REGISTRO DE TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL, NOS ÚLTIMOS ANOS.
"Não reclame. Trabalhe e ore", disse Emmanuel. "Não reclame da crise, trabalhe", disse, mais recentemente, Michel Temer, presidente marcado pelas propostas retrógradas que pretendem liquidar com as conquistas trabalhistas duramente obtidas pelas classes populares ao longo de décadas.
Juntas, as reformas trabalhista, previdenciária e de terceirização pretendem arruinar o cotidiano do trabalhador, que irá trabalhar mais, ganhar menos, ter menos proteção e assistência, correr mais riscos de acidentes, e ainda por cima vai se aposentar mais tarde, se puder chegar vivo para isso.
Os "espíritas" estão adotando, nos últimos anos, uma postura retrógrada não assumida. Se, no discurso, continuam bajulando Allan Kardec e falando até em Erasto, na prática estão cada vez mais retrocedendo ao velho Catolicismo jesuíta medieval, que vigorou nos tempos do Brasil colonial, e de bandeja se oferecem também valores próprios da Teologia do Sofrimento.
Os "espíritas" se horrorizam quando se revela que eles pregam a Teologia do Sofrimento. Numa primeira ocasião, são taxativos no apelo para os sofredores "amarem suas desgraças" e "suportar tudo com fé e alegria", combatendo "o pior inimigo, que são eles mesmos". Depois dentam desdizer o que foi dito na véspera, falando que "ninguém nasceu para sofrer" e passando a defender o "amor próprio de cada pessoa".
O "espiritismo" se tornou a doutrina da contradição. De raiz roustanguista (seus postulados originais remetem a Os Quatro Evangelhos, de Jean-Baptiste Roustaing), tenta fazer tudo para dar a falsa impressão de que é "rigorosamente fiel" aos ensinamentos de Allan Kardec. Mas isso ainda é pouco.
São tantas e tantas contradições que não há como se convencer quando um "espírita" finge assumir seus erros e fala coisas como "Quem nunca erra? Nós, espíritas, são os que mais erramos, os que mais cometemos falhas, o que mostra o quanto somos imperfeitos". Mas esse discurso é feito mais para evitar as consequências dos erros do que para adotar uma postura autocrítica.
Melhor dizendo: os "espíritas" tentam assumir a "causa" para evitarem sofrer os "efeitos". Adotam posturas aqui e ali que não assumem no discurso, mas sua prática é explícita. A Teologia do Sofrimento é um exemplo, e eles usam os mesmos argumentos que os católicos que defendem essa corrente sem assumir que fazem apologia às desgraças humanas.
E o governo Michel Temer é outro caso. Os "espíritas" não adotaram uma postura aberta a respeito deste governo e sua pauta retrógrada que rebaixa o emprego aos padrões do trabalho escravo ou, na melhor das hipóteses, do trabalho informal.
Não vieram dizendo "vamos orar em favor dos nossos governantes para eles seguirem a Lei Maior, que são os 'ensinamentos do Cristo'", como se dogmas católicos (lembremos da imagem deturpada de Jesus que hoje prevalece) estivessem acima da Constituição. Mas vieram com dois indícios de que o "movimento espírita" defendeu tanto a derrubada do governo Dilma Rousseff quanto o governo Michel Temer e sua "pinguela para o passado":
1) Definiram os protestos "contra a corrupção" organizados por grupos como Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line como "despertar da juventude", "momento de regeneração da humanidade" e "nascer de uma nova era de prosperidade". Falava-se até na ação de "crianças-índigo" (Fernando Holiday? Rogério Chequer? Kim Kataguiri? Alexandre Frota? Janaína Paschoal? Flávio Bolsonaro?).
Detalhe: os "espíritas" dizem condenar a revolta, mas apoiam movimentos organizados por "revoltados". Outro detalhe: os movimentos "regeneradores" mostravam suásticas nazistas e faixas do tipo "Por que não mataram todos em 1964"? Não eram raros os que defendiam o golpe militar (descrito pela forma eufemística de "intervenção militar";
2) Vários artigos e palestras "espíritas" passaram a defender a aceitação do sofrimento humano. "Abra mão de seus desejos", "ame o sofrimento", "combata seu maior inimigo, que é você mesmo", "reinvente sua vida", "reveja suas habilidades e necessidades", "dia de desgraças, véspera de bênçãos" e tudo o mais.
Detalhe: Tudo isso soa como um preparativo subliminar para os retrocessos promovidos pelo governo Temer. É a senha para a pessoa deixar de trabalhar o que gosta, abrir mão de suas próprias habilidades e apenas lutar por sua sobrevivência. É como se os "espíritas" dissessem: "o Temer vai ferrar com você, se conforme com isso e aguente qualquer parada".
Os "espíritas" dizem mais quando não se declaram, porque no malabarismo discursivo há todo um esforço de dissimular posturas conservadoras, sob o verniz da "imparcialidade", do "espiritualismo" e da "abnegação". O "espírita" diz mais quando acaba dizendo do que quando quer dizer. E mil mensagens se transmitem não pelas posturas assumidas, mas pelo conteúdo expresso na prática.
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