HÁ QUEM PENSE QUE UMA MERA SOPINHA VÁ MUDAR O MUNDO...
No último domingo, um conjunto musical "espírita" se apresentou no Campo de São Bento, na proximidade da Rua Lopes Trovão, em Niterói. num evento supostamente "não-religioso", no qual a venda dos CDs seria "100% para a assistência social", para um centro que leva o nome de Chico Xavier.
O problema não é ajudar ou não, mas sabe-se que o "espiritismo" brasileiro vive de muita confusão doutrinária e ações paliativas. O que se chama de "assistência social" é, na verdade, um assistencialismo, onde apenas ações pontuais são realizadas, algumas "despretensiosamente" e outras apenas para enfatizar a marca da instituição ou do ídolo religioso.
O problema está na própria natureza do "espiritismo", cada vez mais se complicando com suas próprias contradições. É verdade que os "espíritas" estão reclamando das críticas que recebem, as definem como "ataques", se julgam "vítimas" de uma "campanha depreciativa" e ficam choramingando a crise que atinge o que eles dizem ser "o trabalho do bem".
Paciência. Os "espíritas" estão pagando muito caro pelas escolhas que fizeram. Optaram pelo igrejismo de Jean-Baptiste Roustaing e depois o colocaram debaixo do tapete, bajulam Allan Kardec depois de tanta traição e, com tanta desonestidade, tentam compensar o vazio doutrinário falando sobre familinhas ou cantando musiquinhas, por sinal muito ruins.
É como escolher um caminho que, desde o começo, se aconselhou a não seguir. Desde os tempos de Kardec, se falava da deturpação do Espiritismo e o Brasil preferiu fechar os ouvidos a esse alerta. Fechando os ouvidos, caiu na armadilha de Roustaing. Envergonhado, o "movimento espírita" tentou fingir que aprendeu melhor o legado kardeciano e continuou praticando o igrejismo, caindo numa infinita e preocupante rede de contradições.
Os "espíritas" não querem ser responsabilizados pela própria deturpação. Dizem assumir seus erros, mas não querem sofrer os seus efeitos. Se entristecem quando a constatação de crise lhes chega e o vitimismo torna-se notório. A crise no "movimento espírita" é tanta que agora apelam para fazer musiquinha fora das "casas espíritas".
Há o desesperado proselitismo do cantor com seu violão, dizendo que o mundo "será espírita", orientado pelas recomendações de seu "centro". Clichês temáticos como falar em "luz" e apelar para a filantropia se tornam apelos fáceis, que só são aceitos porque o verdadeiro Espiritismo - verdadeiro MESMO - , de Kardec, simplesmente é desconhecido pela maioria esmagadora dos brasileiros.
O que se vende como "espiritismo" é um engodo doutrinário que mistura Roustaing, Companhia de Jesus e moralismo social ultraconservador, e que a grande mídia tenta fazer crer que é uma forma "equilibrada" da "doutrina de Kardec". A "fase dúbia", que veio após a morte de Wantuil e se vale desse jogo duplo de misturas conceitos igrejistas e científicos, garantiu essa manobra, ainda mais com o apoio das Organizações Globo, hoje apoiando Francisco Cândido Xavier.
Aí as pessoas, tomadas de emotividade cega, não percebem o que está por trás do aparato de ações que parecem boas ou de juízos de valor que parecem justos. Muitas pessoas têm uma visão esquizofrênica de moralidade, que pensam que a ideia de "bondade" só faz sentido quando ela é derivada do institucionalismo religioso, valorizando mais a fé do que os benefícios causados, que no caso da filantropia religiosa, são muito inexpressivos.
A filantropia não pode servir como desculpa para o vazio doutrinário. A crise que o "espiritismo" sofre não vem das críticas que recebe, da mesma forma que não se pode culpar o faxineiro pela sujeira que ele, na verdade, varre. As contradições que o "espiritismo" sofre são muitíssimo graves, no nível da pura desonestidade doutrinária.
E não é essa desonestidade que se tornará honesta com aparente filantropia. E nem se fala de questões sombrias por trás de ações filantrópicas, como "lavagem de dinheiro", superfaturamento etc, mas do próprio problema da "caridade" servir mais para expor o "benfeitor" do que trazer benefícios.
Essa "filantropia" que põe a deturpação da Doutrina Espírita debaixo do tapete não justifica o vazio doutrinário e nem reforça as dissimulações que fazem os próprios "espíritas" se desentenderem uns aos outros, porque nenhum deles consegue manter o igrejismo herdado do deturpador Chico Xavier, de Divaldo Franco e similares, sem que seus devaneios religiosos se choquem mutuamente.
Reduzido a um sub-Catolicismo de matizes medievais, o "espiritismo" deveria ao menos assumir seu roustanguismo, tirando do armário o livro Os Quatro Evangelhos de Jean-Baptiste Roustaing, verdadeira fonte inspiradora das obras de Chico Xavier. Assumir isso seria desagradável, mas seria muito mais honesto. Roustaing vive nas práticas que o "espiritismo" brasileiro faz hoje em dia.
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