terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Muito cuidado com o discurso melífluo dos deturpadores do Espiritismo


A linguagem tem seus apelos ocultos que revelam algo oposto ao das aparências agradáveis. Ignorando as lições espíritas originais, os brasileiros se apegam fácil aos "médiuns espíritas" por conta de seus inúmeros apelos emocionais, que trazem um aparato de pretenso pacifismo e humildade.

Muitos não conseguem entender como se questionam as mensagens dóceis dos "médiuns", o seu aparato de humildade, as vibrações aparentemente gentis, as palavras supostamente amorosas. Num cenário em que as redes sociais revelam a supremacia de uma visão simplória de mundo, fica bem difícil explicar a realidade por trás das aparências, quando muitos definem o conteúdo da embalagem pela própria embalagem.

Divaldo Franco deu uma entrevista ao jornal Zero Hora - logo a mídia hegemônica, sendo este veículo da RBS e parceira das Organizações Globo, que blindam os "médiuns espíritas" - e o discurso tem aquele aparato doce de um suposto humanismo pacifista, o que faz as pessoas dormirem tranquilas diante desse grande balé das palavras.

Mas por que isso pode ser traiçoeiro se aparentemente não há mensagens ofensivas nem de baixaria e muito menos de ódio? Simples, isso pode depender do contexto em que elas são veiculadas. Existem mil armadilhas e a pior armadilha é aquela que é tão colocada que nem mesmo o mais atento perceberia a sua presença.

Divaldo é um deturpador grave do Espiritismo. Começou plagiando Francisco Cândido Xavier, que já era também grave deturpador e hábil plagiador de textos. Divaldo é um pseudo-sábio, porque tem a pretensão de ter respostas prontas para tudo, quando os verdadeiros sábios não se definem por essa qualidade discutível, mas pelo fato de oferecer mais perguntas que respostas.

O que Divaldo expõe em suas "mensagens positivas" é apenas um gancho para inserir ideias igrejeiras, moralismo conservador, juízos de valor e outras coisas bastante duvidosas. Constatar isso não é um ato de intolerância religiosa e nem vem de crenças neopentecostais rancorosas, mas está dentro da própria literatura kardeciana original.

DIVALDO FRANCO É ANTI-KARDECIANO

A exemplo de Chico Xavier, Divaldo Franco é um inimigo interno da Doutrina Espírita. Sim, isso mesmo. As caraterísticas dos dois "médiuns", pelo conjunto de sua obra, apresentam aspectos negativos que foram explicitamente descritos por Allan Kardec e seus mensageiros.

Como um "Rolando Lero" dos ensinamentos espíritas, Divaldo é rebuscado, prolixo, pedante, tem ares professorais e outras caraterísticas que se observam negativas em O Livro dos Médiuns. Um recado do espírito Erasto, no capítulo 20, Influência Moral dos Médiuns, é explícito na recomendação de cautela mesmo em mensagens aparentemente meigas, humanas e positivas:

"Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé".

Divaldo Franco já cometeu coisas deploráveis em outras palestras. Já narrou estórias fantasiosas, numa das quais o dr. Adolfo Bezerra de Menezes teria se materializado (!) para furtar (?!) um caminhão de mantimentos para "dar à caridade". Já fez grave juízo de valor, acusando refugiados do Oriente Médio de terem sido "tiranos sanguinários" no passado. E ofereceu a edição paulista do Você e a Paz para lançar a "farinata".

Isso é que está por trás do discurso melífluo das "amorosas mensagens de paz". Os deturpadores do Espiritismo, inclusive os "médiuns", sempre apelam para a "paz sem voz" citada na famosa canção de O Rappa. Uma paz forçada, "sem queixumes", "sem questionamentos" e "com tolerância", porque somos constantemente convidados a assistir, calados, ao triste espetáculo de  raposas dominando o galinheiro. As galinhas é que aceitem serem devoradas, em silêncio e sem queixumes.

O que escreveu o jornalista José Herculano Pires sobre Divaldo Franco foi explícito na sua preocupação com a ascensão do "médium". Aparentemente, Herculano até havia escrito que gostaria que Divaldo aprendesse sua lição, mas a prática mostrou que o "médium" baiano continua com seus graves defeitos. Vide o juízo de valor sobre os refugiados do Oriente Médio e o caso da "farinata":

"Do pouco que lhe revelei acima você deve notar que nada sobrou do médium que se possa aproveitar: conduta negativa como orador, com fingimento e comercialização da palavra, abrindo perigoso precedente em nosso movimento ingênuo e desprevenido; conduta mediúnica perigosa, reduzindo a psicografia a pastiche e plágio – e reduzindo a mediunidade a campo de fraudes e interferências (caso Nancy); conduta condenável no terreno da caridade, transformando-a em disfarce para a sustentação das posições anteriores, meio de defesa para a sua carreira sombria no meio espírita".

MISSES, AUTORES DE AUTOAJUDA E ATLETAS OLÍMPICOS

Se as pessoas se apaixonam pelas declarações dos "médiuns espíritas", não é pela beleza e relevância de suas frases - que, em muitos casos, só dizem coisas óbvias que nada oferecem distinção ou genialidade àqueles que as dizem - , mas pelo prestígio religioso, pela "grife", pela "marca pessoal" de quem diz.

É constrangedor que Divaldo lamente, no discurso, a obsessão dos humanos em "ter", porque ele mesmo tem essa obsessão: a de possuir a verdade, a de ter a sabedoria sob sua propriedade, a de ser o símbolo de caridade ao lado de Chico Xavier (outro cuja filantropia foi extremamente duvidosa, com vários aspectos sombrios, como nas "cartas mediúnicas").

A "obsessão pelo 'ter'" dos "médiuns espíritas" que deturpam o Espiritismo se dirige para as "virtudes humanas". Com a lógica dos "médiuns", em tese, qualquer pessoa, de qualquer crença ou posição social, pode assumir qualidades como a caridade, desde que seja ela uma franquia cujo crédito deva ser atribuído a um "médium espírita".

Além do mais, o que Divaldo diz de "humano" e "sensível" não é muito diferente das banalidades trazidas pelos autores de auto-ajuda, pelas misses em concursos de beleza ou atletas olímpicos. Eles também falam na "superação", na "paz", na "união", não raro se dispondo de muitos apelos emotivos similares aos usados pelos "médiuns espíritas".

As pessoas ficam perguntando se "faz mal" transmitir um discurso desses. A princípio, não faz, mas o que está em jogo, muitas vezes, é o "bom mocismo" e os "médiuns" que traem o pensamento de Kardec inserindo no conteúdo do Espiritismo conceitos igrejistas e medievais tentam se valer de uma série de apelos emotivos para obterem unanimidade e se promoverem com isso.

Quantas pessoas usam os apelos à "paz" e à "caridade", que "não fazem mal algum", para se valer do prestígio social e, no caso dos "médiuns", o religioso! E o quanto isso é leviano pela intenção de forçar a comoção pública, sob o intuito de vender muitos livros, virar celebridade, obter sucesso inabalável que permite cometer graves erros sem ser responsabilizado por isso.

Divaldo Franco e Chico Xavier não recorreram a esse apelo das "mensagens positivas" e das "imagens e textos comoventes" de graça. Não existe almoço grátis, diz o ditado. Eles souberam que, como deturpadores graves da Doutrina Espírita, precisavam caprichar nos apelos emocionais, num engenhoso processo de fabricação de consenso recorrendo à pretextos como "amor", "paz" e "caridade" como cortinas-de-fumaça para suas ações levianas e seu igrejismo medieval.

E ninguém estranha que essa "paz" defendida pelos "médiuns espíritas" e que fascina muitos é a mesma "paz sem voz" da canção de O Rappa. Junte esse suposto pacifismo com apelos à submissão, à renúncia e à reação a tudo com silêncio e sem queixas, e o que vemos está nestes versos: "Pois paz sem voz / paz sem voz / Não é paz, é medo".

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