terça-feira, 16 de maio de 2017

Por que as pessoas não veem sentido no perigo do "apelo à emoção"?


Por que falar em "bombardeio de amor", "Ad Passiones", "apelo à emoção" e de seus perigos maléficos torna-se inútil para boa parte dos brasileiros, que nunca veriam mal algum em mensagens dóceis ilustradas por imagens de coraçõezinhos vermelhos?

A falta de percepção das armadilhas humanas, que faz com que os brasileiros aceitem sem críticas fenômenos que são considerados maléficos no exterior - como a overdose de informação e a glamourização da pobreza - , revela o grande atraso perceptivo em que o Brasil se encontra.

O Brasil é geralmente um país que costuma ser o "último a saber" das coisas. Tem como sua mania maior deturpar o novo inserindo nele conceitos e práticas velhas. Isso é ilustrativo no Espiritismo, já que aqui o legado de Kardec foi tão deturpado que ficou desfigurado, reduzido a uma repaginação do velho Catolicismo jesuíta e medieval, vigente no Brasil colonial, e que não encontrou espaço na própria Igreja Católica que tenta se adaptar aos novos tempos.

O "apelo à emoção", com toda a certeza, tem seu perigo oficialmente reconhecido pelo reacionarismo rancoroso da Internet, que explodiu desde os tempos da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo" do Orkut, na qual se escondiam "núcleos" que depois vieram a compor grupos como Movimento Brasil Livre e Revoltados On Line, idolatram Jair Bolsonaro e pedem "intervenção militar" para nosso país.

Mas há outro aspecto perigoso, um perigo silencioso que os brasileiros não percebem e que, quando informados dessa ameaça, ainda se revoltam por não haver sentido pensar em "coraçõezinhos envenenados". A "mancenilheira" ideológica do Ad Passiones também pode oferecer riscos. O "excesso de amor" pode até matar, provocar ódio, dividir as pessoas mesmo no mais persistente discurso de "fraternidade".

Afinal, "fraternidade" em que sentido? Há um caminho para "sermos fraternos". Vamos nos unir em torno dos deturpadores da Doutrina Espírita? A resposta, se depender do "movimento espírita", é sim, e tantos apelos para a "união entre irmãos" escondem processos de manipulação, porque a religião sempre fala em união, mas nunca fala em convivência pacífica da diversidade.

Da mesma forma, prega-se a "união" em torno da causa mais retrógrada ou leviana. Prega-se a "união" de pessoas sem afinidade, que em tese sugerem um acordo, mas na prática acentuam-se os conflitos. Prega-se a "fraternidade" em torno de um mistificador, o "perdão" que consente seus erros abusivos, a idolatria que transforma arrivistas em "santos".

Muitas pessoas estão acostumadas com suas ilusões consideradas estáveis por décadas e décadas, mas que hoje começam a ruir. São as ilusões das orgias, das finanças, das drogas, da corrupção? Não. As piores ilusões são aquelas que repousam no moralismo social e familiar, na racionalidade profissional, no prestígio religioso travestido de "humildade plena", setores tão "límpidos" como uma cozinha branca e brilhante sobre a qual permanecem as piores sujeiras.

É como num copo de água cristalino que esconde vermes nocivos ou, às vezes, um veneno mortal. Como se observa no programa A Prova de Tudo (Men Vs. Wild), do inglês Bear Grylls, há águas barrentas que parecem sujas mas que são mais limpas e saudáveis do que muita água cristalina que pode causar uma grave intoxicação no organismo.

O "excesso de amor" também cria explosões de ódio. Fala-se muito que os questionadores do mito de Francisco Cândido Xavier são pessoas "contrárias ao amor", "intolerantes", "raivosas" e "invejosas", porque a imagem do anti-médium mineiro é sempre associada aos "bons sentimentos".

Grande engano. É justamente entre os adeptos de Chico Xavier que se encontram as pessoas mais rancorosas, vulcões de ódio e violência que apenas se adormecem parecendo montanhas de amor e simpatia. A menor contestação, por mais construtiva que seja, lhes incomoda e não raro os questionadores da deturpação espírita relatam casos de ameaças violentas que receberam dos seguidores do "bondoso médium".

O falecido questionador da deturpação espírita, Jorge Murta, chegou a receber ameaças violentas por questionar o igrejismo de Chico Xavier. E, na época do sobrinho Amaury Xavier, que ameaçou denunciar as fraudes do "movimento espírita", um palestrante "espírita" de Minas Gerais escreveu, em 1958, um artigo rancoroso contra o rapaz, que acusava o trabalho do tio uma farsa.

A emotividade cega é um problema nunca diagnosticado num Brasil que precisa enxergar melhor as armadilhas do caminho. É um país em que a overdose de informação emburrece as pessoas mas muitos acham que esse excesso informativo é "necessário para esclarecer a sociedade", como se um bombardeio de notícias e opiniões, em si, pudesse ensinar as pessoas a conhecer o mundo, ilusão que, no exterior, já foi devidamente analisada em seus efeitos negativos.

Mal nos livramos, coisa de um mês atrás, do falso feminismo das "mulheres siliconadas", que queriam se "empoderar" com seu sensualismo obsessivo, escondendo o fato de que exploravam a imagem hipersexualizada da mulher-objeto. Foi difícil convencer a sociedade de que as mulheres "turbinadas" estavam a serviço de valores machistas e não feministas. Era complicado explicar um machismo praticado por um grupo de mulheres que se dizia "sem maridos nem namorados".

O atraso perceptivo do brasileiro, que diante de tantas perdas ilustres de figuras humanas ímpares, há um medo sem motivo de ver morrerem uma mera parcela de homens que tiraram a vida de suas próprias mulheres e permaneceram impunes. Ver que eles são os únicos tipos de pessoas que "não podem morrer" é um dado surreal, até porque os feminicidas conjugais são os que mais descuidam da saúde ou, na melhor das hipóteses, sofrem os efeitos das pressões emocionais sobre seus atos.

Não vivamos mais na década de 1970 que a sociedade brasileira tenta, em vão, recuperar. Aquela "paz social" forçada pela Era Geisel, misturada com os "êxitos" da Era Médici, perdeu o sentido e o chamado "topo da pirâmide" vê perecerem um a um tantos de seus paradigmas e ilusões, enquanto resiste ao reconhecimento de armadilhas por trás de aparências tão agradáveis.

Não serão os coraçõezinhos vermelhos que acalmarão esse cenário de conflitos e tensões extremos, principalmente num "topo da pirâmide" em processo de queda e no perecimento de tantos valores supostamente sólidos de 40 anos atrás. Até porque esses coraçõezinhos estão também envenenados, pelo seu caráter manipulador, mistificador, traiçoeiro, tão doentio quando o excesso de açúcar que provoca diabetes e cegueira.

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