domingo, 30 de abril de 2017

As ilusões do topo da pirâmide e o "Espiritismo da Globo"

O TOPO DA PIRÂMIDE SOCIAL LEVITANDO...

O status quo dominante é visto, no Brasil, como um estágio social no qual os detentores de algum privilégio social sempre possuem alguma motivação objetiva para obter alguma vantagem, mesmo praticando um gravíssimo erro.

Do presidente da República que toma medidas desfavoráveis às classes populares sob a desculpa de "combater a recessão" até o ídolo religioso de fala verborrágica que acusa refugiados do Oriente Médio de terem sido antigos colonizadores em busca de velhos tesouros, imaginamos o topo da pirâmide social como um paraíso de visões objetivas, ações acertadas e visões imparciais.

Isso tudo é uma ilusão. Aliás, o topo da pirâmide se revela um reduto de fantasias e ambições dos mais vergonhosos, e, nos últimos anos, nunca os privilegiados estiveram em níveis tão baixos ou, quando muito, preocupantemente medianos, no que se refere à evolução humana e social.

Isso vem desde a realidade familiar, quando os pais de família mais idosos, iludidos com o acúmulo de anos, julgam "atemporais" os valores conservadores que defendem e subestimam os erros que cometem. O quanto a "experiência", muitas vezes, se reduz a pó na complexidade da realidade dos nossos dias...

A ilusão do alto da pirâmide começou a ser posta em xeque quando uma parcela da sociedade brasileira pediu a saída da presidenta Dilma Rousseff. A ideia é colocar, no lugar da petista, um grupo político dotado de qualidades "politicamente moderadas" e "alta capacidade técnica e administrativa" para resolver a crise econômica brasileira, na verdade reflexo da crise econômica mundial que ocorre desde 2008.

Essa ilusão apostava em partidos tecnocráticos ou tradicionalistas, como PSDB, PPS, DEM e PMDB, na condução do futuro político do país, ou, em certos casos, num PSC representado pela figura desordeira, mas associada a mitos de "disciplina" e "tradição" como Jair Bolsonaro. E isso gera uma catarse que, surpreendentemente, vem de teimosos cidadãos de 60, 65 anos, cada vez menos maduros, se comportando como crianças mimadas e teimosas.

Há ilusões de "austeridade" (Bolsonaro), de "competência administrativa" (João Dória Jr.), de "modernidade" (Aécio Neves), de "moderação" (Michel Temer) que fazem boa parte da sociedade se consentir dos graves escândalos que envolvem a direita brasileira, vistos erroneamente como pequenas travessuras comparáveis a de colegas de escola em um recreio.

Ver que escândalos que envolvem Aécio Neves, José Serra, Wellington Moreira Franco, Romero Jucá, Geddel Vieira Lima, Aloysio Nunes Ferreira, Geraldo Alckmin ou até mesmo Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, são "meras travessuras" ou "esquetes de comédia" é assustador. Como eles não são petistas, eles podem destruir o Brasil que a sociedade nem liga?

E a situação dos donos da Rede Globo, os irmãos Marinho (José Roberto, João Roberto e Roberto Irineu)? Sonegadores de impostos, parasitas de dinheiro público e superfaturadores da arrecadação do Criança Esperança, os três empresários são os homens mais ricos do país e têm o privilégio monstruoso de manipular as mentes até de uma parte de brasileiros que acham que não gostam da Globo nem são influenciados por ela.

Apenas uma pronúncia de gírias - "balada" ou "galera", que especialistas apontam como jargões difundidos, respectivamente, por Luciano Huck e Fausto Silva - já revela a influência da Globo nas pessoas. Não adianta falar essas gírias e depois cantarolar o refrão "O povo não é bobo / Abaixo a Rede Globo", porque a influência da Globo é mais do que explícita.

Odiar a Rede Globo mas raciocinar conforme a concepção de mundo trazida pela rede revela o quanto é hipócrita a oposição ou isenção de certas pessoas. Se não é hipocrisia, é medo de ser desqualificado pelos amigos. A Globo influi até mesmo em valores religiosos que transformam o conceito de "bondade" numa entidade subordinada ao institucionalismo religioso.

A "bondade" se reduz a uma mera "pessoa jurídica", personificada pela seita religiosa da escolha de alguém e pelo seu respectivo ídolo religioso. Diz o discurso neste âmbito que a "bondade" é "acessível a todos",  mas o raciocínio é comparável ao de uma franquia de uma grande empresa que, em tese, qualquer um pode adquirir.

Poucos admitem que o que está por trás do mito dos "médiuns filantropos", a partir de Francisco Cândido Xavier, não passou de um requintado truque publicitário da Rede Globo, que se aliou à FEB na reconstrução de um mito aberrante, mas que provoca comoção fácil a uma sociedade acostumada a ver o mundo com os olhos do Jornal Nacional e dos enredos das novelas das oito/nove.

GLOBO REINVENTOU CHICO XAVIER; MÍDIA SOLIDÁRIA À GLOBO ASSINA EMBAIXO

Através de um roteiro copiado do inglês Malcolm Muggeridge, a Globo reinventou Chico Xavier visando dois objetivos: um é criar um ídolo religioso que não tivesse as vestimentas católicas habituais, mas que transmitisse, de maneira informal, os valores conservadores da Igreja Católica, como forma de domesticar os brasileiros durante a crise da ditadura militar, onde se observavam convulsões sociais semelhantes às dos dias de hoje.

Outro motivo é ainda bem mais tendencioso: Chico Xavier era promovido pela Rede Globo para fazer concorrência com os pastores neopentecostais em ascensão, Edir Macedo e R. R. Soares, que estavam comprando, naquela época (segunda metade dos anos 1970), horários de transmissão de seus cultos. E tudo isso sem despertar desconfiança, daí o "catolicismo à paisana" que os "espíritas" oferecem de graça.

Afinal, poucos admitem que o Espiritismo, no Brasil, foi reduzido, e podemos dizer rebaixado, mesmo, a um sub-Catolicismo de inspiração medieval, reciclando os valores do antigo movimento jesuíta do período colonial que hoje não fazem sentido na própria Igreja Católica. Os "espíritas" aproveitaram para si o "lixo" deixado pelos católicos.

Mas aí o fanático "espírita", com seu argumento pseudo-intelectual nas redes sociais, vai dizer: "Isso é balela. Se fosse assim teríamos doutrinária espírita até na Globo News. Os médiuns espíritas fazem programas em pequenos canais independentes, e temos notícia de mediunidade na Band, TV Cultura etc. Não faz sentido dizer que o Espiritismo é coisa da Globo, meu irmão!".

O problema não é o "espiritismo" aparecer ou não em outras mídias. Mas ele aparece nelas já "embalado" pela Globo. A Globo tem a habilidade de moldar valores e exportá-lo para mídias concorrentes, através de diversos meios. Isso é feito para dar a falsa impressão de que os padrões ideológicos de gírias, religião, abordagem política etc, transmitidos pela Globo são "imparciais" e "universais".

E boa parte da "mídia concorrente" da Globo não lhe é vinculada institucionalmente, mas ideologicamente solidária. A TV Bandeirantes, que defende as mesmas causas retrógradas defendidas pela Globo, também fez uma série sobre "mediunidade".

A Editora Abril, que publica a rancorosa revista Veja, tem uma coletânea especial da revista Superinteressante com Chico Xavier. E a Veja, que esculhamba o ativismo social, fez uma matéria de capa elogiosa com o "médium" goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, que - aviso aos esquerdistas - também é latifundiário e acusado de se enriquecer com o "dinheiro da caridade".

A Globo fez as pessoas acharem "natural" a forma aberrante que o ofício de médium ganhou no Brasil. O suposto médium ao qual se celebra o culto à personalidade - problema quase nunca visto, pela pose de "humildade" que os "médiuns" exercem - também é associada a inúmeras irregularidades que as pessoas deixam passar e até arrumam desculpas para defendê-las ou relativizá-las.

Os "médiuns", aliás, anti-médiuns, porque perderam o papel intermediário da comunicação entre vivos e mortos, também fazem apelos que os mais sérios estudiosos de diversas áreas do Conhecimento definem como negativos: o Ad Passiones (Apelo à Emoção) e o Assistencialismo.

Quanto ao Ad Passiones, o "espiritismo" recorre a uma de suas formas, o "bombardeio de amor", considerada mais radical e perigosa. As chamadas "mensagens de amor" e a imagem "comovente" dos supostos médiuns cria um aparato ideológico que arranca, de seus seguidores, a comoção fácil, um êxtase de choro que se compara a uma "masturbação com os olhos".

O apelo é reforçado pelos dramalhões relatados nas palestras, de sofredores extremos que "se deram bem na vida", de dramas com ingredientes trágicos com "finais felizes" à maneira do "espiritismo" igrejista, que servem como mero entretenimento para plateias relativamente abastadas se divertirem às custas do sofrimento alheio.

O Assistencialismo é uma prática de suposta caridade que apenas realiza ajudas pontuais, seja através de donativos, oferta de sopas e de programas de educação e profissionalização que apenas trazem resultados sociais medíocres, sem causar profundos efeitos de transformação social. É muito diferente de Assistência Social, que serve para combater, de frente, os sérios problemas sociais que o Assistencialismo só suaviza.

O Ad Passiones e o Assistencialismo foram observados na "emboscada" que Chico Xavier fez com Humberto de Campos Filho - um dos herdeiros do escritor maranhense que processaram o "médium" pelo aparente uso do ilustre nome - , no ano de 1957.

O "bombardeio de amor" da doutrinária e do "abraço fraterno", no qual Chico arriscou um falsete que desnorteou um Humberto Filho tomado de lágrimas e soluços. É a tentação traiçoeira das paixões religiosas, que muitos pensam ser "energias elevadas".

Já a caravana "filantrópica" que Chico Xavier comandou para mostrar ao filho de Humberto de Campos revela o Assistencialismo: o "médium" havia lhe mostrado, na "casa espírita" de Uberaba, um grupo de senhoras cozinhando sopas. Depois, o Assistencialismo continuava na ostensiva caravana para tão somente doar mantimentos, muita celebração para tão pouca caridade, claramente feita para promoção pessoal do "benfeitor", no caso o "médium" mineiro.

Isso é uma amostra de como as ilusões do alto da pirâmide enganam os brasileiros. E o prestígio religioso é a maior fonte de ilusões, enganos e equívocos, que não podem ser subestimados como "erros normais".

A deturpação da Doutrina Espírita cresceu através desse arrivismo todo, explorando apelos de valor duvidoso como Ad Passiones e Assistencialismo e contando com a solidariedade da mesma mídia que prega valores retrógrados e transmite baixarias para o grande público.

Ver que o mito "filantrópico" de Chico Xavier foi construído com a ajuda de uma família de empresários sonegadores de impostos, aliadas da ditadura militar (que o "médium" apoiou com gosto) e manipuladoras do inconsciente coletivo, é chocante. Mas essa é a realidade de um meio que se aproveita do prestígio religioso para obter vantagens e se achar acima de tudo e de todos, sobretudo um "espiritismo" que deturpa o legado de Kardec e depois se diz "rigorosamente fiel" a ele.

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