sábado, 16 de dezembro de 2017

A invigilância no questionamento da deturpação do Espiritismo pelos "médiuns"


Se alguém é um questionador da deturpação que atinge o Espiritismo no Brasil, desses que admitem que a Doutrina Espírita aqui anda "muito catolicizada", mas recua diante da necessidade de questionar com maior profundidade as atividades dos "médiuns" brasileiros, então esse alguém também foi movido pelas paixões religiosas e tomado de fascinação obsessiva, ou, em casos mais radicais, subjugação a esses "médiuns".

"Isso é um absurdo! Eu mantenho minha lucidez de ideias, eu apenas quero relativizar, porque os médiuns são, pelo menos, admiráveis em outros aspectos, e temos que reconhecer a qualidade deles", é a resposta mais comum que esse alguém pode dar.

Não tem escapatória. A pessoa é tomada de fascinação obsessiva e foi atingida pelo "bombardeio de amor" que só no Brasil é considerado uma coisa positiva, porque, no mundo desenvolvido, que passou por mil infortúnios ainda inéditos entre os brasileiros - que, quando muito, só ouviram falar dos mesmos - , essa estratégia é considerada falaciosa, traiçoeira e até mortal.

A pessoa que questiona a deturpação do Espiritismo, reconhece que ela anda igrejeira demais, porém, por mais que admita que as obras produzidas pelos "médiuns" Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco destoam, em muitos aspectos, dos ensinamentos espíritas originais, sente a tentação de manter sua idolatria até diante da recuperação da pureza kardeciana, é fraca e sem firmeza.

De forma bastante explícita, Allan Kardec havia recomendado, em várias obras, que se deve combater a deturpação espírita com firmeza e energia. sem que desse um pingo de consideração ou ressalva aos deturpadores. Mensageiros como Erasto e São Luís também disseram coisas semelhantes, eles que voltaram como espíritos a enviar mensagens aproveitadas na literatura espírita original.

O que isso significa? Significa que, mesmo quando os deturpadores venham com apelos emocionais, alegações de defesa e prática de caridade, amor e paz, mesmo assim não se deve ter qualquer consideração, porque isso é um artifício para se inserir ideias mistificadoras e valores conservadores.

GRANDE ATRASO ATÉ ENTRE OS "ADIANTADOS"

É típico, infelizmente, no Brasil, um certo melindre e complacência mesmo entre pessoas que se consideram com uma visão de mundo mais adiantada e abrangente. Isso significa que abordagens realistas e progressistas sempre esbarram num limite, tomado de alguma condescendência aqui ou ali, quando o coração bate forte e o cérebro "dá branco".

O Iluminismo, por exemplo, esbarrou em uma defesa ferrenha do regime escravo, já que os simpatizantes das ideias francesas não abriam mão do que consideravam "urgente" para a economia nacional. Além disso, havia a visão, hoje reconhecidamente preconceituosa, contra índios e negros, que não eram considerados "cidadãos".

Recentemente, as forças progressistas manifestaram a profunda complacência com o "funk", ritmo sonoro de forte apelo comercial, mas de valor artístico-cultural duvidoso, patrocinado pela mídia empresarial e que aborda o povo pobre de maneira caricatural e estereotipada, e, para piorar, vinculada a valores morais retrógrados, entre reacionários, como o machismo, e libertinos, como a erotização obsessiva.

Neste sentido, é triste que, dentro de abordagens bastante avançadas, sempre há um dado decepcionante. O brilhante intelectual veterano que acaba tendo ideias reacionárias rabugentas. O admirável ativista social que parece complacente com as formas que o mercado de entretenimento exploram o povo pobre. Ou a feminista empenhada que, num lapso de percepção, vê empoderamento na hipersexualização das "mulheres-objetos".

É esse contexto que faz com que os contestadores da deturpação espírita pararem, complacentes com a imagem "dócil" dos "médiuns espíritas", que, sabemos, não passa de um mito de valor duvidoso cuja produção de consenso é fabricada pela mídia empresarial, que nem sempre é confiável.

Afinal, a mídia empresarial serve a interesses de uma elite e muito dos valores "imparciais" que ela empurra até para as forças progressistas - e as chamadas esquerdas aceitam tudo de bandeja, por causa do apelo emocional de pobres supostamente felizes - são traiçoeiros.

No caso dos "médiuns espíritas", para a mídia é mais lucro promovê-los como supostos ativistas à custa de mero Assistencialismo do que deixar que alguém como Lula volte a promover inclusão social de verdade se voltar à Presidência da República.

É assustador que mesmo os espíritas, independente de serem bastardos ou não, mas com alguma inclinação à esquerda, corroborem com abordagens sobre os "médiuns espíritas" que claramente partem de concepções defendidas pela Rede Globo de Televisão. Como no caso do "funk", as esquerdas acabam, mesmo sem querer, assimilando os valores sociais da Globo e acabam compartilhando uma visão conservadora de abordagem social.

ESQUERDISTAS DEFENDENDO "MÉDIUNS" CONSERVADORES

Daí o aspecto surreal de esquerdistas defendendo Chico Xavier e Divaldo Franco, às custas de imagens de crianças pobres que nem sabem se têm algum realismo ou não. Acabam aceitando, com submissão bovina, a divinização dos "médiuns", mesmo quando sua "caridade" só traz, quando muito, resultados medíocres, porque, se assim não fosse, a alegada "grandeza" que tanto se atribui aos "médiuns" teria dado ao Brasil padrões escandinavos de qualidade de vida.

É até chocante que posturas de intransigente complacência, como uma defesa cega dos "médiuns", sejam expressas até em páginas contrárias ao establishment social, político e midiático. Nas redes sociais, uma página de ateus, um defensor de Divaldo Franco se infiltrou na mesma para defender a imagem "superior" de seu ídolo, pouco se ligando se os resultados da sua "filantropia" foram e são expressivos ou não.

Em muitos casos, os defensores dos "médiuns espíritas" chegam mesmo a desprezar os resultados da "caridade" e até usar como pretexto a vida complexa das grandes cidades. Isso é uma grande falácia, afinal os "médiuns" se vendem com uma imagem de "grandeza" capaz de supor a previsão de grandes fatos revolucionários da humanidade, daí se supor que eles seriam capazes de transformar cidades inteiras em paraísos escandinavos sob o clima tropical.

Nem mesmo as contradições, comuns entre os "espíritas", de que as transformações da sociedade para melhor já se estabeleceriam num dia, mas deixariam de se realizar no dia seguinte, são aceitas sem críticas. "O Brasil está mudando, a regeneração está vindo", é o relato de véspera, mas, depois, dize-se que "dificuldades extremas impediram a regeneração, adiada para um momento oportuno".

As esquerdas se limitam a contestar os movimentos neopentecostais, que, por ironia, estabeleceram, com o esquerdismo, uma aliança com limites. A Rede Record, da Igreja Universal do Reino de Deus, acolheu e deu autonomia a jornalistas egressos da Globo, mas que se comprometeram de verdade a abraçar causas progressistas, como Paulo Henrique Amorim (filho do espírita Deolindo Amorim), Rodrigo Vianna e Luiz Carlos Azenha.

No entanto, os "espíritas" são claramente protegidos da Rede Globo. Depois de ser blindado pela TV Tupi, Chico Xavier passou a ser blindado pela Rede Globo, o que vale até hoje, postumamente. Divaldo Franco e João de Deus também são blindados pela Globo e suspeita-se que o conservador Carlos Vereza, que atuou na novela Velho Chico, sugeriu à colega Camila Pitanga (que se declarou esquerdista e ateia) a visitar João em Abadiânia, para agradecer a sobrevida dela a uma tragédia.

Os esquerdistas, no entanto, não questionam o "espiritismo" brasileiro e seus "médiuns", mesmo quando a blindagem da Globo aposta em novelas e filmes "espíritas" com abordagem igrejeira forte e narrativa similar às telenovelas já contestadas pelos intelectuais de esquerda.

No mesmo caminho, os contestadores da deturpação igrejeira, independente de serem de direita ou não, também hesitam em desqualificar os "médiuns", intimidados pela "doce imagem" a eles associada, o que garante o êxito da deturpação do Espiritismo no Brasil.

Dessa maneira, de relativismos e complacências, constrói-se um escudo que faz sempre com que o Espiritismo, da forma como é feita no Brasil, se torne sempre refém da deturpação. Enquanto não há firmeza nos questionamentos, mas há um "medinho" de afrontar a imagem mítica dos "médiuns espíritas", a "vaticanização" da Doutrina Espírita continua firme e forte, por mais que haja artifícios de suposta fidelidade aos postulados espíritas originais.

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