terça-feira, 15 de setembro de 2015

TVs retiram desenhos animados e põem variedades no lugar. Mas programas policialescos ficam no ar


Nos últimos tempos, a Rede Globo de Televisão extinguiu o horário de atrações infantis, como o TV Globinho - que se originou apenas com o nome de Globinho, nos anos 1970 - , que exibia desenhos animados. É certo que tinha algumas atrações violentas, mas coisas engraçadas como Bob Esponja Calça Quadrada (Sponge Bob Square Pants) eram exibidas.

A atração foi substituída, em princípio, pelo programa de entrevistas Encontro com Fátima Bernardes, enquanto permanecia nos sábados. Mas, há poucas semanas, foi eliminada de vez, entrando no lugar o programa É de Casa, também de entrevistas, mas com vários apresentadores.

Enquanto isso, nada parece deter a presença nefasta dos programas policialescos no final de tarde. Responsáveis pela glamourização da violência e da criminalidade, os programas, criados sob a aparente finalidade de denunciar o "mundo cão" e a "realidade crua" no país, acabam servindo de propaganda e até de catarse para futuros criminosos.

O crime que aparece na TV acaba sendo uma forma de catarse, porque a pobreza, a baixa ou nenhuma escolaridade e os conflitos de interesses individuais diversos motivam o aumento das práticas criminosas e os "quinze minutos de fama" que os outrora pobres coitados contraem após cometerem seus crimes.

A transmissão aberta, em rede nacional, destes programas, assim como a existência de programas similares que acontecem em plena hora do almoço, em ambos os casos expostos abertamente ao público infanto-juvenil e à sociedade em geral, influem no crescimento da violência que assola o país.

Pois são programas em que, muitas vezes, são pegos no meio da transmissão, com o crime sendo transmitido em reportagem, com o telespectador desprevenido e estressado, que vê naquele ato moralmente negativo um "mal necessário" para sua catarse pessoal.

Cria-se um contexto de ódio, de rancor, de agravamento das tensões sociais que, nas comunidades populares, resulta na alta ocorrência de violências que assusta a sociedade. Ou que não assusta mais, diante da banalização de tais ocorrências que faz com que insensíveis internautas até riam das desgraças alheias, porque não é ele, feliz diante de seu celular, que sofre tais infortúnios.

Nada faz deter esses programas, nocivos para a sociedade brasileira. Programas como Cidade Alerta e Brasil Urgente persistem no ar, com toda a arrogância de seus apresentadores, e similares se alimentam dessa indústria de sensacionalismo, de exploração das tragédias humanas de forma mais leviana e circense (no pior sentido da palavra) possível.

Nem mesmo a necessidade de removê-los para o horário da madrugada os sensibiliza, até porque o mercado acha "absurdo" transmiti-los nesses horários. Mas esses programas, em si, já são espetáculos do horror, sem a teatralidade das atrações fictícias e com o lado perverso de realimentar as ocorrências criminosas com reportagens tendenciosas que causam mal-estar nas pessoas de bem.

Isso é terrível, embora tempos atrás tínhamos filmes de violência transmitidos livremente na Sessão da Tarde, numa época "áurea" como os anos 90, em que filmes inocentes de Charlie Chaplin  e outras comédias que não fariam mal ao público infantil eram transmitidos na alta madrugada.

A televisão aberta decaiu por conta de atrações tão grotescas como essas, além de outras, como os programas de variedades que mostram de baixarias sexuais a bobagens "tiradas da Internet", passando pela canastrice milionária dos músicos e cantores popularescos. Isso influencia mal nosso povo, que carece de valores mais positivos e edificantes. A crise do Brasil, em muitos aspectos, começa na TV.

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