segunda-feira, 8 de maio de 2017
O que é mesmo a hipocrisia para o "espiritismo" brasileiro?
Reclamam os "espíritas" da crise extrema que sofrem. Falam eles da ira dos que consideram hipócritas e perversos, e contam a seu favor com textos que eles afirmam serem de Kardec, mas trazidos de traduções igrejeiras e catolicizadas.
Vaidosos, os "espíritas" que nunca deixaram de professar seu roustanguismo, corrente amarga dissolvida na água com açúcar de suas belas palavras, tentam a todo custo dar a impressão contrária, como grileiros da verdade, se julgando, apenas por terem prestígio religioso, as "melhores" representações da Coerência e do Bom Senso.
Não conseguem admitir as más escolhas que fazem. E, quando tentam admitir seus erros, é para evitar que os efeitos danosos das más escolhas se voltem contra eles. É como um competidor que, denunciado por alguma trapaça, suplica às lágrimas para não ser desclassificado.
Os "espíritas" acham que são equilibrados promovendo a "fraternidade" entre o Bom Senso e o Contrassenso. Evocam Erasto num momento, exaltam Emmanuel em outro. Se acham com a razão, no seu igrejismo de matizes medievais, mas não conseguem ver a confusão de suas próprias ideias, tão preocupados no mel das palavras.
Eles fazem apologia ao sofrimento humano, usando até expressões como "combate a si mesmo". Confundem desafios com desgraças. Mas quando alguém lhes diz que isso é Teologia do Sofrimento, reagem com pavor. "Não, não estamos pregando o sofrimento! Ah, irmão, que acusação infeliz!".
Perdidos ao verem seu prestígio ser ameaçado, eles falam da "hipocrisia" dos outros, aos quais atribuem "falta de fé" e outros adjetivos infelizes. Tentam argumentar para ficarem com a verdade, enquanto fingem autocrítica quando falam, com mal disfarçado contragosto, que "também erram, e muito".
Ah, como o "espiritismo" brasileiro se prejudicou nos últimos tempos, desenvolvendo suas raízes doutrinárias no legado igrejeiro de Jean-Baptiste Roustaing. E tentou, com muito atraso, aceitar Allan Kardec, mas já é tarde demais, e agora os "espíritas" lutam contra o tempo para tentar fazer valer suas contradições como se fossem um falso equilíbrio.
Eles acabam professando a Igreja dos Espíritos, reciclam o Catolicismo jesuíta e vaticanizam a Doutrina Espírita com muito gosto. Mas depois tentam maquiar evocando a "Ciência de Kardec", bajulando ativistas autênticos, cientistas autênticos, intelectuais genuínos.
No Brasil, são justamente os incoerentes que falam em coerência e dizem condenar a hipocrisia dos outros. Os contraditórios acham que não cometem falsidade, a organicidade do discurso vale mais do que as ideias que brigam entre si.
Que vexame não é um ideólogo "espírita" exaltar a coerência de Allan Kardec, que, entre outras coisas, afirma não haver qualquer estudo sério que traga uma noção do que é realmente o mundo espiritual, e, depois, exaltar Francisco Cândido Xavier criando um "além-túmulo" bem ao sabor das paixões materialistas que os "espíritas" fingem não terem (e eles são os que mais possuem, até mais do que os comunistas, por exemplo).
Sim, porque corroborar as apologias ao sofrimento humano trazidas por Chico Xavier e defender a aceitação de desgraças sob a desculpa de que "no além-túmulo será melhor" é uma grande hipocrisia. Embora existisse vida espiritual, não temos quaisquer condição de saber o que realmente é o além-túmulo, daí a injustiça de sofrer demais na encarnação presente, e, depois da morte, ver que as tais "bênçãos futuras" serão aquém de tão entusiasmadas perspectivas.
Ah, quanto choque os "espíritas" sofrem quando voltam para o além-túmulo. Mais do que muitos ateus, considerados os "ranzinzas" da humanidade. Que choque perceber o quanto o Céu escapa do alcance de triunfantes oradores "espíritas", o quanto o incerto do além-túmulo decepciona tantos devotos da própria desgraça, não havendo corais de anjos, bosques verdejantes, edifícios brancos imponentes de vidros azulados.
Ah, quanto choque que os "espíritas" sofrem, já perdendo a posse da palavra final, incomodados com tantos questionamentos. E ignorando que as críticas que os "espíritas" sofrem não partem de "hipócritas" e "falsos", mas de pessoas que entenderam, melhor do que muito festejado palestrante, os recados de Erasto sobre a deturpação do legado de Allan Kardec.
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