto.

Será que Divaldo Franco manifestou suas bênçãos aos desembargadores do TRF-4, quando esteve na capital gaúcha? Sabe-se que o "espiritismo" adora Sérgio Moro e não vê a hora de Lula sair de cena para abrir caminho a um político mais sintonizado com o que os conservadores - e os próprios "espíritas" - definem como "melhor sintonizado com os ensinamentos cristãos". Depois dizem que o "espiritismo" brasileiro é progressista...

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Mudança de discurso derruba Divaldo Franco


Divaldo Franco é considerado um dos ídolos religiosos mais hipócritas do Brasil. Isso não se baseia em declaração de pessoas invejosas ou religiosamente intolerantes, mas remete aos alertas dados, com antecedência, pelo renomado jornalista e estudioso espírita José Herculano Pires, que havia descrito o anti-médium baiano com palavras bastante contundentes, numa carta divulgada na imprensa:

"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (...); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

Vendendo uma pretensa imagem de "líder pacifista", Divaldo, que reúne caraterísticas de pseudo-sábio e pretenso filantropo que seriam claramente condenáveis por Allan Kardec e Jesus de Nazaré, é um artífice das palavras dóceis, um confeiteiro da oratória, no qual tempera seus discursos com o mel das palavras, que no entanto personificam alguns dos aspectos negativos que a literatura kardeciana nos preveniu há muito tempo: textos empolados, ideias truncadas, falso intelectualismo, mistificação.

Em vez de se aposentar, como deveria ser de praxe, Divaldo Franco tenta insistir em fazer palestras e dar depoimentos, mesmo com 90 anos. Ele precisa manter o seu estrelato e seu aparato de "luminosidade" com suas encenações oratórias e seus depoimentos açucarados, não raro dotados de muita pieguice. O deturpador do Espiritismo tenta, com isso, explorar a emotividade da opinião pública e usar a "paz" como um gancho para dominar as pessoas.

Esperto, Divaldo Franco tem como artifício malicioso "elogiar" ateus e não-religiosos, como um lobo elogiando a tranquilidade das ovelhas. Disse, em várias ocasiões, que "prefere um ateu digno do que um religioso sem dignidade". Deveria então se olhar no espelho e ver a indignidade de sua figura, um seguidor de Jean-Baptiste Roustaing que vive puxando o saco de Kardec, como o Rolando Lero na Escolinha do Professor Raimundo.

Incoerente, Divaldo Franco fez muitas coisas sombrias, por trás do mel das palavras e da teatralidade de suas oratórias, que dá um falso ar de coragem e energia que ele não teve no episódio da "farinata" do prefeito paulistano João Dória Jr., porque Divaldo, organizador do Você e a Paz, nada fez para impedir o cancelamento do lançamento desta "ração humana", já previamente condenado por entidades ligadas à nutrição, saúde pública e os movimentos sociais.

Mas aqui vamos mostrar um aspecto contraditório, em que Divaldo Franco, como um falso profeta, muda sua interpretação a respeito das mudanças planetárias, depois que 2012 não cumpriu a perspectiva dele de chegar a regeneração. Em atitude explicitamente condenável pela literatura kardeciana, Divaldo supunha que 2012 iria ser o começo de uma "nova era".

Vamos então extrair um depoimento de Divaldo Franco em Novo Hamburgo, no dia 26 de agosto de 2012, cidade onde se realizou um evento "espírita" que contou com a presença do "médium". A entrevista foi feita para o portal G1 e Divaldo aproveita para bajular o "amado mestre" lionês, citando uma de suas ideias:

Tem gente que tem medo que o mundo acabe em 2012. O que vai acontecer de fato?

Divaldo Franco: Já estamos na grande transição planetária. Allan Kardec faz abordagem no livro "A Gênese" e fala sobre a nova era. Todas as doutrinas falam de um mundo melhor. É certo que o mundo se acabará do mal. O mal que vige cederá lugar ao bem e o calendário maia fala exatamente isso. Então espíritos nobres, de outra dimensão, que nós chamaremos seres angélicos, encarnarão na Terra e os maus não terão chances de continuar. Eles irão para mundos inferiores transitoriamente, porque Deus não castiga. Quando eles evoluírem, vão alcançar uma terra melhor. O porvir é abençoado. Hoje é um mundo de provas e expiações, o do futuro é um mundo de regeneração.

Cinco anos depois, Divaldo muda seu ponto de vista. Desde 2013 "preocupado" com a crise, ele sugeriu que os brasileiros "orassem", nada muito diferente do que pediu o neopentecostal Silas Malafaia. Divaldo tenta manter o tom de seu "otimismo", mas não consegue esconder a contradição que uma pretensa previsão causou, cinco anos depois. A entrevista foi dada no dia 06 de novembro de 2017, para o jornal Zero Hora, em razão de um evento "espírita" em Porto Alegre.

O Brasil vive hoje um momento difícil. Há uma crise político-econômica, a violência aumenta e enfrentamos momentos de intolerância. Que leitura o senhor faz desse cenário?

Divaldo Franco - Toda a vez em que a civilização atinge um ápice de progresso, há uma curva de afirmação de valores. E naturalmente, uma decadência. (Isso ocorre) Desde a antiga Babilônia até a Europa moderna, que atingiu um alto nível na civilização e, no entanto, não pode evitar duas guerras. É um fenômeno natural e histórico no processo da evolução. Apesar disso, nunca houve na humanidade tanto amor, tanta bondade e tanto sacrifício. A crise nos afeta muito. Mas é necessário descobrir os valores que estão ocultos e que os exaltemos. A crise é uma preparação de mudança - de natureza social ou tecnológica. É para a adaptação.

Isso mostra o quanto um falso profeta tenta usar de malabarismos discursivos para disfarçar suas contradições. A aventura de supor datas de evolução drástica da humanidade e, depois, esconder o equívoco de seu erro, mostra o quanto Divaldo Franco não merece a menor credibilidade. Um sujeito como esse não é digno de merecer atribuições de coerência, sabedoria e bom senso. Em países menos imperfeitos, um sujeito desses estaria falando no deserto.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Declaração de João de Deus sobre Sérgio Moro confirma: "espíritas" apoiaram o golpe de 2016

JOÃO DE DEUS NÃO ESCONDE SEU DESEJO DE VER SÉRGIO MORO PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

O latifundiário, pretenso médium curandeiro e dublê de ativista social João Teixeira de Faria, o João de Deus, fez uma declaração recente em favor do juiz paranaense Sérgio Moro, confirmando o apoio que os "espíritas" deram e continuam dando para o golpe político-jurídico de 2016, que levou Michel Temer ao poder.

Segundo João de Deus, Sérgio Moro surpreende pelo seu "trabalho de honestidade" e diz que o juiz da "República de Curitiba" daria um ótimo presidente da República, e o anti-médium goiano acrescentou que o juiz "está sendo guiado por Deus".

Segundo o "médium" de Abadiânia, Goiás, Moro é um líder nato, sem temor algum em ser perseguido, e tem a capacidade de trazer esperança para a população, além de exercer tudo aquilo que é visto como necessário por ele e também por parte da população.

"A presidência não é para qualquer um e ele tem capacidade, é honesto e um homem respeitável", disse ainda João de Deus, conhecido bajulador e "amigo" do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, mas que deu o "beijo da morte" na ex-primeira-dama, Marisa Letícia, que parecia curável de AVC, mas morreu "coincidentemente" após João de Deus ter dito que "orava muito por ela".

A postura "progressista" de João de Deus é, como em todo "espírita", um jogo de cena. Consta-se que ele só recebeu a famosa atriz de televisão e cinema, Camila Pitanga, por indicação do colega dela na novela Velho Chico, o "espírita" Carlos Vereza, de orientação ideológica contrária da atriz, pois Camila já havia se declarado, certa vez, que era ateia e de esquerda.

Camila Pitanga também é filha do ator e cineasta Antônio Pitanga - de Barravento, dirigido por Glauber Rocha - , até hoje em atividade e que conviveu profissionalmente com atores ligados ao "espiritismo", como Nelson Xavier e Paulo Goulart, num tempo em que a poderosa TV Tupi estabelecia um lobby com a FEB e fazia tráfico de influência "espírita" nos círculos televisivos, o que fez o produtor Humberto de Campos Filho se render aos "espíritas".

Por sua vez, João de Deus, quando foi fazer exames de rotina - havia retirado um tumor antes e periodicamente tem que voltar para verificar o andamento de sua saúde após uma cirurgia - , no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, se encontrou com o presidente Michel Temer, com o qual manifestou uma relação de muita cumplicidade, diferente da formal cordialidade com que o "médium" atendeu Lula, que a mídia superestimou como se fosse uma "grande amizade".

Apoiando Sérgio Moro, João de Deus, além de confirmar a tendência do "espiritismo" brasileiro, também deixou cair a máscara de "amigo de Lula". Sabe-se que o "espiritismo" apoiou o golpe político-jurídico de 2016 - apoiando a Operação Lava Jato e elogiando os protestos fascistas do "Fora Dilma", definidos como "começo da Era da Regeneração" - e apoia o governo Michel Temer, assim como suas amargas reformas trabalhista e previdenciária.

Ao defender Sérgio Moro e não disfarçar seu desejo de ver o juiz presidente do Brasil, o "médium" de Abadiânia apoiou justamente um juiz que não esconde sua ânsia em prender Lula, mesmo às custas de irregularidades na conduta jurídica, pois Moro é famoso por utilizar métodos fascistas como a condução coercitiva para depoimentos e as negociações espúrias para delação premiada.

Um exemplo dessas negociações foi descrito por Rodrigo Tacla Duran, ex-advogado da Odebrecht e UTC, duas empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato. Segundo Tacla Duran, o ex-procurador Marcelo Miller, hoje um dos investigados, teria perguntado a ele quais os suspeitos de esquemas de propina que Tacla poderia denunciar, algo considerado ilegal, pois nenhum magistrado pode induzir um acusado a escolher quem pode delatar.

As atitudes de Sérgio Moro também apontam aspectos duvidosos, do contrário que o "médium" de Abadiânia fala. Enquanto Moro jura atuar com imparcialidade e isenção e diz não sofrer de estrelismo nem ter se tornado celebridade, ele aparece em eventos sociais como um astro pop, ovacionado pelos fãs e compareceu a eventos promovidos pela mídia hegemônica, o que não cabe a um juiz que queira ser, no mínimo, levado a sério.

Além disso, é antológica uma imagem de um evento promovido pela revista Isto É, no qual Sérgio Moro aparece ao lado de Aécio Neves (tucano muito comparado ao "médium" e conterrâneo, Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, pelo modo arrivista de ascensão social), com muita cumplicidade e rindo de uma possível piada. A atitude de Moro, aparecendo descontraído ao lado do senador tucano, acusado de corrupção, derrubou a imagem de "imparcial" do juiz de Curitiba.

Quanto a João de Deus, ele tem um atributo que nada lembra o de um progressista, sendo um poderoso proprietário de terras. Paciência, João Goulart, ex-presidente do Brasil e deposto pelo golpe de 1964, foi um dos poucos latifundiários que se tornaram exceção à regra reacionária do ramo.

O "médium" de Abadiânia é proprietário de uma área que equivale a 18 vezes o Parque do Ibirapuera, por sinal local do evento Você e a Paz no qual o "médium" baiano Divaldo Franco, outro amigo do golpe de 2016, ofereceu ao prefeito de São Paulo, João Dória Jr. a lançar oficialmente um composto alimentar suspeito, que os movimentos sociais definiram como indigno. Depois Divaldo diz que reprova religiosos indignos. Ele precisa se olhar no espelho.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Divaldo Franco e a sua obsessão do "ter"


A obsessão pelo "ter" é apenas material? Ela se limita às orgias da matéria, do sexo, das drogas e do dinheiro? A busca do prazer mundano se limita aos gozos materiais? Até que ponto os prazeres mundanos também não podem estar a serviço da fé e da religiosidade?

Divaldo Franco, o maior deturpador vivo de toda a história do Espiritismo, depois que seu antecessor Francisco Cândido Xavier havia falecido, é um malabarista das palavras, que só não causa estranheza porque os brasileiros estão tomados de muita desinformação e apegados, de maneira doentia, a velhos paradigmas emotivos que garantem a santificação de "médiuns" que na verdade são figuras traiçoeiras e bastante levianas.

As pessoas se surpreendem com as palavras com sabor de mel de Divaldo Franco e não contestam. Ah, se conhecessem a mancenilheira, planta bela, de frutos saborosos, mas uma árvore venenosa em todo seu conjunto, com frutas que, mastigadas, dão um gosto maravilhoso, mas depois provocam infecções que causam a morte. Tocando nas lindas árvores, também se contraem queimaduras que podem ser fatais.

As recomendações trazidas pela literatura espírita original sempre alertaram para os deturpadores adotarem um tom amoroso e falarem as mais belas mensagens para inserir conceitos levianos e dominar as pessoas. O excesso de mel das palavras pode representar um risco de dominação e posterior controle das mentes das pessoas.

Não por acaso, os seguidores de Divaldo Franco e Chico Xavier são os que mais perdem a cabeça quando são contrariados. Quando tudo está bem, são dóceis, meigos e solidários. Quando são contrariados na menor crença, explodem em fúria, fazem ameaças e carregam em agressivas ironias. Eles são o exemplo de como pessoas podem ser manipuladas pelo açúcar das palavras e pelo colorido das imagens. 

No capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, Erasto é explícito no seu recado:

"Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé". 

Por trás do discurso de mel de Divaldo Franco, já foram inseridos fatos imaginários: relatos fictícios de suposta materialização do médico Adolfo Bezerra de Menezes, um deles para furtar um caminhão de mantimentos para suposta caridade. Há a apropriação de Divaldo do risível modismo das "crianças-índigo". Há o terrível julgamento de valor contra os refugiados do Oriente Médio, acusando-os indevidamente de "buscar tesouros na Europa".

Isso sem falar da decisão de Divaldo Franco em abrir seu Você e a Paz  para homenagear o prefeito de São Paulo, João Dória Jr. - decadente, mediante acusações de maltratar moradores de rua e estimular as mortes no trânsito com o aumento das velocidades-padrão nas avenidas marginais da capital paulista - e permitir o lançamento de um composto alimentar, a "farinata", condenado por entidades ligadas à nutrição e saúde pública e pelos movimentos sociais.

Com seu verniz de "generosidade, humildade, misericórdia e simplicidade", Divaldo tenta enganar as pessoas com seu balé de palavras. Notemos que, enquanto, no caso de Chico Xavier, os apelos emotivos estão mais associados à inserção das imagens do "médium" mineiro a paisagens floridas ou celestiais, às vezes sob ilustrações de cenários cósmicos, Divaldo busca seus apelos através de seus próprios depoimentos, com seu tom de mansuetude excessiva, portanto suspeita.

A OBSESSÃO EM "TER" EM RELAÇÃO A VIRTUDES SIMBÓLICAS

Vejamos esse trecho da entrevista que Divaldo Franco deu para um evento "espírita" em Porto Alegre, no dia 06 de novembro de 2017, um mês após ter se envolvido no caso da "farinata", episódio no qual foi beneficiado pelo silêncio da imprensa, mesmo a de esquerda. "Médiuns espíritas" são mais blindados do que políticos do PSDB.

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Em 2014, o senhor publicou o livro "Seja Feliz Hoje". Como ser feliz hoje?

Ao realizar o estado de paz interior. Confundimos a felicidade com o prazer. O prazer é fugidio, resultado da vida sensorial. A felicidade é o aprofundamento de valores. Podemos ser felizes na doença, na pobreza, na situação deplorável. Mas logo vem a ânsia do prazer. A verdadeira felicidade é dar-se para que a vida seja útil. Quando ela se torna útil a alguém, torna também ao indivíduo. É a proposta de Jesus Cristo: ele veio para servir, e não se serviu de nós para evoluir. A lição dele está no espiritismo, que nos oferece, na caridade, o meio de exaltação do self. Buscamos sempre o prazer e esquecemos da felicidade. Muitas vezes temos as respostas físicas, mas não temos a paz interior para a plenitude. 

Há quem diga que hoje existe uma obsessão pela felicidade e que é por isso que as pessoas se frustram. Como o senhor avalia isso? 

A felicidade é pelo ter. Corremos atrás de coisas e esquecemos dos valores individuais. Muitas vezes renuncio a determinado prazer para encontrar a paz. Somente quando nos preenchemos de valores éticos é que as coisas perdem o significado. Elas têm o valor que nós atribuímos. No momento em que a dor nos surpreende, esses valores desaparecem. Mas quando temos certeza de que a dor é um apelo do universo para que nos tornemos melhores, a felicidade aparece. 

A felicidade envolve renúncia?

Sim. Sem a renúncia, não há felicidade. A renúncia é prova de amor, não exigir que o outro seja como nós queremos, mas ser feliz com aquilo que o indivíduo tiver. 

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É risível ele defender a "felicidade", dentro dos princípios da Teologia do Sofrimento "espírita", na qual Divaldo Franco é um seguidor bem mais dissimulado que Chico Xavier. Além disso, vejamos o jogo psicológico que representa a Teologia do Sofrimento: aos pobres, pede-se a renúncia ao que ainda não tem. Aos ricos (o principal público de Divaldo), permite-se a felicidade dentro de seus privilégios.

Divaldo não é uma figura de firmeza nem de coragem e nem de coerência, e muito menos de sabedoria. No caso da "farinata", ele nem sequer se armou de coragem para impedir o lançamento do vergonhoso alimento, algo que toda pessoa com um mínimo de responsabilidade deveria fazer.

Vendo essas opiniões de Divaldo, muitos não imaginam que a obsessão pelo "ser" e "pelas coisas" pode também envolver os próprios "médiuns". Afinal, embora não sejam atributos materiais, o prestígio religioso, movido por pretensas atribuições ligadas a ideias como "sabedoria", "caridade", "amor", "humildade" e "misericórdia", também se equipara a ambições materialistas.

A religião apenas transfere para outro contexto sensações e perspectivas próprios do materialismo pagão. As "sessões mediúnicas" de Chico Xavier, por exemplo, eram verdadeiras orgias, com o êxtase do "bombardeio de amor" e a morbidez de diversos sentimentos de emotividade extrema, da ansiedade à nostalgia doentia, que fazem desses eventos redutos de vibrações energéticas bastante inferiores.

Divaldo Franco e Chico Xavier se tornaram as pessoas que mais sentem essa obsessão do "ter". Fora os prêmios que colecionaram pelo prestígio religioso, em eventos comandados ou apoiados por pessoas ricas e poderosas - o próprio "movimento espírita" demonstra, comprovadamente, se equiparar a essas elites e, com elas, apoiou o golpe político-jurídico de 2016 e o governo Temer que dele se resultou - , eles parecem desapegados a caprichos materialistas. Mas não.

O prestígio religioso revela um materialismo ainda mais oculto e intenso. Que eventos como o "funk" demonstram uma inclinação aos chamados prazeres mundanos, através do sexo e da violência - embora o "funk" se afine com os "médiuns" nos apelos emotivos da glamourização da pobreza -  , isso é fato. Mas os "médiuns" também estão mais presos aos prazeres mundanos do que se imaginam, e não se fala da pura questão de comer carne ou buscarem se vestir bem.

O que se fala são de atributos simbólicos. A unanimidade que Divaldo Franco persegue de maneira frenética, mas pelo artifício de um tom de fala dócil nos depoimentos e teatral nas oratórias, pelo mel das palavras e pela aparente limpidez das mensagens, é um capricho materialista.

O próprio fato de se atribuir "superioridade moral", "perfeição espiritual" e "amor e dedicação aos mais necessitados" revelam atributos terrenos. As paixões religiosas, embora focalizem o mundo espiritual e a busca ao "Alto", são extremamente materialistas, niveladas ao mais baixo militante stalinista que rebaixa o marxismo a conceitos autoritários, militarescos e punitivistas.

Sobre Divaldo Franco, fala-se até que, à sua espera no além-túmulo, estão todas as autoridades do universo, corais de anjos com maestros em prontidão, medalhas e diplomas prontos para serem dados a ele e ainda tem a presença obrigatória de Jesus Cristo, para chamar o "médium" para o convívio com o pai. Tudo isso não seriam devaneios de natureza materialista?

O "espiritismo" brasileiro apenas transfere o materialismo para o além-túmulo, fazendo com que seus membros defendam sempre o sofrimento das pessoas, confundindo desafios com desgraças, prejuízos com aprendizados. Os "espíritas" confundem afogamento com natação, e acham que toda desgraça é válida para atingir os céus.

Há muito materialismo envolvendo os "médiuns espíritas". A "superioridade" deles é um atributo terreno, movido por paixões religiosas e motivado pela fascinação obsessiva (tipo de obsessão já alertado pela literatura espírita original). Mesmo a suposta humildade é uma vaidade às avessas, como se os "médiuns" perseguissem o prestígio de Jesus.

Os apelos emotivos garantem o aparato de mensagens que nem são tão coerentes assim. Divaldo Franco ainda consegue ser um artífice das palavras melífluas, o que Chico Xavier foi incapaz de fazer, porque suas frases são abertamente grosseiras, precisando do apelo das paisagens floridas, das fontes gráficas graciosas e outras imagens de apelo emotivo auxiliar para que as pessoas vejam alguma "beleza" nos ditos deixados pelo "médium" de Pedro Leopoldo e Uberaba.

São ideias sem pé nem cabeça, mas tomadas pelo materialismo das palavras e imagens belas, e a própria emotividade é um capricho materialista, feito com o mesmo êxtase e as mesmas sensações das orgias sexuais. Em vez de sucumbirmos às paixões do sexo obsessivo e da luxúria, indiscutivelmente redutos de muita leviandade, se sucumbem às paixões religiosas, quase erotizando os "médiuns" diante de tanta adoração obsessiva e doentia de seus seguidores.

Sob o verniz do espiritualismo, esses sentimentos revelam o quanto existe materialismo nos seguidores do "espiritismo" brasileiro e nos "médiuns" desta doutrina igrejeira. A atribuição de "superioridade" também é uma obsessão do "ter", pois os "médiuns" também tem suas obsessões materialistas, tão cruéis quanto os que se afundam nas orgias do sexo, das drogas e do dinheiro.

Essa obsessão é a da "unanimidade", da pretensão de "humildade" (uma presunção às avessas), do domínio da humanidade com o aparato de palavras melífluas e aparente mansuetude, da "sabedoria" - que faz a festa de intelectuais, artistas e cientistas medíocres que usam o "espiritismo" para obter prestígio - , entre outras qualidades, que na essência soam como se fossem coisas, ainda que simbólicas, mas que revelam o quanto os "espíritas" são presunçosos e materialistas.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Muito cuidado com o discurso melífluo dos deturpadores do Espiritismo


A linguagem tem seus apelos ocultos que revelam algo oposto ao das aparências agradáveis. Ignorando as lições espíritas originais, os brasileiros se apegam fácil aos "médiuns espíritas" por conta de seus inúmeros apelos emocionais, que trazem um aparato de pretenso pacifismo e humildade.

Muitos não conseguem entender como se questionam as mensagens dóceis dos "médiuns", o seu aparato de humildade, as vibrações aparentemente gentis, as palavras supostamente amorosas. Num cenário em que as redes sociais revelam a supremacia de uma visão simplória de mundo, fica bem difícil explicar a realidade por trás das aparências, quando muitos definem o conteúdo da embalagem pela própria embalagem.

Divaldo Franco deu uma entrevista ao jornal Zero Hora - logo a mídia hegemônica, sendo este veículo da RBS e parceira das Organizações Globo, que blindam os "médiuns espíritas" - e o discurso tem aquele aparato doce de um suposto humanismo pacifista, o que faz as pessoas dormirem tranquilas diante desse grande balé das palavras.

Mas por que isso pode ser traiçoeiro se aparentemente não há mensagens ofensivas nem de baixaria e muito menos de ódio? Simples, isso pode depender do contexto em que elas são veiculadas. Existem mil armadilhas e a pior armadilha é aquela que é tão colocada que nem mesmo o mais atento perceberia a sua presença.

Divaldo é um deturpador grave do Espiritismo. Começou plagiando Francisco Cândido Xavier, que já era também grave deturpador e hábil plagiador de textos. Divaldo é um pseudo-sábio, porque tem a pretensão de ter respostas prontas para tudo, quando os verdadeiros sábios não se definem por essa qualidade discutível, mas pelo fato de oferecer mais perguntas que respostas.

O que Divaldo expõe em suas "mensagens positivas" é apenas um gancho para inserir ideias igrejeiras, moralismo conservador, juízos de valor e outras coisas bastante duvidosas. Constatar isso não é um ato de intolerância religiosa e nem vem de crenças neopentecostais rancorosas, mas está dentro da própria literatura kardeciana original.

DIVALDO FRANCO É ANTI-KARDECIANO

A exemplo de Chico Xavier, Divaldo Franco é um inimigo interno da Doutrina Espírita. Sim, isso mesmo. As caraterísticas dos dois "médiuns", pelo conjunto de sua obra, apresentam aspectos negativos que foram explicitamente descritos por Allan Kardec e seus mensageiros.

Como um "Rolando Lero" dos ensinamentos espíritas, Divaldo é rebuscado, prolixo, pedante, tem ares professorais e outras caraterísticas que se observam negativas em O Livro dos Médiuns. Um recado do espírito Erasto, no capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, é explícito na recomendação de cautela mesmo em mensagens aparentemente meigas, humanas e positivas:

"Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".

Divaldo Franco já cometeu coisas deploráveis em outras palestras. Já narrou estórias fantasiosas, numa das quais o dr. Adolfo Bezerra de Menezes teria se materializado (!) para furtar (?!) um caminhão de mantimentos para "dar à caridade". Já fez grave juízo de valor, acusando refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos sanguinários" no passado. E ofereceu a edição paulista do Você e a Paz para lançar a "farinata".

Isso é que está por trás do discurso melífluo das "amorosas mensagens de paz". Os deturpadores do Espiritismo, inclusive os "médiuns", sempre apelam para a "paz sem voz" citada na famosa canção de O Rappa. Uma paz forçada, "sem queixumes", "sem questionamentos" e "com tolerância", porque somos constantemente convidados a assistir, calados, ao triste espetáculo de  raposas dominando o galinheiro. As galinhas é que aceitem serem devoradas, em silêncio e sem queixumes.

O que escreveu o jornalista José Herculano Pires sobre Divaldo Franco foi explícito na sua preocupação com a ascensão do "médium". Aparentemente, Herculano até havia escrito que gostaria que Divaldo aprendesse sua lição, mas a prática mostrou que o "médium" baiano continua com seus graves defeitos. Vide o juízo de valor sobre os refugiados do Oriente Médio e o caso da "farinata":

"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

MISSES, AUTORES DE AUTOAJUDA E ATLETAS OLÍMPICOS

Se as pessoas se apaixonam pelas declarações dos "médiuns espíritas", não é pela beleza e relevância de suas frases - que, em muitos casos, só dizem coisas óbvias que nada oferecem distinção ou genialidade àqueles que as dizem - , mas pelo prestígio religioso, pela "grife", pela "marca pessoal" de quem diz.

É constrangedor que Divaldo lamente, no discurso, a obsessão dos humanos em "ter", porque ele mesmo tem essa obsessão: a de possuir a verdade, a de ter a sabedoria sob sua propriedade, a de ser o símbolo de caridade ao lado de Chico Xavier (outro cuja filantropia foi extremamente duvidosa, com vários aspectos sombrios, como nas "cartas mediúnicas").

A "obsessão pelo 'ter'" dos "médiuns espíritas" que deturpam o Espiritismo se dirige para as "virtudes humanas". Com a lógica dos "médiuns", em tese, qualquer pessoa, de qualquer crença ou posição social, pode assumir qualidades como a caridade, desde que seja ela uma franquia cujo crédito deva ser atribuído a um "médium espírita".

Além do mais, o que Divaldo diz de "humano" e "sensível" não é muito diferente das banalidades trazidas pelos autores de auto-ajuda, pelas misses em concursos de beleza ou atletas olímpicos. Eles também falam na "superação", na "paz", na "união", não raro se dispondo de muitos apelos emotivos similares aos usados pelos "médiuns espíritas".

As pessoas ficam perguntando se "faz mal" transmitir um discurso desses. A princípio, não faz, mas o que está em jogo, muitas vezes, é o "bom mocismo" e os "médiuns" que traem o pensamento de Kardec inserindo no conteúdo do Espiritismo conceitos igrejistas e medievais tentam se valer de uma série de apelos emotivos para obterem unanimidade e se promoverem com isso.

Quantas pessoas usam os apelos à "paz" e à "caridade", que "não fazem mal algum", para se valer do prestígio social e, no caso dos "médiuns", o religioso! E o quanto isso é leviano pela intenção de forçar a comoção pública, sob o intuito de vender muitos livros, virar celebridade, obter sucesso inabalável que permite cometer graves erros sem ser responsabilizado por isso.

Divaldo Franco e Chico Xavier não recorreram a esse apelo das "mensagens positivas" e das "imagens e textos comoventes" de graça. Não existe almoço grátis, diz o ditado. Eles souberam que, como deturpadores graves da Doutrina Espírita, precisavam caprichar nos apelos emocionais, num engenhoso processo de fabricação de consenso recorrendo à pretextos como "amor", "paz" e "caridade" como cortinas-de-fumaça para suas ações levianas e seu igrejismo medieval.

E ninguém estranha que essa "paz" defendida pelos "médiuns espíritas" e que fascina muitos é a mesma "paz sem voz" da canção de O Rappa. Junte esse suposto pacifismo com apelos à submissão, à renúncia e à reação a tudo com silêncio e sem queixas, e o que vemos está nestes versos: "Pois paz sem voz / paz sem voz / Não é paz, é medo".

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Em mensagem natalina, Divaldo Franco comprova hipocrisia do "espiritismo" brasileiro


Num depoimento encomendado pelo jornal A Tarde sobre o Natal para personalidades religiosas, Divaldo Franco comprovou a postura hipócrita do "espiritismo" brasileiro em relação ao Império Romano e à Idade Média, além da apropriação da figura de Jesus, que os "espíritas" concebem com base em paradigmas católicos medievais. A mensagem foi divulgada na edição de ontem:

"O Império Romano, qual polvo esmagador, dominava o mundo com os seus tentáculos cruéis, ao som dos clarins das vitórias.

Havia sofrimento, miséria e dor.

Foi nesse momento que Ele veio ter conosco, demonstrando a grandeza do amor em plenitude.

Ainda existem padecimentos e desespero. A criatura humana apega-se à ciência e a tecnologia de ponta, mergulhando no abismo das paixões asselvajadas e do vazio existencial em agonia.

Repetindo a ocorrência do passado Ele volta e renasce no cerne do ser. É Natal!"

A mensagem é de um igrejismo tremendo, o que, aparentemente, não traz problema algum. Mas vindo de alguém que, mesmo tendo sido reconhecido, por ninguém menos que José Herculano Pires, como "roustanguista convicto", vende uma pretensa imagem de "kardeciano autêntico", evidentemente é deplorável, sobretudo pelo conteúdo diabético da mensagem.

Divaldo Franco define o Império Romano como "polvo esmagador", promovendo "sofrimento, miséria e dor" ao som dos "clarins das vitórias". A ideia segue a tendência do "movimento espírita" em forjar suposta aversão ao Império Romano e à Idade Média, assim como Michel Temer e seus patrícios forjam suposta aversão à ditadura militar.

O "médium" baiano apoiou João Dória Jr. e sua farinata. Esquece Divaldo que, ao homenagear o prefeito de São Paulo, ele homenageou uma figura não muito diferente das autoridades do Império Romano. Esquece Divaldo que João Dória Jr. maltratou moradores de rua, reprimiu um ponto de venda de drogas com truculência policial e o "médium" ainda deu o Você e a Paz para o vergonhoso lançamento de um perigoso composto alimentar que causou péssima repercussão.

Ah, Divaldo Franco bajulando Jesus Cristo... Se soubesse quem realmente foi Jesus, sua figura histórica e polêmica, teria se envergonhado. Jesus reprovava os falsos sábios, religiosamente extravagantes, dos quais denunciava o pedantismo, a oratória rebuscada, a postura ilustrada, a soberba travestida de humildade e a pretensão de se julgar no caminho próximo do Alto.

Isso não é invenção. Vamos ler um pouco de Jesus, em registros históricos mais honestos, e se verá que os sacerdotes que ele condenava em seu tempo tinham exatamente o perfil que hoje vemos em Divaldo Franco, com oratória rebuscada, com ares de pretensa sabedoria e uma certa soberba religiosa.

DIVALDO FRANCO É MEDIEVAL

Além disso, prestemos atenção no trecho do depoimento, que reproduziremos abaixo para destacar, que revela a inclinação medieval de Divaldo Franco, que, é bom saber, tem muitos venenos por baixo das palavras de mel que difunde ao público, vide o terrível julgamento de valor aos humildes refugiados do Oriente Médio:

"A criatura humana apega-se à ciência e a tecnologia de ponta, mergulhando no abismo das paixões asselvajadas e do vazio existencial em agonia".

Quanto cinismo! É certo que a tecnologia de ponta, como os aplicativos de telefones celulares, andam corrompendo a humanidade, vide os casos das redes sociais, como Facebook e WhatsApp. Mas o próprio Divaldo deveria agradecer às "paixões asselvajadas" que, em muitas ocasiões, saem em sua defesa, publicando vídeos em louvor ao "médium" baiano, a Francisco Cândido Xavier e similares.

Além disso, o "apego à ciência" nem é tanto assim, sobretudo numa época de anti-intelectualismo, de imbecilização cultural e de fanatismo religioso que envolve os próprios "espíritas". O "espiritismo" brasileiro apoiou o golpe político de 2016, e sua postura golpista se deu por fatos, não é invenção de quem está intolerante ou invejoso. Os "espíritas" apoiam o cenário político que justamente está destruindo as atividades científicas no país, forçando nossos cientistas a migrar para o exterior.

O que Divaldo Franco se esquece é que a Ciência é um dos pilares originais do Espiritismo. Falar em "apego à ciência" ou corroborar o "tóxico do intelectualismo" divulgados antes pelo "médium" Chico Xavier e Emmanuel são leviandades que mostram o caráter medieval do "espiritismo" brasileiro e seus "médiuns", que nunca falam em "tóxico da religiosidade", este sim um dos vícios mais perigosos e sujeitos à fascinação obsessiva, subjugação e outros flagelos das paixões religiosas.

O "espiritismo" brasileiro apoiou a Operação Lava Jato, que burlava princípios do Direito sob a desculpa de combater a "corrupção". Apoiou as passeatas contra Dilma Rousseff, sob a desculpa de "simbolizarem a regeneração da humanidade". Apoia o governo Michel Temer e autoridades envolvidas - como Aécio Neves ("apadrinhado" por Chico Xavier). E os "espíritas" apoiam, com gosto, as reformas trabalhista e previdenciária que trarão mais sofrimento e miséria para o povo.

Divaldo Franco fala em "momento de crise", comparando o momento atual ao Império Romano. Mas esse discurso ele prega desde 2013, quando seu devaneio da "regeneração" e das "crianças-índigo", uma tolice importada de um modismo esotérico, deu com os burros n'água.

Diante desse discurso, o próprio Divaldo sugere uma postura golpista. Afinal, o discurso de "crise" vai no mesmo sentido ideológico - não é invenção, é só observar o contexto da situação - dos "coxinhas", do Movimento Brasil Livre, das hordas de "verde-amarelos" que se enfureceram contra a presidenta. O mesmo discurso "contra a corrupção", apenas com a raiva substituída por um discurso igrejista acusando Dilma, Lula e o PT de "fechar os olhos aos ensinamentos cristãos".

Divaldo apareceu ao lado de um tucano prefeito de São Paulo, dando uma homenagem entusiasmada. Apareceu ao lado de João Dória Jr. no evento da "farinata" e deixou que seu nome e o nome do evento Você e a Paz fossem creditados na camiseta do prefeito. Isso é vínculo de imagem e, embora o caso da "farinata" tenha sido superado, a responsabilidade de Divaldo Franco nessa marmelada deveria ser creditada, pelo menos pela chamada mídia alternativa!

Divaldo Franco demonstrou seu medievalismo religioso quando condenou o "apego à ciência", e isso faz a máscara cair, porque muitos dos deslumbrados seguidores do "médium" pensam que ele é "professor", "cientista" e "filósofo".

E sua hipocrisia em condenar o Império Romano se agrava quando ele corrobora com o devaneio de Chico Xavier, sobre o mito do "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", que, na prática, é a reconstituição do Império Romano da fase Júlio César com a supremacia religiosa da Idade Média, tudo isso em território brasileiro.

Os fatos mostram que a fantasia da "pátria do Evangelho" será um pesadelo teocrático a afligir novamente a humanidade. Falar é fácil e fala-se em "acolhimento fraterno aos hereges e céticos", mas na prática não será assim. A natureza humana não vive do mel das palavras, e mesmo esse mel pode esconder venenos mortais, com todo o ar de mansuetude que eles sejam ditos.

domingo, 24 de dezembro de 2017

Uma das primeiras entrevistas de Divaldo Franco após o escândalo da "farinata"

ELE USA DE SEU DISCURSO MELÍFLUO PARA SE PROMOVER, COMO OS DETURPADORES QUE DESCARATERIZAM COM IGREJISMO MEDIEVAL O LEGADO ESPÍRITA ORIGINAL.

Deturpador maior vivo dos ensinamentos do Espiritismo original, e o segundo de toda a história espírita, depois de Francisco Cândido Xavier, o "médium" Divaldo Franco - definido por Herculano Pires como "roustanguista confesso" - deu, em 06 de novembro de 2017 uma entrevista ao jornal Zero Hora, um dos integrantes da mídia conservadora, que costuma blindar os "médiuns espíritas".

Esta entrevista, feita em função do 9º Congresso Espírita do Rio Grande do Sul, na PUCRS em Porto Alegre, é uma das primeiras com o "médium" depois do escândalo da "farinata", que aparentemente atingiu apenas o prefeito de São Paulo, João Dória Jr., e o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer.

Divaldo não falou uma linha a respeito da "farinata", preferindo a omissão do que a autocrítica. O alimento que poderia causar sérios problemas de saúde à população pobre e, por isso, descartado após um grave escândalo, foi lançado num evento "espírita" e o vínculo de imagem de João Dória Jr. ao Você e a Paz e ao "médium" foi bastante explícito. Dória não exibiu a camiseta com o logotipo do evento e o nome do "médium" por acaso.

Não se sabe se foi por um lapso da mídia esquerdista - que geralmente serve de contraponto para a mídia hegemônica - ou por medo de contestar um ídolo religioso, mas o escândalo só não foi maior porque houve silêncio quanto ao envolvimento de Divaldo com a "farinata", o duvidoso alimento, condenado por nutricionistas e ativistas sociais, apesar dele ter sido o anfitrião do lançamento oficial da "ração humana", depois descartada devido a má repercussão.

Pelo menos os jornalistas da mídia progressista deveriam manifestar não só sua decepção com os "médiuns espíritas" e começarem a investigar aspectos sombrios por trás desse aparato de mansuetude e amor. A complacência se deu porque os "médiuns espíritas" não fazem o "discurso de ódio" dos neopentecostais?

Vejamos. Os atletas olímpicos muito famosos tinham um discurso fraternal e de superação muito parecido com o dos "médiuns espíritas". Foi só eles aparecerem ao lado de Aécio Neves, em 2014, para eles serem questionados e investigados pelo jornalismo progressista.

Os "médiuns espíritas" fazem esse discurso e aparecem ao lado de Aécio, Michel Temer, João Dória Jr. e os jornalistas progressistas não averiguam? E o apoio da Rede Globo aos "médiuns" Chico Xavier, Divaldo Franco e João de Deus, é mera coincidência? Já não basta o tiro no pé que as esquerdas fizeram com o apoio ao "funk", que abriu caminho para o direitismo dos sociopatas, "coxinhas" e "bolsomitos" da vida?

Reproduzimos então a entrevista de Divaldo Franco, à qual cabe um certo questionamento. Aparentemente, ele fala de "coisas boas", "verdades indiscutíveis" e "apelos para a paz". Devemos desconfiar disso, pois o excesso de mel esconde muitas estranhezas. Para quem, ao lado de Chico, teve um grande prazer de rebaixar o legado do Espiritismo a um igrejismo, um discurso "maravilhoso" como este não deve ser aceito de bandeja.

Não que queiramos a guerra, os prazeres mundanos ou coisa parecida. Mas é bom demais para ser verdade, numa sociedade complexa, haver gente com discurso adocicado demais, vindo de alguém que se supõe ter respostas prontas para tudo. Além do mais, o que Divaldo diz abaixo qualquer autor de autoajuda faz, e certos recados são óbvios demais para sugerirem genialidade ou garantirem a distinção de um figurão religioso como este.

O próprio pedagogo francês, Allan Kardec, de forma insuspeita deu o recado sobre as intenções dos deturpadores do Espiritismo, que capricharão no mel das palavras para depois inserir ideias contrárias aos ensinamentos espíritas originais. E Divaldo, um confeiteiro das palavras, tenta se valer com esse truque, que no mundo desenvolvido seria desmascarado como um discurso de um charlatão. E tantos charlatães foram desmascarados lá fora, com todo o sabor de mel de suas palavras!

Por isso, pedimos aos leitores que tomem muito cuidado ao lerem essa entrevista, para que a tentação da fascinação obsessiva não domine os instintos e emoções e atrofie a razão. Além do mais, nos previnamos de que os deturpadores da Doutrina Espírita criminalizam o prazer humano e acham que a religião "espírita" está livre do "vício do ter".

Ah, mas os próprios "médiuns" revelam também a sua obsessão pelo "ter" no contexto religioso, querendo ter a verdade em suas mãos e a imagem de divinização dentro do teatro de mansuetude e leveza. Quanto fel não pode haver sob o mel das palavras?

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O Brasil vive hoje um momento difícil. Há uma crise político-econômica, a violência aumenta e enfrentamos momentos de intolerância. Que leitura o senhor faz desse cenário?

Toda a vez em que a civilização atinge um ápice de progresso, há uma curva de afirmação de valores. E naturalmente, uma decadência. (Isso ocorre) Desde a antiga Babilônia até a Europa moderna, que atingiu um alto nível na civilização e, no entanto, não pode evitar duas guerras. É um fenômeno natural e histórico no processo da evolução. Apesar disso, nunca houve na humanidade tanto amor, tanta bondade e tanto sacrifício. A crise nos afeta muito. Mas é necessário descobrir os valores que estão ocultos e que os exaltemos. A crise é uma preparação de mudança - de natureza social ou tecnológica. É para a adaptação. 

Como sair dessa crise e redescobrir nossos valores?

Quando cada um de nós realizar uma mudança de valores. Em vez de nos preocuparmos tanto com os valores externos, com a posição social ou em atingir topo, (deveríamos) nos preocupar com a harmonia interna. Com essa modificação, haverá um contágio de sentimentos. 

O senhor já fez milhares de conferências em quase 70 países. Quais os anseios e dificuldades que o senhor nota em comum em pessoas de diferentes lugares?

O grande desafio da criatura humana é a própria criatura humana. O indivíduo muda somente de nome e de endereço. Os conflitos psicológicos, as ânsias e as necessidades emocionais são as mesmas, porque falta às pessoas aquele conhecimento profundo de si para dar à sua vida um objetivo e uma natureza existenciais. Apesar das conquistas tecnológicas, o homem moderno não encontrou aquela paz que procurava. Ao possuir coisas, defrontou-se com o vazio interior. Esse vazio somente é preenchido, como diria Platão, através da observação daquela proposta de Sócrates: o autoconhecimento. No momento em que nos identificamos, sabemos qual é a finalidade da vida. 

O senhor é conhecido por dedicar a vida a crianças em situação de vulnerabilidade social. Qual é o maior prejuízo para uma criança furtada de condições dignas de alimentação, educação, higiene, afeto e cuidado?

Surgem as patologias sociológicas do abandono. A sociedade passa a ser detestada. E a criança que não recebeu vai cobrar. Torna-se um vândalo e invariavelmente, sai marginalizado e vai para os departamentos do crime e da droga. Nesses momentos, ele se torna um indivíduo pernicioso à comunidade. Somos responsáveis pela violência. O que negamos aos necessitados, eles vêm tomar pela força. É a lei do universo. Faltando a cooperação, surge a violência. 

Como resgatá-los?

Dando-lhes oportunidade. Amando-os. Fazendo com que despertem para a vida. Com esse sentimento, eles se tornam elementos úteis da sociedade e passam a ser membros de um novo corpo - o corpo da era nova. 

O senhor adotou muitas crianças. É um pai para muitos...

Compreendi que não bastava dar comida, roupa e escola. Era necessário dar segurança e carinho. Todos nós somos carentes. Aquele que foi rejeitado ou que padeceu em função da orfandade tem sede de amor muito grande. E como eu tinha sede de amor também, procurei dar-me. Dar qualquer um faz, mas para dar-se é necessário renunciar ao ego para tornar feliz o outro. 

O senhor recebeu o título de embaixador da paz no mundo em 2005 por uma universidade de Genebra, na Suíça. De lá para cá, o que mudou?

A sociedade passou a perceber muito os valores da vida. A ecologia desenvolveu valores adormecidos. O sentimento de amor ampliou-se muito, particularmente aos animais. Não só evitando a exterminação em massa de vidas que caminhavam para o extermínio, mas também o acompanhamento deles para a solidão. Mudaram os sentimentos, que antes eram ególatras e voltados para dentro. Ao amarmos o animal, facilmente iremos amar a criatura humana. 

O senhor dedicou a vida ao espiritismo. Que mensagem o senhor traz da sua caminhada e do espiritismo, até para que não é espírita ou não tem religião?

Que vale a pena amar. O amor desabrocha através do respeito pela vida e se consolida pela amizade. Posteriormente, pela aglutinação de sentimentos. Através desses sentimentos, tornamos o mundo melhor e o ser humano se torna parte do universo. Ele (o ser humano) o é (é parte do universo), mas não sabe. É como no caso do holograma: cada pedaço tem o todo e o todo tem os pedaços. Nós carregamos o mundo dentro de nós. Quando nos dermos conta de que somos cédulas utilíssimas dessa realidade universal, mudaremos interiormente e voltaremos, com sentimento de amor, em alta escala de progresso. E a vida será melhor.  

O senhor já declarou que é melhor não ter religião e ser digno do que ter religião e não ter dignidade. Por quê?

Muitas vezes a religião é um rótulo. É como um produto que está designado por um nome mas, por dentro, tem outro significado. A função da religião é apresentar a pedagogia da boa conduta. Por isso, toda religião que não leva ao fanatismo é boa. Mas, invariavelmente, o indivíduo tem a religião como ato social e não se impregna de todos os postulados. Ou em outras vezes, não tem religião e tem sentimento de nobreza. Se olharmos os grandes construtores da sociedade, veremos que não eram religiosos. Sua religião era a prática do bem, o desejo de fomentar o progresso e de promover o indivíduo ao status de cidadania. 

Em 2014, o senhor publicou o livro "Seja Feliz Hoje". Como ser feliz hoje?

Ao realizar o estado de paz interior. Confundimos a felicidade com o prazer. O prazer é fugidio, resultado da vida sensorial. A felicidade é o aprofundamento de valores. Podemos ser felizes na doença, na pobreza, na situação deplorável. Mas logo vem a ânsia do prazer. A verdadeira felicidade é dar-se para que a vida seja útil. Quando ela se torna útil a alguém, torna também ao indivíduo. É a proposta de Jesus Cristo: ele veio para servir, e não se serviu de nós para evoluir. A lição dele está no espiritismo, que nos oferece, na caridade, o meio de exaltação do self. Buscamos sempre o prazer e esquecemos da felicidade. Muitas vezes temos as respostas físicas, mas não temos a paz interior para a plenitude. 

Há quem diga que hoje existe uma obsessão pela felicidade e que é por isso que as pessoas se frustram. Como o senhor avalia isso? 

A felicidade é pelo ter. Corremos atrás de coisas e esquecemos dos valores individuais. Muitas vezes renuncio a determinado prazer para encontrar a paz. Somente quando nos preenchemos de valores éticos é que as coisas perdem o significado. Elas têm o valor que nós atribuímos. No momento em que a dor nos surpreende, esses valores desaparecem. Mas quando temos certeza de que a dor é um apelo do universo para que nos tornemos melhores, a felicidade aparece. 

A felicidade envolve renúncia?

Sim. Sem a renúncia, não há felicidade. A renúncia é prova de amor, não exigir que o outro seja como nós queremos, mas ser feliz com aquilo que o indivíduo tiver. 

Qual a sua mensagem para os espíritas e para quem não é também?

Que procure tudo para fazer o bem do outro. Quando mudamos, o mundo se transforma. Esperamos que os valores venham das autoridades governamentais. Mas eles são cidadãos. Se foram felizes, serão excelentes autoridades. Mas se tiverem caráter dúbio, acostumados ao suborno das paixões, eles mudam somente de postura e pioram aquelas tendências. Vale a pena amar, mas no sentido de tornar o outro feliz. Quando tornamos o outro feliz, ficamos felizes. 

A mudança é difícil?

Não. É questão de adaptação. Vivemos um mundo de hábitos. Se algo me apraz, eu repito. Se me desagrado, cancelo. Se coloco uma meta produtiva que me planifica, eu me adapto e isso se torna uma realidade. 

sábado, 23 de dezembro de 2017

Mercado editorial é refém do "movimento espírita"?


Está nas bancas, ultimamente, uma revista especial sobre o "médium" Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, publicada pela editora Auto Astral. A publicação é mais do mesmo diante da biografia oficial que segue a lógica ditada pela Federação "Espírita" Brasileira e moldada na "fase dúbia" do "movimento espírita", denominada oficialmente "kardecismo".

Só mesmo um país marcado pela desinformação, pelo deslumbramento fácil, pelo hábito precário de leitura e pelo jogo de interesses que faz com que prevaleça a "pós-verdade", para que o "espiritismo" esteja em boa conta no meio literário.

Todavia, prestando bem atenção, se observa que as obras "espíritas" são de uma mediocridade e de uma indigência intelectual sem tamanho. O próprio Chico Xavier tem uma literatura mediana. Como um Michael Jackson da religião, ele até tinha algum talento como poeta e escritor, mas se o "rei do pop" preferiu virar arremedo de roqueiro, o "médium" preferiu se passar por "porta-voz dos mortos", difundindo, no entanto, obras que destoam dos estilos originais dos mortos alegados.

Se desapegando de paixões religiosas e resistindo à fascinação obsessiva das paisagens celestiais ou floridas das obras "espíritas", constata-se que as mesmas, a partir do próprio exemplo de Chico Xavier, são obras pedantes, cheias de gravíssimos erros de História, enredos piegas, narrativas prolixas ou simplórias, lições de moralismo retrógrado.

Com tantas irregularidades, no entanto, o "espiritismo" parece ter poder no mercado literário. Tem espaço nobre nas bienais do livro, exerce um grande lobby entre os meios intelectuais e tem praticamente a imprensa em suas mãos, a ponto de Divaldo Franco sair "invisível" no escândalo da "farinata" de João Dória Jr.

O poder descomunal do "movimento espírita" pode surpreender a muita gente. Primeiro, porque, aparentemente, o "espiritismo" brasileiro não é a religião mais popular do país. Segundo, porque a fachada de suposta modéstia e pretensa humildade fazem muita gente não acreditar na prepotência dos "espíritas".

DANOS TERRÍVEIS

Os danos que isso causa na cultura brasileira podem até ser reparados, mas seus efeitos não são inofensivos. O caso Humberto de Campos sinaliza para o dano que a literatura supostamente mediúnica trouxe, a ponto de retirar do mercado os títulos originais do autor maranhense, cuja produção literária se situa, cronologicamente, entre o fim da vida de Machado de Assis e o começo da carreira de Jorge Amado.

 O lobby do "movimento espírita" pressionou para que Humberto de Campos, cujos livros haviam sido publicados pela histórica editora José Olympio, permanecesse fora de catálogo. Enquanto isso, sobrevive no mercado a literatura fake que é tida como "produção paralela" supostamente do além-túmulo, que destoa grosseiramente do estilo original que marcou a carreira de Humberto.

O dano é grave, porque Humberto, que havia sido bastante popular em seu tempo, hoje praticamente é ignorado. A desculpa de que Humberto viveu em outra época e não faz sentido relançar suas obras originais não procede, porque há inúmeros exemplos de escritores antigos, como o próprio Machado de Assis, que permanecem no mercado até hoje.

Essa desculpa é feita para que se dificultem as leituras comparativas da obra original de Humberto e da obra supostamente mediúnica, processo no qual é fácil identificar irregularidades. A obra supostamente espiritual é a literatura fake de maior repercussão sob o rótulo "espírita", e por isso o Humberto de Campos original passa a ser deixado de lado, para proteger o mito Chico Xavier.

Outros autores que tiveram também obras fake supostamente mediúnicas, como Eça de Queiroz, têm situação diferente. No caso de Eça, o autor português tem grande repercussão nos países lusófonos, e mesmo que seja comercializado o livro fake intitulado Getúlio Vargas em Dois Mundos - cuja narrativa destoa da agilidade original do autor e mais parece um clone de Nosso Lar, com diversas passagens maçantes - , prevalece a obra original.

Isso porque as obras fake são lançadas por "médiuns" menos badalados - no caso de Getúlio Vargas em Dois Mundos, trata-se da quase desconhecida Wanda Canutti, já falecida - , os quais não contam com a blindagem que recebe Chico Xavier, em níveis que superam até mesmo a blindagem dos políticos do PSDB, como Aécio Neves, político que mostra muitas afinidades pessoais com o "médium" e com o qual expressaram admiração recíproca.

Chico Xavier, no entanto, apresentou indícios de que teria usurpado o nome de Humberto de Campos por revanche, por não ter gostado do artigo irônico que, dividido em duas partes, o autor maranhense escreveu sobre Parnaso de Além-Túmulo. Humberto pedia para que não houvesse "literatura do além" para competir com o "ganha-pão dos vivos".

Chico teria se vingado usurpando o nome de Humberto pra produzir suposta obra mediúnica, mudando todo o estilo do autor maranhense, para dar a impressão que era um padre, e não um membro da Academia Brasileira de Letras, que passou a escrever "obras do além".

O que ninguém estranha é que o primeiro livro de Chico Xavier, Parnaso de Além-Túmulo - que se comprovou ser obra de Chico, Wantuil de Freitas e editores da FEB - , usa como título a palavra "párnaso", em 1932, quando se sabe que o Parnasianismo foi um movimento literário já ultrapassado naquele tempo e que o movimento modernista de 1922, que o substituiu, já havia se consolidado naquele começo da década de 1930. O "espiritismo" se sustenta com a ignorância de muitos.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Livraria de Niterói deveria retirar retrato de Chico Xavier da parede

LIVRARIA NÃO É UMA IGREJA E POSSUI DEMANDA DAS MAIS DIVERSAS CRENÇAS.

Existe uma livraria e sebo que é simpática, com profissionais dedicados e que vendem tanto produtos usados como novos, além de oferecer serviço de encomenda de títulos através da Internet. É uma boa opção de lazer, verificando o acervo de livros e discos que existem na loja. É a Panorama Romanceiro, localizada na Rua José Clemente, no Centro de Niterói.

O problema é que, na parede do estabelecimento, é mantido um retrato do "médium" Francisco Cândido Xavier, o maior deturpador de toda a história do Espiritismo. A crítica que fazemos não é de intolerância religiosa, mas pelo fato de que livraria não é igreja e existem fregueses dos mais diversos tipos de crenças.

Do contrário que muitos imaginam, Chico Xavier não é uma figura ecumênica - nem espírita, no sentido kardeciano do termo, ele foi jamais - , tendo sido ele, durante toda sua vida, um católico ortodoxo que colaborou com a FEB para desfigurar, em prol de interesses religiosos e comerciais, o legado deixado pela Doutrina Espírita original.

Foi Chico Xavier, por exemplo, que traduziu o pensamento de Jean-Baptiste Roustaing para o contexto brasileiro, produzindo obras que praticamente dispensam a leitura de Os Quatro Evangelhos. Obras como Nosso LarO Consolador e Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho já sintetizam o pensamento de Roustaing para o público brasileiro.

Provavelmente, o responsável que permitiu colocar o retrato de Chico Xavier nem está sequer informado que o "espiritismo" que ele acredita está deturpado. Mas se o caso dele é não abrir mão de idolatrar o "médium", que o faça ele mesmo criando um altar para ele em sua casa ou botando o retrato dele em tamanho menor dentro de sua carteira.

Está na cara que a idolatria de Chico Xavier é uma opção pessoal, e, diante disso, até respeitamos. O que não pode é tentar influenciar os outros colocando o retrato dele sem propósito, pois já é suficiente haver produtos, como livros e DVDs, referentes ao "médium", presentes no catálogo da loja e expostos ao público em geral.

Pedimos, portanto, a retirada do retrato de Chico Xavier, o mais rápido possível, da parede da loja. Se o responsável gosta dele, que o faça no íntimo de sua alma e na vida particular, sem influenciar os outros a idolatrarem-no. Se o tal funcionário da Panorama Romanceiro quer exibir um retrato de Chico Xavier, que vá trabalhar numa livraria "espírita".

Além disso, o contexto de uma livraria não permite proselitismos dessa ordem, porque há um público de diversos tipos e diversas crenças, inclusive ateus, e o propósito da livraria não é expor um ídolo religioso. Pode-se até vender obras relacionadas a ele, mas não pode influenciar, até porque o retrato soaria como uma propaganda forçada. Por isso, pede-se a retirada do retrato de Chico Xavier da parede da Panorama Romanceiro. A freguesia laica agradece.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

"Caridade espírita": Cortina de fumaça para permitir a ação de deturpadores?

AD PASSIONES - Divaldo Franco, na Mansão do Caminho, e o truque de aparecer ao lado de crianças em evento natalino.

"(...) conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

O texto se refere ao suposto médium Divaldo Franco e, no entanto, não foi dito por algum evangélico ou católico mais idoso, e nem por algum moleque internauta que odeia ídolos religiosos, mas do eminente jornalista José Herculano Pires, estudioso do Espiritismo autêntico, em carta a Agnelo Moreto.

Embora Pires esteja aparentemente defendendo o amigo Francisco Cândido Xavier, que havia sido vítima de plágio nos primeiros livros de Divaldo, causando um escândalo nos bastidores do "movimento espírita" brasileiro, o que comprova o quanto de confusão envolvem os "médiuns" brasileiros, aos quais nunca se deve associar à ideia de coerência e bom senso.

O que chama a atenção é o trecho "conduta condenável no terreno da caridade", uma declaração que choca os fãs de Divaldo Franco. Embora o jornalista J. Herculano Pires não mencione na referida carta as irregularidades do amigo Chico Xavier, estas são conhecidas através dos fatos, vide por exemplo os inúmeros escândalos, como o caso Humberto de Campos e a fraude de Otília Diogo, entre outros.

Levando em conta a ideia de "conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação de posições anteriores" (leia-se a suposta mediunidade, citada na carta, ou o fato dos "médiuns" deturparem os ensinamentos kardecianos com ideias estranhas à Doutrina Espírita), uma questão é inevitável: a "caridade", cuja associação aos "médiuns" emociona multidões, não seria uma cortina de fumaça para a sua atuação como deturpadores do Espiritismo?

CARIDADE DE FACHADA

Divaldo Franco foi definido como o "maior filantropo do Brasil" por ter ajudado cerca de 163 mil pessoas durante 63 anos de Mansão do Caminho. O número parece muito grande, porém é de uma ridicularidade total: combinando a trajetória de anos com a quantidade média de beneficiados por ano, leva-se a uma porcentagem de 0,0012 % da população brasileira. Em termos estatísticos, é praticamente nada. E não coloca Divaldo sequer na lista de cem maiores filantropos do país.

Deve-se questionar a "caridade" que é o maior marketing dos "médiuns espíritas" no Brasil, criando situações constrangedoras como a da mãe do falecido Ryan Brito, a atriz Márcia Brito - a Flora Própolis da Escolinha do Professor Raimundo - que avisou aos céticos que questionavam a "mediunidade" de um "espírita" de um "centro" em Campo Grande que "conhecessem primeiro o trabalho de caridade dele", como se filantropia e mediunidade fossem a mesma coisa. Só que não.

Enquanto Divaldo Franco vende uma imagem de grandiloquência de si mesmo nas viagens confortáveis a palestras pomposas na Europa e EUA, ele não consegue resolver os problemas do bairro de Pau da Lima, onde fica a Mansão do Caminho, pois o bairro de Salvador é um dos mais violentos da capital baiana.

Na véspera do Você e a Paz, mais um dos milhares de incidentes ocorreram em Pau da Lima, com um homem atacando a ex-mulher e a família dela com soda cáustica, na noite, ao entrar numa loja das Casas Bahia. O caso foi reportado pelo jornal A Tarde.

Em 2016, havia o caso de uma jovem que foi sequestrada, num ponto de ônibus em Pau da Lima, por um motoqueiro para estupro coletivo. O caso traz um trocadilho irônico. Numa das palestras, Divaldo Franco narrava o caso de uma jovem que se livrou de um estupro coletivo porque o dr. Adolfo Bezerra de Menezes de repente se materializou (!) e chamou a polícia para prender os rapazes que se preparavam para o crime. Faltou o Dr. Bezerra para socorrer a pobre coitada no Pau da Lima.

Outras localidades, como Uberaba e Abadiânia também são cenários de muita violência, acompanhando a tendência de "casas espíritas", situadas em áreas perigosas sob o pretexto de "resolver a violência", só piorarem a situação.

Em Salvador, áreas como a Cidade da Luz, em Patamares, e o Centro Paulo e Estevão, em Amaralina, são redutos de regiões intensamente violentas, como o entorno Pituaçu-Boca do Rio, no primeiro caso, e o "triângulo" Nordeste-Santa-Cruz-Vale das Pedrinhas, no segundo.

A "caridade espírita", pelos resultados que não consegue efetuar se não a promoção pessoal dos "médiuns", alvo de adoração de muitos seguidores aos quais pouco importam se os pobres realmente foram beneficiados ou não. O foco acaba sendo o ídolo religioso que a pouca caridade produz, o que comprova que essa "filantropia" corresponde ao Assistencialismo, e não Assistência Social, como tanto alardeiam os "espíritas".

ASSISTENCIALISMO E ASSISTÊNCIA SOCIAL

É bom deixar clara a diferença entre Assistencialismo e Assistência Social. Enquanto a Assistência Social investe na "cura" da "doença" da pobreza, o Assistencialismo apenas alivia suas dores, diminui seus efeitos drásticos, sem no entanto "trazer a cura".

No Assistencialismo, as ajudas são pontuais, parciais ou provisórias, e mesmo quando há resultados efetivos, eles são bastante medíocres, trazendo apenas níveis medianos de qualidade de vida. O foco acaba sendo mais a promoção pessoal do "benfeitor", que "comemora demais pelo pouco que faz", do que o atendimento aos mais necessitados.

Há também casos em que atos considerados "caridade" se comprovam perversos. O perigoso ato das "cartas mediúnicas" de Chico Xavier, oficialmente considerado a "maior bondade da vida do médium", foi uma atrocidade: mediunidade fake, exploração ostensiva das tragédias familiares, sensacionalismo místico e sobrenatural, falso consolo, prolongamento dos lutos familiares mesmo com a "certeza da vida após a morte" e promoção pessoal do "médium".

O que se observa nos "médiuns espíritas" é que, como eles produzem mediunidades fake, baseados no habitual vício dos brasileiros da falta de concentração mental - se o brasileiro não tem concentração sequer para ouvir música ou ler livros, esperaria que ele conseguiria realmente se comunicar com os mortos? - , e deturpam os ensinamentos espíritas, eles precisam de um apelo emocional para obterem a popularidade a níveis próximos da unanimidade.

Daí a "caridade", que tanto arranca lágrimas, no processo de "masturbação com os olhos" da comoção fácil e premeditada, e que serve como o maior marketing dos "médiuns espíritas", que com esse arremedo de ativismo social passam a ser blindados com mais intensidade que qualquer político do PSDB. Não seria hora dos tucanos mudarem o nome de seu partido para ESPÍRITAS?

É por isso que existem piadas sobre a elevada blindagem dos "médiuns", que fez com que a imprensa reagisse em silêncio diante do envolvimento de Divaldo Franco no caso da "farinata". Anedotas como "'médium espírita' é diferente de doença contagiosa; sarampo, por exemplo, se pega, já o 'médium', ninguém pega" ou "no ENEM, 'médium espírita' não cai em prova", começam a surgir.

Portanto, é bom demais para ser verdade que os "médiuns espíritas" se configurem em pessoas supostamente de alto nível de elevação espiritual. Observando bem a coisa, se revela o contrário, e se vê o quanto mesquinho é usar a caridade como cortina de fumaça para abafar atos como as irregularidades mediúnicas e a deturpação dos ensinamentos espíritas.

Usar o "amor" como desculpa para tais desonestidades é muito mais cruel do que bondoso e só acoberta a indignidade com apelos emocionais feitos para forçar o apoio, perto do unânime, das pessoas. Mas a ilusão é terrena, por mais que se usem pretextos espirituais. No além-túmulo, os "iluminados" da Terra sempre levam um choque quando se revelam as trevas de suas consciências.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

"Espiritismo" faliu porque falhou o discurso da "Nova Era"


A falência do "espiritismo" brasileiro se deu porque seu discurso sobre a "entrada na Nova Era", que até hoje tenta ser veiculado com muita persistência, simplesmente falhou, mediante os inúmeros resultados negativos que a humanidade, não só brasileira, mas mundial, contraiu mediante diversos fatores.

O discurso de "Nova Era" não necessariamente foi criado pelos "espíritas" brasileiros, mas pegando carona em movimentos esotéricos de valor bastante duvidoso criados nos EUA que criavam pastiches de orientalismo religioso ou apostavam em profetismo místico, daí tendências que vão da Cientologia a movimentos de influência da Astrologia.

São movimentos que aproveitam, de maneira tendenciosa, o misticismo professado pelo movimento hippie e as perspectivas que a humanidade tinha de avanços humanos prometidos no final da década de 1980 e, depois, no triplo final da década de 1990, do século XX e do segundo milênio. A ideia da "sociedade de Aquário" e da "fraternidade do Terceiro Milênio" causou uma catarse emocional em milhões de pessoas.

O "espiritismo" brasileiro, que tinha problemas em assumir o legado deturpador do francês Jean-Baptiste Roustaing, resolveu suas crises usando o "jeitinho brasileiro". Sob o pretexto, que se revela cheio de falsidades, de equilibrar a atuação de "científicos" e "religiosos", duas facções em disputa no "movimento espírita", criou-se a "fase dúbia", que investe num "roustanguismo com Kardec".

A hipocrisia aumentou no "movimento espírita", mas de forma - o tal "jeitinho brasileiro" - que parecesse "equilibrada" e "coerente". Pratica-se igrejismo de base roustanguista sob a desculpa de "seguir as tradições religiosas brasileiras" e usa-se a "afinidade com os ensinamentos cristãos" como alegação para "catolicizar" o Espiritismo.

No entanto, esse processo, que consiste em deturpação e vai contra muitos ensinamentos espíritas originais, é feito sob a pretensão de "rigoroso respeito" e "fidelidade absoluta" a Allan Kardec, sem que se meçam escrúpulos em dizer uma coisa e depois dizer ou fazer outra coisa. Chega-se ao cúmulo de deturpadores do Espiritismo expuserem corretamente a Teoria Espírita em certos eventos, enquanto, em outros, professam o mais gosmento igrejismo.

Há tanta hipocrisia que muitos palestrantes e "médiuns" do "movimento espírita" chegam a se dizer "contra a vaticanização e a catolicização", e uns igrejeiros chegam ao ponto de, mesmo professando a tendência "religiosa", se autoproclamam "científicos" e fazem de tudo para manter as aparências: escrevem artigos pedantes sobre Física, Filosofia e Ciências Humanas nos periódicos "espíritas", bajulam Erasto e ilustram textos místicos com fotos de anatomia humana ou cenários cósmicos.

Aliás, são esses textos místicos que, combinando pedantismo científico com devaneios esotéricos e pretensa profecia, prometiam a "Nova Era" que, num contexto muitíssimo antiquado, era prenunciado em 1937-1938 por Francisco Cândido Xavier no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

PATRIA DO EVANGELHO? OU A VOLTA DO CATOLICISMO MEDIEVAL?

O referido livro foi escrito a quatro mãos com Antônio Wantuil de Feritas, então presidente da FEB, apesar do crédito tendencioso do espírito do escritor maranhense Humberto de Campos, que nunca seria capaz de escrever um til desse livro (desconta-se o risível plágio que Chico e Wantuil fizeram com um capítulo do livro cômico de Humberto, O Brasil Anedótico).

Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho é constrangedor como livro pretensamente profético. Como livro de História do Brasil, ele se baseia nos livros medíocres e numa visão historiográfica preconceituosa, elitista e tendenciosa, como nos piores livros do gênero.

Como um pretenso documento de "previsão" de que o Brasil teria uma posição destacada no mundo, o livro apresenta equívocos, uns bastante perigosos. Primeiro, porque é uma patriotada literária própria de um interiorano que sonhava ver o Brasil dominando o mundo. Segundo, porque isso pressupõe uma volta tanto do Império Romano (supremacia política) quanto do Catolicismo medieval (sob o rótulo de "espiritismo"), através de uma "teocracia imperialista".

Isso é confirmado pelos indícios de que o "espiritismo" - que, no Brasil, reduziu-se a uma forma repaginada do Catolicismo jesuíta que dominou o país no período colonial - se tornaria a religião dominante do mundo e o Brasil iria "comandar os processos de transmissão dos ensinamentos cristãos" na humanidade planetária.

O discurso de "nação-líder", politicamente falando, resultou, nas décadas recentes, no imperialismo dos EUA e no projeto imperialista do nazismo de Adolf Hitler, revelando os males de uma nação dominante na humanidade da Terra.

Já o discurso religioso, da "pátria do Evangelho", o próprio caso do Catolicismo medieval confirma o perigo desse discurso, por mais que se fale no "desenvolvimento da fraternidade e da misericórdia", na "união em Cristo" e na "promoção da paz dentro da fé cristã". O problema não está na beleza dócil desse discurso, mas do "outro lado", pois crenças que não compartilharam dos "ideais cristãos" eram exterminadas de forma sangrenta e desumana.

O grande perigo é esse, porque os próprios "espíritas" têm uma visão punitivista do sofrimento humano, falando em "reajustes espirituais" e "resgates morais" e a acusação de que vítimas da violência e outras tragédias, feitas ao arrepio da Ciência Espírita e baseadas em julgamentos de valor, teriam sido "gauleses" em outras encarnações.

Chico Xavier e Divaldo Franco fizeram perversos juízos de valor. Em 1966, Chico Xavier acusou as humildes vítimas do incêndio do Gran Circo Norte-Americano, ocorrido em Niterói, em 17 de dezembro de 1961, de terem sido gauleses sanguinários. Para piorar, Chico Xavier jogou a culpa em Humberto de Campos, creditado sob o tendencioso pseudônimo "Irmão X". Em 2016, Divaldo acusou, com um discurso dócil, os pobres refugiados do Oriente Médio de terem sido colonizadores sanguinários e, levianamente, os acusou também de quererem recuperar os tesouros da Europa.

Dante disso, junta-se o perigo do discurso da Nova Era do "espiritismo", aliado à perspectiva do Brasil como "coração do mundo e pátria do Evangelho", o que nos faz concluir que o papo é cheio de contradições e que, por trás do suposto profetismo futurista, existe um discurso conservador de resgate de tempos medievais.

Os "espíritas" sinalizaram apoiar cenários políticos ultraconservadores. O "espiritismo" brasileiro apoiou o golpe político de 2016 e fez pregações elogiando o "atual momento político" e pedindo aos sofredores "se conformarem com as desgraças da vida". Se isso é a Nova Era que os "espíritas" tanto falaram, então a Nova Era, sinceramente... já era!