segunda-feira, 15 de maio de 2017
Como o "espiritismo" brasileiro se deixou levar por energias maléficas
Admite-se que foi um trabalho irrefletido, mas o "espiritismo" brasileiro, pelas responsabilidades que prometeu assumir mas não cumpriu o prometido, acabou atraindo para si as energias maléficas, de espíritos inferiores que encontraram mil possibilidades diante do conteúdo deturpado e de práticas irregulares.
A constatação nada tem a ver com inveja, calúnia ou ofensa. Pelo contrário, estamos preocupados com essa situação. O legado de Allan Kardec foi desfigurado e distorcido de tal forma e as influências de J. B. Roustaing foram tão exercidas quanto nunca assumidas que as energias tinham mesmo que ser das piores, por causa da Lei de Atração.
Espíritos inferiores são atraídos pela dissimulação, pela desonestidade doutrinária, pelas traições, simulações, fingimentos, ambições e tantos descaminhos que, isolados, podem representar erros pontuais, mas, somados, permitiram não apenas a abertura de caminho para espíritos atrasados, mas o descontrole de seus atos e suas influências.
A trajetória do "espiritismo" brasileiro envolveu uma série de fingimentos, fraudes, dissimulações. A opção roustanguista cometeu como primeira fraude pretensas psicografias ou psicofonias com um falso Allan Kardec pedindo para as pessoas conhecerem "a revelação da revelação" (como era definido o ideal igrejista de Jean-Baptiste Roustaing). Uma coisa que, com certeza, Kardec nunca iria defender.
A trajetória cheia de confusões do suposto médium Francisco Cândido Xavier, um bizarro católico ortodoxo de supostas práticas paranormais, manipulada por todo um propagandismo do ambicioso presidente da FEB, Antônio Wantuil de Freitas, também revela todo um serviço de desonestidade doutrinária aliada ao arrivismo, à mística religiosa e, acima de tudo, ao sensacionalismo movido por interesses comerciais.
Em primeiro momento, Chico Xavier virou um pretenso porta-voz dos mortos como um apelo sensacionalista para vender muitos livros, sem qualquer estudo sério e responsável de Ciência Espírita, afinal o "médium" se ascendeu num compromisso de levar adiante e até longe demais a deturpação da Doutrina Espírita.
Em segundo momento, quando Chico quase foi desmascarado pela participação da farsa de Otília Diogo, seu mito teve que ser repensado e recuperado, para garantir os lucros da FEB. Morto Wantuil, é hora do "movimento espírita" iniciar uma nova estratégia, rompendo com os herdeiros do finado e adotando posturas falsamente kardecianas para agradar figuras como Herculano Pires e Deolindo Amorim.
Daí surgiu a "fase dúbia", que só trouxe as piores energias. A desonestidade doutrinária se tornou muito e muito mais grave, que até definir como gravíssima é ainda pouco. A deturpação do Espiritismo se tornou ainda mais deplorável, porque se praticava o mesmo roustanguismo, mas havia uma falsa postura de "respeito rigoroso" aos postulados kardecianos.
Criou-se, então, uma confusão doutrinária, no qual se misturavam eventos igrejeiros com apelo sensacionalista, como as sessões "mediúnicas" de Chico Xavier, a verborragia aduladora das elites nas turnês pomposas de Divaldo Franco, o pedantismo que leva professores e acadêmicos frustrados a virar "palestrantes espíritas", os maus romancistas que se escondem na "psicografia" de romances "espíritas". E por aí vai.
E o conteúdo ideológico? Sob a desculpa da "vida futura", os "espíritas" acabam concebendo sentimentos egoístas e um moralismo severo sem saber. Passam a ter um sentimento inverso de ânsia ou pressentimento de ver pessoas queridas morrerem, enquanto passam a ter apego doentio a pessoas perversas e assassinas que "nunca podem morrer" e, quando morrem, têm seu óbito ocultado, como se estivessem, em vez de morrendo, se "ascendido ao Senhor".
Os mortos precoces passam a ser alvo de exotismo mórbido e quase sensual. O sofrimento humano passa a ser defendido com firmeza, a ponto de apelos como "amar as próprias desgraças" e "vencer a si mesmo" serem dados, revelando um moralismo retrógrado que, no Brasil, recebe o selo tendencioso da "Doutrina Espírita".
A opção roustanguista, na medida em que foi mantida sob a aparente renegação do nome do igrejeiro J. B. Roustaing, revela uma desonestidade e uma deslealdade dupla. Deslealdade formal, porque se pratica o roustanguismo mas trata o nome de Roustaing como se fosse um palavrão. Deslealdade conceitual, que bajula o nome de Allan Kardec e tudo o que ele representou, como se fosse respeitar rigorosamente seu legado, mas esse legado é traído severa e cruelmente o tempo todo.
O mito de Chico Xavier foi refeito com a ajuda de ninguém menos que Roberto Marinho, das Organizações Globo que deixaram de lado a ojeriza ao anti-médium mineiro. Com o duplo objetivo de domesticar a população com um pretenso símbolo de "ativista" que agrade ao poderio civil-militar da ditadura militar (que Xavier apoiou) e não ameace os privilégios das elites, e de frear a ascensão dos pastores eletrônicos de seitas pentecostais, a Globo é responsável direta pela imagem de "filantropo" que Chico carrega, mesmo postumamente, em nossos dias.
O aparato de "palavras de amor" e outras imagens emocionalmente apelativas também não é garantia de boas energias. Pelo contrário, ela serve de fachada para energias ainda piores. Não somos nós que dissemos, mas o espírito de Erasto, discípulo de Paulo de Tarso (o "São Paulo" dos católicos), que advertiu que mensagens de "amor e caridade" podem representar uma armadilha para forçar as pessoas a aceitar ideias levianas e fora de lógica, coerência e bom senso.
Quantas famílias contraem mau agouro, depois de assistirem a um espetáculo de belas palavras e lindas imagens, melodias melífluas, vozes angelicais, se comovendo à toa por coisa nenhuma, ouvindo estórias aparentemente belas de gente que sofreu para vencer na vida, sem saber que estão se divertindo às custas da desgraça alheia, tratando o prejuízo alheio como "caminho para o sucesso"!
O "espiritismo" brasileiro não precisaria ser comandado espiritualmente pelas almas do mais alto grau de evolução, mas o que se viu foi que a doutrina igrejeira brasileira foi tomada por espíritos maléficos, zombeteiros, traiçoeiros, ardilosos e ambiciosos.
Como "religião-porteira", já que influi menos por ser popular e mais pelo aparente carisma e blindagem social, jurídica, acadêmica e midiática que recebe, o "espiritismo" abre caminho para que espíritos trevosos dos mais diversos tipos "arrombem todas as barreiras" e estabeleçam controle no âmbito da Cultura, das Artes, da Moral, da Política, das Leis, do Emprego e de tudo que vier.
Por isso deturpar o Espiritismo foi uma das coisas mais graves que ocorreu com o legado de Kardec. Não basta fingir que aprendeu as lições e depois enfeitar textos e mais textos com palavras doces e imagens bonitas, porque isso só camufla as coisas.
Será preciso a sociedade assumir o problema, em vez de jogar os deturpadores debaixo do tapete. Ver que ações como o Assistencialismo (caridade que pouco ajuda e só promovem o "benfeitor") e o Ad Passiones (apelo emocional que evoca "imagens" e "textos" belos ou emocionalmente "fortes") são duas das armadilhas que os deturpadores, sobretudo os "médiuns" em seu culto à personalidade, usam para se manterem em pé.
Abrir mão das paixões religiosas, se desapegar dos ídolos da fé e admitir que se faça uma devassa em todo o "movimento espírita" tal como se faz, nos EUA, com a Cientologia, são formas que desagradam a muitos, mas são necessárias para entender os gravíssimos erros de uma religião que evoca o nome de Kardec mas que, na verdade, resgata valores e práticas do Catolicismo medieval.
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